terça-feira, dezembro 04, 2018

Retomada Internacional


A visita de Eduardo Bolsonaro aos Estados Unidos tende a se tornar um marco importante na retomada das relações entre Brasília e Washington. Ao tomar a iniciativa de iniciar estas conversas, nosso país sinaliza de modo claro que deseja resgatar os laços que historicamente sempre uniram as duas nações. O recado é claro no sentido de que ideologias não podem afastar países que possuem uma tradição de parceria, cooperação e valores que moldaram ambos povos.

Os desdobramentos da viagem ocorreram em diversos níveis e frentes. Em Washington ajudou-se a reposicionar o Brasil frente aos Estados Unidos. As palavras do deputado brasileiro foram muito bem recebidas tanto no governo americano, como em organismos multilaterais e think tanks, deixando a mensagem que existe o desejo de resgate da dimensão histórica das relações entre os dois países. Isto pode destravar iniciativas de cooperação, acordos comerciais e especialmente aproximar politicamente as duas nações.

A mensagem ao mundo das relações comerciais e investimentos também foi clara. Este novo momento, sem dúvida, será marcado por uma diminuição da presença do governo na economia, que devolverá poder ao cidadão, aquele que verdadeiramente paga pelos gastos do poder público. Ao mostrar que o Brasil tem compromisso com a responsabilidade fiscal e um arcabouço de reformas que propiciem o investimento, um importante primeiro passo foi dado no sentido de atrair capital de qualidade para nosso país.

Não houve quem criticasse a iniciativa do ponto de vista diplomático, o que certamente é um equívoco. Na diplomacia, diferentes canais são usados em diferentes situações. Esta incursão nos Estados Unidos teve por objetivo iniciar um novo processo de relações que agora será encaminhado por nossa diplomacia em diversas frentes. Ao acompanhar e discutir com o deputado os canais abertos e a conversas realizadas, o nosso futuro Chanceler Ernesto Araújo tornou-se peça fundamental desta engrenagem, fazendo nossa diplomacia parceria desta estratégia de reposicionamento internacional do país.

O Brasil começa, por meio destas ações, a mostrar que existe um caminho a ser resgatado, que a criação artificial de parceiros comerciais internacionais por motivos ideológicos não pode, nem tampouco deve guiar nossa diplomacia comercial, que deve estar alinhada com uma visão pragmática e real das relações internacionais. Reposicionar nossa relação com os Estados Unidos foi apenas o primeiro passo de uma estratégia de fundo que deve aos poucos levar o Brasil a assumir um novo papel na geopolítica internacional.

Depois de uma guinada impulsionada pela esquerda nos últimos anos, o Brasil visa retomar seu lugar no concerto internacional. Uma visão ocidental, alinhada aos valores e parceiros tradicionais de nosso país, deverá ser a tônica nos próximos anos. Um posicionamento rejeitado pelo establishment, porém validado com folga pelas urnas.

sexta-feira, novembro 23, 2018

Escolha Acertada

A escolha de Ricardo Vélez Rodriguez está sendo atacada de todos os lados pela mídia por vários motivos, mas o principal deles é o descontentamento em Bolsonaro não ter optado por Mozart Ramos. Esta visão torta da realidade deixa claro os sintomas de um país que mergulhou no politicamente correto e na corrente de pensamento único.

Mozart Ramos, apoiado pela mesma maioria que bateu palmas para Renato Janine, Fernando Haddad, Cid Gomes e Aloízio Mercadante, certamente não seria o escolhido por Bolsonaro. Ao tentar forçar a nomeação dando a indicação como certa, a imprensa acabou atrapalhando ainda mais as possibilidades que ele teria de emplacar no cargo. Bolsonaro mais uma vez mostrou que não se move por pressão da mídia em qualquer direção.

Na falta de acusações graves contra Ricardo Vélez, levantou-se inclusive a tese de que é colombiano. O novo ministro da Educação é naturalizado brasileiro e mesmo se não fosse, não vejo mal algum em termos um grande quadro, seja qual for sua nacionalidade, em nosso governo. Kissinger e Albright foram Secretários de Estado do governo americano, o mais alto cargo da diplomacia dos EUA. Kissinger nasceu na Alemanha, Albright na República Tcheca. Fala-se que também não é técnico. Outro erro primário. É um quadro extremamente qualificado no Brasil e no exterior, alguém que dedicou sua vida ao ensino.

A indicação do Professor Olavo de Carvalho também está sendo vendida como algo desabonador. Muito pelo contrário. Olavo, por ter sido um dos primeiros que alertaram para os riscos do petismo e da esquerda, entende como poucos os gargalos das deficiências impostas pelo partido na educação brasileira ao longo dos anos. Mais do que isso, ao denunciar há tempos que o modelo introduzido por Paulo Freire produz uma usina de pensamento único que serve aos interesses da esquerda, credencia-se como alguém que entende quais as reformas urgentes são necessárias.

Como sempre digo: Bolsonaro foi eleito para implementar estas mudanças. Se fosse para continuar na linha anterior, Haddad teria vencido a eleição.

quinta-feira, novembro 22, 2018

Bolsonaro Muda o Jogo

Poucos perceberam que além da guinada ideológica representada pela eleição de Jair Bolsonaro, o modo de fazer política e comunicação também sofreu grandes alterações. Ao montar um governo que está colocando fim ao fisiologismo e as escolhas políticas que transformaram a Esplanada em feudos partidários, Bolsonaro está tentando mudar as práticas que levaram aos maiores escândalos de corrupção da história do país.

Vivemos em um sistema anacrônico. Somos reféns de um modelo presidencialista que opera dentro das regras do parlamentarismo, fazendo uso inclusive de seus instrumentos, como a Medida Provisória. Esta disfunção já gerou dois impeachments e governos que somente conseguem se sustentar mediante o fatiamento de cargos para os partidos aliados.

O Brasil precisa de forma urgente uma reforma política que defina que tipo de sistema temos no país. Se estamos dentro de um modelo parlamentarista ou presidencialista e a partir daí viver dentro da dinâmica e mecanismos inerentes a cada modelo. O sistema disfuncional de hoje coloca em xeque a estabilidade do país e impede que governos sérios trabalhem suas políticas, pois se tornam reféns de um modelo anacrônico que incentiva o fisiologismo.

Bolsonaro, ao nomear um governo técnico, tenta colocar fim neste estado de coisas. Terá um desafio imenso, mas como disse, foi eleito exatamente para não se dobrar ao sistema e conduzir um governo com bons quadros, representativos da sociedade e capazes de implementar uma correção de rumos robusta nas políticas públicas do país. Qualquer coisa fora deste contexto seria não ouvir os 57 milhões de brasileiros que optaram pela mudança.

O desafio é enorme, mas grandes mudanças não são implementadas com facilidade. Bolsonaro segue o caminho que prometeu, afinal, o povo emitiu o sinal claro que desejava colocar fim em um sistema falido e apodrecido.

quarta-feira, novembro 21, 2018

Maia em Risco

A situação de Rodrigo Maia para presidir a Câmara dos Deputados pela terceira vez seguida começou a se complicar. Isto tem a ver com a montagem do novo governo. Ao escolher o deputado Henrique Mandetta para a pasta da Saúde, a Esplanada passa a contar com três ministros do Democratas. Certamente os parlamentares não enxergam com bons olhos tamanho acúmulo de poder somente em um partido. Controlar também Câmara, seria demais.

