quinta-feira, setembro 30, 2010

Anti-Debate

Quem assistiu ao debate da TV Globo esperando alguma reação de José Serra, ou pelo menos algum movimento que pudesse levar Marina Silva ao segundo turno, ficou decepcionado.

José Serra seguiu a orientação de González, que coordena o marketing da campanha. Preferiu evitar o embate e seguiu na estratégia de mostrar e consolidar sua figura na cabeça do eleitor no longo prazo. As urnas dirão se estava correto.

Marina teve sua grande oportunidade de transformar o movimento ascendente em seu favor em uma verdadeira onda que virasse o segundo lugar e levasse a eleição para um segundo turno. Perdeu esta oportunidade.

Assim, o debate foi fraco e devagar. Dilma aproveitou a folga dada pelos adversários para consolidar sua imagem de sucessora de Lula e nem seu principal deslize foi explorado, quando disse que "todas as doações oficiais estão registradas". Caberia a pergunta que ficou no imaginário de todos, sobre possíveis doações "não oficiais", ou seja estariam estas registradas? A oposição preferiu se fazer de surda e muda continuou.

Dizem que não houve "bala de prata" que salvasse a oposição. Discordo. Se a situação fez muito para perder, a oposição fez menos ainda para ganhar. O arsenal de balas de prata desperdiçados nesta campanha chega a impressionar.

Considerando a postura dos candidatos e a reação morna da oposição, inclusive sem o impulso esperado de Marina, o pleito corre sem alterações. Existe chance de um segundo turno, mas o debate da Globo diminuiu muito esta possibilidade. Na ausência de adversários, Dilma foi a grande beneficiada. O vencedor, se houve, foi William Bonner.

quarta-feira, setembro 29, 2010

Quadro Nacional

As pesquisas, nesta reta final de campanha, tendem a uma acomodação. Vemos também viradas de última hora em alguns Estados. Tudo isso tende a tornar os resultados das eleições de domingo impressionantes em alguns lugares. Surpresas tendem a aparecer.

A tendência é Alckmin vencer em S. Paulo ainda no primeiro turno. Sua vantagem tende a se manter. A virada em Minas Gerais também é uma tendência consolidada e Anastasia pode vencer no primeiro turno. Se em São Paulo os dois senadores devem ser da coligação governista, em Minas, ambos devem vir da oposição. Ainda nas Minas Gerais, Aécio deve submeter o petismo a uma dolorosa derrota, deixando Patrus Ananais e Fernando Pimentel sem cargo eletivo.

Alagoas aparece no rol do imprevisível. Os três candidatos, Collor, Lessa e Teotônio Villela podem chegar ao segundo turno. Ali, Lula se esforça para derrotar Heloísa Helena na corrida ao Senado. Para tanto se aliou a Renan Calheiros e Benedito de Lira, que podem se eleger.

Os tucanos, além de São Paulo e Minas Gerais, devem vencer em Goiás já no primeiro turno e agora também no Tocantins, com Siqueira Campos virando o jogo e assumindo a ponta. No Pará, Simão Jatene pode confirmar também uma importante vitória. Beto Richa era uma aposta certa no Paraná, mas tudo indica que será uma disputa acirrada com Osmar Dias.

Ainda no terreno da oposição, o DEM pode levar Santa Catarina, talvez em segundo turno, e o Rio Grande do Norte, uma vitória importante de José Agripino Maia, que renovará seu mandato para o Senado.

O PT não deve fazer muitos governadores, já que optou por focar nas vagas para o Senado, onde deve obter forte êxito. Ainda assim pode levar no primeiro turno dois estados importantes, além do Distrito Federal: Rio Grande do Sul e Bahia. Tende a vencer também em Sergipe.

No mais, parceiros do PT devem fazer governadores, como o PSB, no Ceará, Espírito Santo e Pernambuco e com o PMDB, uns mais próximos, outros nem tanto.

terça-feira, setembro 28, 2010

Refluxo para Dilma

As pesquisam mostram que Dilma caiu de forma consistente, ou seja, em várias classes sociais e regiões. Chegou ao limite da vantagem para vencer no primeiro turno. Também fica claro que Marina cresce, também de forma consistente.

