sexta-feira, junho 29, 2018

100 Dias

Chegamos a uma data simbólica. A distância das eleições de 2018 é de apenas 100 dias. O quadro, apesar de aberto, já começa a tomar contornos definidos por dois motivos: o transe em torno da Copa do Mundo, que afasta os brasileiros do noticiário político e anestesia as campanhas e a proximidade com a convenções partidárias que definem os candidatos no final de julho.

Isto significa que temos um cenário em que o centro não decolou. Seus candidatos seguem com números pífios e sem animar o eleitor. Rodrigo Maia, Flávio Rocha e Henrique Meirelles tendem a desistir, com seus partidos compondo em outra chapa ou apenas centralizando o poder de fogo nas eleições proporcionais para deputados, que estabelecem o valor do fundo partidário para os próximos anos. Daqueles com intenções de voto modestas, ficarão no páreo apenas os de corte ideológico que usarão o palanque para sedimentar a mensagem dos seus partidos, como João Amoedo, Guilherme Boulos e Manuela D´Ávila.

O centro, desta forma, fica com dois candidatos que lutam para subir nas pesquisas. Álvaro Dias, do Podemos, que varia entre 4% e 8% e Alckmin, que não empolga nem sua militância e patina nos 6% de acordo com os números do Ibope. No mesmo período, em 2006, Alckmin pontuava 28% e Aécio em 2014, alcançava 19%. Neste ano, os tucanos ainda não encontraram o caminho das urnas.

Na esquerda despontam Ciro e Marina, com a pré-candidata da REDE credenciando-se hoje ao segundo turno contra Jair Bolsonaro. Mas nesta frente ainda lembro: é preciso esperar quem será ungido por Lula como o candidato petista. Um nome que deve complicar a vida de Ciro e Marina.

Se este período nos deixa uma mensagem é que o eleitorado tende não colar em um candidato de centro. Esta é uma eleição que possui um pano de fundo histórico de mudança e renovação, com o fim da Nova República e o início de um novo ciclo de 30 anos. Aqueles que falharem nesta leitura, tendem a encarar uma amarga derrota.

quinta-feira, junho 28, 2018

Tucanos em Transe

Três décadas atrás ocorreu um racha no PMDB. Um grupo de parlamentares, intitulado de "grupo ético", partia da agremiação com vistas a formar um novo partido. "Longe das benesses oficiais, mas perto do pulsar das ruas", como estava escrito em seu programa. Ganhava forma o PSDB.

Sob a liderança de Mário Covas, Franco Montoro, Fernando Henrique, José Richa, José Serra, Pimenta da Veiga, entre muitos outros nomes, os tucanos nasciam dentro da constituinte, deixando acéfalo o PMDB, que ali começou seu caminho para se tornar apenas um partido de articulação, enquanto o PSDB tornava-se um partido programático.

Os tucanos, social democratas por excelência, sempre foram de centro-esquerda. Chegando ao ringue contra Lula, passaram a ser vistos como centro-direita, levando o partido a uma crise de identidade que perdura até os dias de hoje. A vergonha em defender a política de privatizações de Fernando Henrique é sintomática.

Nesta semana, comemorar os 30 anos de forma acanhada, na cobertura de um hotel de Brasília, as vésperas de uma eleição presidencial, evidencia a falta de unidade e empolgação do partido. Liderado por um Geraldo Alckmin que patina nas pesquisas, mostra-se um partido apático. Na corrida pelo Planalto, depois de rifar João Doria, tudo indica que o PSDB caminha para, assim como Alemanha, ser eliminado na fase de grupos.

Aliado de Temer desde os primeiros dias, o partido colhe também o desgaste de um governo impopular e rejeitado pela população. Refém de seus conflitos e da falta de comando, o PSDB, suprema ironia, chega aos 30 anos perto da benesses oficiais do partido com quem rompeu e muito distante do pulsar da ruas. Triste reflexo da política brasileira.

quarta-feira, junho 27, 2018

STF impulsiona Bolsonaro

O Supremo Tribunal Federal concedeu liberdade ao ex-ministro José Dirceu e deu um forte impulso para a campanha de Jair Bolsonaro.

