segunda-feira, maio 31, 2010

Santos atropela na Colômbia

Contrariando de forma contundente as pesquisas eleitorais, Juan Manuel Santos alcançou 46,5% das intenções de voto e por pouco não foi eleito no primeiro turno para a Presidência da Colômbia.

Aquele considerado a sensação do processo eleitoral até o momento, Antanas Mockus, obteve apenas 21,5%, enquanto os institutos de pesquisa apostavam em 34%. Foi a grande decepção.

A vitória de Santos surge de forma tão forte e contundente que especulava-se ontem em Bogatá que Mockus estaria considerando retirar-se da disputa do segundo turno. Enquanto falava-se até de empate técnico entre ambos antes do pleito, contados os votos, Santos abriu uma avenida de mais de 25 pontos de vantagem - algo que os institutos de pesquisa terão que explicar muito bem.

Somando os votos de Santos com aqueles recebidos por outros partidos de centro e direita, os 50% são alcançados com larga folga. Germán Vargas Lleras, do Partido Radical, obteve 10,3%, e Noemí Sanín, do Partido Conservador, 6,1%.

A vitória, até o momento parcial, de Santos, tem uma razão de ser. Ele representa o presidente Álvaro Uribe, um líder que assumiu a responsabilidade de combater a guerrilha e tráfico de drogas que dilacerava a Colômbia. Soma-se a isso, uma estratégia de campanha bem articulada que percorreu todo o país.

Um segundo turno se avizinha, entretanto, acredito que, confrontado com os números, realmente Mockus deve estar pensando duas vezes antes de continuar na disputa. Desta vez, tudo indica que nem as pesquisas a seu favor serão capazes de salvá-lo da derrota.

sexta-feira, maio 28, 2010

Oportunidade para Sarkozy

Sarkozy tem encontrado extrema dificuldade em colocar em curso seu projeto de reformas. A urgência na aplicação de regras de austeridade fiscal, trazida para pauta com a crise grega que arrasta o Euro, mostrou aos franceses que, apesar de satisfeitos com seu amplo estado de bem estar proporcionado pelo Estado, este não é sustentável.

O Presidente francês chegou ao Elysée defendendo uma clara agenda de reformas que colocasse a França para trabalhar, cortando benefícios que geram défict nas contas públicas. Como era esperado, a reação dos grupos privilegiados tem sido coordenada, no intuito de evitar mudanças que afetem suas vantagens.

O renascimento dos socialistas nas últimas eleições trazem uma mistura de desapontamento dos partidários de Sarkozy, que não viram as reformas acontecerem, com aqueles que se beneficiam do sistema e desejam, logicamente, a volta do PS ao poder.

A crise grega trouxe a imposição de reformas e diminuição do déficit. Abriu-se, portanto, a possibilidade de Sarkozy avançar um pouco mais na implementação de sua agenda. Propôs de pronto a reforma do sistema de aposentadorias. As manifestações, na tentativa de manutenção dos privilégios, espalharam-se pela França, sempre com o apoio da esquerda.

A crise talvez tenha dado a Sarkozy uma oportunidade política única de ir adiante e virar o jogo, já de olho nas eleições presidenciais.

quarta-feira, maio 26, 2010

Velhos aliados?

O tempo esquentou entre Teerã e Moscou. Na verdade este é apenas mais um capítulo de uma relação que já não parece ser de parceiros tão próximos como se imaginava não muito tempo atrás.

A Rússia realmente tem estado mais próxima do Ocidente em tempos recentes e os esforços da diplomacia americana, que entende o pragmatismo russo de forma mais clara, é apenas mais um capítulo dessa história.

Além disso, Moscou tem seus próprios problemas com extremistas islâmicos e tem sido cada vez mais cautelosa em relação a extensão e profundidade dos laços que estabelece com alguns países.

Pouco a pouco fica mais claro para os russos as verdadeiras intenções de Teerã, especialmente depois de descoberta da usina nuclear secreta na região sagrada de Qom. A diplomacia ocidental percebeu o desgaste e encontrou uma forma inteligente de aproximar-se do Kremlim.

