segunda-feira, maio 31, 2021

Vacina Russa

A falta de vacinas no Brasil acendeu um alerta importante. A busca por imunizantes está ultrapassando o terreno do razoável e aterrizando no impensável. A opção realizada por alguns governadores em comprar a Sputnik V mostra o grau de desalento pelo qual passa o país. A aposta na vacina russa é arriscada, para não dizer irresponsável, mas encontra eco diante de uma população que morre aos milhares e clama pela chegada de medicamentos que possam debelar o vírus. 

Ao contrário de imunizantes desenvolvidos por renomados laboratórios, como Pfizer, Moderna, Janssen e AstraZeneca, a vacina russa ainda é recoberta de desconfiança e mistério. Sem publicação de resultados consistentes de todas as fases de testes em revistas científicas respeitadas, o imunizante produzido pelo Instituto Gamaleya usa mais o poder de dissuasão do Kremlin do que a ciência propriamente dita como garantidor de sua eficácia. 

Neste ponto entra o jogo político internacional e a pressão dos russos. O Brasil entrou nesta rota desde que governadores se mobilizaram para comprar o imunizante. Pouco antes da rejeição pela Anvisa para importação da Sputnik V, iniciou-se uma campanha alicerçada em uma narrativa distorcida com o objetivo de pressionar a agência a liberar, ao arrepio das normas sanitárias, a importação do imunizante. OMS e EMA (contraparte europeia da Anvisa) sofrem com o mesmo problema há meses. 

Transparência certamente não é uma qualidade dos russos, que desde os tempos da União Soviética tem o hábito de mascarar a verdade em troca de ganhos políticos. Faltaram dados brutos sobre os estudos da vacina. Além disso, não foi permitido acesso à fábrica do imunizante em Moscou e foram demonstradas sérias dificuldades para assegurar padrões basilares de controle de qualidade do fármaco. Isso, somado ao adenovírus replicante, encontrado no imunizante, fez com que a Anvisa decidisse declinar a importação da vacina. 

Se os russos trabalhassem com a mesma eficácia, usada no contra-ataque político e midiático, para fornecer dados transparentes e científicos, certamente tudo seria mais fácil. Mas ao optar pelo caminho mais difícil, o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) e Instituto Gamaleya anunciaram que processariam a Anvisa por difamação, pelo simples fato de a agência ter realizado de forma diligente o seu trabalho de avaliação. 

Fato é que a Rússia tem utilizado seu imunizante como instrumento de soft power, deixando claro que seus objetivos estão muito além do cuidado sanitário e evidências científicas. Diante disso, o Brasil precisa se perguntar se o parceiro de BRICS atua somente para proteger os seus próprios interesses e se está usando um dos seus principais sócios no bloco como país teste de uma vacina sem eficácia comprovada. 

A geopolítica das vacinas se tornou um ponto importante de debate e a falta de imunizantes no Brasil tem acelerado tratativas políticas emergenciais que podem trazer para nosso país vacinas ineficazes e até perigosas. O exemplo da Sputnik V é sintomático. Por certo precisamos debelar o vírus, mas de forma correta, com prudência, baseado em evidências científicas que protejam a população e estejam muito além de simples ganhos políticos. Não precisa nem combinar com os russos.

segunda-feira, abril 12, 2021

Fantasia do Autogolpe

Ao gerar crises, Bolsonaro tenta invariavelmente criar narrativas que encubram os erros de seu governo. A mais recente é flertar com a ruptura institucional, sugerindo ações que passam por medidas que podem suprimir direitos democráticos justificando que está preservando liberdades individuais. Nada mais prosaico no manual da autocracia: golpear o sistema alegando que está preservando liberdades. 

Vivemos um período delicado, que se tornou ainda mais difícil diante da inépcia de Bolsonaro. Ao negar a pandemia e se tornar refém de suas próprias ideias obscuras, o Presidente preferiu não investir em vacinas com antecedência, preferindo patrocinar um suspeito tratamento precoce sem qualquer eficácia. Hoje, diante de uma vacinação lenta, o país fornece sinais de fadiga e desesperança. 

Tudo indica que Bolsonaro possa estar jogando na retranca por método, semeando o caos para ali na frente colher resultados. Desestabilizar o jogo faz parte de uma intricada jogada que aposta no desgaste da economia e avanço da pandemia, podendo impulsionar manifestações, desalento e revolta. Em outras palavras, convulsão social. Um método líquido e certo para solicitar intervenção ao parlamento por meio dos instrumentos constitucionais amargos que suspendem algumas liberdades individuais. 

Por mais que poucos acreditem na consecução de um enredo deste tipo, é fácil ler nas entrelinhas os caminhos trilhados em discursos e declarações nas últimas semanas. O fato inédito da inusitada troca no comando das Forças Armadas abre um perigoso caminho de questionamento quanto aos reais objetivos de Bolsonaro, uma vez que os comandantes anteriores pareciam mais fiéis aos ditames constitucionais do que aos desejos do ocupante do Planalto.

Cada vez que um líder se torna mais fraco, mais precisa de demonstrações de força. Bolsonaro segue acuado, caindo nas pesquisas, com a economia em frangalhos e a pandemia cercando a inépcia de seu governo. As pesquisas captaram esta insatisfação. 83% dos brasileiros desejam mudança, o que demonstra que o governo escolheu os rumos e as amizades erradas. O estelionato eleitoral está cristalino para o eleitor. 

Diante disso, a fantasia do autogolpe é um delírio que acalma Bolsonaro nas horas mais difíceis, assim como o exercício do poder de nomear e demitir, além de mandar homens do mais alto grau hierárquico das Forças Armadas (carreira onde fracassou) para a reserva. Há algo de revolta, revanchismo e amargura nestes movimentos. Delírios que se misturam com o poder da caneta presidencial. 

Somos presididos por um homem em conflito, perseguido por seus próprios fantasmas e suas teorias de conspiração. Enquanto o país busca a saída de uma crise sanitária de proporções globais, a inoperância de um governo perdido busca encobrir seus erros gerando novas e sucessivas crises. A fantasia de um autogolpe serve de forma perfeita para aqueles que vivem alheios à realidade, trancafiados em seu próprio mundo, enquanto o povo sofre as consequências de seus delírios. Um enredo que nunca terminou bem e por aqui certamente terá um triste desfecho.

sexta-feira, abril 09, 2021

Declínio Bolsonarista

Bolsonaro é o ponto inicial e final desta história. Isto porque chegou à Presidência da República embalado em uma onda de reformas, mudanças e esperança. Representava a ruptura com os erros do passado e a vontade de fazer política de uma maneira muito diferente daquela que reinava no país há tanto tempo. Embalado pelo lavajatismo e também pelo antipetismo, tinha o apoio para fazer as coisas de forma diferente. 

No poder, Bolsonaro voltou a encarnar o deputado do baixo clero que transitou pelo parlamento por quase três décadas. Retomou um discurso de campanha, levando a beligerância para dentro do Palácio do Planalto. Longe de governar, passou a usar a tática do enfrentamento como motor de suas narrativas. 