Será difícil para Marina chegar ao segundo turno. Sua chance está apenas na possibilidade de um movimento ascendente que retire, além dos votos da parte conservadora que apóia Dilma, como os evangélicos, votos também de José Serra. Uma espécie de voto útil que lhe catapulte para um segundo turno. Casos assim foram vistos no Rio Grande do Sul, que levou Rigotto ao segundo turno em 2002 e Yeda para a segunda etapa de 2006. Ambos venceram no segundo turno. Rigotto levou votos de Britto e Yeda do próprio Rigotto.

A onda, ou ainda uma espécie de marolinha, está a serviço de Marina. Vem na hora certa, mas com pouca intensidade. Precisa se alinhar com consistência até o dia da eleição. Para isso, o debate na Rede Globo será fundamental. Mas vejam, muitos prefeitos e líderes nacionais do PMDB "marinaram" e a candidata do PT evita o confronto com a candidata do PV. A cautela na campanha petista, depois de já estar discutindo cargos em um futuro governo, é lembrada a todo o momento.

Entretanto, a tendência é de segundo turno, pois Dilma desce de forma consistente e como disse aqui, em face de uma série de fatores, para vencer no domingo, ela precisa chegar com uma vantagem confortável, pois seu eleitorado tende a se atrapalhar com a urna eletrônica e precisa levar dois documentos para votar. A tendência, por mais que alguns institutos possam apontar em sentido contrário, é clara de um segundo turno. A pergunta é se Marina terá fôlego para transformar os votos de Serra em votos úteis a seu favor. Se mostrar que pode vencer Dilma, terá chances.

sexta-feira, setembro 24, 2010

Risco para Dilma

A queda de Dilma na pesquisa Datafolha ainda precisa ser confirmada por outros institutos, como o Ibope, que deve divulgar seus números ainda hoje, entretanto, fez soar um alarme no front do PT.

A diferença caiu de 12 para 7 pontos de vantagem. É certo que Dilma ainda ganharia no primeiro turno, mas existem muitas variáveis que precisam ser consideradas quando se especula a possibilidade de um segundo turno. Para evitar uma segunda votação, Dilma precisa estar com uma vantagem confortável nas pesquisas. Explico.

Apesar de 58% dos eleitores de Dilma identificarem seu número com seu nome, existe um problema adicional, o acerto do voto na urna eletrônica. Esta é uma variável que precisa ser considerada e que certamente está na mente da coordenação de campanha.

Os eleitores de Serra e, principalmente Marina, são mais escolarizados e de renda mais alta, menos propensos a errar o voto na urna eletrônica. Em uma eleição em que é preciso digitar por último os números do candidato a Presidente, algum problema pode surgir e votos podem ser perdidos. Apenas vota-se para Presidente depois digitar os números para Deputado Estadual/Distrital, Deputado Federal, dois Senadores e Governador. É uma tarefa que pode parecer fácil, mas tende a ser difícil para muitos eleitores.

Assim, Dilma precisa chegar ao dia da eleição com uma boa margem de segurança. Por isso sua descida nas pesquisas preocupa. Por mais que não afete sua liderança, a perda de votos nas camadas mais escolarizadas (migrando para Marina) pode tirar votos importantes da candidata petista - votos que certamente não seriam perdidos na urna eletrônica.

Ainda é preciso considerar a questão da abstenção, que na eleição de 2006 foi amplamente favorável a Alckmin no primeiro turno. Ela é maior no Norte e Nordeste, onde Dilma é mais forte. No Norte, em 2006, a abstenção foi de 19%. No Nordeste, de 18%. No Sul ficou em 15% e no Sudeste em 16%.