Agora que Moscou já aprovou um esboço de resolução com sanções contra o Irã, Ahmadinejad repreendeu Medvedev, que deu o troco por meio de seu corpo diplomático, chamando a atitude de Teerã de "demagogia política".

Parece que os laços não são mais os mesmos. Alguém soube jogar no tabuleiro diplomático melhor do Ahmadinejad.

terça-feira, maio 25, 2010

Pressão Aliada

Devido ao avanço de Dilma nas últimas pesquisas, os aliados de José Serra já pedem que o pré-candidato tucano mude sua estratégia, adotando um tom mais combativo em relação a Dilma e ao governo Lula.

Serra não deveria ceder neste sentido. Até o momento tem adotado a estratégia correta, desde o início das especulações sobre sua candidatura. Sua postura fez com que seus índices de intenção de voto fossem mantidos nos mesmos patamares há meses. Seu índice de saída está nos níveis apresentados até o momento.

Para avançar, Serra precisa, neste primeiro momento, alinhavar alianças pelos Brasil, como fez com o PP no Rio Grande do Sul. Precisa também fazer bons programas de TV e concentrar esforços nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, para consolidar seus números. A Convenção deveria ser em Belo Horizonte, ao invés de Salvador, como já foi anunciado. Assim, seriam impulsionados Anastasia e Serra, naquele que é o estado chave nesta eleição.

O avanço da petista fez com que o nome de Aécio Neves voltasse com força aos bastidores. Os tucanos e aliados insistem para que o ex-governador de Minas entre na disputa do lado de Serra. Aécio, mineiramente, ainda não decidiu.

segunda-feira, maio 24, 2010

Rahm em Israel

No gabinete de Rahm Emanuel, ao lado do Salão Oval, encontra-se o centro nervoso da administração Barack Obama. Não somente pela sua influência dentro do Partido Democrata, mas pela sua extrema habilidade política.

Emanuel é uma figura proeminente na política americana. Como muitos dos assessores de Obama, esteve ao lado de Clinton, mas ao contrário de muitos outros, decidiu fazer carreira política e tem sua base eleitoral, juntamente com Obama, no estado de Illinois, de onde saiu eleito deputado.

Filho de judeus que imigraram para os Estados Unidos, Emanuel pode ser uma peça chave no intrincado xadrez político da região. Existe margem de manobra do lado americano, especialmente depois dos recentes atritos entre Tel Aviv e Washington.

Rahm não ficou com uma boa imagem perante os mais conservadores em Israel, mas pode ter se tornado uma via de entendimento entre as partes justamente por isso. Depois de mais um giro de Mitchell pela região, pode-se talvez esperar que a presença do Chefe de Gabinete do Presidente dos Estados Unidos na região possa ajudar a trazer uma sintonia fina entre as partes.

Influente no Partido Democrata e no Congresso, Emanuel tem as credenciais para agir de forma determinante. Há muito tempo não existe um Chefe de Gabinete com tal concentração de poder na Casa Branca.

sexta-feira, maio 21, 2010

Sócrates escapa da degola em Lisboa

A crise européia por pouco não fez sua primeira vítima política. José Sócrates, o Primeiro-Ministro socialista de Portugal, enfrentou uma moção de censura no Parlamento em função dos ajustes que deve promover para evitar que Portugal tome o rumo grego.

A iniciativa da censura, entretanto, não veio do bloco conservador, mas da extrema esquerda, desgostosa com os rumos mais ortodoxos que as contas públicas devem tomar nos próximos anos. Apesar de socialista, Sócrates precisa tomar algumas medidas liberais, que desoneram o Estado. Mesmo contra suas convicções, é a única saída. Isto desagradou os comunistas.

Se de um lado o plano dos socialistas visa reduzir programas de assistência e cortar gastos da administração pública, do outro, vem acompanhado de um aumento de impostos, exatamente onde reside o principal erro dos ajustes propostos por Sócrates. É preciso fazer o contrário, desonerar os geradores de riqueza para que a arrecadação suba. Onerando ainda mais a produção, sua medida pode agravar a crise no médio prazo em Portugal.