No Congresso Nacional optou pela pauta de costumes, deixando as reformas estruturais em segundo plano, assim como as iniciativas anticorrupção propostas pelo Ministro da Justiça, Sérgio Moro. Mesmo assim, mais por empenho do parlamento do que realmente por esforço do governo, conseguiu aprovar uma Reforma da Previdência. Se tornaria a única vitória em um deserto de propostas. 

Ao encarar a pandemia, percebeu-se, o Brasil não havia feito a lição de casa. As reformas seguiam emperradas, a liderança do governo era amadora e Bolsonaro seguia mais interessado em criar narrativas do que encarar a realidade. Em pouco tempo a inércia cobrou o seu preço. Contas desajustadas, leitos lotados, descrédito governamental enquanto o Presidente conduzia seu show alicerçado em cloroquina e negacionismo. 

Depois de um ano de pandemia, o foco surge na reeleição e dentro de uma nova coalizão capitaneada pelo centrão. Mas talvez seja tarde demais. Sem recursos e endividado, o país surge mais cético e decepcionado com a falta de resultados do bolsonarismo. O populismo presidencial perde seu encanto na medida que a realidade se abate diante dos bolsos dos brasileiros, agora vazios, encarando uma variante de vírus letal.

Acenos antidemocráticos, crises intermináveis, incompetência na compra de vacinas, choques entre os poderes e enfrentamento com o alto comando militar são apenas alguns dos ingredientes de uma presidência que passa longe de suas promessas e acenos eleitorais. Um verdadeiro estelionato eleitoral que cala fundo em enorme parcela da população que acreditou nas palavras de um presidente, hoje desacreditado. 

O descrédito de Bolsonaro se ampliou em suas bases eleitorais. Está longe dos liberais, lavajatistas, conservadores e antipetistas. Conseguiu se afastar do mundo financeiro, que divulgou manifesto contra o governo, ao mesmo tempo que entrou em choque com os militares, resultando no afastamento conjuntos dos comandantes das Forças Armadas. 

Bolsonaro desembarca em 2022 controlando a máquina, mas eleitoralmente fraco. Pressionado pelos números de Lula e pela possibilidade de uma candidatura de centro, pode inclusive ficar fora do segundo turno. Não foi por falta de aviso. O declínio bolsonarista é um fenômeno previsto. O Brasil é muito grande para ser governado refém de narrativas populistas. Ao desconhecer as razões de sua vitória em 2018, segue firme em direção da derrota em 2022.

sábado, março 27, 2021

Política Binária

O bolsonarismo inaugurou o modo petista de governar pela direita. O método é o mesmo, apesar dos sinais trocados. Se baseia em uma visão binária de mundo que consiste apenas em duas metades. Aqueles que não são bolsonaristas, são comunistas e os que optam por não ser petistas, são taxados de fascistas. Não existe espaço para a ponderação, razão e entendimento. O modelo mental é de destruição do oponente, jamais de construção de soluções. Em qualquer ambiente desta polarização, quem não está do meu lado não é considerado adversário, mas um inimigo a ser destruído. 

Por certo as redes sociais deram voz a uma grande parcela da população que não conseguia ser ouvida, entretanto, a qualidade do debate caiu vertiginosamente. Isto ocorre porque as redes criam bolhas por meio de algoritmos que atraem os iguais e afastam os divergentes. Um fenômeno que gera uma falsa sensação de aceitação no todo e que acirra o discurso binário. Grupos falam para si mesmos e sua bolha artificial. 

Ao associarmos o ímpeto de destruição do oponente à falsa sensação de aceite geral, criamos o modelo de discurso político atual. Como a construção não é objetivo de ambos grupos, a forma moldada de debate político é da deslegitimação do oponente por meio ataques e agressões, que não visa atacar seus argumentos, mas invalidar o interlocutor. O que menos interessa neste campo é o debate de ideias, prevalecendo sempre a tese de que um grupo é o dono da razão. 

Neste caso, a divergência é sempre mais importante do que a convergência. Assim, se na direita bolsonarista temos um liberal, que concorda com a agenda do governo, mas critica Bolsonaro por não ter avançado nas privatizações, certamente será taxado de traidor, esquerdista ou até mesmo de comunista. Do outro lado, a mesma coisa, apenas mudando o sinal, com os ataques circulando entre fascistas e xenófobos. O que importa é divergir, atacar, agredir e se autoafirmar para sua bolha. 

O Brasil perde com este movimento raso e simplista, que leva a política para rumos diferentes de seu propósito original. A política é feita de adversários, não de inimigos, da criação de consensos e da construção de maiorias. Quando dentro da política, divergência, destruição e rivalidade entram em cena, a democracia se enfraquece e tendências autoritárias, que podem vir da direita ou esquerda, sentem-se mais confortáveis para surgir como alternativas. 

Vale lembrar também que este mecanismo é vantajoso para os radicais, que precisam do polo opositor para sobreviver, um sistema que se retroalimenta da rejeição e do ódio, que funcionam como combustível na arena eleitoral. Sem antagonistas, o modelo perde tração, quando entram em cena a convergência e a boa política. Em última instância, quando os radicalismos se fortalecem, a democracia se enfraquece. Sem os extremos, o sistema encontra sua harmonia. 

Não teremos chance de vencer a pandemia, tampouco o caos econômico que se instalou no Brasil se seguirmos reféns deste pensamento simplista e tosco. O binarismo político leva à servidão, submissão e cegueira intelectual e política. O Brasil merece mais do que isso.

terça-feira, março 23, 2021

Ministro Bolsonaro

A troca de Eduardo Pazuello por Maurício Queiroga no comando da pasta da Saúde altera muito pouco a dinâmica decisória enfrentada pelo país durante a pandemia. Apesar da troca de ministros, não haverá na verdade troca de comando. As ideias seguem as mesmas, assim como as diretrizes governamentais. Troca-se o titular, mas de fato o Ministro de Estado da Saúde segue sendo Jair Messias Bolsonaro. 

Esta é uma péssima notícia para o país, uma vez que a condução do combate à pandemia tem sido desastrosa em todos os aspectos, desde a negação da ciência, passando pela rejeição das regras de distanciamento social e o ceticismo em relação à vacina. Temas que já deveriam estar superados mantém o Brasil preso à dogmas ultrapassados que acabam por ceifar vidas de forma brutal e cruel. 

A possibilidade de termos no comando da pasta a médica Ludhmila Hajjar foi apenas um sopro de esperança que logo se dissipou. Defensora das práticas de isolamento social e uso de máscaras, ela defende também que o uso de medicamentos como a cloroquina são ineficazes no tratamento contra o coronavírus. Em pouco tempo virou alvo das redes bolsonaristas e viu sua reputação ser atacada de forma vil e cruel. Não aceitou o posto depois de ter certeza que não teria autonomia no comando do ministério. 

A negativa da médica Ludhmila Hajjar expõe as vísceras de um governo que peca pela ausência de gestão em frentes sensíveis como a área de saúde. Depois de tudo ficou uma certeza: encontramos a Ministra da Saúde que o Brasil precisa. Faltou apenas encontrar um Presidente. Na falta de um, perdemos mais um nome de qualidade disposto a assumir a pasta da Saúde em meio a pandemia 

Na verdade, Bolsonaro quer um ministro da Saúde que seja apenas um nome de frente que execute suas diretrizes. O ministro é Bolsonaro e quer continuar a sê-lo mesmo com a troca de comando na pasta. Não foi por outro motivo que até este momento contava com um General da ativa como ministro. Precisa de alguém que acate suas orientações e determinações sem questionamentos. 