Claramente descolado da realidade, a segunda turma reagiu de maneira contundente contra o Ministro Edson Fachin, que havia enviado o pedido de liberdade de Lula para ser examinado pelo pleno. Em reação coordenada, Lewandowski, Toffoli e Gilmar abriram a caixa de ferramentas e de uma tacada soltaram José Dirceu e João Cláudio Genu, ex-tesoureiro do PP, anularam as provas contra Gleisi Hoffmann, confirmaram a liminar de soltura de Milton Lyra, operador financeiro do MDB, rejeitaram denúncia contra o deputado Tiago Peixoto do PSD-GO e suspenderam uma ação contra o deputado tucano Fernando Capez, acusado de envolvimento na máfia da merenda. A jornalista Vera Magalhães lembrou que Rodrigo Capez, irmão do deputado tucano, foi o principal assessor de Dias Toffoli até o início deste ano. O escárnio chegou ao patamar da desfaçatez. Nos bastidores é certo que se Fachin não tivesse enviado ao pleno o pedido de liberdade de Lula, a segunda turma teria soltado o ex-Presidente ontem.

Os ministros brincam com a democracia, fragilizando a já desgastada imagem do STF perante a população. O tribunal está rachado e politizado. Em breve pode estar também totalmente desmoralizado, fragilizando um dos alicerces da República. Muitos ministros, agindo como políticos, esqueceram a lição de Afonso Arinos: "Justiça é a noção de limitação de poder".

A sensação de que o período da Copa do Mundo está sendo usado para encobrir esta série de movimentos está tomando contornos mais definidos. Imagina-se que somente o fim do torneio ou a saída do Brasil da Copa possa devolver a pauta política para o cenário nacional, colocando um freio na estratégia de desmonte da Lava Jato.

A cada novo triste episódio protagonizado pelo Supremo, o sentimento de revolta que começa a ficar mais cristalino a cada pesquisa, induz o voto de protesto em Jair Bolsonaro. Seu provável candidato a vice, Senador Magno Malta, foi enfático: É inaceitável a maneira debochada como o STF trata a nação".

Hoje, não existe maior cabo eleitoral da candidatura de Bolsonaro do que o Supremo Tribunal Federal.

terça-feira, junho 26, 2018

Os Sinais de Minas

Hoje foi divulgada uma pesquisa presidencial realizada em Minas Gerais. Algo de enorme importância no âmbito nacional. Isto porque Minas é um laboratório perfeito que apresenta características muito similares ao Brasil, assim como ocorre com o estado de Ohio nos Estados Unidos. Logo, se desejamos saber que rumo está tomando a sucessão presidencial, temos que prestar muita atenção na sondagem de hoje.

Vemos que os números são generosos com Bolsonaro. Em Minas Gerais ele aparece com uma intenção de votos ainda mais robusta que no plano nacional, chegando a 29%. A certeza de voto no deputado chega a impressionantes 90%. O segundo lugar aparece dividido entre Haddad e Ciro na faixa dos 8%.

Isto significa que possuímos um desenho prévio do que pode ocorrer nas eleições. Bolsonaro ainda possui musculatura para crescer mais alguns pontos em nível nacional e a candidatura do PT tende a se consolidar em torno de Fernando Haddad.

Haddad tem força para crescer em cima do potencial petista e assim que lançado deve se consolidar em torno de 15%. Com a máquina do partido e o impulso do Nordeste, deve conseguir uma vaga no segundo turno. Ciro e Marina terão que suar muito a camisa para se aproximar do petista.

O outro fator da pesquisa é o claro desgaste do centro diante da falta de capacidade de reação de Alckmin, ainda com 6%. Ele não consegue se aproveitar do fato de Anastasia largar na frente com ampla vantagem para o governo do estado.

Minas nos adianta o que deve ocorrer no cenário nacional. Desta vez não será diferente.