Exatamente por isso, o bombardeio, além de vir dos comunistas, chegou também por meio dos conservadores, que pressionaram o Primeiro-Ministro durante o debate de mais de quatro horas com perguntas.

Ao fim, Sócrates ganhou algum tempo. A moção dos comunistas não prosperou porque os conservadores não deixaram. O bloco de extrema esquerda obteve apenas 29 votos. O bloco de direita PDS/CDS-PP garantiu a permanência de Sócrates, abstendo-se com seus 88 votos. Os 91 deputados socialistas apoiaram o Primeiro-Ministro.

Sócrates, entretanto, recebeu um aviso. Precisará negociar seu ajuste, talvez com a oposição, se deseja manter-se no governo. A moção de censura mostrou que existe possibilidade real de seu governo cair se a crise chegar até Lisboa. Os conservadores já avisaram que sua posição tem prazo de validade.

quinta-feira, maio 20, 2010

Cameron em Paris

David Cameron não tem tempo a perder. Com muitas reformas na agenda e uma Europa que necessita de união, ele partiu para Paris e encontrou Sarkozy. No front doméstico, foi divulgada a agenda comum da coalizão com o grupo de Nick Clegg.

A visita ao Elysée é cercada de simbolismo e demonstra uma idéia de coesão entre dois dos sócios mais importantes do concerto europeu. Foi a primeira viagem do novo Primeiro-Ministro do Reino Unido e a França não foi uma escolha aleatória. Os partidos de Cameron e Sarkozy são bons parceiros internacionais, que dividem em muitos pontos a mesma agenda e as mesmas convicções políticas.

Enquanto Cameron visitava Sarkozy, a agenda divulgada pela nova coalizão britânica deixava claro que apesar de o Reino Unido passar a adotar uma posição mais ativa em relação a União Européia, não transferirá mais poder a Bruxelas. É uma posição histórica de Londres, que sempre prefere manter uma distância responsável da UE.

Entretanto, isto não impede que os britânicos se envolvam mais nos assuntos europeus, como esperam alguns governantes. O primeiro passo é possuir nos governos nacionais, líderes simpáticos as mesmas idéias, que tenham a mesma agenda e partidos parceiros no âmbito exterior. A chegada de Cameron a um clube onde já está Merkel, Sarkozy e outros tantos líderes conservadores, apenas facilita essa importante interlocução.

quarta-feira, maio 19, 2010

ONU mais longe

Lula sonha com o cargo de Ban Ki-moon nas Nações Unidas. Suas iniciativas na esfera internacional tem o objetivo único e simples de promover seu nome a ponto de viabilizá-lo como Secretário-Geral da ONU no futuro. Não será fácil.

As manobras na política internacional, contudo, são mais densas e profundas do que a política nacional. Na esfera exterior outros mecanismos precisam ser usados e acionados para consolidar uma imagem de liderança. Lula buscou sair como um grande negociador e facilitador do diálogo com Ahmadinejad. Não conseguiu.

Existem vários equívocos em torno de toda a estratégia. Lula já pode ter sido considerado um valioso player no cenário internacional por ser alguém que transita entre dois mundos, entretanto, como disse acima, a política internacional é delicada e existe uma linha tênue onde pessoas com este perfil podem equilibra-se. Lula tinha as credenciais para operar neste sentido, entretanto, as ações de sua diplomacia movimentaram-se no sentido oposto, várias vezes.

O fracasso obtido no Irã, depois de alardeado como vitória, foi apenas mais um episódio de uma política exterior que exagera nas doses. Lula perdeu sua condição privilegiada de negociador confiável, comprometendo seus objetivos futuros no cenário exterior.

Ao invés de apaziguar a situação, a intromissão brasileira em Teerã, precipitou um movimento no Conselho de Segurança que praticamente desautorizou qualquer movimento de Lula. Uniram-se no mesmo tom, em reação a postura brasileira, Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China.

