segunda-feira, novembro 30, 2020

Soberba Chinesa

Desde 2009 a China é o principal parceiro comercial do Brasil. Um movimento que começou a se desenhar também em outros países. A estratégia chinesa sempre foi muito clara, ou seja, tornar-se essencial para a economia de diversas nações e a partir daí migrar esta relação para o campo político. Em Brasília, este movimento ocorreu durante os governos petistas, alinhados ideologicamente com Pequim.

Antes da China entrar em cena, o principal parceiro comercial do Brasil eram os Estados Unidos, uma relação que perdurou por décadas desta forma. Fato é que o entendimento entre os países se dava maneira natural, uma vez que os americanos comungam dos mesmos valores que o Brasil, dividindo o apreço pela democracia, liberdade e os pilares do Estado de Direito. 

Naturalmente a política externa, política de comércio exterior e política comercial andam coordenadas. A mudança de paradigma comercial brasileira nos anos petistas esteve aliada a um forte componente de política externa, que acabou por afastar o Brasil dos Estados Unidos, alinhando-se com a China na mesma medida. Ao final do governo Lula este movimento estava completo e política externa e comercial finalmente se encontraram. 

Fato é que ao se associar com a China como principal parceira no comércio internacional tornou nosso país vulnerável. Pequim não divide os mesmos valores, tampouco tem o mesmo apreço por instrumentos democráticos que temos no Brasil. Democracia, Direitos Humanos, Estado de Direito e um arcabouço de liberdades que começam nos direitos individuais e desaguam no respeito a diversidade e tolerância religiosa não são respeitados pela China. 

Este conflito tem sido um dos principais elementos desestabilizadores da relação entre os dois países e faz com que a temperatura suba recorrentemente. A liberdade de opinião brasileira não tem sido tolerada pelas autoridades governamentais chinesas que exercem pressão para que seus objetivos estratégicos político-comerciais internacionais sejam atendidos pelo Brasil. Um desacordo que remete a essência e aos valores defendidos pelas duas nações. 

O Brasil, entretanto, não está sozinho diante da pressão chinesa. Países europeus têm reagido com veemência diante da maneira direta e incisiva da diplomacia oriental. Um movimento puxado por Suécia e França que cada vez mais ganha adeptos. A Austrália tornou-se mais uma nação que sofreu retaliações do governo de Pequim por se negar a adotar o padrão de 5G da Huawei e ZTE, empresas que por lei dividem informações coletas nas redes com as autoridades chinesas. 

O caso da Austrália é paradigmático. A estratégia é sempre a mesma, criar dependência econômica ao longo dos anos e assim obter formas especiais de pressão para forçar os parceiros comerciais a agir de acordo com os objetivos políticos chineses. Aqueles que tiverem a ousadia de se voltar contra seus interesses, sofrem o peso das retaliações. 

A sino-dependência brasileira precisa ser repensada, assim como uma postura passiva diante das agressões desferidas pelas autoridades diplomáticas quando sentem seus planos rejeitados por governos estrangeiros. Ao dizer que o Brasil sofrerá consequências se calúnias (sic) perdurarem, o governo chinês está ameaçando nossa soberania por intermédio de seu corpo diplomático. Uma postura constrangedora. 

Assim como na Austrália, a China está disposta a retaliar nações que desejam rejeitar seus planos. Ao domesticar nossa economia, Pequim não se constrange em agir de forma acintosa, pois sabe que setores importantes respiram pelos aparelhos chineses e estariam dispostos a pressionar o governo para manter seus negócios. 

Devemos nos perguntar, entretanto, o custo real desta sociedade. Durante os anos em que os Estados Unidos eram o principal destino comercial do Brasil, jamais um Embaixador americano ousou constranger nosso país diante de declarações nada amistosas de parlamentares da esquerda. Os americanos, entretanto, entendem o que significa liberdade de expressão em um regime democrático, algo que os chineses, reféns de um governo autoritário e socialista, não conhecem. 

Antes de nos tornar ainda mais reféns de Pequim, convém ao Brasil diversificar sua pauta e destino exportador. Nossa soberania não pode sofrer constrangimentos de diplomatas contrariados que discordam da opinião de nossos parlamentares. Devemos estar ao lado de nações que entendem e dividem nossos valores, que aceitam a liberdade, democracia e as leis de forma independente e soberana.

terça-feira, novembro 24, 2020

Desgaste Populista

A vitória de Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos acendeu um sinal de alerta ao redor do mundo. Teria a onda populista que tinha Trump como maior ícone entrado em decadência? Assim como sua ascensão em 2016 sinalizou um caminho para muitos líderes seguirem seu caminho, tudo indica que sua queda em 2020 aponta para o declínio de sua forma governar no mundo. 