Instinto de Sobrevivência

Na noite de quinta-feira reuniram-se na residência oficial do presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Rodrigo Maia (DEM), o senador Aécio Neves (PSDB) e o presidente Michel Temer (MDB). O tema do encontro, que não constava da agenda pública de qualquer um deles, era naturalmente a sucessão e a montagem do quadro eleitoral. Discutiu-se o avanço da esquerda e de Bolsonaro, o papel dos tucanos, a união do centro e o peso do MDB. Em uma eleição de pouco apelo centrista, faltam eleitores e os partidos da base não desejam carregar a âncora do governo Temer durante a campanha.

A questão central é o calendário eleitoral. Com a ocorrência das convenções logo após a Copa do Mundo, os partidos possuem muito pouco tempo para ver seus pré-candidatos embalarem na campanha presidencial. Na trinca reunida no Planalto, por enquanto sobra poder, mas faltam votos. Alckmin ainda não decolou, com Doria sendo lembrado sempre como alternativa. Rodrigo Maia segue com o balão de ensaio de sua candidatura para garantir a reeleição como deputado. Henrique Meirelles não empolga nem o governo, tampouco o MDB. Os três somados não ultrapassam 10% nas pesquisas.

Os partidos precisam de um horizonte mais definido até as convenções e tudo indica que o quadro que enxergamos hoje pode se tornar o definidor das candidaturas. Logo, é possível que o MDB rife Henrique Meirelles e busque abrigo na vice de outra candidatura. A tarefa será difícil. Por mais que tenha muito a oferecer, o partido pode mais prejudicar do que ajudar. O peso da impopularidade de Temer é algo incômodo na corrida presidencial.

Ao mesmo tempo o chamado “centro político” busca se unir em torno de uma candidatura. Progressistas, Solidariedade, Democratas e PRB seguem divididos. Enquanto alguns desejam apoiar Alckmin, outros preferem Ciro e muitos já se definiram por Bolsonaro. Por mais que alguns partidos fechem alianças, a certeza é que seguirão rachados para a disputa nacional. Fato é que a união do centro ainda não empolga e no cenário atual tem poucas chances de impulsionar seu candidato para o segundo turno.

O MDB segue como a noiva rica, porém indesejada. Com extensa rede de prefeitos e governadores, que fornece ampla capilaridade em uma candidatura nacional, é olhado com desconfiança e ceticismo pelos possíveis pretendentes. Dono de minutos preciosos no rádio e TV e valioso fundo eleitoral, ainda não empolgou aqueles que namoram a possibilidade de associar-se a sua imagem. Isto tudo tem uma razão de ser: a impopularidade de um governo desgastado e marcado pelas denúncias de corrupção, uma combinação fatal em um pleito de forte apelo pela renovação. Contudo, dotado de um estratégico instinto de sobrevivência, o MDB pode optar pelo isolamento. Sem compor chapa nacional, mas usando seu exército para eleger deputados, governadores e senadores, pode tornar-se mais uma vez o partido da governabilidade, aquele que o próximo presidente precisará quando chegar ao Planalto.

sexta-feira, junho 22, 2018

Fora da Agenda

O Presidente Michel Temer tem apreço pelos encontros informais, algo muito comum na política. Entretanto, depois da gravação realizada por Joesley Batista, que decretou o começo do fim do governo, convenhamos que deveria haver mais zelo com a marcação de reuniões fora da agenda.

Na noite de ontem encontraram-se na residência oficial do Presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia, senador Aécio Neves e o presidente Michel Temer. A reunião, que não constava da agenda pública de nenhum deles, acabou descoberta pela imprensa da capital.

A reunião tratou de sucessão e da tentativa de formação de um bloco de centro. Sabemos que Rodrigo Maia na verdade é candidato a renovar seu mandato de Presidente da Câmara, necessitando para isso de uma recondução a deputado pelo Rio de Janeiro. Diante das fracas votações obtidas no passado, o balão de ensaio da pré-candidatura presidencial fortalece seu nome em suas bases eleitorais. Aécio Neves flerta com o Senado, mas diante do cenário, se contentaria com uma vaga na Câmara. Michel Temer tem encontros marcados com a justiça a partir de janeiro.