Talvez, se Lula tivesse mantido-se fiel as tradições e posturas diplomáticas históricas de nosso País, poderia tentar credenciar-se a vôos maiores. Entretanto, a opção realizada, além de prejudicar a imagem do Brasil, sepultou todas suas pretensões políticas internacionais após a Presidência. Os limites ao seu futuro foram impostos por este último ato. Depois do mandato em Brasília, ele estará condenado simplesmente a ser, no máximo, uma liderança política regional.

terça-feira, maio 18, 2010

Os Vices

Marina saiu na frente. Já definiu seu vice. Politicamente fez a escolha acertada. Precisava romper a imagem de candidata ecológica, segmentada a um único tema. Com a presença de um empresário do porte de Guilherme Leal, sua candidatura toma corpo e pode partir para debates mais amplos, abrindo espaços onde sua candidatura ainda não havia penetrado.

Do lado petista, notícias também na pré-candidatura de Dilma. A tendência é o PMDB indicar o nome de Michel Temer na convenção, uma vez que a Executiva Nacional do partido endossou seu nome. Enfrentará, certamente, resistências, como já indicou Pedro Simon, membro da chamada "ala ética" do partido. Temer, entretanto, é um equilibrista e até agora é o único nome que consegue transitar nos diversos setores do partido. Será o fiel da balança em caso de vitória do PT. Pode ser tanto um facilitador para governo ou o grande gerente do quinhão peemedebista na Esplanada.

O PMDB não partirá unido para a campanha de Dilma. O partido trabalha assim, um pouco lá, um pouco cá. O próximo presidente, seja quem for, precisará de seu apoio para governar.

E Marina mostra que aprendeu com a experiência de Lula em 2002. Nada melhor que um grande empresário para dar uma roupagem mais leve a abrangente a uma candidatura como a sua. Agora, a campanha precisa decolar. Tarefa para os estrategistas políticos de sua chapa verde-empresarial.

segunda-feira, maio 17, 2010

A dança dos números

Os institutos de pesquisa não tem se acertado nesta eleição. O último episódio foi a questionável metodologia usada pelo Instituto Sensus.

Para termos uma pesquisa confiável, é preciso avaliar muitos aspectos, inclusive o timing de suas entrevistas, que podem jogar com os números e indicar tendências que não existem. Em razão disso, as campanhas preferem acompanhar o desempenho de seus candidatos pelo tracking diário, que fornece uma maior confiabilidade para tomada de decisões, uma vez que são números para consumo interno.

Ao tracking sempre são adicionados outros ingredientes, como focus groups, que ajudam a direcionar os rumos de campanha e inclusive a postura de um candidato no decorrer de um debate, em tempo real.

Assim, os números do Vox e do Sensus são alvo de questionamento porque foram realizados em um timing favorável a um dos candidatos, no caso Dilma, exatamente quando precisava subir nas pesquisas. Além disso, precisam ser verificados os tipos de questionários, abrangência e metodologia que levam estes institutos sempre a trazer números simpáticos a um dos candidatos.

No terreno da análise política, acredito ser pouco recomendável crer que Dilma subiu em um período em que sua campanha estava sob forte turbulência interna e uma fraca estratégia de comunicação, inclusive pessoal da pré-candidata, mesmo considerando o impacto do programa do PT na televisão com a presença de Lula, em clara afronta e violação a legislação eleitoral. Além de tudo, o programa foi realmente fraco. Era possível fazer melhor.

No mais, para o grande público, deve valer uma média ponderada dos institutos, entretanto, todos tem seus preferidos, assim como no meu caso, que considerando-se o cenário brasileiro, ainda espero pelos números do instituto que acredito ser mais o crível.

quinta-feira, maio 13, 2010

Ajustes Europeus

A crise pela qual foi tragada a Grécia era previsível, assim como é, em certa medida, a entrada de novos atores em cena. Os mais prováveis protagonistas dos próximos episódios são Espanha e Portugal.