Apesar de o DEM possuir todos estes nomes no governo, isto não significa que o partido segue unido para apoiar o Bolsonaro, apesar da possibilidade ser grande. O governo prefere lidar com bancadas transversais ao invés de negociar diretamente com os partidos. As chamadas bancadas temáticas já acumulam dois ministérios: Agricultura e Saúde. Resta saber se entregarão fidelidade quando forem votados temas sensíveis diferentes de suas pautas.

Enquanto isso, o centrão começa a se articular para viabilizar um nome de um dos partidos da frente. PR, PRB, SDD, PP, PSD e até PSDB e MDB começam as primeiras conversas para decidir quem ocupará a cadeira de Maia a partir de fevereiro. O atual Presidente ainda tentará manobras políticas para se manter em seu posto. Ontem recebeu deputados federais que começam o mandato e alguns líderes antigos para um jantar. Busca caminhos alternativos.

Bolsonaro visa quebrar as estruturas do Presidencialismo de Coalizão, implementado por Sarney e sacramentado pela Constituição de 1988. Os partidos já entenderam que se não se organizarem, podem perder importância na nova configuração de poder. Por isso não deixam um minuto sequer de mostrar ao Presidente-Eleito como podem atrapalhar sua vida se não forem contemplados.

Bolsonaro tem em mente que governará com outro Congresso, onde as forças ainda precisarão se acomodar e aposta que o governo pode ser peça fundamental nesta dinâmica, criando uma base sólida que possa aprovar as reformas. A dúvida é saber se Maia fará parte deste processo.

segunda-feira, novembro 19, 2018

AntiGlobalismo

A escolha do diplomata Ernesto Araújo para chefiar a diplomacia brasileira é um sinal extremamente claro dos rumos que a política externa tomará nos próximos anos. Para compreender melhor a visão de mundo do Presidente-Eleito e as ideias do novo Chanceler, recomendo a leitura do artigo “Trump e o Ocidente”, publicado nos Cadernos de Política Exterior da Fundação Alexandre de Gusmão.

O mundo enxergado pelas lentes do novo governo se assemelha a visão adotada na atual administração norte-americana e também em outros países. Um movimento de valorização dos elementos formadores das nações ocidentais como instrumentos essenciais balizadores dos valores de democracia e liberdade. Um movimento em contraposição ao globalismo, que visa criar um amálgama de valores que deve ser adotado pelo maior número de países indiscriminadamente. 

Os valores universais adotados pelo globalismo são propagados por instituições internacionais que tiveram sua agenda sequestrada por estes movimentos ao longo das últimas décadas. Ao invés de defender a autodeterminação e os valores nacionais de cada nação, visam reformar os sistemas fazendo-os adotar políticas ditas universais que atacam os valores de formação de cada uma destas sociedades. O movimento mais recente é em direção da reforma dos valores ocidentais, que precisam ser regatados e fortalecidos por governos que entendam esta realidade.

O mais importante movimento neste sentido vem da eleição de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos. Washington começou um movimento de regaste dos valores nacionais, elementos formadores da liberdade e da democracia ocidentais, que permaneciam submetidos ao pensamento único internacional. Este movimento respeita as diferenças nacionais na certeza de que não existe valor supremo que deve prevalecer perante qualquer país. Portanto, a resistência é enorme especialmente nas frentes organizadas que trabalham pela implementação desta agenda. 

A eleição de Trump, a saída do Reino Unido da União Europeia e a resistência de alguns governos europeus contra o globalismo tornaram-se focos de resistência ao politicamente correto e a adoção de um pensamento único hegemônico internacional. Neste momento, o Brasil, diante da guinada conservadora adotada nas eleições deste ano, toma o mesmo rumo, somando-se aos esforços pelo resgate dos valores nacionais como elementos essenciais da formação de nossa identidade democrática ocidental. 

A escolha de Ernesto Araújo para dar rumo nesta agenda é acertada, pois está alinhada com o pensamento do Presidente-Eleito, consagrado nas urnas menos de um mês atrás. A globalização no sentido de incremento pragmático de nosso comércio internacional também será um pilar essencial desta reconstrução. O globalismo, entretanto, que não se confunde com este conceito, sai de cena no mesmo momento que o país reafirma seu compromisso com a democracia e sua autodeterminação como nação.

sexta-feira, novembro 16, 2018

Nova Política Externa

A escolha do diplomata Ernesto Araújo foi uma decisão acertada de Bolsonaro. O Embaixador possui experiência para ocupar a posição e carga intelectual necessária para enfrentar o desafio. Pertence a uma linhagem minoritária no Itamaraty, ou seja, daqueles que rejeitam o globalismo como elemento essencial nas Relações Internacionais e acredita nos valores formadores da sociedade ocidental como elemento fundamental de identidade de nações como o Brasil.

As críticas que surgiram em relação ao seu nome são meramente de caráter ideológico, daqueles que discordam de sua visão de mundo. Entretanto, sua visão de mundo é a mesma defendida pelo Presidente-Eleito e por 55% da população que optou por Bolsonaro como Presidente. Em última instância, as ideias defendidas pelo novo Chanceler estão em sintonia com o desejo de mudança expresso pelo povo nas urnas.

Certamente Bolsonaro não escolheria um nome que não conseguisse imprimir rumo para a política externa brasileira na medida desejada pelo Planalto. De nada adianta um Presidente escolher um Chanceler que não está de acordo com seus projetos de política externa. É preciso escolher um nome experimentado, com densidade intelectual e afinado com o projeto presidencial vitorioso nas urnas. Ernesto é um nome que se enquadra em todas estas frentes.

O Brasil viveu sob uma política externa de viés esquerdista e globalista que imprimiu sua marca no Itamaraty, afinal, o Ministério servia a política externa do vitorioso nas urnas, Fernando Henrique e depois Lula e Dilma. O que ocorre agora é o sentido oposto. Eleito um governo conservador, nada mais natural que a frente internacional também adquira estas feições, afinal o governo foi eleito exatamente para implementar estas políticas.

As tentativas de impor um nome de um campo ideológico oposto ao do Presidente-Eleito não cessaram. Desde a sugestão de diplomatas alinhados com a social democracia tucana, até outros, que apesar de transitarem entre o petismo, rejeitam este rótulo. Até políticos derrotados nas urnas surgiram como alternativas. As tentativas foram em vão. O Presidente-Eleito tem certeza absoluta do caminho que deve trilhar e a escolha de Ernesto como Chanceler, mais do que uma simples escolha, é um sinal de respeito emitido por Bolsonaro aos 57 milhões de brasileiros que disseram claramente semanas atrás que desejam um novo rumo para o Brasil.

quinta-feira, novembro 15, 2018

Lula em Transe

Tudo indica que o ex-Presidente Lula ainda vive em uma realidade paralela onde exerce influência sobre a política nacional e os destinos da nação. Isto ficou evidente em seu depoimento em Curitiba na data de ontem. Impulsionado pela soberba, afrontou a juíza do caso e tentou mais uma vez intimidar os procuradores. Foi enquadrado, assim como seus advogados, que alegando cerceamento de defesa, diziam que Lula poderia falar o que desejasse. Em uma audiência criminal existem regras e Lula estava tentando mais uma vez usar o momento para falar ao país, algo que não é permitido pelas leis processuais.