Os pré-candidatos de DEM, MDB e PSDB ainda não empolgaram os eleitores. A soma não bate em 10%, considerando que dois deles habitam o território dos 1% de intenção de votos.

Uma certeza fica clara. Enquanto Bolsonaro dispara nas pesquisas, na reunião do chamado "centro", ainda sobra poder, mas falta o essencial para a sobrevivência política: votos.

quinta-feira, junho 21, 2018

Os Movimentos da Caserna

A semana está sendo repleta de encontros emblemáticos. Além do jantar entre Marina Silva e Luciano Huck, outro episódio que chamou atenção foi a visita de Fernando Haddad ao General Villas Boas.

O comandante do Exército já recebeu vários pré-candidatos presidenciais. Com a visita de Haddad chega a 10 representantes. Disse em seu twitter que recebeu o petista para "um diálogo sobre desafios e oportunidades no campo da defesa e segurança".

O encontro é cheio de significados. Diante da prisão de Lula, o escalado para falar com o General foi Fernando Haddad. Enquanto a justificativa é de que ele é o coordenador do programa do PT, a verdade é que o ex-Prefeito de São Paulo é o nome para substituir Lula nas eleições deste ano. O escolhido para representar o partido na reunião não foi Gleisi Hoffman, tampouco o baiano Jaques Wagner. O partido forneceu uma clara indicação do caminho a ser seguido.

Além disso, surpreende a desenvoltura com que Villas Boas infiltra-se na política, lugar que os militares mantiveram distância até a chegada de Temer ao poder. Neste caso, o Presidente alimentou seu próprio desconforto. Ao franquear poder inédito aos militares em seu governo, o Planalto também se tornou, de certa forma, refém de seus movimentos. De nada adianta queixar-se nos bastidores do protagonismo de Villas Boas.

quarta-feira, junho 20, 2018

Os Movimentos de Marina

Enquanto muitos desprezam o potencial de Marina Silva, me coloco em posição diametralemente oposta. Ela é uma candidata competitiva e continua a brigar por uma vaga no segundo turno. Seus movimentos deixam claro que ela realmente se mexe nos bastidores.

Marina possui capital político de duas eleições presidenciais. Em ambas andou por volta de 20%, ou seja, 20 milhões de votos. Mesmo que perca 5%, ainda possui virtualmente um potencial nada desprezível de 15 milhões de votos.

Ela ainda transita por um eleitorado heterogêneo, que começa nos verdes, passa pelos progressistas e deságua em uma vertente conservadora e evangélica, por mais curioso que isso possa parecer. Ela é apoiada pelo movimento Agora! e participa de conversas com a Roda Democrática. Até FHC já sugeriu uma aproximação com a pré-candidata da REDE.

Os mais céticos dizem que ela tem pouco tempo de TV, mas em tempos de redes sociais e mensagens de whatsapp, qualquer candidato pode facilmente contornar este problema. Mesmo assim ela tem buscado alianças.

A mais notória é a aproximação com Luciano Huck, com quem ela janta na noite de hoje. Luciano é próximo de vários partidos, em especial do PPS, que poderiam se alinhar com ela.

Em uma eleição em que aquele que alcançar 15% ou 16% dos votos tem grande chance de estar no segundo turno, Marina nasce competitiva e estará ombreando com o petismo por uma das valiosas vagas para a disputa final. Talvez acompanhada de Luciano Huck.

terça-feira, junho 19, 2018

A Língua Afiada de Ciro

A polêmica em torno de Ciro Gomes torna-se cada vez maior. Seus ataques já atingiram vários nomes da política nacional. Desta vez, a vítima foi Fernando Holiday, vereador pelo DEM em São Paulo e um dos líderes do MBL. Ciro chamou Holiday de "capitãozinho do mato".

