sexta-feira, fevereiro 28, 2014

Prioridade: Ucrânia

Ontem estive em uma discussão com os principais âncoras políticos do jornalismo americano e ninguém tocou na questão política da Venezuela. Em compensação, 90% da discussão foi em torno da Ucrânia. A preocupação no norte é preponderantemente com o país europeu, por um sem número de motivos. 

O primeiro deles é porque a questão em Kiev traz para o jogo dois pesos pesados nas relações internacionais: União Européia e Rússia. Neste jogo entram ainda a Otan, que precisa ficar atenta, além dos Estados Unidos, tradicionalmente alertas quando a Rússia está do outro lado do tabuleiro. As razões, entretanto, não param por aí. 

A Ucrânia é importante geopoliticamente. Por ali passam os dutos que alimentam de gás boa parte da Europa. Sua fronteira, de um lado é com membros da Otan e do outro com a Rússia. Agora, terminados os Jogos Olímpicos de inverno, Moscou já começou a agir com exercícios militares na fronteira. Os americanos sabem que Putin conseguiu colocar seu país novamente na balança de poder do mundo, especialmente depois das questões envolvendo o Irã e a Síria. Ganhou mais uma oportunidade.

Do outro lado, já começaram movimentos. Enquanto a Alemanha hesita em abrir o cofre da União Européia, o FMI se movimenta para acalmar os ânimos e dar solidez ao governo pró-ocidente. Mover-se financeiramente em apoio ao governo provisório é uma forma de evitar a eclosão de uma guerra civil, o que invariavelmente envolveria a Rússia e as forças da Otan. O xadrez político é delicado. 

Na verdade, para as grandes potenciais, a grande questão do momento é a Ucrânia, por toda sua importância e seus possíveis desdobramentos. A Venezuela, bem como a América Latina, segue em segundo plano.

quinta-feira, fevereiro 27, 2014

Ucrânia e Crimeia

A guerra civil na Ucrânia pode ter começado. Não falo dos confrontos que arrastaram Yanukovitch para fora do poder. Este foi apenas o início. Os desdobramentos são os verdadeiros problemas que o país passará a enfrentar. O primeiro já teve início com as primeiras demonstrações na Crimeia, uma república autônoma do sul do país que está insatisfeita com os resultados dos protestos em Kiev.

Sabe-se que a Ucrânia é um país dividido entre dois mundos, um de influência ocidental e outro oriental. Enquanto parte do território é de origem russa, do outro lado vemos fortes traços culturais ocidentais. Um governo em Kiev, portanto, sempre sofrerá desta fricção entre duas realidades. Se Yanukovitch agradava o leste e desagrava o oeste do país, neste momento, depois de sua queda, a equação se inverteu.

A Crimeia, assim como metade da Ucrânia, começa a resistir. Se o governo central agora insistir em uma aproximação com a Europa, a situação política no leste do país irá começar a ferver. Os primeiros sinais começaram a aparecer também no sul. Ali, 60% da população é de origem russa. Durante os protestos dos últimos dias, a bandeira russa foi hasteada em prédios púbicos em Simferopol.

O que ocorre na Crimeia é o primeiro sintoma do que pode se espalhar por boa parte do leste do país, pois surge em um território que era originalmente parte da Rússia, mas depois do fim da União Soviética ficou sob a jurisdição da Ucrânia. A Rússia mantém forte influência na região, em especial no porto de Sebastopol, sede de sua frota no Mar Negro. Portanto fica clara a equação. Em uma região autônoma, de maioria russa, com presença de frotas de Moscou, surgem os primeiros movimentos de cisão dentro da Ucrânia.

O país pode estar dando o primeiro passo em direção a uma guerra civil. Os russos entenderam isso e já começam, agora que os Jogos Olímpicos de Inverno terminaram, a realizar movimentos militares na fronteira com a Ucrânia. Em um país dividido entre dois mundos, a chance de um confronto interno infelizmente parece cada vez mais real. O que ocorre na Crimeia é o primeiro sintoma disso.


segunda-feira, fevereiro 24, 2014

Datafolha: A Vez de Marina

Mais uma vez voltamos para política nacional. Saiu mais uma pesquisa que merece análise mais apurada. Se no meio da semana tivemos a CNT/MDA, no final de semana chegaram tabulados os números do Datafolha. Ambas pesquisas seguem no mesmo sentido, mas com uma pequena alteração que pode fazer toda a diferença.

No início da semana passada, a CNT/MDA nos disse que Dilma liderava (43,7%), seguida de Aécio (17%) e Eduardo Campos (9,9%). O Datafolha nos traz a mesma situação: Dilma (44%), Aécio (16%) e Eduardo (9%). No cenário com Marina, o mesmo ocorre. Na CNT/MDA temos Dilma (40,7%) seguida de Marina, que toma o segundo lugar (20,6%), e Aécio (15,1%). O Datafolha dá Dilma (43%), Marina (23%) e Aécio (15%). Os números batem.