Bolsonaro encontrou em Marcelo Queiroga alguém que defenderá seus dogmas dando continuidade ao trabalho de Pazuello. Mudou o ministro para nada mudar, afinal, o ministro apenas executa a política determinada pelo Presidente, como já indicou Queiroga. Entra, portanto, sem autonomia e com a certeza que terá muito pouca margem de manobra para mudar os rumos dentro do Ministério da Saúde. 

No âmbito político, Bolsonaro sai machucado. Depois de rejeitar as opções técnicas e políticas com respaldo nas esferas de poder, o Presidente optou pelo caminho de uma opção pessoal. Uma escolha que terá um custo, que pode ser caro diante dos resultados que veremos daqui por diante. 

Os limites do Centrão costumam se impor quando o governo se torna politicamente inviável. Isto significa que o grupo não irá ser tragado para o insucesso do governo durante a pandemia e caso necessite trocar o ministro mais uma vez, pode avaliar que quem realmente precisa ser exonerado é o Ministro Bolsonaro, aquele que além comandar a pasta da Saúde, responde também pela Presidência da República.

sábado, março 20, 2021

Terceira Via

O Brasil mergulha na polarização, entretanto com a Lava Jato preservada. Estes foram os principais desdobramentos da decisão do Ministro Fachin que abalou o mundo político. Os oportunistas de ambos os lados não perderam a chance de torcer a narrativa para iniciar o jogo com vistas à sucessão presidencial. Uma dinâmica que se retroalimenta e funciona para ambos os lados das extremidades do espectro eleitoral. 

Para Bolsonaro, a volta de Lula ao jogo é a notícia que tanto almejava. Bolsonaro é um político forjado na dinâmica do enfrentamento, se criou no antagonismo e joga na polarização. Ter um inimigo é essencial. Sem adversário, sente-se perdido e geralmente erra em suas manobras. Ao encontrar um oponente, puxa o controle do jogo para si, pautando o adversário por meio de suas narrativas. Sonhava com a volta de Lula ao ringue. Agora, vencer o lulismo nas urnas não será tarefa fácil. 

Para Lula, a dinâmica também serve de forma impecável. Usará a falta de vacinas, o descontrole da pandemia e a desaceleração da economia para ombrear com Bolsonaro. Lula tem a seu favor o recall de um período de expansão da economia e controle das contas públicas, tentando dissociar os erros de Dilma dos acertos de seu governo. Usará a narrativa de ter sido vítima de um golpe político que o tirou das eleições de 2018. 

Como vemos, o script está pronto e tanto Lula quanto Bolsonaro precisam um do outro para retroalimentar suas narrativas e a tentativa de polarização. Neste embate, entretanto, pode chegar um elemento novo. Caso Sérgio Moro opte por tentar entrar no páreo, a partida pode embolar para Bolsonaro, uma vez que a polarização pode se estabelecer entre Moro e Lula, deixando o Presidente de lado. Sem antagonistas, sendo um alvo fácil de críticas, Bolsonaro correria sério risco de ficar pelo caminho. 

Ao reabilitar Lula para a disputa eleitoral, Fachin procurava preservar a Lava Jato. No jogo de xadrez, ao anular os processos de Lula por incompetência de foro, o Ministro preservou demais casos da operação, evitando que fosse decretada a suspeição de Moro – estratégia desenhada por Gilmar Mendes e que teria atingindo maioria na turma com o apoio do indicado de Bolsonaro ao STF: Nunes Marques. A tentativa de decretar a suspeição de Moro foi sepultada por Fachin, livrando Lula, mas preservado todas outras sentenças. 

Certamente o sistema ainda irá trabalhar para ceifar as chances de Moro ser candidato, uma vez que possui chances reais de vitória. A eleição de Lula, onde foi gestada a corrupção, ou a recondução de Bolsonaro, responsável por enterrar as investigações, são opções muito melhores para o sistema. Resta, ao chamado centro, se unir em torno de outro nome caso Moro não entre na disputa. 

O Brasil estará novamente diante de uma decisão importante em 2022. A chance de uma terceira-via é também a possibilidade de quebrar com uma infeliz polarização que pode deixar nosso país refém dos mesmos erros e dos atores responsáveis por uma condução errática da pandemia, um estelionato eleitoral de proporções descomunais e os esquemas de corrupção que colocaram o país de joelhos. O Brasil merece muito mais do que uma polarização ilusória que representa apenas mais do mesmo.

sábado, março 06, 2021

Populismo Econômico

Eleito no embalo de um discurso de liberalismo liderado por Paulo Guedes, Bolsonaro aos poucos vai mostrando sua verdadeira face no mundo da economia. O discurso real do Presidente não rima com as teses de Guedes e mostram um retorno aos seus tempos de parlamento, quando atacava privatizações e defendia um modelo de governo forte e interventor. Bolsonaro mostra-se cada vez um produto do falido modelo militar que arrasou a economia brasileira.

A intervenção na Petrobrás foi apenas mais um episódio, mas que desta vez deixou clara as raízes militares do capitão. Seduzido pelo populismo econômico, encontrou nos instrumentos poderosos da presidência um atalho para popularidade fácil por meio do gasto público. Este perigoso caminho já foi trilhado por inúmeros mandatários e sempre leva a um mesmo resultado: um voo de galinha na economia e distribuição de renda ao custo de aumento da inflação e criação de déficits fiscais.

Acreditávamos que o Brasil podia ter aprendido com erros dos governos militares e posteriormente com recessão econômica vivida pelo país nos anos Dilma. Como sabemos, contudo, nosso país sempre pode surpreender e parece estar embarcando novamente em uma aventura que não deixará saudades e acabará por destruir aqueles ganhos políticos e econômicos duramente construídos por décadas. 

Diante de um governo militarizado, onde valem mais as estrelas no ombro do que a capacidade de gestão, Bolsonaro fez a opção esperada. Os militares brasileiros jamais abraçaram o liberalismo econômico e certamente são muito céticos diante da agenda de Guedes. Defensores de um estado grande e atuante, estão em sintonia com o capitão que ocupa a cadeira presidencial. 

A conta não fecha, como é comum nestes casos, mas os ganhos políticos empurram os custos da aventura para as gerações seguintes. O populismo econômico, portanto, serve para aqueles que estão no poder e não irão conviver com seus desdobramentos em momentos futuros, uma vez que seguem blindados pelos mecanismos de proteção do Estado. Populistas governam olhando para a próxima eleição, jamais para a próxima geração. Uma manobra que mais de uma vez já ceifou o futuro do Brasil. 

A pandemia foi a justificativa para esta guinada nas contas públicas. Sem planejamento ou ações efetivas que protegessem o emprego e a sobrevivência empresarial do abalo econômico, o país se tornou refém de meras medidas assistencialistas que se resumem na transferência de renda pura e simples. Uma medida paliativa, de alto custo e que deixa de criar instrumentos para recuperação econômica da população. 