A razão é simples: alto gasto público. A Grécia observa um déficit público da ordem de 13,2%, superando em muito o limite imposto pela União Européia de no máximo 3%. Outros países também merecem atenção, como França e Itália, que até o momento não apresentou medidas concretas. De alguma forma, a maioria se mobiliza na tentativa de evitar a entrada no clube da crise.

Portugal suspendeu contratações e congelou salários. Esbarrou, entretanto, em uma medida controversa: aumento de impostos, o que apenas machucará ainda mais a economia. O Reino Unido optou por um caminho distinto. Evitará aumentar impostos. Ao contrário, realizará cortes. Para frear o déficit, cortará brutalmente os gastos públicos. Esta é a receita correta.

A França tem uma tarefa difícil, pois é um estado tradicionalmente paternalista. Não mexerá nas aposentadorias, mas deve realizar cortes em gastos do Estado para trazer o déficit para os 3% previstos - hoje está em 7%.

A Irlanda é outro país que inspira cuidados, mas de outra forma. Com uma economia aberta, o país ainda se recupera da crise financeira. Depende mais da capacidade de recuperação de sua própria economia, já que a influência do Estado sobre os negócios é um dos menores da Europa. Mesmo assim, cortará gastos públicos, o que sempre é boa notícia.

Apesar dos ajustes, com a exceção do Reino Unido, nenhum país tomou medidas de fundo que podem mudar o rumo dos acontecimentos no longo prazo. Até o momento, são apenas medidas para apagar o fogo. Sem mudanças consistentes, entretanto, a criação de um perigoso ambiente para uma nova crise continuará pairando no ar. Enquanto isso a prudente Alemanha paga a conta.

quarta-feira, maio 12, 2010

Zapatero sob pressão

Zapatero chegou ao governo em estado de graça. Depois de oito anos de administração do Partido Popular, sob a batuta de José Maria Aznar, a Espanha tinha tornado-se um país rico, membro de um clube restrito na política internacional e européia: inflação baixa, crescimento sustentado, empregos em propulsão, orçamento equilibrado, deficit público controlado e adesão ao Euro no mesmo nível do primeiro time europeu.

Eleitos por acidente, os socialistas usaram a estabilidade promovida por Aznar para ampliar os gastos do Estado. Primeiros os sociais, depois os diretos. As consequências estão chegando. Assim como na Grécia, governada também por socialistas, a Espanha vive dias difíceis. O desemprego voltou ao nível histórico dos 20% da era Gonzáles e o deficit público está descontrolado. Estes são apenas um dos ingredientes que tornaram o governo Zapatero um fardo que ainda tem três anos pela frente.

Na ausência de políticas que deixassem a Espanha blindada, como estava com Aznar, Madri agora busca um acerto de contas urgente para evitar o pior. No plano está o corte de 5% dos salários dos funcionários públicos, congelamento de pensões, eliminação do benefício do cheque-bebê, além de outros cortes em gastos do governo. Com seus cortes, ZP atinge a área social, quebrando uma importante promessa de campanha.

O resultado estará nas ruas. Os sindicatos, quem sempre apoioram ZP, prometem se mobilizar e pressioná-lo. Mas na verdade, o plano anunciado pelos socialistas ainda é pouco. Muito mais precisa ser feito. ZP pode escolher enfrentar os desafios ou deixar os populares voltarem ao poder e, mais uma vez, colocar ordem na casa.

terça-feira, maio 11, 2010

Cameron já é Primeiro-Ministro

Um acordo entre Liberais Democratas e Trabalhistas não foi alcançado. Informado deste desenrolar dos fatos, Gordon Brown, com apenas 258 votos de um Parlamento dominado pelas 306 cadeiras dos Conservadores, apresentou sua renúncia a Rainha Elizabeth II.

Mesmo com um acordo, como disse aqui, seria difícil manter um governo de pé. Seria um gabinete de coalizão e de minoria. Não deveria durar. Brown não poderia comandar a aliança, uma exigência do grupo de Clegg, e com a renúncia do líder do Labour ao comando do partido, não havia sequer uma liderança definida para formar um novo governo.