Mas o Datafolha trouxe Joaquim Barbosa para o ringue. No cenário com Eduardo Campos, Barbosa toma o segundo lugar de Aécio e chega a 16%. Percebe-se que leva um pouco dos votos de cada um, mas preponderantemente cresce com os votos dos indecisos, que optam por seu nome. No cenário com Marina, Barbosa chega a 14% e embola o meio de campo, deixando Marina com 17% e Aécio com 12%. Dilma, em ambos os cenários, tem algo em torno de 40%-42%.

Agora chegamos ao ponto importante, a rejeição, o mesmo que analisei na semana passada. No CNT/MDA, Dilma é rejeitada por 37,3, Aécio por 36%, Eduardo por 33,9 e Marina por 35,5%. O Datafolha trouxe números convergentes, com exceção de Marina. Vejamos, Dilma, Aécio e Eduardo são rejeitados por 30%. Barbosa, inserido nesta pesquisa, tem rejeição de 27% e Marina somente de 20%. Percebemos que a rejeição a Marina é diferente. Para CNT/MDA é de 33,5% e para o Datafolha é de apenas 20%. 

Se os números do Datafolha estiverem corretos, o PSB já tem candidato, ou melhor candidata. Marina, com esta taxa de rejeição, tem enorme potencial para crescimento, enquanto Eduardo, mesmo desconhecido do eleitorado, já tem rejeição em patamar similar a Dilma, candidata mais conhecida. Barbosa tem rejeição alta, mas dentro do patamar do voto petista, cerca de 30%. Tem potencial também. Entretanto, se os números do Datafolha estiverem corretos, Marina, para onde desaguaram intenções de voto depois das manifestações de 2013, desponta como o grande nome desta pesquisa e talvez das eleições, especialmente se Joaquim Barbosa decidir não entrar no páreo. 

sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Os Governadores

2014 é ano de eleições legislativas nos Estados Unidos, mas é também tempo de muitas disputas para os governos dos estados. Como escrevi ontem aqui, um dos alvos dos democratas é o governador Scott Walker de Wisconsin, potencial candidato presidencial republicano. Os democratas tem outros alvos, em especial governadores eleitos em estados que votaram em Obama nas últimas eleições, mas que possuem republicanos eleitos em seu comando. A idéia dos democratas é reverter esta situação.

O partido do presidente Obama foca em duas situações: estados tradicionalmente democratas que elegeram republicanos na onda conservadora de 2010 e estados que variam em cada eleição, chamados de "swinging states", fundamentais em uma eleição presidencial. Neste rol estão Ohio, Nevada, Pennsylvania e Flórida, por exemplo, governados por republicanos e essenciais em uma eleição para a Casa Branca. Estes estados deram a vitória a Bush em 2000 e 2004 e para Obama em 2008 e 2012.

2010 foi um ano singular para os republicanos, pois além de vencer em "swinging states", venceram em territórios de recente tradição democrata, como Michigan, Maine, Wisconsin, Iowa e Novo México. O objetivo é virar estes estados, mas sabe-se que não é possível fazer tudo. Com bons números em Nevada, Iowa e Novo México, os republicanos Brian Sandoval, Terry Branstad e Susana Martinez devem vencer com facilidade. O foco dos democratas é outro.

Dentro da estratégia política, é mais importante vencer em estados que podem virar a eleição presidencial em dois anos, do que naqueles de forte tradição democrata, que mesmo com governadores republicanos possuem a tendência de despejar seus votos no partido de Obama em 2016. Logo o foco está claro. Vencendo uma eleição em Wisconsin, por exemplo, ele abatem de quebra a possível candidatura presidencial de Scott Walker. O foco democrata portanto está em Wisconsin, Ohio, Flórida e Pennsylvania.

Mas nem tudo é fácil neste caminho. Apesar de na Flórida, Maine e Pennsylvania o trabalho ser relativamente mais fácil, em Wisconsin, Ohio e Michigan, os republicanos tem levantado doações expressivas de campanha e se preparam de forma consistente para as eleições. Quem pode emergir como um grande líder nessa história é Chris Christie, governador de New Jersey e Presidente da Associação de Governadores Republicanos, que pode ajudar estes governadores a vencer. Se isto ocorrer, pavimenta seu caminho para a indicação do partido para o pleito presidencial. Como vemos, muito estará em jogo em 2014.