Capitão do mato era como se chamavam os serviçais de uma fazenda ou feitoria encarregados da captura de escravos fugitivos. A comparação foi infeliz. Não somente porque Fernando Holiday é negro, mas porque é um golpe abaixo da linha da cintura, que não leva em conta as ideias ou mesmo a atuação do parlamentar. Ciro mira no ataque pessoal com o objetivo de desconstruir Holiday.

O fato concreto é simples. Se Ciro Gomes continuar a desferir golpes a esmo, verá mais uma vez sua candidatura presidencial ser abatida, pelos seus próprios erros. O tipo de verborragia que produz é ofensiva e não agrada o eleitorado, por ser vazia e sem direção.

Hoje, Ciro paira entre 8% e 10% das intenções de voto e sonha em ser o candidato único das esquerdas, apoiado por alguns partidos do chamado "centro". Sua tática esbarra no PT, que está pronto para marchar unido nas eleições presidenciais deste ano com candidato próprio, até como estratégia de sobrevivência política. O centro tampouco deve marchar ao seu lado, unindo-se provavelmente em torno em Álvaro Dias ou Geraldo Alckmin.

Mestre das polêmicas, Ciro deve aprender a dosar a língua, pois aquilo que acredita ser sua maior fortaleza, é também sua maior fraqueza. Assim, não chegará a lugar algum.

segunda-feira, junho 18, 2018

Calendário Eleitoral da Copa

Por certo o resultado da Copa do Mundo deste ano não afetará a corrida presidencial, mas seu lugar no calendário serve como divisor de águas dentro do quadro eleitoral. Logo depois do evento, já estaremos diante das convenções, quando os partidos formalizarão as chapas para inscrição em meados de agosto.

O calendário da Copa, por assim dizer, influencia na medida que joga a sucessão para uma discussão secundária nas manchetes dos jornais por exatos 30 dias. Aqueles que souberam crescer antes deste período, entram neste limbo certos de que sairão dele praticamente intactos, com os mesmos números. Os que ainda não decolaram percebem que perderam um tempo precioso que talvez não seja possível ser recuperado.

Isto porque as convenções partidárias, em finais de julho e início de agosto, confundem-se com o final do mundial. Com a política levada a um segundo plano durante este período, fica muito difícil para qualquer pré-candidato mostrar uma reação sensível em apenas duas semanas, entre o final da Copa e as convenções. Isto quer dizer que o quadro desenhado até o momento pode servir de referência para a decisão do lançamento (ou não) das candidaturas ainda em curso.

O raciocínio encontra lógica na decisão dos partidos e no arranjo do quadro nacional. Enquanto o chamado “centro político” tenta se unificar em apenas uma candidatura, outros partidos devem acabar desistindo de lançar nomes a Presidente, acomodando-se em outras chapas e reservando o uso do fundo eleitoral para eleições mais sensíveis. Vale lembrar que o número de deputados federais eleitos baliza o percentual do fundo partidário recebido para os próximos anos.

Assim, faz sentido que aqueles candidatos que ainda não decolaram, se não mostrarem reação, acabem desistindo da corrida e que o centro realmente se una em torno de uma candidatura, que se não for realmente competitiva, possa pelo menos incomodar os líderes nas pesquisas, para assim amarrar acordos no segundo turno. Diante desta lógica, deve haver entendimento no centro para unificar forças, assim como na esquerda, que apresenta algumas candidaturas mais consolidadas.


Precisamos entender que diante das regras novas, para os partidos políticos torna-se muito importante eleger um número substantivo de deputados federais. Ali está a tônica da eleição diante de regras que colocam em xeque a existência daqueles que não conseguirem votos suficientes para sobreviver. Claro que uma candidatura forte de caráter nacional ajuda a puxar votos para as eleições proporcionais, mas apostar naquelas que apenas marcarão posição, pode tirar o foco da batalha pelo legislativo federal. Diante deste calendário, o esvaziamento das campanhas durante a Copa pode ser fatal para várias pré-candidaturas presidenciais.