Recebida a renúncia de Brown, a Rainha convocou ao Palácio de Buckingham o líder do partido vencedor das eleições, David Cameron, e condidou-o a formar um governo. Cameron aceitou a missão e rumou para Downing Street, de onde já atua como Primeiro-Ministro.

Cameron governa, no momento, sem maioria absoluta, ou seja, em minoria. A aliança com os Liberais Democratas ainda não está formalizada e somente o será quando os membros eleitos do partido votarem neste sentido, confirmando a liderança de Nick Clegg para a entrada do grupo no governo.

O Reino Unido já tem novo Primeiro-Ministro. Depois de 13 anos finalmente os Tories estão de volta ao comando do governo. Sem a maioria esperada, mas no comando de um gabinete que buscará entregar seu programa de governo aos cidadãos do Reino Unido.

Mais uma vez os britânicos deram uma lição de democracia e respeito institucional para o mundo. Não há como não admirá-los.

A derradeira manobra de Brown

Brown ofereceu sua cabeça aos Liberais Democratas. Será o bastante? Duvido. As conversas com os Conservadores estão em estágio avançado. O objetivo de Brown, neste momento, é evitar a todo custo a chegada dos Tories ao governo. Está jogando pesado.

Como Gordon Brown decidiu se retirar da liderança do Labour, abriu passagem para um novo nome assumir seu lugar já em setembro, quando ocorre o congresso do partido. Isto significa que também abre mão do governo, já que o cargo de Primeiro-Ministro é ocupado pelo líder do partido com maioria no Parlamento.

O curioso é que, caso prospere uma aliança entre o grupo de Clegg e os Trabalhistas, o próximo Chefe de Governo pode ser alguém que não esteve a frente de qualquer um dos três partidos nas eleições.

Mas como disse, é pouco provável. Uma aliança entre Liberais Democratas e Labour ainda não alcança maioria absoluta. Seria um governo de minoria e altamente instável. Brown deu sua última cartada. Já sabe-se que não manterá o poder, tenta agora manter os Trabalhistas frente ao governo.

segunda-feira, maio 10, 2010

Clegg, o fiel da balança

Nick Clegg foi, na verdade, o grande perdedor das eleições britânicas. Entretanto, como terceira força, tem sido fundamental, em um Parlamento sem maioria absoluta, para a formação de um governo.

O partido de Clegg foi uma decepção. Tem hoje menos cadeiras no Parlamento do que na legislatura anterior, mesmo tendo sido a sensação da campanha. Em votos, de alguma forma, mostrou presença, mas como resultado real, ou seja, vitória nos distritos em disputa, foi uma decepção.

Mas em um Hung Parliament, como o atual, os votos do partido de Clegg valem o governo. Por isso, David Cameron o procurou após o pleito. Os Trabalhistas não fizeram diferente. A vida política tem dessas coisas. Clegg, uma decepção nas urnas, agora é o fiel da balança.

Os Liberal Democrats tem mais afinidades com o Labour. Entretanto, os Tories tentam trazer o partido para seu lado com o objetivo de por um fim a 13 anos de governo dos Trabalhistas.

Quando parecia que o acordo com os Conservadores estava alinhado, soube-se que os tratativas com Labour também avançava a passos largos, com uma exigência clara: Gordon Brown deve deixar o governo.

Nunca uma bancada que diminuiu de tamanho possuiu tamanho valor no jogo político.

sexta-feira, maio 07, 2010

Cameron acena para Nick Clegg

Com os números finais da eleição praticamente consolidados, os partidos começam a buscar acordos que possam viabilizar a formação de um governo.