Trump chegou ao poder na onda de renovação da política, um movimento que passou do ponto a escolher outsiders para cargos decisórios em diversos países. Outsiders são pessoas de fora da política ou longe dos círculos de poder tradicionais que chegam a postos de comando. Esta onda que vivemos teve origem na rejeição aos políticos, levando ao poder quem defendia uma mudança profunda no sistema. 

Esta chamada nova política veio embalada por nomes inexperientes e até de certa forma ineptos para o exercício do poder, uma vez que experiência militar, por mais breve que tenha sido, ou mesmo empresarial, não qualificam alguém para um cargo de liderança política. A dificuldade em lidar com os instrumentos de poder democráticos, aos poucos foi acentuando os traços populistas destes eleitos.

Contudo, nem tudo que reluz é ouro, tampouco o fascínio pela nova política se sustenta por muito tempo. Sem resultados reais ou mesmo diante da falta de habilidade em lidar com instrumentos essenciais da democracia, como a moderação, diálogo e consenso, a máscara caiu, expondo a falta de capacidade e habilidade política em momentos cruciais como a gestão da pandemia. 

Trump caiu diante desta realidade. Quando seu país mais precisava de sua liderança, preferiu esconder-se usando o negacionismo enquanto o vírus ceifava as vidas daqueles que dependiam de sua gestão para sobreviver. As consequências de uma gerência desastrosa da pandemia foi a triste realidade que fez a sociedade acordar do sonho populista que começava a se consolidar na sociedade americana. 

Este sinal de alerta agora se espalha pelo mundo diante de uma tendência política que pode se alastrar por diversos países, tornando líderes populistas e bufões, como Donald Trump, presa fácil diante de eleitores mais lúcidos. Estes começam a entender que outsiders podem não ser a solução de seus problemas e que a política tradicional ainda é capaz de oferecer segurança e bom senso, essenciais na gestão de crises. 

O populismo ainda é um dos maiores inimigos da democracia. O fascínio exercido por sua política inebria durante um certo tempo, mas é incapaz de produzir resultados necessários no longo prazo. Trump foi a primeira vítima do levante eleitoral contra esta guinada, que agora tende a se consolidar em outros países.

Política é feita com habilidade, diálogo e entendimento. Arrogância, agressividade e impetuosidade não rimam com boa gestão e governança. O Brasil, que enfrentará os mais sérios reflexos econômicos da pandemia em 2021, pode ser a próxima peça deste castelo de cartas que começou a desmoronar.

segunda-feira, novembro 23, 2020

5G: Uma Rede Limpa

Um grande passo foi dado pelo Brasil em relação ao sistema de segurança que envolve a tecnologia 5G. Um degrau decisivo para afastar nosso país dos riscos chineses e nos aproximar de um modelo de segurança econômica global. Nosso país passa a fazer parte, a partir de agora, da Clean Network, um movimento de nações livres e independentes que não desejam ser conduzidos pelas ordens emanadas de Pequim. 

O Itamaraty, chefiado pelo Ministro Ernesto Araújo, assinou a entrada do Brasil na coalizão de 50 países que representa aproximadamente dois terços do PIB mundial, juntamente com mais de 170 empresas de telecomunicações e muitas das mais poderosas empresas de alta tecnologia do mundo. Uma rede que conta com 31 dos 37 países da OCDE; 27 dos 30 países da Otan; 26 dos 27 países da União Européia e 11 dos 12 países dos Três Mares. 

Ao se juntar ao grupo de nações que desejam uma rede limpa, o Brasil se coloca ao lado de outros países que defendem um sistema livre de influências governamentais em seu desenho de 5G. Um movimento contra nações que desejam dominar o tráfego de informações por intermédios de empresas privadas que funcionam apenas como intermediários dos desejos de seus governos. 

A China não é um país livre e a Huawei é a espinha dorsal do estado de vigilância do partido comunista que dirige a nação asiática. A lei de segurança nacional exige que as empresas chinesas entreguem os dados coletados por seus sistemas a pedido do partido comunista. Isto coloca todo o tráfego que circula por redes como da Huawei em situação vulnerável, uma vez que podem ser acessados pelo governo de Pequim por força de lei. Estamos falando desde dados pessoais até informações estratégicas de segurança nacional. 

Assim, um número crescente de países começou a se proteger do sistema de vigilância chinês implementado pela Huawei ao redor do mundo. A aliança em torno da rede limpa, chamada de Clean Network, é mais um passo neste sentido. Ao se juntar nesta iniciativa, o Brasil garante um ambiente seguro, transparente e compatível com os valores democráticos e liberdades fundamentais. Algo que gerará inclusive mais segurança para as empresas que investirem no país. 