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

A Vez de Walker

Primeiro foi Chris Christie. O alvo agora é o governador de Wisconsin, Scott Walker. Mais um potencial candidato republicano é atingido por um escândalo, de proporções infinitamente menores, é claro, mas com potencial para desgastar a sua imagem. Na verdade, Walker enfrenta uma enorme oposição em seu Estado - inclusive enfrentou um recall depois de eleito, e venceu. Agora, com seu nome em rede nacional, passa a ser alvo dos democratas.

O caso se resume ao fato de um antigo chefe de gabinete substituto ter sido condenado por práticas políticas consideradas ilícitas. Em decorrência disso, agora tornaram-se públicas as trocas de emails entre diversos assessores de Walker, inclusive o tal condenado, com mensagens nada amistosas sobre adversários e manobras políticas executadas dentro da campanha. Nada que ligue diretamente o caso ao conhecimento do Governador, ou seja, pelo que se sabe até agora, as conversas estavam limitadas aos assessores.

Walker enfrentará uma campanha pela reeleição em breve. Apesar de popular e ter grandes chances de vitória, será uma eleição dura, afinal estamos falando de Wisconsin, que apesar de ter eleito um republicano para governar o estado, votou com Obama na eleição presidencial e tem um história política ligada ao partido democrata e ao poder exercido pelos sindicatos.

Mas Walker se tornou uma das jóias do partido republicano e do Tea Party. Original de Iowa, Walker, que conheço pessoalmente, é um sujeito simples e isto tem um potencial eleitoral incrível. Seu carisma com o eleitorado é forte e sendo um conservador legítimo, transita com facilidade pelas diferentes alas do partido. Ele é um grande amigo do governador de New Jersey, o moderado Chris Christie.

Da primeira vez que Walker recebeu ataques, sua tendência foi crescer. Seus opositores acreditaram que poderiam vencer um eventual recall da eleição para Governador. Scott Walker virou o jogo, venceu o recall e se tornou um herói nacional do partido republicano. Sendo um político muito perspicaz, tende a crescer quando sofre ataques, pois sabe como reagir. Diante da exposição, se tornou o próximo da lista de potenciais candidatos presidenciais republicanos a sofrer ataques, mas como sabe-se em Milwaukee, talvez isto apenas ajude a sedimentar ainda mais seu nome perante o eleitorado.

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

O Líder de Obama

Harry Reid é o homem que controla o Senado em Washington. Ele é o líder do governo Obama desde seus primeiros dias na Casa Branca. Apesar de ouvir muito, é combativo, duro e difícil de negociar. Sua postura, muitas vezes chamada de ditatorial, é um dos principais motivos para os republicanos tentarem de todas as formas retomar a maioria perdida entre os senadores. Durante os sete anos de Reid na liderança, ele mandou 74 projetos para o plenário, uma média 10 vezes maior do que seus antecessores.

Na outra Casa tudo funciona diferente. Na Câmara existe uma Presidência, exercida pelos republicanos, que detém maioria. O comando da Casa está nas mãos do republicano John Boehner, de Ohio. Já a liderança dos republicanos fica por conta de Eric Cantor, da Virgínia e a dos democratas com Nacy Pelosi, da Califórnia. A Câmara, portanto, como vemos, possui um comando republicano, além de possuir um líder da maioria, também republicano. No Senado, entretanto, existem apenas duas forças, a maioria, hoje democrata e a minoria, republicana, sob o comando de Mitch McConnell, do Kentucky. A Presidência do Senado é exercida constitucionalmente pelo Vice-Presidente.

Mas o que vemos hoje é um Senado parecido com a Câmara. Harry Reid, líder da maioria, exerce de fato o comando da Casa, muitas vezes de forma mais determinante do que John Boehner faz na Câmara, o que lembra a liderança incontestável que Lyndon Johnson exerceu no Senado nos anos 50. Isto, entretanto, incomoda os demais senadores, tanto democratas quanto republicanos, uma vez que esta não é a característica constitucional do Senado.

Reid, eleito pelo Nevada desde 1986, é o mentor da estratégia nuclear de alterar o regimento do Senado para acabar com as obstruções dos republicanos, um movimento que aumentou a distância entre os dois partidos de forma substancial. O próprio Reid, quando estava na oposição era um dos mais ardentes defensores das táticas de obstrução, o chamado filibuster. Até Obama sentiu o poder de Reid contra si mesmo. O líder democrata anunciou que o Senado não apoiaria a idéia de dar uma autorização expressa, chamada de "fast track", para o Presidente negociar acordos comerciais internacionais.