O PT sofreu sua mais amarga derrota desde 1989, quando Lula perdeu a eleição presidencial para Fernando Collor. Perder faz parte do jogo, mas perder para um antagonista, alguém com uma visão de mundo e valores completamente diferente das suas, é uma outra história. A derrota para Bolsonaro fez o insucesso ser mais amargo e fez Lula, antes um baluarte da estratégia política, perder o encanto, pois demonstrou não conhecer a configuração política do jogo eleitoral.

Fora da política, preso, com seu partido derrotado nas eleições, o ex-Presidente não possui muitas alternativas. Tudo indica que Bolsonaro inicia um governo que irá rever muitas políticas e programas petistas, que serviam de sustentáculo do partido no poder. Mais do que isso, ao cortar linhas de financiamento de movimentos sociais que funcionam como linha auxiliar do petismo, o novo governo pode estar colocando fim ao exército de militantes que Lula imagina controlar.

A audiência em Curitiba mostra o ocaso de um político. Derrotado nos tribunais e nas urnas, Lula é somente uma sombra do líder sindical e político que mobilizava apoiadores e eleitores. Hoje, em transe, de uma cela no Paraná, prestes a sofrer uma segunda condenação, enxerga o desmoronamento de sua força política. Quando falta razão, sobra soberba.

sexta-feira, novembro 09, 2018

Tucanos "Aceleram"

Os tucanos podem finalmente sair de cima do muro, lugar tradicionalmente ocupado por seus caciques. Desde a formação do partido, ainda durante a constituinte, a fama de indecisos rondava seus líderes, que demoravam a decidir, para depois decidir que não decidiriam. Enfim, os tucanos atravessaram décadas com este perfil e depois de disputar de forma competitiva todas eleições presidenciais desde 1994, chegaram no pleito deste ano a bordo de uma candidatura fraca que sequer chegou ao segundo turno, amargando algo em torno dos 4%.

Fato é que a derrota de Alckmin está fazendo nascer um novo PSDB. O partido dos "cabeças pretas" parece finalmente tomar forma, em contraposição aos antigos caciques, os cabeças brancas, que vivem seu ocaso político. Uma renovação que muda a face do partido, que nasceu como força de centro-esquerda social democrata e agora parece tomar contornos mais de centro.

Alckmin deixa um legado para ser esquecido em sua passagem pela direção do partido. Sob seu comando, enxergou a bancada encolher de forma jamais vista. Os tucanos hoje possuem 29 deputados, rebaixados depois de muito tempo para a segunda divisão do parlamento, dividindo espaço com PR, PP, PSD, PRB, PSB, DEM - partido que também gravitam em torno de bancadas médias. Tudo indica que a campanha de Geraldo Alckmin foi a grande responsável por não conseguir puxar votos para a eleição proporcional.

O novo PSDB nasce sob o comando de João Doria. Os três governadores eleitos pelo partido anunciaram apoio a Bolsonaro, enquanto os cabeças brancas falam em abandonar o barco caso um alinhamento deste tipo realmente se concretize. O destino dos antigos caciques tucanos pode ser um novo partido de centro esquerda que inclua também descontentes do PT e outros partidos. Uma manobra arriscada.

Tudo indica que o novo PSDB comandando pelo próximo Governador de São Paulo pode trilhar caminhos muito diferentes dos habituais. É possível que os tucanos finalmente abandonem o muro.

quinta-feira, novembro 08, 2018

Aumento Vergonhoso

O reajuste dos vencimentos dos ministros do STF trará desdobramentos sérios para a caótica situação das contas públicas brasileiras, que depois de bagunçadas por Dilma, nunca mais encontraram o caminho do equilíbrio. Os sucessivos déficits dificultam a imagem do Brasil no exterior e a vida dos brasileiros.

O aumento concedido produz efeitos perigosos. Mas os parlamentares que aprovaram a medida preferiram dar de ombros para a opinião pública, que já cassou nas urnas o mandato de muitos deles, que em breve voltam para casa. Não há certeza se a aprovação foi um ato de rebeldia ou troco contra o povo. Independente do motivo, os parlamentares que votaram por aumentar o teto, votaram contra o Brasil.

O aumento para o Judiciário está condicionado a um fato: a suspensão do auxílio moradia - aquilo que foi negociado com o governo Temer. O aumento de despesas começa no Judiciário, mas se espalha por todo Estado brasileiro em efeito cascata, aumentando o custo das contas púbicas em mais de 6 bilhões - em várias esferas e níveis da administração pública. Em tempos de ajuste fiscal e busca de credibilidade no exterior, não poderia haver notícia pior. Os parlamentares ao votar esta chamada "pauta bomba" ajudaram a inviabilizar o ajuste das contas públicas brasileiras.

Não possuímos apenas um dos judiciários mais caros do mundo, mas também o país onde os magistrados recebem os salários mais altos em relação a média da população. Enquanto no Brasil corresponde a 16 vezes a renda média, na União Europeia, um juiz da Suprema Corte dos países do bloco ganha 4,5 vezes mais que a renda média do continente. Como vemos, uma distância que era enorme, acaba de aumentar ainda mais.

Os parlamentares e os magistrados deveriam primeiro olhar para o país, mas parecem estar descolados da realidade. Precisamos de maior renda para poder distribuir riqueza. O caminho escolhido é oposto, que vai contra tudo aquilo que o eleitor esboçou nas urnas semanas atrás. Ao aprovar medidas como esta, de aumento sem receita, os políticos parecem não ter escutado a voz das ruas, colocando-se de costas para o povo. A eleição de Bolsonaro foi apenas a primeira reação de um povo que cansou deste estado de coisas.

terça-feira, novembro 06, 2018

Racionalidade Pública

Receita Federal resiste à ideia de Coaf passar para a pasta da Justiça. MMA resiste a se fundir com o MAPA. Itamaraty resiste a transferir a Embaixada para Jerusalém. Ministério do Trabalho, em vias de ser extinto, divulga nota reafirmando sua importância. As mudanças realizadas por Bolsonaro estão movimentando o desenho do novo governo e mexendo com interesses pré-constituídos.

Fato é que Bolsonaro foi eleito exatamente para realizar estas mudanças. Entre elas está enxugar o tamanho do governo, cortando sua ineficiência. Nenhuma administração pública consegue ser viável carregando 29 ministérios, como possui Temer ou 39, como possuía Dilma. O tamanho ideal passa pela casa de 15 pastas, como tivemos durante muito tempo no Brasil.