Se de um lado Bolsonaro opta pela tática do confronto, de outro começa a trilhar com maior convicção o populismo econômico. O resultado é perigoso. Estamos vendo a perda de credibilidade do país no exterior, queda nas bolsas e alta no dólar. O mundo enxerga que de forma cíclica adentramos pelo populismo, seja pela direita ou pela esquerda. Um erro, que se não for corrigido, colocará nossa credibilidade em xeque por décadas, perdendo mais uma geração para nossos próprios erros.

domingo, fevereiro 28, 2021

Polarização Intolerável

Estamos diante da política negativa, do abuso como instrumento e dos ataques como método. Nada de bom acontece quando se faz política desta forma. Parece que nos últimos anos o Brasil esqueceu que a democracia precisa da construção de consensos, negociação e adversários que discordam, mas acima de tudo se respeitam. Ao enfrentar uma pandemia, precisamos também de união, gestão e conciliação. 

O turbilhão que levou o petismo à lona, trouxe também a emergência da construção de uma suposta “nova política”, um claro movimento que precisava demonizar as antigas formas de acomodação de poder, classificadas de forma grosseira como “velha política”. Fato é que o sentimento de renovação que chegou pelas urnas se impôs, abrindo espaço para novos nomes em detrimento de uma antiga classe desgastada pelo exercício do poder. 

Fato é que no poder, a nova política não deixou a campanha eleitoral de lado e passou a usar a tática da polarização como instrumento de governo e de exercício de comando parlamentar. Nada diferente do que seu líder fazia durante os 28 anos que ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputados. Os resultados não poderiam ser piores. Ao invés de pacificar, confrontou. Ao invés de unir, afastou. Ao invés de convergir, antagonizou. 

A guerra de narrativas se tornou mais importante do que a verdade e a obediência passou a ter mais valor do que a razão. Tempos estranhos estes que vivemos. Não é possível construir e debater, mas destruir e vencer a qualquer preço. Uma pós-verdade se impôs com as versões tendo mais poder que os fatos e a política da dissonância como método, sem propor nada de concreto. 

Não tardaria para que a democracia saísse machucada desta insana dinâmica que tomou conta das relações políticas do país. Instituições atacadas, reputações dilaceradas e a liberdade agredida. Naturalizar a exceção, a violência e agressão, enaltecendo os erros mais graves de nossa História, aqueles dos quais mais nos envergonhamos, que cercearam direitos e calaram vozes tornou-se lugar comum. O Brasil não pode aceitar que lhe tirem suas maiores conquistas. 

O eleitor já mostrou nas eleições municipais que não deseja viver em clima de confronto permanente, tampouco instabilidade política e emocional de seus governantes que acabam por atingir nossa normalidade econômica. O Brasil precisa e tende a voltar a razão, encontrando líderes que respeitem nossas instituições e conquistas democráticas, instrumentos sem os quais torna-se a vida em sociedade insustentável. 

A polarização fracassou como modo de governo e instrumento de exercício de poder. Precisa dar lugar aos instrumentos da boa política, aquela forjada pelo consenso e a concertação. Não há caminho fora da política, aquela realizada com a cabeça e não com o fígado. Ao optar pelo racional, nos tornamos uma sociedade livre, aberta e fraterna, capaz de lutar contra os inimigos da democracia, travestidos de políticos, que hoje abalam os alicerces institucionais da república para implementar seus perigosos jogos de poder. A polarização tornou-se intolerável. A política negativa precisa encontrar seu fim.

terça-feira, fevereiro 23, 2021

Vacina Eleitoral

A verdade é que o Brasil está mergulhado na pior crise econômica da sua história. Se a pandemia acabou com qualquer medida de ajuste fiscal do governo, na arena política o Planalto se esforçou pouco até aqui para passar reformas robustas. Isso significa que entramos no terceiro ano de governo em uma situação muito frágil, que pode gerar efeitos preocupantes para Bolsonaro no ano eleitoral. 

A economia brasileira não entrou em colapso no ano que passou em razão do auxílio emergencial, entretanto os custos deixados nas contas públicas são assustadores. O déficit beira R$ 1 trilhão. Uma fatura que afasta investimentos, gera desequilíbrios fiscais e deixa uma dívida enorme a ser paga no futuro. A retomada da economia, portanto, tornou-se peça fundamental desse jogo. 

Fato é que não haverá recuperação econômica sem vacinação em massa. Aqueles países capazes de imunizar sua população mais rapidamente são os mesmos que deixarão o caos gerado na economia para trás em menor espaço de tempo. Se 2020 foi o ano do auxílio emergencial, 2021 precisa ser o ano da vacinação. Do contrário, seguiremos reféns de um ciclo de auxílios que inviabilizará as contas públicas.

Faltou, entretanto, um plano estratégico para o Brasil, um movimento simples que poderia ajudar a salvar vidas, mas também as contas do governo. Ao optar por tratamentos alternativos e ignorar as vacinas como método eficaz de imunização coletiva, o país ficou para trás. Se hoje faltam vacinas e o governo é pressionado a adotar um novo auxílio, este é resultado de uma opção equivocada que agora cobra seu preço. 

O problema vai além. Se faltam vacinas, faltará também auxílio emergencial nos patamares de 2020. Se no ano que passou foi possível segurar o impacto do tombo econômico, neste ano, com um valor menor, será possível apenas amortecer de leve a queda, pois rumamos novamente para uma situação preocupante. Uma expansão real da atividade econômica somente será atingida com vacinação em massa. Vacinação significa economia retomada. 

Todo esse caminho pode afetar o resultado das urnas em 2022. Não somente pelo assustador número de mortos, mas pela profundidade do fosso econômico em que o país estará metido. Bolsonaro vai encarar as urnas praticamente sem qualquer crescimento econômico em quatro anos, com poder de compra e renda da população comprometidos e uma popularidade artificial que somente se manteve turbinada por um auxílio emergencial impossível de ser prorrogado novamente. 

Isso gera enorme incerteza sobre o quadro sucessório. Mesmo apoiado pelo centrão e impulsionado pelas redes ideológicas bolsonaristas, o caminho eleitoral do capitão tende a ser duro e complicado. O brasileiro vota com o bolso, e a economia certamente não será um ativo que possa ser usado a seu favor. 

Estamos diante de uma crise econômica séria, que precisa de mais ação e menos discursos. Se Bolsonaro não reorientar seu governo para o caminho certo, com uma agenda definida, as chances em 2022 vão se tornar cada vez mais distantes. As próximas eleições não serão definidas pela lacração das redes sociais, mas por seriedade, comprometimento diante da pandemia e melhora real da economia, uma verdadeira vacina eleitoral. Dessa realidade, nenhum postulante ao Planalto conseguirá escapar.

sexta-feira, fevereiro 12, 2021

Força do Sistema

O Brasil vive o desfecho da mais importante operação anticorrupção da história do país. Ao mirar na Petrobrás, a Lava Jato descobriu um sofisticado mecanismo de desvios de recursos públicos que atingiu personagens centrais do mundo político brasileiro. Ao desvendar estes caminhos, os petistas, que governavam o país há mais de uma década, sucumbiram, assim como alguns sócios do consórcio governista. 