Assim, se os números de Serra e, especialmente Marina, mostrarem reação, a chance de um segundo é real e possível. Para evitá-lo, Dilma precisa se mobilizar no Sul e nas camadas com maior escolaridade e renda - exatamente os nichos onde tem perdido votos.

quinta-feira, setembro 23, 2010

Os Dias

Como se os tucanos já não tivessem problemas suficientes. Agora, aquele foi vice de Serra sem nunca ter sido, o tucano Álvaro Dias, declarou apoio ao irmão, Osmar, que disputa o governo do Paraná apoiado por Dilma e turbinado por Lula.

Álvaro Dias é um dos mais combativos senadores da oposição. Inclusive ouviu de Dilma, recentemente, que não aceita convite seu "nem para um cafezinho".

Do outro lado do palanque de Osmar Dias está Beto Richa, tucano como Álvaro. Dizem pelo Paraná que as últimas pesquisas, impedidas de serem divulgadas por decisão judicial, traziam já uma inversão de posição, com Osmar em primeiro e Beto logo atrás.

Osmar Dias perdeu a disputa pelo governo do Paraná em 2006 contra Roberto Requião, apoiado por Lula. Hoje, Lula apoia Osmar, que além de ter sido tucano entre 1996 e 2001, é irmão de Álvaro Dias, que por pouco não foi o vice de Serra nesta eleição. Para tornar tudo ainda mais inverossímil, o antigo adversário, Requião, agora concorre ao Senado pela chapa de Osmar.

Depois de dizer que "A campanha estadual abandonou a candidatura nacional (de Serra)", Álvaro Dias diz que tomou a decisão de não apoiar Beto Richa em respeito à memória de seus pais, e emendou: "tendo um irmão na disputa, meu voto para governador será para o Osmar".

A Onda

As eleições casadas, como as que temos este ano, acabam gerando o que chamamos na política de "efeito cascata", ou seja, o embalo que leva a candidatura mais forte a puxar votos para seus aliados.

É sem dúvida o caso de Dilma. Vemos que sua subida nas pesquisas gera um efeito cascata para os candidatos aos governos de estado apoiados pelo PT e também para o Senado. A escalada de Dilma foi benéfica de norte a sul para os candidatos petistas, como Tarso Genro no Rio Grande do Sul e Aloízio Mercadante em São Paulo, até outros como Roseana Sarney no Maranhão, filiada ao PMDB e Osmar Dias no Paraná, filiado ao PDT.

A onda segue para as candidaturas ao Senado, onde Lindberg Farias, do PT, apoiado pelo ex-tucano, atual Governador pelo PMDB, Sérgio Cabral, assume a ponta no Rio de Janeiro.

Este fenômeno desagua nas candidaturas proporcionais, para deputados federais e estudais. Tucanos e democratas vêem a possibilidade real de um brutal redução em sua bancada, perdendo um considerável número de parlamentares.

Isto ocorre, entre outras coisas, pelo fato de prefeitos e parlamentares locais desejarem estar ao lado do vencedor, para assim serem beneficiados com repasses mais robustos, tanto do governo federal, quanto dos governos estaduais. Apoiar aquele que vai vencer, rende dividendos futuros.

A melhor forma de reverter este quadro é uma reação de Serra, que seria já tardia para as eleições proporcionais, mas que poderia influenciar ainda as disputas pelo Senado e pelos governos estaduais.

De outro modo, a onda Dilma pode virar um tsunami petista e em caso de segundo turno, com Senadores e muitos Governadores, identificados com a candidatura oficial, eleitos já no primeiro turno, será muito difícil reverter a eleição presidencial em uma segunda etapa.

terça-feira, setembro 21, 2010

"Nem para um cafezinho"

A história mostra como o nível de tensão continua alto entre governo e aquilo que sobrou, pelo menos por enquanto, da oposição.

Convidada ao Senado para dar explicações sobre o Caso Erenice, por sugestão do senador tucano Álvaro Dias, Dilma respondeu: "Convite do Alvaro Dias eu não aceito nem pra cafezinho".