O problema foi que o presidencialismo de coalizão fatiou as pastas como forma de conseguir apoio no Congresso Nacional para governar. O loteamento da administração pública passou a fazer parte do cotidiano dos governos, que submetendo-se ao modelo, tornou-se refém dos partidos que se multiplicaram pelo parlamento.

A administração pública serve para administrar, ao contrário de lotear, como tem acontecido no Brasil. O grande problema é que proliferação de ministérios vem acompanhada da multiplicação de cargos, algo que somente aumenta a ineficiência, que precisa ser atacado para que o governo possa cumprir com o seu papel.

Bolsonaro deve voltar ao modelo ministerial original, com pastas como Justiça, Relações Exteriores, Infraestrutura, Ciência e Tecnologia, Agricultura, Economia, Defesa, Saúde, Interior (também chamada de Integração Nacional), Educação, Minas e Energia e Desenvolvimento Social. Meio Ambiente e algumas outras pastas podem ser incorporadas. Nada melhor para a coordenação dos trabalhos e também para a prestação de serviços. Já passou da hora de o Brasil optar pela racionalidade na administração pública.

Reinventar o Sistema

A eleição de Jair Bolsonaro para o Planalto é algo muito mais significativo, em termos históricos, do que vem sendo dito. Para além de encerrar mais um ciclo de 30 anos na política brasileira e implementar uma guinada conservadora, tudo indica que o novo governo inaugurará uma nova forma de fazer política, tentando colocar um ponto final no presidencialismo de coalizão em vigência desde o começo da Nova República.

A sistemática atual começou com o governo Sarney, mas encontrou seu auge nos governo Lula e Dilma, quando a pulverização partidária tomou conta do parlamento. A lógica é simples: os partidos ocupam lugar no governo e entregam votos no Congresso Nacional. Mas o mecanismo não funciona de forma tão simples. Caciques tem precedência nas indicações dentro dos partidos e muitos deles mesmo recebendo espaço na Esplanada e estatais, seguem rachados, negociando de forma fatiada. 

Tudo isso alimenta o sistema de corrupção, que usa o presidencialismo de coalizão como instrumento de financiamento das estruturas partidárias e das campanhas eleitorais, seja por caixa dois, como no caso mensalão, seja como caixa um, como no caso do petrolão. Fato é que o chamado mecanismo encontrou um modelo especialmente desenhado para prosperar. É o que vem acontecendo sistematicamente no Brasil desde a redemocratização.

Fernando Henrique procurou racionalizar o sistema, blindando algumas pastas e loteando o restante do governo. Ministérios como Saúde, Fazenda, Planejamento e Educação, por exemplo, ficaram blindados. Já outros, como Minas e Energia, Indústria e Comércio, Transportes e Trabalho passaram a fazer parte do balcão do negócios para formação de uma base aliada sólida.

Da mesma forma ocorreu o desmembramento de pastas, como forma de atender os partidos aliados. Figueiredo governou com 16 ministérios, Sarney com 22, Collor reduziu para 15, Itamar voltou modelo de 22 e Fernando Henrique foi além, com` 25. Lula ampliou para mais de 30 e Dilma chegou aos 39. Temer possui 29. Bolsonaro deseja governar com algo em torno de 15 ou 16 ministérios, um sinal de que haverá um movimento contrário ao modelo de presidencialismo de coalizão.

Pela primeira vez desde a redemocratização teremos nomes técnicos ocupando as pastas. Aqueles anunciados até aqui são a prova cabal deste movimento. O grande desafio será enfrentar e reinventar o modelo em voga desde o governo Sarney. A profunda renovação observada no Congresso Nacional pode ajudar nesta tarefa, mas se o objetivo é mesmo fundar um novo sistema, uma reforma política se tornará ponto fundamental neste processo. O diagnóstico está certo: o sistema vigente alimenta a corrupção e precisa ser enfrentado. O próximo passo é saber o exato caminho para reformar o modelo apodrecido. O governo Bolsonaro já apontou sua direção: conservador nos costumes, liberal na economia, reformador na política, reorientando inclusive as relações externas. Uma mudança profunda que moldará o formato do país nas próximas décadas.

sexta-feira, novembro 02, 2018

Espírito Cívico

Parece impossível para parte da intelectualidade brasileira aceitar um movimento digno de patriotismo sem que se esconda algum interesse por trás. O espírito cívico anda em baixa e isto faz parte do desmonte moral que se abateu sobre a sociedade brasileira. A relativização dos valores foi estratégia fundamental para desacreditar as instituições e pessoas dispostas a assumir compromissos reais em prol da sociedade.

Esta narrativa ficou clara diante do aceite de Sérgio Moro para ocupar a pasta da Justiça no governo Bolsonaro. As questões levantadas são as mais diversas, como o fato de Moro abrir mão de um concurso público vitalício para servir como Ministro, passando pelo condicionante aceite para ser nomeado para o STF ou até se colocar como o sucessor natural de Jair Bolsonaro em 2022.

Interessante notar que ninguém levantou a possibilidade de Moro ter aceitado o desafio porque acredita que em Brasília terá a sua disposição ferramentas que ajudem a aperfeiçoar o combate sem tréguas contra a corrupção - sua missão de vida até aqui. Poucos lembraram que por trás da decisão de Moro está um genuíno espírito cívico de servir ao seu país de forma mais ampla, desenhando modelos que possam ajudar a debelar o maior mal que já se abateu sobre nosso país: a corrupção crônica.

Acreditar que este é um argumento ingênuo mostra de forma clara a degradação de valores na sociedade brasileira. Valores que precisam ser resgatados, ao invés de continuarmos em um ciclo vicioso de descrença, que somente abala os alicerces de uma sociedade virtuosa, que somente pode existir baseada na confiança, ética e responsabilidade. Este ciclo eleitoral parece ter apontado para uma direção contrária, portanto é um momento único para tentar resgatar os valores de dignidade de uma nação que foi rebaixada pela práticas mais sujas e hoje desconfia de si própria.

Minha opção é por acreditar no espírito público do Juiz Sérgio Moro, certo de que deixa uma carreira imbuído do maior espírito cívico de servir sua nação em outro patamar, com ações que possam ter um alcance muito maior. Minha opção é acreditar que podemos ser muito melhores do que temos sido nas últimas décadas. Acreditar ainda nos valores que fazem uma sociedade ser digna, honesta e responsável.

quinta-feira, novembro 01, 2018

Xerife Moro

A notícia do dia é que Sergio Moro aceitou o convite do Presidente-Eleito Jair Bolsonaro para ocupar um remodelado e poderoso Ministério da Justiça. Nesta pasta estarão concentrados todos os órgãos de controle e instrumentos de combate à corrupção do país. Ali estarão COAF, Transparência, CGU e o comando da Polícia Federal inserido no pacote. Moro terá todos os instrumentos possíveis para travar uma guerra sem tréguas contra a corrupção.

O movimento político de Bolsonaro foi inteligente. Carrega para seu Ministério um nome acima de qualquer suspeita e popular, alguém que personifica a moralidade que seu governo deseja encarnar. Fornece também um equilíbrio maior de forças dentro da Esplanada, permanecendo como coordenador de uma equipe de nomes competentes em seus setores, assim como foi prometido em campanha. Retira também a narrativa de militarização de seu governo, além de afastar qualquer sensação de traço autoritário usado como propaganda pelas esquerdas durante as eleições.