Gordon Brown tem a prerrogativa de tentar formar um governo, já que é o Primeiro-Ministro e nenhum partido alcançou a maioria absoluta. Tem esperança ainda de ficar, mas a tendência clara é de saída. Se o Labour, que conquistou 258 deputados, tentar manter o poder em aliança com os Liberal Democrats, que elegeu 57, chegará apenas a 315 cadeiras, ou seja, sem maioria absoluta. Além disso, o partido de Nick Clegg não deseja marchar ao lado de Gordon Brown.

Isto leva as atenções para Cameron. Os Conservadores conquistaram 306 assentos, podendo chegar ainda a 307. Neste caso, pode se tentar formar um governo de minoria, mas David Cameron deseja ir além. Um governo de minoria poderia durar pouco tempo e novas eleições teriam que ser convocadas. Uma base assim retrataria um governo fraco.

Assim, Cameron procurou Nick Clegg, que mesmo com uma votação aquém do esperado, tornou-se o fiel da balança, podendo juntar-se aos Tories e formar um governo de maioria. A soma de ambos resultaria em 364 cadeiras na Câmara dos Comuns, mais do que o suficiente.

Os riscos para Cameron, entretanto, são consideráveis, pois alas importantes dos Tories não enxergariam com bons olhos um acordo com os Liberal Democrats. Cameron, neste caso, estaria colocando sua liderança em risco. Uma jogada política arriscada.

quinta-feira, maio 06, 2010

Tories de volta a Downing Street?

Tudo indica realmente que David Cameron será o próximo Primeiro-Ministro. Ainda não sabemos ao certo como formará a maioria, mas a tendência do eleitorado é clara. Ou seja, não houve um empate entre dois partidos, dividindo voto a voto a liderança. A vitória dos Tories é incontestável e calcula-se agora uma projeção de 305 cadeiras no Parlamento.

O segundo lugar ficou com o Labour, com projeção de 255 cadeiras. O Liberal Democrats deve confirmar 61 assentos e outros 29 divididos em partidos menores.

A diferença entre Conservadores e Trabalhistas chega a 50 deputados, o que caracteriza uma vitória consistente e dá aos Tories a possibilidade de formar um governo, mesmo que em minoria ou até chegando a maioria com apoio de outros partidos. Juntos, Liberal Democrats e Labour não devem alcançar os votos recebidos pelos Conservadores e seus aliados.

Assim, como apontei acima, Cameron deve realmente ser o novo Primeiro-Ministro. Se isto se confirmar, será um governo sem uma maioria confortável e os Conservadores terão muito trabalho para implementar sua agenda de reformas. De qualquer forma, aguardamos as confirmações oficiais, entretanto, se a tendência se confirmar, Gordon Brown já deve estar arrumando sua mudança de Downing Street n.10.

Tories vencem. Ainda falta maioria

As primeiras projeções para a composição do Parlamento de 646 assentos mostram uma situação ainda indefinida, que pode ser ainda revertida no detalhe, mas definitivamente mostra uma tendência.

A vitória, como esperado, está nas mãos dos Conservadores. Aposta-se entre 305 e 307 assentos. Os Trabalhistas vem logo a seguir com 255 e os Liberal Democrats entre 59 e 61. Cerca de 29 cadeiras devem ser divididas entre partidos menores, como os Unionistas da Irlanda do Norte, que tendem a apoiar Cameron.

O número mágico para os Tories é 326. Este é o número de cadeiras que precisam ser conquistadas para formar maioria absoluta. Faltam, na melhor das hipóteses, 19 assentos para os Tories formarem o governo. Não chegará pelas próprias forças, resta saber com quem irá compor para tentar chegar ao número mágico.

Voltarei com números mais definidos ainda hoje.

É Hoje!

Finalmente o Reino Unido chegou ao dia de suas eleições mais disputadas em décadas. As pesquisas mostram uma clara vantagem de David Cameron. Depois de ganhar espaço e encostar nos Conservadores, Nick Clegg perdeu fôlego e disputa a preferência dos eleitores pelo segundo lugar com Gordon Brown.