A resposta, que poderia ter sido outra, fornece uma idéia dos rumos que o País tomará a partir de janeiro de 2011. A oposição está sendo reduzida a pó pelas forças governistas e a preocupante ampla maioria idealizada por Lula para o Senado, cada vez toma formas mais definidas.

O tom de Dilma com o senador Álvaro Dias mostra que, em um eventual governo da candidata petista, as relações políticas tendem a não ter qualquer tom amistoso e isto será certamente ruim para os rumos da democracia no País.

Aliás, instado a controlar-se mais em suas declarações após os últimos incidentes, Lula, do alto de sua popularidade, avisou que não moderará seu ataques contra aquilo que ainda resta de oposição. Seu objetivo é, realmente, reduzí-la a pó.

Socialites do B

Percebemos que uma campanha vai bem quando os apoios começam a surgir de todos os lados. A escalada do PT rumo a hegemonia plena da política nacional tem movimentado diversos setores. Cientes dos rumos que o País toma e preocupados com seu próprio futuro, assim como de seus negócios, a high society brasileira curiosamente se descobre mais socialista (e vermelha) com o passar dos dias.

O mais novo expoente do petismo é Chella Safra, mulher do banqueiro Moise Safra. Em jantar de apoio a Marta Suplicy, disparou que mulher vota em mulher e declarou voto em Dilma. Aliás, os anfitriões do convescote eram Eleonora e Ivo Rosset, donos da Valisere.

Os Safra ainda foram representados pelo banqueiro Joseph Safra e sua esposa Vicky e classe ainda contou com a presença de Olavo Setúbal Jr., do Itaú-Unibanco. Ricardo Steinbruch, do grupo Vicunha, estava lá, além de Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, e Jack Terpins, das Lojas Marisa, entre outros.

O registro, feito na coluna de Mônica Bergamo, evidencia os rumos do País e deixa claro o resultado das eleições que se avizinham.

*A foto, que não foi realizada no evento, é da festa de 135 anos do Jockey Club de São Paulo, onde Dilma esteve presente com a alta sociedade paulistana.

sexta-feira, setembro 17, 2010

O Fim do DEM

Lula falou, do alto da sua popularidade e de um palanque, que quer extirpar o DEM da política nacional. A afirmação assusta a democracia, é verdade, assim como qualquer arroubo de flerte com idéias que cerceiam a liberdade. Rumamos para um governo praticamente sem oposição. Será o início da consolidação do projeto político, como afirmou José Dirceu. O DEM, de antigo protagonista, passará a partido nanico, em um processo digno de antropofagia.

O DEM, mesmo sem a mão pesada de Lula, caminha pouco a pouco para o cadafalso. Entretanto, ainda existem opções. Uma delas é a fusão com o PSDB, que diminuiria os partidos e não encontraria homogenidade. Se não seguir este caminho, perderá a condição de partido forte no Congresso Nacional que se avizinha, pois deve eleger menos do que 51 deputados. Os dois caminhos são sinuosos, para dizer o mínimo.

Faltou ao DEM um projeto político nacional e uma renovação nas bases. O partido tornou-se refém de uma segunda geração dos políticos que o fundaram, carregando em seus sobrenomes a missão de renovar a agremiação. Acontece que partidos políticos não são entidades hereditárias. Para seguir existindo com força, é necessário que seus quadros sejam renovados por nomes da base. Isto nunca ocorreu com o DEM. Colhe-se agora os resultados.

Um partido precisa estar perto das bases, onde surgem as lideranças. Um partido não se faz apenas de lideranças, mas de um ampla base, exatamente o que falta ao DEM. É necessário estar presente em Diretórios Acadêmicos, Associações de Moradores, Movimentos Empresariais. É preciso formar lideranças, possuir um forte instituto de formação, possuir uma oposição atuante, que ocupe espaços. É preciso realizar mobilizações regionais das bases semanalmente. É preciso sempre lançar candidatos formados e afinados com as idéias do partido. Aí está a base.