Na esfera internacional os benefícios também são grandes. Ao trazer Moro para coordenar as estratégias contra o crime organizado em nível nacional, os demais países começam a olhar para o Brasil com outros olhos, sem o receio de que o próximo governo tenha qualquer laço com práticas anti-democráticas, assegurando o império da lei como modelo institucional. Nada mais republicano.

No âmbito da Lava Jato, o receio é que a operação sofra alguns atrasos, pois as defesas irão usar o argumento da troca de magistrado nos processos para tentam atrasá-los, afinal, haverá um novo Juiz na frente da Operação Lava Jato em Curitiba. Nos próximos meses, quando muitos políticos perderão o direito ao Foro Privilegiado e deixarem seus cargos eletivos, as investigações ganharão impulso, com uma série de prisões, começando mais um capítulo deste processo.

Moro terá diante de si cerca de dois anos para organizar o sistema anti-corrupção e de segurança pública, pois especula-se que a promessa seja de que ele será o próximo indicado para o STF, provavelmente na vaga do decano Celso de Mello. Percebe-se que o tempo é curto e o trabalho profundo. O novo ministro terá que dedicar-se intensamente ao trabalho na pasta. Para isso, nada melhor que um nome técnico-estratégico como de Moro.

Moro ganhou um desafio. Bolsonaro fez um gol de placa.


quarta-feira, outubro 31, 2018

Quarto Poder

A grande imprensa bateu muito em Bolsonaro. No início não era levado a sério, mas quando seus números começaram a ficar robustos, as baterias se voltaram contra ele. Neste caso, a estratégia teve resultado oposto, pois quanto mais a imprensa batia no candidato, mais ele crescia e se consolidava. Ninguém entendeu o fenômeno que se desenhava.

Bolsonaro foi eleito dentro de uma agenda antisistema. Sua estratégia esteve calcada desde o começo neste aspecto e o enfrentamento com a mídia tradicional somente fortaleceu esta frente. O eleitorado estava ciente que buscava um nome que estivesse fora das estruturas de poder e neste caso, aqueles badalados na imprensa nacional e famosos nos corredores da política, não teriam chance.

O mais curioso foi enxergar a insistência no erro. As pautas levadas para discussão com o agora Presidente-Eleito eram sempre as mesmas, ou seja, temas que ele estava preparado para responder com desenvoltura, pois eram as pautas habituais. Ao tentar desconstruí-lo, acabaram por fortalecer seu posicionamento de outsider.

O mesmo ocorreu com Donald Trump. Enquanto a mídia engajada tentava desconstruir sua imagem, sua postura de outsider se fortalecia e seus números nas pesquisas se tornavam mais robustos. Até o final perdurou a tentativa de desconstrução de sua figura. Uma posição que acabou somente por se tornar mais um de seus trunfos. Com Trump no cargo, ainda sem entender o fenômeno, a mídia manteve-se na ofensiva. Foi música para os ouvidos do republicano.

O mesmo se repete no Brasil. Depois de ofensiva furiosa na última semana de campanha, nada parece ter mudado com sua eleição. A grande imprensa do eixo Rio-São Paulo segue na mesma linha adotada pelas publicações americanas com Trump, jogando no ataque. A falta de entendimento das estratégias políticas e de leitura do cenário faz com que a mídia siga jogando uma partida no campo adversário. Uma rejeição, que ao cegar parte do jornalismo, fez com que a imprensa tradicional perdesse o controle da narrativa.

terça-feira, outubro 30, 2018

Núcleo Duro

O pleito presidencial acabou e a nova equipe já começou seu trabalho. O Presidente Michel Temer colocou estrutura disponível para time de transição e indicou o Ministro Eliseu Padilha como líder do grupo do lado do governo atual. Temos tudo para encarar uma transição republicana, seguindo o padrão de cordialidade do atual Presidente. Do lado do novo governo, o futuro Ministro Chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni coordenará os trabalhos.

Com estes movimentos, o Presidente-Eleito vai fornecendo sinais sobre o seu núcleo duro do governo. O nome de Onyx, deputado federal como Bolsonaro, encabeça a lista ao lado de Paulo Guedes. O Vice Presidente-Eleito Hamilton Mourão completa o grupo, mostrando que não teremos uma figura decorativa no Palácio do Jaburu, mas um articulador eficiente que também circulará pelas esferas de poder. 

Este núcleo já se reuniu no Rio de Janeiro hoje. Paulo Guedes mostrou que manterá sob sua guarda um ministério da economia fortalecido, absorvendo as pastas do planejamento e da indústria e comércio. O empresariado que visitou Bolsonaro na semana que passou e solicitou a revisão desta fusão não obteve êxito. Como forma de desenvolver políticas harmônicas, tudo ficará sob a responsabilidade de Guedes. 

Outro pleito que não foi revisto reside na área de agricultura. A fusão entre as pastas da Agricultura e Meio Ambiente foi confirmada, mesmo diante da pressão de grupos contrários. 

Mais do que qualquer coisa, o que vimos hoje foi uma harmonização do discurso entre os principais membros da equipe ministerial A estrutura central de um governo reformista, como este que se apresenta, precisa estar sintonia e falar no mesmo tom, com a mesma mensagem. Hoje efetivamente começou o governo Bolsonaro. 

Lições do Pleito

Encerrado o processo eleitoral mais interessante dos últimos tempos, podemos tirar conclusões claras das mensagens emitidas pelo eleitor. Antes de qualquer coisa, havia um desejo forte de renovação. Esta tônica abalou as estruturas da política tradicional e também as correlações de poder. Mas este era apenas o primeiro passo. O caminho trilhado pelas urnas deixava claro qual o rumo que o país iria adotar ao final do pleito.

A primeira conclusão é simples. Como escrevi nesta coluna mais de um ano atrás, estávamos diante de um processo eleitoral denso, que encerra um ciclo de 30 anos da política brasileira, iniciado com a redemocratização. Nosso país tem esta característica e produz a cada três décadas uma mudança de fundo nas estruturas de poder. Um processo que começou em 2013, encontrou seu ápice em 2018. 

Dentre tantos reflexos que enxergamos neste pleito, vimos o surgimento de um movimento conservador, orgânico e que encontrou respaldo na sociedade. Pela primeira vez em muito tempo a direita conservadora encontrou candidatos que transmitissem suas plataformas e defendessem suas agendas. No mesmo lado, vimos a chegada de uma direita liberal, algo impensado até pouco tempo atrás. Em suma, mais do que qualquer movimento, 2018 serviu como renascimento da direita política. 

Certamente a realidade que se impõe ao novo Presidente está inserida dentro desta nova correlação de forças. Temos uma esquerda definida liderada pelo petismo de um lado e uma força localizada na direita liderada pelo conservadorismo. Dentro desta dinâmica, ocorrerão as negociações e a discussão da pauta do novo governo. Um binômio de forças políticas definidas que lutará para atrair os votos de um centro que se tornou um consórcio de poder liderado por partidos médios. 