Mas o líder de Obama pensa no partido e na manutenção de seu cargo. Reid deixou de mandar para o plenário temas que pudessem afetar a campanha democrata deste ano, evitando que os senadores que tentam reeleição, tivessem que adotar posições polêmicas. Se depender dele, os democratas mantém a maioria do Senado. Reid, um político habilidoso, completará no ano das eleições presidenciais 30 anos como senador. Hoje, aos 74 anos, mantém os lobbies de doadores e senadores sob seu direto controle, mesmo que isto gere a ira dos republicanos. Com sua maioria em jogo nas eleições dos próximos meses, 2014 é ano de Reid.

terça-feira, fevereiro 18, 2014

Nova Pesquisa

Acaba de sair uma pesquisa de intenção de voto para Presidente. Dilma continua na frente e Marina segue no seu patamar de 2010. Aécio ainda não decolou e Eduardo Campos não empolga nem com Marina na vice. Se o quadro permanecer como está, Dilma tende a alcançar uma vitória segura, talvez no primeiro turno, mas a pesquisa vai além e traz dados mais importantes.

Intenção de voto é bonito e interessante, mas a ciência política vai além. Percebe-se que todos os candidatos alcançam um patamar entre 33% e 37% de rejeição. Ninguém chegou aos 40%, o que inviabiliza uma vitória, mas se todos chegam perto deste patamar, a pesquisa nos diz alguma coisa. O que descobrimos nestes números é a mesma mensagem das ruas durante os protestos do ano passado: a rejeição aos políticos tradicionais. E vamos além: isto nos diz outra coisa.

A outra constatação é que existe não apenas um vácuo para uma terceira-via, existe uma avenida inteira aberta para este candidato passar. A rejeição em patamares semelhantes e altos deixa a porta aberta para um novo político, aos moldes dos fenômenos eleitorais de Collor e Jânio, chegar ao poder. Este candidato ainda não se apresentou e talvez nem se apresente. Mas o espaço para ser ocupado está ali.

O nome natural que paira na cabeça de todos que fazem este raciocínio é Joaquim Barbosa. Longe da política partidária, ele é o anti-político que se encaixa na percepção deste eleitorado carente de liderança. Política é timing. Joaquim tem nas mãos sua preciosa chance de chegar ao Planalto. Se vai aproveitá-la é outra história. Se decidir entrar para a política em quatro anos, terá se tornado um coadjuvante.

Este é o cenário colocado hoje. Certamente uma campanha reserva muitas surpresas. Todos conhecem o temperamento do Ministro e sabemos que sua fortaleza com o eleitorado é também sua fraqueza durante uma campanha, que se bem explorada, pode fazer sua candidatura se desmanchar, a exemplo de Ciro Gomes em 2002.

Logo, mais importante do que entender o que diz objetivamente esta pesquisa é enxergar a direção que ela aponta. Neste momento o eleitorado rejeita as opções que tem e busca um nome. Na falta dele, permanece com Dilma.

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Aposta em Hillary

Hillary ainda não colocou o bloco na rua, mas sua candidatura é considerada um fato. Mesmo que ainda existam outros nomes que possam tentar rivalizar com ela a indicação, as probabilidades de que outra pessoa venha a concorrer nas eleições gerais de 2016 pelo partido democrata são pequenas. Isto é uma vantagem , pois direciona os principais doadores diretamente para sua campanha desde o princípio, mas também causa problemas, especial neste ano de eleições parlamentares.

Tudo começa na Presidência de Obama. Com a popularidade em baixa, o Presidente americano abriu a temporada de especulações sobre quem seria seu sucessor. Em ambas os partidos já se respira e se age com foco em 2016. Como Hillary não deseja ser atropelada por outro Obama, como aconteceu em 2008, preferiu fechar os flancos e trabalhar diretamente para que nenhum adversário forte possa aparecer. Para ela, o jogo da sucessão já começou. 

Mas isto é um problema para o partido democrata que enfrentará eleições parlamentares duras nos próximos meses. As chances dos republicanos tomarem o Senado e manterem a Câmara é grande e isto jogaria a Presidência de Obama no limbo até o fim de seu mandato. Nada mais seria feito. Portanto, é de suma importância para os democratas vencer este jogo, pelo menos no Senado, mantendo sua maioria. O problema é que o páreo de 2016 já começou e as doações de campanha agora tem este foco. 

Na sua tentativa de chegar a Casa Branca em 2008, Hillary começou a se articular em 2006, depois das eleições parlamentares que levaram os democratas ao controle da Câmara. Vemos que agora o timing é diferente, ela se movimenta antes das eleições parlamentares. O porém neste caso é outro, já que naquele ano o presidente enfraquecido perante a opinião pública era o republicano George Bush, hoje é o democrata Barack Obama. Como o Presidente se tornou radioativo para muitos candidatos, existe um vácuo de liderança política a ser preenchido. 