A Lava Jato levou a população para as ruas em um movimento inédito para um povo que não tem o hábito de protestar. A indignação do povo brasileiro mexeu com as estruturas políticas e sacudiu a sucessão presidencial. Na visão da população, ali se daria a grande virada, mudando a dinâmica do jogo e iniciando um novo tempo em nossa democracia, finalmente longe do domínio sistemático da chamada velha política. 

Ao movimentar as estruturas políticas nacionais, a Lava Jato tornou-se um capítulo importante de nossa história, assim como a Operação Mãos Limpas transformou-se em episódio ímpar no combate à corrupção do modelo interno de poder italiano. Infelizmente, os resultados, tanto lá, quanto aqui, são muito similares. Apesar do esforço das forças-tarefas, a capacidade de luta e regeneração do sistema mostrou sua face com enorme resiliência. 

Em ambos os países, a rejeição da população ao sistema engoliu os partidos políticos tradicionais levando outsiders ao poder. Neste novo momento da política italiana surgiu Berlusconi e na geopolítica do poder brasileiro emergiu o nome de Bolsonaro. Ambos conseguiram se viabilizar em uma espécie de discurso de uma nova política, que desprezava métodos tradicionais e pregava uma nova virtude no exercício do poder. 

Assim como na Itália, no Brasil o sistema refluiu para depois voltar com uma força descomunal em união entre esquerda e direita para destruir seus oponentes. Em Roma, a reação partiu do governo e do parlamento italiano, que promoveram um verdadeiro movimento de restauração, aprovando leis para proteger a classe política e tornar as investigações da magistratura mais difíceis. Em Brasília, seguimos pelo mesmo caminho. 

Assim como no Brasil, a resposta contra a força-tarefa veio por meio de processos e denúncias contra magistrados e procuradores como forma de deslegitimar suas ações e reputações. Mesmo que improcedentes, serviram para desgastar a imagem dos procuradores e juízes diante da opinião pública. O movimento se intensificou quando a força-tarefa partia para investigar exatamente aquele que se elegeu no embalo da popularidade da operação e que rejeitava o sistema: Silvio Berlusconi. Qualquer semelhança é mera coincidência. 

Depois de décadas, muitos ainda se perguntam se os resultados políticos da Operação Mãos Limpas foram benéficos para o país, uma vez que a reação levou um populista ao poder. Ao mesmo tempo, aquele que deveria mudar a política, valeu-se do cargo para restaurar o status quo e blindar o sistema de impunidades italiano. Antonio Di Pietro, que esteve à frente da operação, diz que hoje os delitos são cometidos com maior inteligência criminal. 

Ao olhar para o Brasil, vemos que seguimos os mesmos passos. Resta ao brasileiro escolher um final diferente para nossa versão desta história. Se ainda estiver ao nosso alcance, talvez 2022 seja a última oportunidade.

sábado, fevereiro 06, 2021

Choque de Realidade

O sistema acaba de retomar o poder. A vitória de Arthur Lira para dirigir a Câmara dos Deputados é uma imposição da realidade. É também sinal que a política resolveu se impor com força e a partir de agora, de forma sistemática, passará ao comando do sistema. Ao contrário do que se propaga, os parlamentares não entregaram o controle do Congresso ao Planalto, mas para seguir vivo, Bolsonaro entregou o controle do governo aos parlamentares. 

Em outras palavras, o presidencialismo de coalizão se impôs. O modelo é resultado da arquitetura institucional brasileira e está inscrito na Constituição. Nosso sistema político-eleitoral é o combustível da proliferação de partidos e da criação de um grupo que funciona como sustentáculo de qualquer governo, independente de seu viés ideológico. O centrão é a base de todos os aqueles que passaram pelo Planalto desde a redemocratização. 

O grupo não participou da montagem do governo Bolsonaro. Esperou o Presidente encontrar os seus próprios fantasmas e ser confrontado com a realidade real da política. Quando precisou de governabilidade, procurou os especialistas, prontos a exercer seu papel tradicional de fiadores do governo de plantão. O custo político da transação é o de sempre: participação na administração em troca de estabilidade política. 

Assim sendo, não estamos diante de um período reformista ou de grandes mudanças. A chegada do grupo ao poder fornece maior estabilidade ao sistema e garantia de que não viveremos aventuras fora da democracia. O custo é a ausência de reformas profundas nas vetustas estruturas do Estado brasileiro que alimentam estes grupos políticos. Certamente na agenda não constam privatizações e modernização. 

Fato é que Bolsonaro perdeu tinta de sua caneta. Precisou ceder espaço político para o centrão para que conseguisse terminar seu mandato sem o risco de sofrer um impeachment por colocar em xeque a estrutura do sistema. Arthur Lira funcionará a partir de agora como um Primeiro-Ministro, indemissível, que passará a ocupar espaços e co-governar com Bolsonaro. O governo ganhou um sócio, talvez majoritário. 

A realpolitik se impôs. Na medida que o tempo passar, o centrão ocupará mais espaços ao mesmo tempo que Bolsonaro perde fôlego. Um Bolsonaro mais fraco é um centrão mais forte. Os novos aliados do Planalto sabem que precisam manter o Presidente em xeque, porém longe de deixá-lo sem alternativas, apresentado-se sempre como os fiadores de seu mandato. 

O risco de Bolsonaro está em perder o controle da pandemia e da economia, deixando o país à deriva e com as ruas pedindo a sua saída. Neste caso, o impeachment seria um caminho incômodo, porém necessário. Para evitar o pior, os préstimos do centrão podem ir além, espalhando sua presença por outras pastas. 

Bolsonaro terminará o governo muito longe da configuração e das promessas iniciais. O governo que começou será muito diferente daquele que encerrará seu mandato. Mudou Bolsonaro ou mudamos nós? A conferir.

terça-feira, fevereiro 02, 2021

Impeachment

Os erros de Jair Bolsonaro durante a pandemia acenderam mais uma vez a luz do impeachment. O instituto tornou-se mecanismo recorrente no Brasil como forma de preservar o Estado da gestão temerária de governantes. Em três décadas, usado duas vezes, voltou à baila como solução para enfrentar os problemas do país. Precisamos entender se o mecanismo é suficiente ou se o Brasil precisa ajustar suas engrenagens como forma de entregar soluções reais para o eleitor. 

O impeachment é um processo lento e penoso, que paralisa o país até sua resolução. Em tempos de crise não é instrumento apropriado para resolver problemas de governança e gestão temerária. A ausência de outros mecanismos, entretanto, leva ao entendimento de que a única saída em casos de crise é o impedimento do Presidente. 

Nosso sistema presidencialista convive com uma constituição de corte parlamentarista e no que tange ao impeachment reserva dois fenômenos. Quando o Presidente possui pouca interlocução no Congresso Nacional torna-se presa fácil de um processo de impedimento. Entretanto, caso o Presidente loteie o governo no parlamento, dificilmente enfrentará o pior, mesmo que sua gestão seja temerária ou improba. 