Para além de tudo, 2018 inaugura uma nova forma de fazer política e também de fazer campanha. Algo que já havia ficado claro na disputa local para a prefeitura de Belo Horizonte e que tornou-se uma realidade por todo o país. O tempo de rádio e televisão não garantiu aos donos do mais largo latifúndio qualquer vantagem na disputa. Muito pelo contrário, o destaque foi para o candidato sem tempo de televisão que soube usar as redes sociais a seu favor mudando um importante paradigma das eleições brasileiras. 

Este período marca um novo começo, com a quebra de um ciclo que sobreviveu por três décadas. O novo Presidente é apenas o amálgama de uma série de insatisfações que fazem parte da vida do brasileiro, pautas difusas e de diversos grupos. Unir estas pautas dentro de uma agenda comum é o grande desafio, deslocando a narrativa para o seu campo. A partir de agora será preciso construir. Um novo caminho, sob novas bases, diante de uma nova realidade. Um novo ciclo se inicia.

domingo, outubro 28, 2018

Mão na Faixa

Tenho recebido muitas mensagens com dúvidas sobre o resultado eleitoral deste domingo. Como acompanho eleições há pelos 25 anos e conheço os institutos de pesquisa por dentro, deixo algumas considerações sobre a eleição deste domingo.

Seguindo a tendência eleitoral do primeiro turno + as semanas de segundo turno, a tendência inequívoca é a eleição de Jair Bolsonaro.

Ele deve vencer com cerca de 60% dos votos, podendo alcançar entre 58% e 63%, chegando ao redor dos 60 milhões de votos.

Não há chance real de Bolsonaro ser alcançado por Haddad. A narrativa da imprensa, de um modo geral, é em favor do candidato do PT, como previ aqui. Assim como disse que muitos líderes políticos, especialmente ligados ao tucanato, apoiariam o petista.

A narrativa é de desgaste de Bolsonaro e onda petista. Mas isto não se comprova nas pesquisas e nas ruas. O PT tentou, sendo ecoado pela imprensa tradicional, criar fatos sucessivos, especialmente na última semana, para virar a eleição. Não teve aderência em qualquer camada da população.

Ao contrário da narrativa do senso comum, adiantei aqui que o candidato do petismo seria Haddad, que os tucanos escolheriam Alckmin, que haveria uma aliança em torno do tucano, mas que o tempo de televisão e rádio não fariam ele sequer se mover nas pesquisas. Afirmei que esta é uma eleição atípica, similar ao pleito de 1989 e sem qualquer relação entre os pleitos que ocorreram nas últimas três décadas. Desenhei a tese, há quase dois anos, em coluna no jornal O Tempo, que a sociedade brasileira opera uma mudança de fundo na política a cada trinta anos e que este processo começou em 2013 e chegaria ao seu ápice em 2018 com a eleição de um outsider.

Bolsonaro encarnou a figura do outsider melhor do que qualquer outro candidato, assim como Collor em 1989, Jânio em 1960 e Getúlio em 1930 (que perdeu, mas chegou ao poder). Todos quebraram o sistema político anterior, refundando as bases que iriam guiar a política pelos 30 anos posteriores. Alerto que viveríamos este processo novamente em 2018, portanto, candidatos como Alckmin não teriam qualquer aderência no pleito.

A onda que irá eleger Bolsonaro neste domingo se originou na inconformidade do povo com as estruturas de poder e a fadiga do modelo de bem estar social implementado pela Constituição de 1988, que estrangulou o Estado e as contas públicas. Este movimento começou com as manifestações de 2013 e chega ao seu ápice com a faxina geral na política, impulsionada pela Lava Jato, nas eleições de 2018.

Portanto, a onda maior, que move as estruturas da República, levará ao poder alguém que esteja disposto a duelar com o sistema. Não existe uma onda eleitoral que impeça a onda maior. Se há uma pequena reação de Haddad na reta final, é comparável a uma marola, enquanto aquela que elegerá Bolsonaro é um tsunami de proporções épicas que passa pelo Brasil a cada 30 anos e que desta vez chega impulsionado por uma reação conservadora.

Minas Gerais é o estado que prevê o resultado das eleições. Mesmo se levarmos em consideração os números de Datafolha e Ibope, Bolsonaro vence em Minas com folga. 60% - 40% Pró-Bolsonaro no Ibope e 59% - 41% no Datafolha. Isto deve medir o que acontecerá nacionalmente com apenas um detalhe - Ibope e Datafolha, por realizarem medições presenciais, não captam o voto silencioso, grande aliado de Bolsonaro como visto no primeiro turno. Por isso, o capitão pode acabar com números acima da medição Ibope/Datafolha em Minas Gerais.

Estamos falando de uma distância de 17 a 20 milhões de votos pró-Bolsonaro neste domingo. Ele deve ultrapassar a marca de Lula em votos absolutos (58 milhões) em 2006 e talvez seu percentual em 2002, 61,27%. Como já escrevi aqui, Bolsonaro está diante de vitória maiúscula.

sexta-feira, outubro 26, 2018

Reação Conservadora

Muitos se perguntam de onde saiu Jair Bolsonaro e a força que demonstrou possuir nesta eleição. A resposta é simples. Bolsonaro representa uma reação ao politicamente correto e a tomada das instituições pelas chamadas forças progressistas de esquerda. O candidato do PSL encarnou melhor do que ninguém as insatisfações daqueles que foram deixados para trás pelo domínio da agenda pelo viés progressista.

As políticas de esquerda, seja de cunho social democrata, como nos anos Fernando Henrique, seja da vertente sindical, nos anos Lula e Dilma, privilegiaram um resgate de uma agenda pautada por grupos específicos, que aos poucos dominaram o discurso político e as instituições. Uma visão de pensamento único que excluiu do debate liberais e conservadores, que foram colocados a margem do processo.

A Constituição de 1988 é uma das responsáveis por este processo, por fornecer enormes obrigações ao Estado e direitos difusos. Nada mais normal depois de um período autoritário, mas a fadiga desta visão de mundo também chegaria e resolveu começar a aparecer nas manifestações de 2013. Vivemos apenas o ápice deste movimento.

Por certo outro nome poderia ter capturado a vontade intrínseca do eleitorado por uma mudança de fundo no panorama político, entretanto, Bolsonaro foi aquele que se apresentou sem medo de enfrentar o lugar comum e o discurso progressista atual. Nenhum outro candidato se expôs como Bolsonaro, certamente diante do receio de não serem bem aceitos. Fato é que aquele que enfrentou abertamente o discurso progressista, conseguiu aderência nos tecidos da sociedade.