Na Espanha, trabalhei com José María Aznar, que juntando os retalhos dos pequenos partidos da direita espanhola, fez surgir um partido novo, calcado na estratégia que mencionei acima. É preciso, para o projeto de uma força política, três coisas, ele sempre me disse: Um Partido, Uma Idéia e Um Líder. Com base nisso, ele formou o Partido Popular e mudou a face da política espanhola.

Cabe ao DEM encontrar seu líder, alguém que leve a refundação do partido e talvez uma fusão com outros menores. Investir na base, em idéias claras e atuar como uma oposição combativa e leal. O trabalho é longo e difícil, mas possível.

Se nada for feito, o DEM caminha mesmo a extinção, sem precisar da ajuda de Lula. A provável derrota de seus barões nas eleições deste ano evidenciam a crise pela qual o partido passa. Se o DEM não encontrar um líder que tome as rédeas do partido, caminhará para o cadafalso.

quarta-feira, setembro 15, 2010

No Bolso

Como se um escândalo não fosse o bastante, veio outro, desta vez gestado no coração do governo, nas mãos de Erenice Guerra, indicada por Dilma para comandar a Casa Civil.

O que mudará este fato na eleição presidencial? Verdadeiramente nada. Dilma seguirá na frente e Serra continuará ladeira abaixo, como vemos. Os parcos votos que Dilma perde seguem para Marina. O candidato do PSDB, mesmo sendo vítima, não conseguiu fazer sua campanha sentir sequer um impacto positivo com todo o episódio.

Na verdade, nenhum dos fatos apresentados geram impacto negativo para Dilma por razões simples. Lula colocou em marcha um governo calcado na distribuição de renda para todas as classes sociais, seja via concursos públicos, investimentos estatais, bolsas auxílio e polpudos subsídios. Desta forma, não há como perder a eleição. Quase todas as famílias brasileiras recebem sua fatia de recursos do governo. Ninguém quer perder a sua. Para que mudar?

Esta política já existiu no passado. A alta intervenção do governo na economia e a farta distribuição de bondades e investimentos estatais geram distorções econômicas no longo prazo. A penosa década de 80 foi o preço que uma geração inteira pagou pela política econômica similar a de Lula, implantada no governo Geisel.

Mas quem pensa no longo prazo? Quem pensa nos possíveis retrocessos e riscos democráticos que uma anestesia inconsciente coletiva pode trazer? O País caminha para uma espécie de planificação mascarada, um socialismo moreno, na definição deixada por Leonel Brizola? Talvez, é bem provável. Mas quem se importa com isso? O importante é passar em um concurso e garantir a aposentadoria.

Como todos se beneficiam, poucos questionam, talvez só os 4,9% que desaprovam o governo Lula, ou seja, os que estão fora da festa. Mas um dia a festa acaba e todos terão que pagar a conta. Até lá, nenhum escândalo terá repercussão. Todos estão devidamente guardados no bolso. Não há porque questionar quando se participa da farra.

quarta-feira, setembro 08, 2010

Os Números do Desgaste

Começam a surgir os primeiros números com o impacto das violações de sigilo fiscal que tinham como alvo o PSDB. Pode-se perceber pelo tracking de alguns institutos que a candidatura de Dilma sentiu o desgaste, descendo para 44%. Resta saber se ela reagirá ou se pode descer ainda mais.

Para evitar um desgaste maior, uma verdadeira operação de guerra foi deflagrada, desde insinuações por meio de Dilma, desmentidos do governo e desqualificação dos adversários. A ausência de punição dos verdadeiros mentores da operação parece ser a única certeza.

Lula, na estratégia de reação, foi para a TV e acusou os adversários tucanos. Estes, até o momento tem apresentado uma reação pífia, desproporcional ao tamanho do escândalo. Considerando isto e a eficiência da máquina governamental em criar versões diferentes, vemos que Dilma tem tudo para segurar sua queda.