O partido democrata precisa entender que seu foco ainda não é em 2016, mas em 2014. Se não agir desta forma, pode tomar uma surra eleitoral dos republicanos. Mas o foco na eleição presidencial pode ajudar. Se os democratas se unirem em torno de Hillary e ela apresentar-se como a nova líder do partido, isto pode consolidar seu nome para as primárias e ajudar muitos deputados e senadores a vencer, como ela fez nas campanhas de Bill de Blasio em Nova York e Terry McAuliffe na Virgínia. Se ela controlar o jogo, será inevitavelmente a candidata dos democratas. As fichas estão na mesa. 

sexta-feira, fevereiro 14, 2014

Promessa Brasileira

No Brasil, o entusiasmo virou preocupação, para não dizer decepção. Nosso País, visto na última década como a grande promessa, parece cada vez mais continuar a ser exatamente isso, uma grande promessa. O histórico de oportunidades perdidas é imenso, mas a situação que temos presenciado nos últimos meses preocupa mais do que no passado. Os problemas são novos, mas os remédios são os de sempre e isto entristece.

Black blocks, manifestações e violência nos centros urbanos são o resultado de uma equação: a pressão do aumento de renda da população versus os resultados do fim de um ciclo econômico artificial ou demanda ampliada da população versus oferta reprimida do Estado. No passado recente houve um aumento do poder de compra com origem no plano de estabilização da moeda, ainda no governo Fernando Henrique. Depois disso, a ampliação mediante os programas de transferência de renda durante a administração Lula. Avançamos em direções importantes, em especial em programas sociais que atuam onde existe miséria, mas mostramos ineficiência em tantas outras. Se de um lado foi possível aumentar a renda, do outro os gargalos para atendimento desta demanda ficaram latentes. As revoltas atuais são um resultado desta realidade.

Chegamos a uma situação crítica, que no Brasil sempre pode piorar. A classe média, espremida entre a falta de infra-estrutura e a violência, clama por uma solução, especialmente repressiva, para fazer cessar o mal iminente. A necessidade de repressão, entretanto, é simples consequência de um modelo esgotado que gera revolta. A origem dos problemas não está na violência em si, latente para quem convive com sua ameaça, mas naquilo que gera a indignação.

É preciso entender que o modelo de aumento de renda puro e simples está esgotado. O Brasil precisa ir além. Como não houve avanço em outras frentes, colhemos este triste resultado. Houve falta, entre outras coisas, de uma política consistente de educação e uma guinada a um modelo econômico menos repressivo, que apesar de transferir renda, não garantiu uma evolução natural para um sistema sustentável.

O Brasil atuou de um lado da equação. Por si só a estabilização gerou aumento do poder de consumo. Tivemos, portanto, um aumento de demanda, seja por meio dos programas de transferência de renda, milionários empréstimos concedidos pelo BNDES ou financiamentos imobiliários da Caixa, entre tantos outros. Criou-se uma bolha, ou seja, um excesso de renda sem pilares claros de sustentação em uma economia real. A bolha está estourando em manifestações e revoltas, em especial da classe média.

Tínhamos dois modelos a seguir depois da estabilização. Realizar reformas que desafogassem a economia e impulsionasse a criação de novos empreendedores, por meio de desregulamentação e flexibilização, ou uma intervenção do Estado direcionando os rumos da economia, similar ao vivido pelo país na década de 70. O Brasil optou pela segunda opção.

Entretanto, esta alternativa exige do Estado prestações muito pesadas, seja por meio de investimentos diretos ou financiamentos. Enquanto a renda aumentava em função do plano de estabilização da moeda, concursos públicos, subsídios ou mesmo bolsas de ajuda do governo, a demanda por mais infra-estrutura e serviços também avançava. Mais uma vez, assim como na década de 80, vimos que o Estado não foi capaz de financiar e executar a sua parte, em especial obras como portos, aeroportos, saneamento, energia e estradas. Os gargalos apareceram. A demanda da população colidiu com a ineficiência estatal.

A pressão esta posta. Uma população que possui maior renda e agora com maior demanda esbarra na falta de infra-estrutura e nas regulações criadas pelo governo que emperram a livre iniciativa. O encerramento do ciclo do crédito e o estrangulamento da capacidade de financiamento do Estado leva a esta situação paradoxal que vivemos hoje. Existe a falta de perspectiva de uma economia sólida para sustentar este ciclo de crescimento que já respira por aparelhos. A saída na década de 90 foi privatizar, mais por necessidade do que por convicção. A pressão do momento levou o governo a começar a tomar, ainda de forma tímida e pontual, o mesmo caminho.