O capitão, que provavelmente se converterá em Presidente da República, lidera um processo de reação conservadora ao discurso dominante nas últimas décadas. Se conseguirá deslocar o eixo da narrativa construída por muito tempo pela esquerda, é uma incógnita, mas finalmente o eleitorado conservador encontrou um candidato para chamar de seu. A coragem em assumir estas bandeiras e lutar por elas é o grande feito de Bolsonaro. Um feito que provavelmente levará o capitão ao Planalto.

quinta-feira, outubro 25, 2018

Diferença Elástica

A diferença que separa Bolsonaro de Haddad é enorme. Praticamente impossível de ser tirada em tão pouco tempo. Enquanto o PT busca fatos novos que possam servir como uma bala de prata para seu candidato, Bolsonaro mostrou-se incomodado com a falta de mobilização de sua militância no segundo turno. Ambos estão preocupados em vencer, mas ao lado disso, está um ponto seminal: o tamanho da diferença entre ambos.

Se Bolsonaro vencer com um placar dilatado, com uma margem maior daquela obtida por Lula em 2002, seu eleitorado estará emitindo uma forte mensagem, algo que tem um peso enorme ao assumir o cargo. O tamanho da legitimidade de Bolsonaro será do tamanho da diferença que conseguirá construir. Não adianta vencer, mas precisa vencer bem.

Do lado de Haddad, mesmo aqueles que ainda acreditam em uma improvável virada, na verdade estão mais preocupados em diminuir a distância que separa ambos, pois não desejam que o capitão chegue ao Planalto amparado por uma vitória maiúscula, algo que fortalece sua agenda e enfraquece a oposição. Ao diminuir esta diferença, o petismo não sairia do processo carregando a humilhação de ter sido derrotado pela margem mais elástica da história.

Isto explica a determinação do PT em desconstruir Bolsonaro usando todos as frentes possíveis neste segundo turno. Até o momento, apesar de não ter conseguido virar o jogo, conseguiu desgastar um pouco a campanha do capitão, que perdeu pontos, mas se mantém amplamente na frente.

Bolsonaro ocupou as redes sociais para iniciar o contra ataque. Pediu mais empenho para sua militância alegando que não existe eleição ganha e que é necessário todo o esforço para garantir a vitória. Os deputados eleitos com seu apoio teriam o dever de se engajar para que uma vitória robusta seja construída.

Ambos sabem o valor intrínseco de uma vitória maiúscula ou apertada. Lula em 2002 chegou com enorme legitimidade ao Planalto, ao passo que Dilma, que venceu Aécio nos acréscimos, se tornou uma Presidente fraca e sofreu impeachment. A conferir.

terça-feira, outubro 23, 2018

Postura Presidencial

Os ataques se intensificam na medida que Bolsonaro constrói sua vitória com maior folga. Dependendo das pesquisas, suas intenções de voto variam entre 58% e 65%. Deve vencer com uma larga margem, o que fornecerá legitimidade e um mandato claro da população brasileira, talvez com a maior margem e contingente de votos recebidos por um candidato na história da política nacional.

Do outro lado, Haddad tem dificuldade em aceitar a derrota e o petismo já avisou que cairá atirando. É que temos visto nesta última semana, com vídeos requentados, matérias sem apuração e denúncias que até o momento nada produziram de concreto. O PT procura intensamente um fato novo que possa virar a eleição na última semana, mas diante dos fatos, esta parece uma realidade cada vez mais distante.

Entretanto, os ataques levaram a uma mudança de postura de Bolsonaro, que surge mais ponderado e sereno nas entrevistas, vestindo a postura presidencial que deve adotar a partir de domingo. Este é o ponto de inflexão do momento. O comportamento presidencial de Bolsonaro surpreende os seus opositores e ajuda na construção da imagem de liderança que procura passar neste final de campanha.

Esta mudança alcançou não somente o comportamento diante das câmeras, mas assegurando seu compromisso com as instituições. A carta enviada ao decano do STF, Celso de Mello, deixa clara esta postura firme que fortalece o compromisso com a democracia -o que desmonta uma das principais linhas de ataque de seus opositores.

Diante desta inflexão final de campanha, Bolsonaro neutraliza os opositores e encaminha a vitória com tranquilidade. Realiza o movimento estratégico político certo neste momento. Nesta etapa, Haddad, que falhou na tentativa de montar uma frente ampla, parece sem alternativa. Bolsonaro soube reagir aos ataques da maneira mais imprevisível possível, assumindo previamente a postura que muitos duvidam que teria mesmo depois da eventual posse. Um movimento que consolida sua cada vez mais provável vitória.

sexta-feira, outubro 19, 2018

Desespero Petista

A reportagem da Folha de São Paulo que acusa empresários de patrocinarem ações pró-Bolsonaro via whatapp ainda precisa ser verificada e apurada. Um dia depois de publicar uma notícia que mexe com a dinâmica das eleições, o jornal ainda não apresentou provas das acusações, o que enfraquece seu argumento. Se de um lado a Folha ainda precisa ir mais a fundo, ser mais precisa, com vistas a evitar a acusação de estar produzindo notícias falsas ou de verdades elásticas, do outro, o PT aproveitou o gancho para esticar a corda, o que torna-se um risco para nossa democracia.

Haddad pediu a exclusão de Bolsonaro do processo eleitoral, enquanto o PSOL, atuando como linha auxiliar, solicitou a suspensão do serviço de whatsapp no Brasil para evitar a disseminação das chamadas "Fake News". Na falta de votos, o petismo está jogando as fichas no tapetão, uma atitude que somente diminui ainda mais o tamanho do partido. Uma atitude que flerta com aquilo que o PT mais acusa Bolsonaro: autoritarismo. A face autoritária do partido de Lula sempre aparece quando o petismo encontra-se acuado eleitoralmente.

Ao acusar o adversário de fraude e de fomentar uma organização criminosa, Haddad esquece de olhar para seu partido, descredencia a democracia e o processo eleitoral brasileiro, subvertendo a vontade popular expressa nas urnas. Diante da iminente derrota, prepara o discurso oposicionista e os futuros movimentos de tentativa de destituição de um governo que sequer foi eleito. O partido mostra assim que não está disposto a discutir o país, mas apenas em tomar o poder. É uma pena, pois fica claro que no jogo democrático, as regras valem para o petismo somente em caso de vitória. Uma atitude mostra desprezo pela democracia.

Na mesma linha vai o pedido do PSOL para bloquear o whatsapp. A tese parte do princípio de que notícias falsas transitam apenas por este aplicativo e que o eleitores não possuem capacidade de discernimento, sendo necessário suprimir a liberdade para garantir a democracia. Ora, não existe democracia sem liberdade.

O objetivo estratégico petista visa impedir o crescimento de um candidato que faz sua campanha basicamente usando as redes sociais, desacreditar o pleito e a confiança em nossa democracia já embasando as linhas de ação de um projeto de oposição que não tem o menor interesse em discutir os melhores caminhos para o país. Diante desta triste realidade, ficou mais claro quem são os verdadeiros autoritários que flertam com a irresponsabilidade nesta campanha eleitoral.

quinta-feira, outubro 18, 2018

Os Erros de Haddad

O jogo se complica para o petismo a cada nova pesquisa divulgada pelos institutos. Se havia entusiasmo pela escalada meteórica de Haddad no primeiro turno, impulsionada pela associação com Lula, no segundo, parece que a estratégia certa está longe de ser encontrada. A crise chegou nas hostes petistas.