Mesmo que Dilma mantenha os 44%, Serra ainda precisaria subir. O tucano não conseguiu criar um momento político favorável. Peças publicitárias fracas foram ao ar. Nada de impacto, nada que comova o eleitor e mexa com os brios e emoção. Ao invés de compor com Marina, tentando evitar a vitória de Dilma, Serra sofre ataques até do PV. A vítima virou vilão e o jogo virou. A política precisa ser exercida de forma profissional. O jogo eleitoral presidencial é muito pesado para uma estratégia tão fraca. Talvez o tucano tenha perdido sua grande chance de levar a eleição para um segundo turno.

quinta-feira, setembro 02, 2010

Francenildos

A quebra dos sigilos fiscais de membros do PSDB é, até o momento, o único fato relevante de uma eleição que não tem mobilizado os brasileiros. O caso se torna ainda mais grave quando vemos que outros tantos cidadãos, sabe-se lá por qual motivo, tiveram também seus sigilos fiscais violados da mesma forma que os tucanos.

O PSDB mais uma vez não acerta na estratégia eleitoral. Deveria, face a situação de Serra nas pesquisas, explorar o fato politicamente. Mobilizou-se juridicamente, entretanto, na esfera política, pouco foi mostrado em seu programa de TV, por exemplo. Enquanto isso, editoriais, como vimos n'O Globo, são contundentes em reprovar o que foi chamado pelo jornal de "a partidarização do Estado, uma das últimas escalas na degradação da democracia rumo a um regime policial, personalista, autocrático". Do outro lado, os tucanos, principais vítimas deste jogo sujo e baixo, pouco fazem.

Serra deveria trazer, por exemplo, Francenildo dos Santos Costa, maior símbolo da violação de sigilos constitucionais, a dar seu depoimento. A violação de sua conta ocorreu sob a batuta do homem forte da candidatura Dilma, Antônio Palocci. Assim como Francenildo, outros tantos brasileiros que também foram vítimas da violência exercida pela Receita Federal, de uma celebridade como Ana Maria Braga até cidadãos comuns, pessoas sem qualquer notoriedade, que poderiam dar seu depoimento.

Mas como também foi escrito por analistas políticos, o País parece tomado de uma letargia coletiva que o impede de refletir. Se somarmos a este fato a inoperância da oposição, chegaremos a conclusão que cedo ou tarde todos seremos Francenildos.

quarta-feira, setembro 01, 2010

Quebras de Sigilo

As quebras de sigilo fiscal de membros graduados do PSDB é um daqueles absurdos com os quais a população brasileira já ficou habituada. É um escândalo, sem dúvida, mas como todos os mais recentes que vimos na história brasileira, tem tudo para dar em nada.

Quais as implicações para a campanha eleitoral? Praticamente nulas. O assunto não tem capacidade de penetração em parte do eleitorado e tende a revoltar outros tantos que já tem consolidada sua opinião, assim como não importa para aqueles que já decidiram votar na continuidade do governo atual.

É, por certo, muito ruim para o País. Escândalos como esse, assim como vários outros, deveriam servir de punição exemplar. Em países com uma maior tradição de continuidade democrática e instituições fortes, que situam-se acima daqueles que ocupam o governo, as chances de punição são muito maiores e acontecem. O resultado é, diante da certeza da punição, a ausência de novos delitos. No Brasil fizemos o caminho inverso, infelizmente.

Quebrar os sigilos fiscais de membros da família de um candidato, assim como de dirigentes partidários com o intuito de intimidá-los, constitui-se em uma daquelas práticas que afastam o interesse dos bons pela política. Infelizmente parece que estas são as práticas políticas atuais e comuns em um País que não assiste um escândalo dessa envergadura pela primeira vez. O pior de tudo é que atos como este não chocam, nem influenciam mais o voto da população. Mensalões, mensalinhos, aloprados e caseiros, só para citar os mais recentes, estão aí para nos lembrar.

A investigação não dará em nada e o impacto eleitoral será zero.