Coluna semanal no jornal O Tempo: https://goo.gl/kvFL3W 

sexta-feira, junho 15, 2018

O Erros de Alckmin

Calmo até demais, Alckmin parece ainda não ter entrado no clima do jogo da sucessão. Se isto já foi usado como um trunfo em campanhas passadas, infelizmente não cai bem em 2018. Este é um ano atípico. O eleitor brasileiro busca mudança. Vivemos um período influenciado pela Lava Jato e pelas denúncias de corrupção. Um ciclo de 30 anos da Nova República se encerra e o eleitor está cansado da política tradicional.

Isto explica o fenômeno Jair Bolsonaro, que fala diretamente para este eleitor, cansado dos partidos de sempre, dos políticos profissionais e do estado geral do país. Bolsonaro faz parte da classe política, afinal já está no parlamento há tempos, mas consegue descolar-se de modo inteligente do jogo velho e cansado que vem sendo repudiado pelo eleitor.

Enquanto isso, Geraldo Alckmin consegue incorporar todas as características rejeitadas pelo eleitorado. A política não é uma lancha, mas um transatlântico, que se move lentamente. Os sinais da mudança da percepção do eleitor passaram pelas manifestações de 2013, eleições, impeachment, outsiders nas prefeituras e agora no rearranjo da política nacional com rejeição aos partidos. Fica difícil acreditar que o ex-Governador paulista não tenha percebido este movimento.

Não cabe neste momento ombrear com Bolsonaro, chamá-lo para discutir segurança pública ou rivalizar quem leva mais apoiadores ao aeroporto. Nestas frentes, Alckmin sai perdendo e continuará assim. O reposicionamento de sua campanha precisa de uma postura mais ativa e de contraponto ao petismo. Ao errar o adversário, Alckmin perdeu o discurso.

Entrevista para Exame.com/Instituto Millenium: Regras Eleitorais

Com vistas a transmitir melhor compreensão das regras eleitorais das eleições deste ano, concedi entrevista para o podcast do Instituto Millenium/Exame.com

"Em entrevista ao Instituto Millenium, o cientista político Márcio Coimbra explica como funciona a repartição das campanhas nesses meios de comunicação, além de falar sobre as distorções criadas pelo sistema"

A entrevista segue no link abaixo:
https://goo.gl/vBR2tz

quinta-feira, junho 14, 2018

Retrocesso na Defesa

O Presidente Michel Temer tomou mais uma decisão polêmica. Desde a saída do Ministro Raul Jugmann da pasta da Defesa para assumir o Ministério Extraordinário da Segurança Pública, o ministério estava sem comando civil, chefiado interinamente pelo General Joaquim Silva e Luna. A novidade é que o General foi efetivado como ministro, abrindo um delicado precedente institucional.

Criado em 1999 pelo ex-Presidente Fernando Henrique, a essência do Ministério da Defesa era colocar sob comando civil as três pastas militares. Um passo natural em democracias maduras. Desde então, todos os ministros da Defesa do Brasil foram civis, até o governo Temer.

A proximidade do Presidente com os militares é notória. Desde o fim do governo do General Figueiredo não experimentavam tal protagonismo e proximidade com o poder. A intervenção federal no Rio de Janeiro, decretos de Garantia da Lei e da Ordem e até a decisão de fazer valer o acordo com os caminhoneiros usando a força militar evidenciam este movimento. Contudo, não caiu bem.

Os militares possuem seu lugar na institucionalidade brasileira. É salutar que não se envolvam, na ativa, com a política. A proximidade com o poder deve ser enxergada com cautela e o distanciamento que democracia demanda.

Nada mais salutar para uma democracia do que o Ministério da Defesa sob comando civil. Infelizmente o Presidente Michel Temer não pensa da mesma forma. Sob esta ótica, parece que realmente o Brasil voltou. No tempo.


Entrevista para Rádio Senado: Acordo Estados Unidos e Coreia do Norte

Conversei na Rádio Senado com Floriano Filho sobre o acordo entre Estados Unidos e Coreia do Norte depois do encontro entre Kim Jong-Un e Donald Trump.