Haddad não conseguiu crescer acima dos simpatizantes do seu próprio partido. 20% do eleitorado se considera petista, patamar atingido pelo candidato rapidamente depois do apoio de Lula. A escalada para perto dos 30 pontos foi diante dos simpatizantes do PT, mas para além disso, o candidato tem enorme dificuldade de crescer.

Isto se explica pela onda conservadora que vem crescendo e consolidando cada vez mais a posição de Bolsonaro, calcada no antipetismo e na narrativa antisistema. Do outro lado, diante da vitória maiúscula do conservador no primeiro turno e na larga margem aberta nesta segunda etapa, a campanha petista entrou estado de alerta, dando início a confrontos internos.

Isto não ajuda o candidato do PT, que perdeu o discurso e o caminho assim que desembarcou no segundo turno. A troca dos slogans e cores de campanha irritaram a militância tradicional do partido e não ajudaram a conquistar mais votos. Haddad acreditava que seria possível construir uma frente ampla contra Bolsonaro, com apoios nos partidos de centro e especialmente a adesão de caciques do PSDB. Com isso, poderia tentar construir a narrativa da democracia contra o autoritarismo e do progressismo contra o conservadorismo. A tática não funcionou. Sozinho, Haddad tentou uma imagem mais centrista, sem contudo obter apoios mais o centro.

Diante do erro estratégico e da falta de articulação política, ao invés de crescer, Haddad vem caindo e enxergando sua rejeição crescer a cada pesquisa. A curva que se abre entre as intenções de voto de Bolsonaro e do petista é sintomática do momento vivido pelo candidato de Lula. Diante deste cenário, a vitória de Bolsonaro pode se tornar ainda maior e mais significativa do que a de Lula em 2002.

Neutralidade Marota

Depois de totalizados os votos, com a confirmação de que o segundo turno seria entre Bolsonaro e Haddad, começaram as movimentações em busca de apoio dos partidos e candidatos derrotados na primeira fase. Enquanto de um lado o bloco de agremiações de esquerda se uniu em tornou de Haddad e PTB e PSC rumaram na direção de Bolsonaro, a maior parte dos partidos fez a opção marota pela neutralidade.

Sabemos que um dos principais pecados na política é a omissão. A opção pela neutralidade mostra o tamanho da insegurança que ronda os principais caciques partidários, quase que em sua totalidade abatidos pelas urnas. A limpeza que o população promoveu na última semana ligou o sinal de alerta para os políticos. O eleitor em fúria apresentou-se para votar com o fígado e seu recado ecoou nas direções partidárias.

O objetivo de declarar a neutralidade é liberar os candidatos dos diferentes estados, especialmente aqueles que enfrentam o segundo turno, para buscar seu próprio caminho, sem fechar portas. Como estamos diante de duas propostas antagônicas, assumir declaradamente o apoio, tanto a Haddad como Bolsonaro, pode obstruir canais que levam a votos importantes.

Os tucanos entraram em crise. Diante do fiasco de Alckmin as brigas internas já começaram e o partido saiu rachado. Enquanto Fernando Henrique diz que não votará em Bolsonaro, Doria segue em sentido oposto, assim como Expedito Júnior em Rondônia, Eduardo Leite no Rio Grande do Sul e Reinaldo Azambuja no Mato Grosso do Sul. Permanecem neutros ou indefinidos os candidatos ao governo de Minas Gerais, Antônio Anastasia e Anchieta Júnior em Roraima – neste dois estados os oponentes Romeu Zema e Antonio Denarium já estão com Bolsonaro.

A neutralidade serviu, de um lado, para evitar a contaminação do antipetismo em candidaturas que poderiam ser facilmente prejudicadas pela associação com a opção por Haddad, como Rodrigo Rollemberg no Distrito Federal, Valadares Filho em Sergipe, Eduardo Paes no Rio de Janeiro e Márcio França em São Paulo. Do outro lado, visa trazer prudência em um segundo turno em que Bolsonaro mostra-se cada vez mais perto da vitória.


O condomínio chamado centrão somente espera a confirmação do vencedor para tentar impor seu jogo. A neutralidade marota faz parte da estratégia de se posicionar diante do novo governo. A opção preferencial é por Haddad, pois em uma eventual administração petista sabem seu lugar no jogo, ao contrário de um Planalto comandado por Bolsonaro – onde paira a incerteza para fisiologismo. A eleição do candidato do PSL tende a romper com as estruturas tradicionais de negociação e irá diminuir o poder da burocracia, um movimento que assusta os partidos, mas seduz o eleitor.

terça-feira, outubro 16, 2018

Bolsonaro Consolidado

A margem aberta por Bolsonaro nas projeções de segundo turno é do tamanho da indignação do eleitor, algo que corrobora a tese de que os institutos tradicionais erraram feio na medição da rejeição. Ibope e Datafolha apontavam para o fato de que Bolsonaro perderia para qualquer candidato na reta final. Um argumento que foi inclusive usado por opositores para tentar a migração do voto útil para suas campanhas, uma estratégia que não funcionou.


Ao contrário, o alto índice de rejeição apontado pelas pesquisas fez Bolsonaro avançar ainda mais, direcionando o voto útil no capitão para que ele ganhasse ainda no primeiro turno. Na última semana nasce uma onda pró-Bolsonaro que se torna um efeito manada, que chegou perto de entregar-lhe a vitória já na primeira rodada. Alckmin, Alvaro e Meirelles desidrataram. Amoedo resistiu.  

Minas Gerais aponta para uma vitória folgada de Bolsonaro. O estado possui a característica de apontar a tendência nacional sem nunca ter errado os caminhos de uma eleição nacional. Entre os mineiros, o candidato do PSL já atinge 70% dos votos. Isto mostra que no quadro nacional a tendência é que Bolsonaro amplie ainda mais a vantagem que possui sobre Haddad, hoje entre 18 e 19 pontos. No dia da eleição pode chegar a mais de 25 pontos. Se isto se confirmar, o petismo terá sofrido mais dura derrota eleitoral da história, uma surra que não está acostumado a enxergar nas urnas.

Bolsonaro lidera em todos os estratos testados nas pesquisas, mas especialmente entre as mulheres, com 47% contra 36% de Haddad. Sua rejeição neste grupo também é menor, ou seja, as mulheres rejeitam muito mais o petismo do que Bolsonaro. Haddad vence apenas no Nordeste, entre os que ganham até um salário mínimo e possuem apenas o ensino fundamental. Sem fatos novos, o jogo está praticamente selado.

O capitão deve chegar a vitória com folga embalado pelo antipetismo e pela indignação do eleitor. Conseguiu um feito inédito, embalar a eleição de uma bancada conservadora de 52 deputados que ainda deve receber novos membros batendo nos 70 deputados, tornando-se o maior partido da Câmara. Este movimento de renovação impulsionou também os candidatos da direita liberal que chegaram a oito cadeiras. Bolsonaro deve governar diante de uma base de direita de praticamente 80 deputados. Para quem falava em governabilidade, uma realidade que se impõe.