As trilhas da Clean Network abrem caminho em várias direções para uma rede mais estável, aberta e confiável. O instrumento de Clean Path deixa o tráfego de rede 5G mais transparente, enquanto o Clean Carrier limpa a rede dos riscos e a Clean Store, a remoção de aplicativos não confiáveis. 

Sabemos que não há prosperidade sustentável sem liberdade. Em apenas alguns meses, dois terços do PIB mundial estão representados na Rede Limpa. Ao se colocar ao lado de países democráticos, livres e abertos, o Brasil está diante da oportunidade de construir uma rede segura e confiável, que preserve os dados dos brasileiros e de seu governo, com companhias sediadas em países que possuem judiciários independentes e livres da pressão de governos autoritários. Pequim ficou mais longe de Brasília, enquanto a Huawei, mais longe de nossos dados. Esta é uma excelente notícia para nosso país.

domingo, novembro 22, 2020

Estratégia de Boulos

Enganam-se aqueles que acreditam que Guilherme Boulos tenta ser Prefeito de São Paulo. Sua estratégia está muito além disso. Mira uma capital, mas outra, localizada no Centro-Oeste. Boulos mira em Brasília e mais do que isso, na cadeira de Jair Bolsonaro. Para compreender este movimento precisamos voltar no tempo e entender que ambos são produtos de uma mesma dinâmica. 

No movimento pendular da política, quanto mais se estica a corda, com mais intensidade ela se desloca em sentido contrário. O fenômeno Bolsonaro é resultado desta prática. No auge do petismo, Lula e depois Dilma, considerando-se imbatíveis, mantinham o discurso afiado contra os opositores. O foco era um certo revanchismo contra os militares, mas especialmente a demonização da direita, dos valores conservadores e de partidos como o Democratas, “que deveria ser extirpado da política brasileira”, dizia Lula. 

O resultado é conhecido. A sede hegemônica petista pariu a direita brasileira. Meio desfigurada, desarrumada e até tosca em certo sentido. Liberais, conservadores, lavajatistas e antipetistas de toda ordem se juntaram em uma frente liderada por um deputado do baixo clero que soube assumir o figurino de outsider e chegou ao Planalto embalado nesta onda. 

No poder, Bolsonaro repete o erro do enredo petista. De maneira desforme e desorganizada, estica a corda do pêndulo que o levou ao poder, agora em sentido contrário. Governa alicerçado na polarização, tornando-se refém do embate constante e discurso hegemônico da direita que representa. Ao acirrar os ânimos e incitar o confronto, demonizando adversários, recai no mesmo erro do petismo, que se achava invencível. 

Assim como Lula preparou o terreno para o surgimento de Bolsonaro, este faz o mesmo, estendendo um tapete vermelho para o opositor que está diametralmente oposto ao seu campo político. Este nome pode ser Guilherme Boulos. A polarização gera um efeito inverso que acaba por abrir as portas do inferno para o governo. 

Poucos acreditavam em 2015 ou 2016 que Bolsonaro seria eleito presidente. Repeti à exaustão que sua vitória se desenhava. Hoje faço a mesma provocação: Quem acredita ser impensável Boulos chegar ao Planalto, precisa entender que seu principal cabo eleitoral é Bolsonaro e sua forma torpe de lidar com a política. 

Diante do desgaste do PT, PC do B e especialmente Psol passaram a ocupar a liderança do voto de esquerda. Boulos sempre foi próximo de Lula e nada agradaria mais a ele do que a companhia do ex-Presidente em sua chapa. Boulos teria em Lula um vice experiente, que dialoga com o mercado e a classe política. A idade e rodagem de Lula o fariam o nome ideal para encarar o desafio. 

Para isso se concretizar, Boulos precisava de projeção nacional, exatamente o que esta eleição lhe entregou. Não pode correr o risco de ganhar, porque no fundo já ganhou. A chegada ao segundo turno é uma vitória que projeta seu nome e abre o caminho diante da campanha que realmente importa: a corrida pela cadeira de Bolsonaro daqui dois anos. 

O poder cega e turva a mente. As armadilhas e erros da soberba podem fazer com que o movimento pendular da política se mova com força e intensidade. Depois de abater o petismo, a próxima vítima pode ser o bolsonarismo.

quarta-feira, novembro 18, 2020

Declínio Trumpista

Defendi desde o começo que esta eleição era antes de tudo um plebiscito sobre a presidência de Trump. A intensidade da batalha que marcou este pleito se deu basicamente pela polarização excessiva impulsionada pelo candidato republicano. O resultado seria sua vitória ou derrota, muito mais do que um triunfo ou insucesso dos adversários. Esta é a maneira de Trump fazer política. 