Os Tories ficaram com uma média de 37% nas últimas pesquisas. Entretanto, os Liberal Democrats e o Labour alternam-se em algumas pesquisas, com uma tendência de baixa em alguns institutos para os Trabalhistas, que na pior previsão aparece com 24%. Na verdade, ambos devem dividir cerca de 27% a 28% dos votos segundo as projeções.

Vale lembrar que o voto no Reino Unido é distrital e para confirmar esta tendência que aponto aqui, é necessário um equilíbrio entre os distritos. Aqui é o ponto fraco de Clegg, pois o Labour tem distritos históricos que deve manter e a tradição dos Conservadores aliada a nova estratégia de Cameron, que avançou em distritos do Labour, deve render vantagem estratégica. Os Liberal Democrats, sem uma base consolidada como os partidos tradicionais, não deve transferir a intenção de votos em Nick Clegg de forma consistente em assentos no Parlamento.

Volto ainda hoje com os primeiros resultados.

quarta-feira, maio 05, 2010

PMDB dá as cartas

A campanha de Dilma Rousseff passa por sérios problemas, como já comentamos aqui. A ausência de resposta em números nas pesquisas tem levantado receio em torno de sua base de apoio. Já fala-se em esvaziamento da candidatura e descrença entre os partidos aliados.

Dilma precisa do PMDB. Este é o posicionamento de Lula. Sabemos que o partido não marchará 100% com o PT, já que alguns setores apóiam José Serra. Mas o que farão os outros segmentos, no caso de Dilma continuar patinando em torno dos 30%? Existe a suspeita de que o PMDB poderia abortar o projeto Dilma e engajar-se ao lado de Serra ou mesmo liberar seus quadros para as coligações locais.

Sabedor desta possibilidade, Lula resolveu partir para a ofensiva e adiantar o processo de aproximação formal com PMDB. Convocado o jantar entre Temer e Dilma, esta convidou formalmente o presidente do PMDB para ser o vice em sua chapa.

O movimento mostrou ao PMDB a necessidade de Dilma ter ao seu lado o partido na campanha presidencial. Portanto, Temer entendeu que agora é o momento do PMDB valorizar seu passe. O primeiro passo é a formatação dos palanques estaduais.

Resultado da pressão de Lula: O PMDB adiou o encontro marcado para 15 de maio, quando indicaria claramente seu apoio a Dilma. A decisão foi prorrogada até a data da Convenção do partido, em 12 de junho.

O PMDB agora dá as cartas. Se o PT deseja retomar o controle, precisa fazer com que Dilma pare de errar e mostre reação nas pesquisas. Do contrário, pode inclusive perder aquele que considera seu mais importante e estratégico aliado.

segunda-feira, maio 03, 2010

A Aposta de Cameron

Enquanto Gordon Brown praticamente selou seu futuro político na última semana, os concorrentes, David Cameron e Nick Clegg seguem com seus objetivos de campanha. Tudo indica dois objetivos. Cameron busca chegar a Downing Street e Clegg procura fortalecer o partido e mira nas próximas eleições.

Clegg, apesar dos números altos nas pequisas, não deve conseguir transformar esta maioria em assentos no Parlamento, especialmente em decorrência do sistema eleitoral britânico. Os Trabalhistas, entretanto, devem manter boa representatividade no Parlamento pelo mesmo motivo.

O jogo está nas mãos dos Conservadores, portanto. Se olharmos o mapa eleitoral do Reino Unido, podemos projetar que os Tories alcancem 311 assentos, aumentando em 113 aqueles conquistados na última eleição, ou seja, um avanço significativo e consistente. Estes assentos devem ser conquistados em antigos redutos do Labour, devido a estratégia política adotada por Cameron que já comentei aqui.

Neste caso, os Conservadores estão perto da maioria, pois consideramos fortemente a possibilidade de aliança destes com partidos locais, que devem ganhar assentos importantes, como os Unionistas da Irlanda do Norte. Neste balanço vejo que é plenamente possível Cameron vencer e formar maioria.

Confirmando-se este cenário, Cameron poderá ir até a Rainha Elizabeth II solicitar sua permissão para a formação de um novo governo no Reino Unido.