O Brasil vem perdendo, mais uma vez, um momento histórico de oportunidade. Nosso problema latente é a violência, mas precisamos entender que isto é a consequência de apostas equivocadas. O ponto central é a economia. Terminar com a violência exige um tratamento de fundo que vai muito além da repressão e passa por reformular de verdade as bases da educação e principalmente da economia. Isto leva uma geração. Aprendemos que o Estado, quando tenta induzir o crescimento, acaba por limitá-lo. Aprendemos que aumentar a renda, sem a base de uma economia sólida e um sistema de educação decente, gera conflitos e violência. Já chegou a hora de lidar de forma madura com nossos problemas.

quinta-feira, fevereiro 13, 2014

A Boa Política

Pouco se falou sobre isso, mas alguns republicanos deram uma aula de política colocando o país em primeiro lugar. O líder do movimento foi o Presidente da Câmara, John Boehner. Ele articulou com outros deputados de seu partido o aumento do teto da dívida dos Estados Unidos. Fez isso sem pressionar a Casa Branca e sem fazer espetáculo. A boa política.

Desde o fechamento temporário do governo e depois com a pressão para não aumentar o teto da dívida, o que deixaria os Estados Unidos sem honrar seus títulos, o país vivia a apreensão da chegada de fevereiro, quando venceria a prorrogação autorizada pelo Congresso e toda a discussão seria retomada. Boehner preferiu costurar um acordo dentro do parlamento e evitar mais uma vez o constrangimento de enxergar Washington em uma situação embaraçosa novamente.

Obama é um Presidente que joga duro. Durante as negociações meses atrás preferiu não ceder em qualquer ponto. Os republicanos mais radicais procuravam pressionar para evitar a entrada em funcionamento do Obamacare, mas foram pouco efetivos. O Presidente deu de ombros e diante da possibilidade de um vexame financeiro, os congressistas cederam.

Apesar do jogo duro de Obama, os republicanos colheram resultados ruins com esta pressão. Pesquisas apontaram que a população culpava Obama, mas também o principal partido de oposição por ser intransigente. Boehner tinha isso em mente. Em ano eleitoral, os republicanos não podem arcar com o custo político de deixar o país insolvente. Assim, o acordo foi realizado com o apoio de alguns deputados republicanos que votaram com os democratas.

Boehner manteve a governabilidade e a boa imagem dos Estados Unidos. Evitou o desgaste de seu partido. Seus pares, entretanto, não pensam como ele. Alas dentro do partido republicano já pedem a cabeça do Presidente da Câmara. Dizem que ele deve ser substituído. Já até existe candidato, Eric Cantor, líder dos republicanos na Casa. Fazer a política da maneira certa, muitas vezes gera desgastes. Boehner, filho de um barbeiro em Cincinnati, experimenta aquela máxima da política: "Do outro lado, sentam os adversários. Os inimigos sentam aqui conosco".

quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Brincando com Fogo

Obama avisou que iria brincar com fogo. Está cumprindo a promessa. Hoje ele assina a sétima ordem executiva desde seu discurso no parlamento. Desta vez o tema é o salário mínimo. Como o Congresso não apreciou sua proposta de aumento, o Presidente atuará unilateralmente aumentando o valor do mínimo pago aos empregados federais e aqueles que estão sob contrato do governo. Um movimento para lá de perigoso.

Poderíamos discutir como o estabelecimento de um valor de salário mínimo na verdade reduz o mínimo que poderia ser pago sem esta regulação, mas a questão não é essa. Obama está comprando mais uma briga com o Congresso e criando animosidades que no futuro podem paralisar sua administração. Ao invés de negociar, fornece combustível para grupos que chamam sua presidência de imperial e isolada do debate e para os republicanos mais conservadores ocuparem a mídia com ataques ao seu governo.

O Presidente hoje possui uma popularidade muito baixa, apesar de ter sido reeleito apenas um ano atrás. O debate político circula sempre sobre quem será seu sucessor. Se os republicanos tomarem o controle do Senado nas eleições que se avizinham, o governo Obama terá um fim melancólico e suas atitudes somente ajudam para isso acontecer. A personalidade do Presidente, quando se distancia do parlamento e age unilateralmente, somente serve para aumentar o fosso entre as duas maiores forças políticas. Ao contrário do que tem feito, ele foi eleito diminuir esta distância e apresentar um novo modo de fazer política. Infelizmente escolheu o antigo caminho da confrontação.

Além disso, sabemos muito pouco sobre o real impacto do aumento nos contratos federais, pois as bases em que se dará ainda são desconhecidas. Esta incerteza sobre os atos do governo e uma forma de fazer leis sem o devido debate nas casas eleitas para isso faz mal para imagem dos Estados Unidos. A forma transparente do debate legislativo fornece garantias democráticas para que os grupos afetados por uma nova proposta de lei possam se mobilizar e defender seus interesses.