Trump foi eleito pela onda antipolítica que varreu boa parte do mundo nos últimos tempos. O Brasil também foi atingido por este fenômeno. O problema, entretanto, reside no fato que aqueles eleitos por esta onda carecem das características básicas necessárias para atuar no jogo político. Ao desprezar suas regras, apelam ao populismo ou são engolidos pelo sistema. 

Soma-se isto o fato de que Trump era um elemento estranho entre os republicanos. Nunca houve identidade real entre o Presidente e seu partido. Eleito na onda de rejeição ao establishment, jamais foi aceito por inúmeras alas partidárias que sempre desprezaram de seu ar bufão, agressivo, impetuoso e arrogante. Afinal, esta nunca foi a forma dos republicanos fazerem política. 

Ao confrontar aliados dos Estados Unidos no exterior, colidir com adversários democratas na política interna e semear a desconfiança de seus pares no partido, o Presidente incitava a discórdia, ao mesmo tempo que se alimentava dela. Caminhando sobre esta linha tênue, como jogador de pôquer, apostou todas as fichas na adoção de um comportamento populista que usava a narrativa e o confronto como armas. 

Ao alcançar um bom resultado econômico e inegáveis vitórias na política externa, acreditava que se encaminharia fácil para um segundo mandato. É um fato. A reeleição estava diante de si como um fato consumado, até surgir a pandemia e apostar no negacionismo. Com a morte de milhares de americanos e outros milhões infectados pelo coronavírus, viu sua popularidade derreter, assim como a economia e os empregos. Isto sem falar na tensão racial. 

Sua campanha pela reeleição uniu contra si democratas e também republicanos descontentes. Não foram poucos os correligionários que rejeitaram o populismo trumpista que contaminou o partido e apoiaram Biden, como o ex-Governador de Ohio, John Kasich. No fundo, o partido sente-se aliviado. Terá a chance de reinventar-se longe de Trump e de volta nas mãos de seus líderes tradicionais que permanecem fiéis aos valores conservadores. 

Trump perdeu para si mesmo e a aventura populista norte-americana chegou ao fim. A política se impôs como o caminho razoável e sensato na administração do poder. A revolução trumpista entrará para os livros de História e o aprendizado será absorvido pela sociedade americana. Biden foi o antiTrump. Ao colher sua derrota eleitoral e pessoal, Trump fez mais pelo partido democrata do que seus líderes. Seu personalismo, que se confunde com a sua presidência, entregou o poder de presente ao vice de Barack Obama. O último ato de ópera bufa populista que não deixará saudades.

segunda-feira, novembro 16, 2020

Começo do Fim

Se o pleito de 2016 foi marcado pela ascensão de outsiders, um movimento que chegou em seu pico com a eleição de Bolsonaro em 2018, tudo indica que esta tendência começa a se inverter em 2020. Este pleito foi marcado sobretudo pela confiança do eleitor em políticos conhecidos, de comprovada eficácia e longe da tal nova política. 

Ademais, a pandemia teve sim um fator preponderante. Administradores que souberam lidar com a crise, especialmente preservando a vida, foram recompensados, enquanto aqueles que optaram pelo negacionismo, acabaram derrotados. Um resultado previsto, que segue o caminho adotado pelos americanos quando despacharam Donald Trump da Casa Branca. Um prenúncio do que pode vir a acontecer no Brasil. 

A experiência foi a tônica. Os políticos outsiders levados ao poder pela onda antipolítica apenas quatro anos atrás, tiveram que provar seu valor. Desta vez, ser outsider não foi atalho para a vitória, como ocorreu no passado, mas apenas uma característica que não garante sucesso nas urnas. Esta, ao contrário, foi a eleição de líderes experimentados. 

Isto se explica em capitais como São Paulo, que embalou Bruno Covas para a vitória e no Rio de Janeiro, que também encaminhou Eduardo Paes. Os dois são administradores conhecidos por uma população que atesta sua capacidade de governar cidades deste porte. O eleitor não desejou experimentar. Pelo contrário, preferiu o conhecido, aqueles nomes testados e dignos de sua confiança. 