Estes fenômenos paralisam o país em situações de crise e encontrar um modelo adequado torna-se tarefa fundamental para o país viver com maior solidez institucional. O parlamentarismo, longe de estar enraizado na sociedade, surge como a melhor opção, mas carece de apoio popular pela característica clássica do eleitor brasileiro em buscar um salvador da pátria a cada ciclo eleitoral. 

Para o parlamentarismo funcionar, precisamos de uma reforma política, que ataque também o modelo eleitoral, adotando o sistema distrital puro ou misto ou até a eleição em lista fechada. Os sistemas são efetivos em países parlamentares europeus, como Alemanha, Espanha e Reino Unido. As campanhas tornam-se mais baratas e o número de partidos cai de forma drástica, fornecendo maior consistência política ao sistema. 

Por certo uma mudança desta profundidade, como tudo no Brasil, seria muito difícil de ser operada. Entretanto, mesmo no sistema presidencial, existem outros mecanismos que podem limitar o tempo do mandatário, como o recall, que seria o chamamento de votação suplementar para decidir se o governante deve concluir seu mandato. A decisão popular se impõe, mas pode paralisar o país diante de praticamente um novo ciclo eleitoral no meio do mandato. 

Fato é que o Brasil precisa repensar seu modelo político, tornando-o mais moderno, ágil e capaz de entregar soluções efetivas para a população. O impeachment certamente não consegue ser um instrumento eficiente. Da forma que conhecemos, a eleição de um Presidente pode se tornar a compra de uma agonia a prazo. Estelionatos eleitorais tem se tornado prática comum no Brasil e os eleitores tornam-se reféns da traição por período longo demais. O Brasil tem pressa em acertar. 

Certamente este é um tema que deve entrar na pauta nacional. Enquanto a população não exigir mudança, permaneceremos na inércia. A pandemia veio nos mostrar que não temos o direito de errar, mas se errarmos, precisamos possuir mecanismos ágeis de conserto de nossos equívocos.

sábado, janeiro 30, 2021

Habemus Vacina

Depois de vivermos reféns de uma pandemia que se especializou em ceifar vidas, chegou o momento de reação. A liberação da coronavac pela Anvisa, uma vacina produzida em parceria pelo Butantã e a chinesa Sinovac, fornece um novo ânimo para a sociedade brasileira, uma vez que temos um imunizante capaz de ser produzido em território nacional, facilitando a logística de imunização de todos os brasileiros. 

No front político a vacina é uma vitória do Governador de São Paulo, João Doria, que apostou na parceria com os chineses e entrega um imunizante de fácil transporte, armazenamento e produção, algo essencial para o tamanho continental do Brasil. Gostem ou não de Doria, foi sua persistência que fez com que o Brasil contasse com sua primeira vacina. 

Diante de 210 mil mortes, Bolsonaro sai ferido deste duelo político. Comprou uma briga contra a coronavac, minimizando seu potencial, zombando de sua eficácia e duvidando de sua confiabilidade. Por mais de uma vez disse que não compraria o imunizante. Cedeu. Hoje, Bolsonaro diz ter investido na vacina chinesa e quer também dividir o bônus da vitória com o governo paulista. Uma atitude lamentável. 

Com uma gestão errática e confusa da pandemia, Bolsonaro mais atrapalhou do que ajudou até o momento. Falta ao país uma liderança firme e sensata capaz de entregar uma direção sólida para uma população vítima dos devaneios de um Presidente que aposta no obscurantismo, pratica o negacionismo e produz desinformação. Se Bolsonaro deixou algo claro nestes tempos de pandemia, é a certeza que não está à altura do cargo que ocupa. 

A militarização do Ministério da Saúde, assim como em outras áreas estratégicas, como a promoção comercial e exportações, deixou claro que Bolsonaro age pelo princípio da insegurança, exonerando aqueles que ousam brilhar no comando de suas pastas, trocando-os por militares subservientes. Uma das vítimas foi o ex-Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ceifado do cargo por defender distanciamento social e uso de máscaras, negando-se a recomendar o uso de cloroquina ou qualquer medicamento ineficaz no combate à pandemia. 

O momento é de vacinação em massa e trabalho conjunto para fazer com que o Brasil adquira de forma rápida os insumos necessários para a produção em território nacional do imunizante coronavac, assim como facilitar a importação de outras vacinas disponíveis no mercado. Precisamos de velocidade na imunização para devolver a normalidade para a vida de cada um dos brasileiros. 

A pandemia separou os adultos das crianças e hoje parece claro que cada vez mais uma parcela maior da população brasileira entende que precisamos de gestão e seriedade. Precisamos de homens públicos imbuídos de uma missão. Precisamos de líderes reais. O modo de governar de Bolsonaro está muito aquém daquilo que necessita nossa nação. Que a vacina em breve se torne uma realidade para todos os brasileiros e que estejamos preparados para retomar as rédeas de nosso país, hoje desgovernado e perdido. Não podemos perder mais tempo.

sexta-feira, janeiro 29, 2021

Em Defesa da Democracia

A insurreição impulsionada por Donald Trump contra o mais importante símbolo da democracia americana marcará sua presidência. A marcha contra o Capitólio entrará para a História como um dos eventos mais lamentáveis de um país que existe baseado na força de suas instituições. Ao incitar a marcha de seguidores fanáticos, reféns de seu populismo grotesco, Trump evidencia um padrão de comportamento de líderes perigosos que emergiram recentemente ao poder e tentam subverter a democracia. 

Trump passa longe de ser um conservador. Isto afastou o ainda Presidente da base tradicional dos republicanos, abrindo espaço para o ingresso de uma ala radical de corte populista. O eleitorado tradicionalmente conservador, representado no governo pelo Vice-Presidente Mike Pence, é regido pelo princípio da prudência, defensor da cautela, estabilidade e moderação, elementos fundamentais desta vertente política. Na última semana vimos o rompimento definitivo destas alas diante do ataque perpetrado contra a democracia americana. 

No Brasil, vivemos situação similar. Possuímos um Presidente que se diz conservador, mas passa longe dos princípios da prudência, cautela, estabilidade e moderação. Pelo contrário, quando mais incendiar o debate público, melhor para Bolsonaro, que assim como Trump, aposta na polarização e no embate como elementos fundamentais da política. Entendimento, convergência e diálogo são palavras que passam longe de seu vernáculo político. Longe de ser um conservador, Bolsonaro tornou-se um populista. 

Isto fornece um sinal de alerta para a população brasileira. Assim como em Washington, em Brasília existe um Presidente que não possui apreço pela democracia e está disposto a quebrar as regras do jogo se assim for de seu interesse. Bolsonaro reiteradamente profetiza que as eleições brasileiras serão fraudadas (especialmente se perder) e não hesitará em esticar a corda, assim como o colega americano, em caso de derrota. 

Devemos nos perguntar se nossas instituições estão preparadas para tamanho desafio. O Brasil não pode sucumbir diante de mais um tiranete de plantão a despachar no Palácio do Planalto. Foram 21 anos de ditadura e nossa democracia, jovem e vibrante, não merece tamanho desrespeito. Os pilares da justiça, assim como do parlamento, serão fundamentais neste momento de prova. Mais do que isso, no intuito de evitar um autogolpe, a democracia brasileira precisa pressionar pelo desembarque imediato dos militares do governo Bolsonaro sob pena de confundirem-se com as aventuras anti-democráticas de um simples capitão. 