Governar em ritmo de embate com o Congresso é perigoso. Sem maioria, Obama tem usado manobras e táticas para burlar o debate legislativo sob a justificativa de que o parlamento está paralisado. Bem, se continuar a assim, estará asfaltando a estrada por onde marchará a maioria republicana em alguns meses e talvez em 2016.

terça-feira, fevereiro 11, 2014

A Batalha pelo Senado

Os republicanos possuem a maioria na Câmara. Devem manter esta vantagem, podendo inclusive ser ampliada. Mas a grande batalha que se avizinha é pelo controle do Senado. Esta briga é mais importante do que se imagina. Na política americana, muitas vezes é mais importante possuir a maioria no Congresso do que a Casa Branca, pois a dinâmica da política por aqui é determinada pelo parlamento.

Se os republicanos alcançarem a maiora no Senado, Obama pode dar adeus a qualquer iniciativa ou projeto que tenha em mente para seus dois últimos anos na avenida Pennsylvania. O massacre sobre o governo democrata será brutal e certamente o GOP colocará a administração democrata para dançar conforme a sua música. Com um executivo enfraquecido e sem maioria parlamentar, o partido de Obama sai em desvantagem na eleição presidencial.

Esta é a importância das eleições para o Congresso que teremos este ano por aqui. Ela pode influir na dinâmica da política americana, influenciando inclusive a sucessão presidencial. Logo, os republicanos, de olho na Casa Branca em 2016, sabem que precisam mostrar musculatura em 2014. O jogo da sucessão já começou e o primeiro movimento será ainda este ano.

Cientes disso, os republicanos montaram uma máquina nacional de fazer política que está em funcionamento por todo o país. Onde não havia trabalho no passado, hoje vemos equipes de cinco a dez pessoas espalhadas pelos Estados Unidos em cada distrito em plena atividade, seja no mapeamento,  como na análise de pesquisas e treinamento de candidatos. Os republicanos montaram uma estrutura profissional para vencer.

No aspecto da macropolítica, o partido precisa tomar uma decisão. Vencer com os candidatos mais fortes, mesmo que mais moderados, ou perder com a autenticidade dos mais mais conservadores. Segundo a direção do partido hoje, a primeira opção é a mais segura e será a escolhida, mesmo enfrentando resistências.

Manter a Câmara. Tomar o Senado. Paralisar os democratas. Estes são os primeiros passos dos republicanos em direção ao Salão Oval.

quinta-feira, fevereiro 06, 2014

O Voto Latino

As projeções realizadas dentro do partido republicano são feitas dentro de um espectro de candidatos que vão de Chris Christie até Rand Paul, passando por Marco Rubio, Scott Walker e Ted Cruz. Todas, entretanto, não consideram o nome do ex-governador da Florida, Jeb Bush, como candidato. Mas talvez seu nome volte ao cenário em breve.

A possível entrada de Jeb Bush mexe com todo o cenário republicano. Se ele decidir concorrer, a estrutura muda, pois ele tem um amplo leque de apoios entre doadores, tanto na Flórida como nacionalmente, e penetração em partes do partido que podem consolidar seu nome. Entraria nas primárias extremamente competitivo.

A campanha de Jeb nasceria na Flórida. A primeira baixa seria Marco Rubio. Aqui em Miami, onde pude pesquisar melhor sobre o assunto e conversar com algumas lideranças políticas, vejo que esta possibilidade é real. Jeb, um conservador em temas sociais e um liberal em termos econômicos, possui uma enorme penetração dentro do Tea Party e, no espectro da Flórida, consegue alcançar doares de campanha que teriam que escolher entre seu nome e o de Rubio. Jeb sai em vantagem.

Rubio teria um problema. Ele encarna a figura do latino que tanto o partido necessita, mas como um filho do Tea Party, tende a vir com uma posição mais dura em relação a imigração, o que pode enfraquecê-lo em sua principal base eleitoral. Jeb tem um currículo para apresentar como governador da Flórida e isto faz diferença em seu favor.  

Um outro fator que enfraquece Rubio é Susana Martinez, governadora do Novo México. Republicana, latina e mulher, é a equação perfeita para a candidata a vice, especialmente se Hillary sair como candidata. Martinez seria a vice perfeita para Scott Walker, Chris Christie e Jeb Bush. Estive com grupos ligados aos latinos por aqui e ouvi que seu nome é bem aceito por todos os espectros, desde imigrantes cubanos aos mexicanos.