Em Belo Horizonte fez-se a mesma opção. Apesar de Alexandre Kalil ter chegado no embalo da antipolítica, como outsider, no poder soube portar-se de forma a conduzir o sistema político com habilidade, tendo alcançado elogios na condução da pandemia de forma segura e firme. O resultado das urnas premiou este caminho. Em Porto Alegre, o caminho foi o oposto. Percebemos que o eleitor estava atento a qualidade dos gestores eleitos, mesmo aqueles embalados pelo movimento de renovação da política. 

Bolsonaro sai menor desta eleição, mesmo antes das urnas fecharem. Ao falhar na estruturação de seu partido ou de liderar o processo, colocando sua popularidade para trabalhar por nome alinhados com seu projeto, perdeu uma chance rara de conduzir o pleito. O Presidente deixou de assumir uma postura de liderança, o que se espera de alguém em sua posição nestes momentos. Dos 59 candidatos que apoiou, elegeu apenas 9. Carlos Bolsonaro perdeu votos e sua ex-esposa ficou em um distante 229º. lugar. 

O fato deste pleito mostrar o desgaste dos outisiders, rejeição da antipolítica, premiando bons administradores e nomes conhecidos do espectro eleitoral, mostra que o brasileiro começou a fazer as pazes com a política. Esta é uma péssima notícia para Bolsonaro, que precisa da rejeição ao sistema como combustível de sua estratégia eleitoral. Ao perceber este movimento do eleitor, as eleições presidenciais tornam-se ainda uma incógnita maior. 

A boa política está de volta. Isto é o que nos prova o pleito de 2020. É o começo do fim dos aventureiros e o retorno de quem conhece eleições e sabe operar o sistema. Este é o principal legado desta pandemia, que separou os adultos das crianças em jogo tão importante como a política. Foi dada a largada para 2022.

sábado, novembro 14, 2020

Eleição da Pandemia

Esta eleição será marcada pela pandemia de covid-19. De Washington até a Nova Zelândia e de São Paulo até Serra da Saudade em Minas Gerais. Em todos os locais, o tema da eleição é a pandemia e aqueles que buscam a reeleição serão julgados pela população, antes de tudo, sobre como combateram a pandemia. 

Em Wellington, Nova Zelândia, Jacinda Ardern foi reeleita para mais um mandato na direção do país. Ela é considerada uma das líderes mais duras no combate ao novo coronavírus, colocando a população de seu país em primeiro lugar. Foram apenas 1.530 casos e 25 mortes. Usando técnicas inteligentes de rastreamento na disseminação do vírus e distanciamento social real, a Nova Zelândia já venceu duas ondas desta pandemia. 

Se em 2016 enxergamos uma revoada de outsiders que acabaram vencendo as eleições, quebrando a tradição de nomes ou grupos políticos tradicionais, vemos um novo direcionamento em 2020. Os outsiders não convencem mais por virem de fora da política. Com a emergência do vírus, se tornou muito mais importante quem soube lidar com a pandemia, aqueles que negaram sua existência e quem se enrolou com ela. 

Trump, que vinha na onda dos outsiders em 2016, tem encontrado enorme dificuldade para conseguir a reeleição e pode ser atropelado por um candidato que não empolga sequer o seu próprio partido. O mesmo deve ocorrer com muitos prefeitos no Brasil que perderam o caráter de novidade e que precisam mostrar como resolveram lidar com o coronavírus. 

Bolsonaro busca se distanciar do quadro eleitoral para que não confundam sua imagem com a dos eventuais derrotados. Tampouco deseja queimar seu capital político para alguém que não seja si mesmo. Entretanto, decidiu entrar no jogo em São Paulo, apoiando Celso Russomano, e no Rio de Janeiro, ao lado de Marcello Crivela. Deve colher duas tristes derrotas que deixarão evidente que Bolsonaro não possui o mesmo messianismo de 2018. Como todos os líderes negacionistas da pandemia, Bolsonaro pode pagar um preço eleitoral muito alto – agora e em 2022. 

No Brasil, as pesquisas deixam claro que aqueles gestores que souberam conduzir a crise do coronavírus de forma a preservar vidas estão sendo recompensados pelos eleitores. O contrário também é verdade. Gestores atrapalhados e corruptos estão enfrentando campanhas difíceis e com poucas chances de vitória. As principais capitais demonstram este cenário. Aqueles que vencerem, ganharão exclusivamente por seu mérito. 

Fato é que aqueles mandatários negacionistas, que rejeitaram a existência e força do vírus, aos poucos perdem espaço. A tendência eleitoral mundial, seja em Belarus, Estados Unidos ou Nova Zelândia está chegando ao Brasil. Depois de gerar estragos nas eleições municipais, esta onda certamente ainda terá embalo para chegar em 2022. Muitos já estão com as barbas de molho e certamente devem naufragar por seus erros.