O mundo assistiu atônito as manobras de Trump para permanecer no poder. Sofrerá duras consequências nos tribunais assim que deixar a Presidência. Com dois impeachments aprovados pela Câmara, sairá pelos fundos da Casa Branca e certamente em pouco tempo ocupará um lugar de ostracismo na História. Populistas podem parecer grandes hoje, mas assim como sobem, descem. Que nossa democracia e instituições sejam mais fortes que os ímpetos golpistas dos oportunistas que transitoriamente ocupam o poder.

segunda-feira, janeiro 18, 2021

Trump: Populismo Impedido

Donald Trump governou por quatro anos. Sofreu dois impeachments. Será lembrado como um governo conturbado e polarizado que ao final organizou uma insurreição contra o maior símbolo da democracia americana, o Capitólio. Termina seu mandato isolado, longe de republicanos e democratas, além de conduzir um gabinete que desmorona a cada dia com pedidos de demissão de seus principais nomes. Um final melancólico para quem desejava mudar a política. 

Trump, assim como Bolsonaro, fazem parte de uma safra de líderes que foram eleitos na esteira de uma nova política que dizia rejeitar os velhos métodos e operações tradicionais de poder. Governam limitados pela polarização e o confronto, longe, portanto, do diálogo, entendimento e moderação. São populistas na medida que buscam uma interação com a população que passa ao largo dos instrumentos institucionais tradicionais. 

Esta liderança, apesar de chegar ao poder pela direita política, não possui viés conservador, uma linha política orientada pelo princípio da prudência, temperança, cautela, estabilidade e moderação. Ao adotar um modelo de confronto, disruptivo com a política, Trump tomou contornos antidemocráticos, agregando ao seu lado radicais de diversos matizes, rompendo com os princípios defendidos pelo seu próprio partido.

Isto explica o placar de seu segundo impeachment na Câmara de Representantes. Além dos democratas (mais de duas centenas apresentaram o pedido em conjunto), republicanos se juntaram ao esforço de punir o Presidente pelo movimento de insurreição contra a democracia. O fato é inédito e pela primeira vez depois de muito tempo pudemos enxergar uma agenda bipartidária que uniu as duas forças na Câmara.

Aprovado o impeachment, o caminho agora é o Senado, que pode aprovar o pedido de afastamento do Presidente do cargo. Ali são necessários 67 votos. O debate, entretanto, deve ocorrer somente com o novo Senado, que será empossado em alguns dias. A acusação pode levar a inabilitação política de Trump, algo que deve ser decidido em uma segunda votação por maioria simples, caso seja aprovado o afastamento. Isto ocorre porque a base da acusação está alicerçada na tentativa de insurreição. 

Trump é apenas o terceiro Presidente a ter um impeachment aprovado pela Câmara de Representantes. Antes dele, apenas Andrew Johnson (1868) e Bill Clinton (1999) haviam enfrentado o processo. Ambos foram absolvidos pelo Senado. Trump foi alvo de dois pedidos aprovados, em 2020 e 2021. Absolvido no Senado na primeira acusação, tem grandes chances de ser considerado culpado diante da segunda.

Barbárie não rima como democracia, assim como insurreição não rima com liberdade. Trump sentirá o peso da lei sobre seus ombros assim que deixar a Presidência. Será alvo de inquéritos, investigações e processos. A nação americana é extremamente rigorosa no cumprimento da lei e no respeito à democracia. Trump atingiu dois pilares essenciais da república e certamente não terá vida fácil assim que deixar a Casa Branca. 

Apesar dos mais de 70 milhões de votos, Trump vive seu ocaso político. Seus planos passam por organizar um movimento de direita que possa levá-lo de volta ao Salão Oval em 2024. A tarefa é praticamente impossível. Deve ser expulso de seu partido e terá mais trabalho para evitar condenações sérias do que trabalhar por um futuro político. Enquanto isso, os republicanos certamente passarão por uma faxina profunda para se livrar dos resquícios populistas, deixando esta triste marca para trás. 

O ocaso de Trump marca também o início do fim da experiência populista que seduziu algumas nações. Estamos aos poucos de volta aos pilares da sensatez, moderação e diálogo, elementos fundamentais de uma boa política. O trauma vivido pelos americanos diante da invasão do Capitólio servirá de vacina contra novos aventureiros, assim como o mundo precisa se preparar para também despachar seus populistas do poder. Nesta batalha, a democracia certamente irá prevalecer.

sexta-feira, janeiro 15, 2021

Líder da Oposição

O Brasil vive tempos estranhos. Vivemos um governo sem oposição na prática, uma vez que os partidos de esquerda ainda não se encontraram depois do impeachment e a vitória de Bolsonaro em 2018. Na falta de uma oposição consistente, o próprio Presidente resolveu assumir este papel. Pode soar estranho, mas na lógica de um político que desconsidera a estratégia e age por intuição, faz completo sentido. 

O melhor para Bolsonaro seria enfrentar uma oposição organizada e sistemática. É notório que o Presidente delineia seu discurso no antagonismo e nada melhor para isso do que um grupo oposto atuante e com voz. Foi nesta dinâmica que criou o personagem que surfou na rejeição aos políticos e chegou ao Palácio do Planalto. Bolsonaro é cria de uma dinâmica pendular executada pelos petistas e que agora se repete da maneira inversa. 

Fato é que mesmo desencontrado, o petismo poderia incomodar mais o governo. Na dinâmica estabelecida contra Fernando Henrique encontraram a senha para chegar ao poder, mas diante de Bolsonaro estabeleceu-se outra prática. Ao perceber que possuir uma voz ativa contra o Planalto somente faria o Presidente crescer, optou-se pelo silêncio, discrição e distanciamento. 

Bolsonaro hoje é um Presidente em busca de um antagonista. Já tentou com Witzel, Doria, Maia e um sem número de políticos. A joia da coroa, entretanto, é Lula e os movimentos que veremos a seguir, que podem reabilitar o ex-Presidente cassando sua inelegibilidade e colocando seu nome na pista para a sucessão de 2022, fazem parte do teatro de operações bolsonarista com vistas a reeleição. 

Dependerá do petismo morder a isca ou se movimentar de forma inteligente no cenário eleitoral. O duelo favorece a ambos, que precisam um do outro para se viabilizar em um segundo turno. O antagonismo, movimento pendular que retroalimenta os extremos é a justificativa para ambos existirem e duelarem pelo poder. Contudo, se eleitor mostrar-se cansado da polarização, uma terceira via pode surgir de forma equilibrada e viável. 

Até este cenário se concretizar, Bolsonaro segue sendo Presidente e, na falta de um antagonista, também líder da oposição de seu próprio governo, travando suas próprias guerras, criando inimigos e partindo para a ofensiva. Ao negar a pandemia e comprar uma batalha contra a imprensa, busca criar narrativas e oposição. Quanto mais semear a discussão, mais terá possibilidade de aparecer de um lado deste duelo e para ele, no campo intuitivo da política, é isso que importa. 