"Márcio Coimbra, Estrategista Político do Senado na área Internacional, afirmou, em entrevista nesta quarta-feira (13) à Rádio Senado, que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, assinaram apenas um acordo político na histórica cúpula realizada nesta semana em Cingapura. Segundo ele, só depois é que virá um calendário de desnuclearização. “A Coreia do Norte não vai vender isso de graça”, alertou. 

A entrevista segue no link abaixo:
https://goo.gl/SCeTgA

quarta-feira, junho 13, 2018

Passeio Vermelho

Se o chamado "centro político" enfrenta problemas para emplacar um candidato competitivo, a tarefa tem se tornado mais difícil na medida que são fechados os palanques estaduais. Nenhum deles, entretanto, gera mais preocupações do que a Bahia.

Por lá, a desistência de ACM Neto em concorrer ao governo deixou os aliados políticos em pânico. O prefeito de Salvador pontuava bem nas pesquisas, com números acima dos 40%. Existia a certeza que passaria ao segundo turno, onde provavelmente disputaria na reta final com o atual governador petista Rui Costa. A presença dele na disputa era a certeza que o centro encontraria um palanque sólido na Bahia, quarto colégio eleitoral do país. Um estado estratégico.

Sem ACM Neto na disputa, o campo se abriu para o PT, que deve fazer barba, cabelo e bigode. Rui Costa pontua acima dos 60% e deve faturar o governo com facilidade ainda no primeiro turno. Para o Senado, Jaques Wagner, que fincou a bandeira do petismo na Bahia destronando o "carlismo", tem assegurada uma das vagas, chegando em algumas pesquisas a pontuar raspando nos 70%. O jogo está de tal forma nas mãos do PT, que o partido deve escolher quem será o segundo Senador eleito pela chapa: Lídice da Mata, do PSB ou algum indicado pelo PSD. A acomodação de uma candidatura nacional pode ajudar nesta decisão.

Isto pode levar a reflexos no plano nacional. Sem adversários, o petismo deve abrir larga vantagem de votos na Bahia, uma vez que as campanhas para Governador e Presidente ocorreriam de forma casada. A eleição de Rui Costa e Jaques Wagner tende a ajudar muito uma candidatura petista nacional.

Enquanto isso, os opositores enxergarão mais um passeio vermelho na Bahia. A falta de um palanque forte no estado atinge Alckmin, mas também todos aqueles que contavam pelo menos em disputar os votos dos baianos, que agora já tem destino.

Na terra de Jorge Amado, o PT alcançará sua quarta vitória seguida. Todas no primeiro turno.

terça-feira, junho 12, 2018

Impopularidade Contagiosa

A campanha de Henrique Meirelles pode estar acabando sem ao menos começar. Nascida de uma costela do governo Michel Temer, tem absorvido todos os seus desgastes. A recente greve dos caminhoneiros foi apenas mais um episódio que ajuda a provar esta tese.

Meirelles patina ao redor de 1% e tem potencial para ver sua candidatura desaparecer tão logo chegue agosto e as convenções partidárias. Quem deseja atingir longevidade neste quadro eleitoral, precisaria mostrar musculatura nas pesquisas desde já, sob o risco de sair do jogo antes da partida iniciar. Não é o caso do ex-ministro de Temer.

Os números do Presidente não ajudam Meirelles. 82% rejeitam o governo. Diante de números tão ruins, fica difícil para qualquer candidato levantar voo. A impopularidade de Temer contamina a campanha de seu antigo ministro.

O objetivo de Meirelles era se tornar o Fernando Henrique de Temer, assim como ocorreu com o ex-Presidente durante a gestão de Itamar Franco. A diferença é que FHC tinha algo concreto para entregar ao eleitor: o fim da inflação carimbada pela introdução de uma nova moeda. Os feitos de Meirelles são mais tímidos e ainda não se fizeram sentir pelo principal ator deste processo, o eleitor.