A Flórida e o voto latino terão um peso importante nesta eleição, seja com Bush, Rubio ou Martinez. Se os republicanos entenderem esta equação, estarão com metade da eleição nas mãos.

terça-feira, fevereiro 04, 2014

Reforma Adiada

A esperada reforma no sistema de imigração dos Estados Unidos não sai este ano. Na última semana Barack Obama falou sobre esta necessidade em seu discurso no Congresso. No último ano um grupo suprapartidário elaborou uma proposta. Mas nada adiantou. As visões antagônicas entre democratas em republicanos evitarão que qualquer coisa saia do papel com esta formatacão do parlamento.

Hoje os republicanos tem maioria na Câmara e os democratas no Senado. O jogo, portanto, é de soma zero. Se algo ainda sair desta disputa, corre-se o risco de Obama vetar. Diante de tantos obstáculos, aqueles que circulam pelo Capitólio são taxativos em assegurar que dali não sai reforma alguma neste ano.

O principal ponto de discórdia é o mais conhecido. Enquanto os democratas querem um caminho para cidadania, os republicanos querem apenas legalizar os ilegais. O efeito mais direto é que cidadãos votam e os apenas legalizados ainda precisarão esperar uns anos para depositar seus votos para qualquer um dos partidos. Em um momento de avanço dos democratas no território republicano, todo o cuidado é pouco.

Ainda ontem conversava sobre o assunto com um republicano. O intrigante é que o voto dos imigrantes sempre foi voltado para o GOP, que defendem uma agenda de menor intervenção do Estado na economia. Como a esmagadora maioria de imigrantes sempre foi de pequenos empreendedores, estes sempre foram um voto maciço republicano.

Mas desde a eleição de Obama isto vem mudando. A eleição tem sido mais uma questão de identidade das minorias do que de uma agenda real. Os democratas, que viraram o Colorado de republicano para democrata em dez anos, mostraram como se faz. Existe inclusive um manual político de como converter um território republicano em um bastião democrata.

Portanto, os republicanos, com maioria na Câmara impedirão um acordo com acesso pleno para cidadania, enquanto os democratas no Senado não aprovam coisa alguma sem este ponto. O resultado é que milhões de imigrantes seguirão na ilegalidade esperando pelo novo parlamento que será eleito em poucos meses. Como a tendência é de ser maioria republicana, as notícias não são boas para este contingente que é parte importante da força de trabalho do país.

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Rebeldia Democrata

Quem acredita que apenas os republicanos enfrentam problemas internos, não conhece o partido democrata. Existem vários grupos e inclinações dentro do Congresso, mas é em especial no Senado que a situação é mais preocupante, pois sendo a única casa legislativa onde Obama tem maioria, qualquer rebeldia pode colocar em xeque a estabilidade das ações de governo.

A Câmara é hoje um território republicano. Liderados por John Boehner e Eric Cantor, a oposição tem pleno controle das ações, agenda de votações e iniciativas. Já no Senado a realidade é diferente. Ali os democratas conseguiram manter o controle, mas como não é uma maioria tão confortável quanto a republicana na Câmara, qualquer falha na negociação interna pode colocar projetos em risco e deixar indicações engavetadas. O comando da bancada precisa ser exercido com muito cuidado e habilidade.

Por isso preocupam as últimas notícias de ataques de rebeldia de alguns senadores democratas, pois cada um de seus votos pode fazer uma diferença enorme no cômputo de aprovação de iniciativas de Barack Obama. A reação ao ímpeto imperial do Presidente, dizendo que tomaria ações unilaterais, caso o Congresso não agisse, não afetou somente o brio dos republicanos, afinal alguns democratas tiveram coragem de reagir. O senador John Manchin, de West Virginia foi um deles.

Além da situação citada no discurso da semana passada, Obama enfrenta críticas por outras ações. A violação do sigilo telefônico de jornalistas, além da bisbilhotagem da NSA sobre os americanos e líderes estrangeiros não pegou bem. O senador Martin Heinrich do Novo México é um democrata, mas um ferrenho crítico destas ações. O mesmo ocorre com o senador, também democrata, do Oregon, Roy Widen, membro do comitê de inteligência, com quem conversei pessoalmente em outubro passado sobre o assunto.

A posição de alguns senadores também possui relação direta com as eleições deste ano. Um terço do Senado buscará reeleição e existem alguns senadores democratas eleitos por estados de tendência republicana, portanto Obama se tornou radioativo para estes parlamentares. Ou seja, a proximidade com o Presidente pode custar-lhes o mandato.

Por tudo isso, o Senado se tornou um terreno perigoso para Obama. O próprio líder, Herry Reid, do Nevada, já mandou seu recado para a Casa Branca. Se para Barack Obama a situação na Câmara já é difícil, se faltar habilidade política, as coisas podem se complicar também no Senado.