Se o modelo de Bolsonaro prevalecerá, ainda é uma incógnita, mas tendo a acreditar que seu jeito de fazer política se esgota diante de emergências sérias que demandam gestão e ações além das narrativas. A pandemia, que ceifou a vida de praticamente 200.000 brasileiros, débacle econômico com um deficit fiscal assustador, desemprego, fim do auxílio emergencial e ausência de uma estratégia consistente de vacinação podem deixar sua retórica pelo caminho, assim como os sonhos de uma reeleição, seja como líder de seu governo e também de sua própria oposição.

quinta-feira, janeiro 14, 2021

Década do Brasil

É normal que ao final de um ano façamos uma avaliação de tudo que passou. Certamente 2020 não foi um período fácil. Mas neste momento fechamos um ciclo de 10 anos que iniciou em 2010, a chamada década do Brasil, que contaria com Copa da Mundo, Olimpíadas e as benesses do Pré-Sal. O país era a sensação do momento e tinha tudo para finalmente decolar. O resultado, como sabemos, tanto na Copa, quanto na economia, foi desastroso. Diante de tantos erros, já passou do momento do Brasil aprender e reagir. 

Dez anos atrás vivíamos um mar de ufanismo. Enquanto muitos diziam que nosso país estava na moda, que esta seria a década do Brasil e tudo se encaminhava para crescermos de forma nunca vista, sempre olhei para este cenário com certo grau de ceticismo. Quando analisamos cenários, sempre precisamos olhar para o histórico a fim de desenhar os rumos que temos adiante. Foi o que fiz. 

Nada nos indicava que os elementos basilares de nossa nação haviam evoluído para aproveitarmos a onda a favor que se formava. Construímos uma democracia, realizamos privatizações, desenhamos um modelo de capitalismo social, mas ainda em nossa base havia elementos da política de compadrio, impunidade, corrupção e incerteza, fatores que impedem a adoção de ferramentas reais de impulsionamento social e econômico. Havia maquiagem, mas faltava substância. 

Sabemos que o Brasil não perde a oportunidade de perder oportunidades. Uma década depois da euforia, vivemos a depressão. Além de nosso país não pegar embalo na onda favorável, retrocedeu. O empobrecimento médio da população na década foi o mais intenso em 100 anos. Além de não crescer, o Brasil regrediu. Nos anos Dilma despencou 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016. Diante da pandemia em 2020, as expectativas são de um novo tombo de mais de 4%. 

Sem um arcabouço de reformas estruturais, políticas de longo prazo e embalado pelo populismo da nova matriz econômica, certamente o crescimento não viria, mesmo que impulsionado por uma gigante onda a favor. O desencadeamento da Lava Jato foi apenas mais um capítulo da história deste castelo de cartas que se desmontou, pois apesar de alto, era frágil. Um modelo de capitalismo de Estado baseado na política do compadrio e nos instrumentos de corrupção que realizavam a manutenção do sistema. 

Vítima dos próprios erros, nosso país paga um preço alto, que além de tropeçar em uma década perdida, assim como nos anos 1980, tem como vítima principal uma geração que esperava ter superado o passado. Mais uma geração perdida, reformas inacabadas, prejuízos sociais incalculáveis. O retrato do Brasil, dez anos depois, é desolador. Em uma década, aquela que deveria ser nossa, o mundo cresceu 30,5% e nosso país apenas 2,2%. 

Chegamos ao fim de mais uma década que deveria ser esquecida, mas que serve de alerta. O Brasil precisa deixar de ser refém de seus próprios erros, da política de compadrio e da corrupção endêmica que corrói nossas instituições. É preciso olhar adiante aprendendo com os erros do passado. Que o fim destes dez anos sirva de recomeço, entendimento, diálogo e unidade, afinal, todos dependemos do sucesso de nosso país. Mesmo com ceticismo, um novo ano é sempre motivo para renovarmos nossa crença em dias melhores.

sexta-feira, janeiro 08, 2021

Desmonte da Direita

Bolsonaro chegou ao poder embalado por uma onda que começou a se formar em 2013, primeiro sinal de fadiga do sistema político. As manifestações daquele ano começaram a dar voz a uma série de pessoas que pregavam uma profunda mudança do sistema. Os grupos eram difusos. Vinham de setores conservadores, militares, antipetistas e posteriormente lajatistas e até liberais. 

Sem um nome forte capaz de catalisar as paixões nacionais, Bolsonaro foi aos poucos ocupando este espaço, agregando em torno de si o sentimento de rejeição ao sistema. Enquanto a classe política tentava viabilizar nomes de centro e a esquerda repetia seus mantras, Bolsonaro encontrou uma avenida livre para transitar em 2018. Venceu com facilidade surfando a onda da nova política. 

Ao chegar ao poder embalado por uma nova direita que ainda precisava se encontrar, uma composição confusa de nacionalistas com liberais, reacionários, conservadores, impulsionados pela Lava Jato, Bolsonaro ressentiu-se de uma base política. Seu estilo mercurial de campanha foi transposto para o governo, na mesma medida que incitava o confronto e rifava a cada episódio polêmico todos aqueles que o haviam ajudado a vencer. 

Bolsonaro começou a desmontar o embrião de uma nova direita que o havia levado ao poder. Os liberais não enxergaram as reformas prometidas, lavajatistas ficaram chocados com o sepultamento da operação, antipetistas estarrecidos com as indicações para STF e PGR, conservadores traídos pelos rompantes presidenciais e até militares começaram a questionar as humilhações impostas por Bolsonaro para membros das Forças Armadas. 

Em outras palavras, Bolsonaro traiu a direita. Ao se apropriar de seu nome sem aplicar suas práticas, iniciou o desmonte de um grupo político que ainda buscava identidade. Ao se aliar com a política fisiologista, que poucos anos antes apoiava as esquerdas, rifou a agenda de reformas e reconstrução do Brasil dentro de métodos liberais na economia e conservador em suas práticas. Mais do mesmo. 

Aliás, Bolsonaro, que se diz conservador, não guarda qualquer semelhança com esta prática ou ideologia. O conservadorismo é pautado pelo princípio da prudência, pelos instrumentos da cautela, estabilidade e moderação. Nada mais antagônico a Bolsonaro, que lidera um governo instável, beligerante e errático. Ser conservador, na verdade, passa ao largo de uma simples agenda de costumes, que se inclui muito mais em um viés de direita populista. 

Bolsonaro desmontou a direita real para criar outra, à sua imagem e semelhança. Um modelo de governar que afasta aliados históricos, se aproxima de amigos de ocasião, enquanto semeia uma popularidade efêmera baseada em um populismo clientelista baseado em ajudas governamentais. Nunca se imaginou um governo tão parecido com o petismo. 

Ao desmontar a direita real, perdeu a base que poderia levá-lo à reeleição. Em breve Bolsonaro descobrirá que perdeu tração e embalo. O discurso mercurial e uma direita servil, fabricada para servir aos seus propósitos, não levará seu nome sequer ao segundo turno. O bolsonarismo já vive seu ocaso.