A economia ainda é um problema para o brasileiro. Apesar da propalada recuperação encabeçada pelo governo, os números não convencem. 72% do eleitorado acha que a economia piorou. Diante de um quadro deste, qual a chance de vermos seu principal fiador tornar-se um candidato competitivo?

Michel Temer possuía dois pilares que sustentavam seu governo. Um deles era a economia, que depois de uma recessão profunda induzida por Dilma, começava a acordar do coma. Entretanto, a alta do dólar e lenta recuperação dos níveis de emprego fez este discurso se perder. O abastecimento, promovido por uma agricultura robusta, também foi atingido. A inoperância e lentidão do governo diante da greve dos caminhoneiros conseguiu abalar também este importante pilar.

A impopularidade do governo Temer contamina Meirelles e fará o mesmo com qualquer nome que eventualmente ocupe seu lugar. O MDB acabará operando sua especialidade, ou seja, fazer uma boa bancada e vender caro seu apoio ao próximo governo.

Alerta Vermelho

Apesar de vivermos um período de guinada conservadora na sociedade brasileira, especialmente pós-impeachment, com enorme desgaste do petismo, que ainda enfrenta os desdobramentos da corrupção que se alastrou por seus governos, venho lembrar que ainda reside sobre os ombros do partido um considerável potencial eleitoral que merece ser analisado.

Com as cartas na mesa, vemos aquilo que mostram as pesquisas. O petismo possui a simpatia de 20% do eleitorado brasileiro. Destes, 80% estão dispostos a votar no candidato indicado pelo partido, ou seja, aquele que será ungido por Lula como seu escolhido. Isso joga o nome indicado para um patamar ao redor dos 15% de intenções de voto, com força para chegar ao segundo turno.

Já analisei aqui o potencial de Marina. Ela também segue pontuando nos 15%. Na ciência política precisamos avaliar todas as variáveis. O Brasil possui tradicionalmente uma camada de eleitores acostumados a votar com a esquerda. Esta parcela, sedimentada de forma mais consistente no período getulista, acostumou-se a votar no antigo trabalhismo e transferiu-se ao longo dos anos para o petismo, uma forma de esquerda de corte sindical, mas que também fincou suas bandeiras na intelectualidade acadêmica e no funcionalismo público.

Assim, explica-se o percentual daqueles que declaram-se petistas e em um cenário sem a presença de Lula, a tendência é que mesmo com os desgastes sofridos o partido deve conseguir lutar de forma competitiva por uma vaga no segundo turno, por mais curioso que isso possa soar. Resta ao grupo decidir quem será o herdeiro político que carregará o partido em outubro.

A inclinação pelo nome de Jaques Wagner tende a não se concretizar, uma vez que o ex-governador tem uma vaga garantida no Senado pela Bahia. Dentro desse contexto, a candidatura deve recair sobre o ex-prefeito Fernando Haddad, o que deve posicionar o partido mais ao centro. Professor da USP e ex-ministro da Educação, consegue penetrar na classe média, aumentando as chances de passar ao segundo turno. A candidatura própria é o caminho natural do PT, que por suas características jamais aceitaria uma posição secundária em uma chapa presidencial.

Se Haddad passar para o embate final com Bolsonaro, sabemos que a classe política fará uma opção clara pelo petismo, afinal, já conhecem as regras do mecanismo, divisão de tarefas e poder. Para a política tradicional, apoiar Bolsonaro no segundo turno é dar um salto no escuro – o que vale lembrar, também fortalece a posição de outsider do deputado e que pode ajudar a catapultar seu nome para a vitória.

Mesmo que a tendência não seja de vitória, enganam-se aqueles que desprezam o potencial eleitoral, mesmo ferido, do partido de Lula. Repito: existe força para chegar ao segundo turno e eventualmente até vencer a eleição. Nada mais curioso para um país como o Brasil, que depois de um impeachment, poderia novamente iniciar o ano sob os auspícios de um governo petista. A impopularidade e as trapalhadas do governo Temer somente ajudam nesta equação. Aguardemos.