sexta-feira, agosto 31, 2018

A Fortaleza de Bolsonaro

A bancada do Jornal Nacional, dentre tantos erros cometidos esta semana, errou feio o alvo com Jair Bolsonaro. Fez o mesmo que a GloboNews, que na ânsia de emparedar o candidato, acabou por fornecer o palanque que o deputado do PSL esperava.

Os jornalistas em questão são claramente movidos por questões ideológicas (algo que enfraquece o debate) e infelizmente suas crenças políticas falam mais alto do que o bom jornalismo que se espera que produzam. Na sabatina da GloboNews foi constrangedor ver profissionais de renome corrigir e confrontar Bolsonaro. Na bancada do Jornal Nacional aconteceu a mesma coisa. Jornalismo sério se faz com a cabeça, não com o fígado, deveriam saber.

O que até agora estes jornalistas falharam em entender é o fato de que Bolsonaro sente-se confortável em responder este tipo de provocações. Está sendo confrontado com estas indagações há anos e possui um arsenal de argumentos e documentos para defender-se. Tentar encurralá-lo com perguntas sobre homofobia, regime militar e direitos das mulheres é fornecer palanque gratuito para o candidato do PSL.

Mais do que isso. Está claro que ele atingiu mais de 20% do eleitorado defendendo uma pauta antagônica daquela sustentada pela imprensa em geral. Quando esta mesma mídia ataca o candidato por  discordar de suas ideias, reforça a certeza do voto daqueles que não concordam com a imprensa e encontraram em Bolsonaro alguém que forneceu voz para sua insatisfação. Portanto, além de não conseguir desconstruir o personagem, reforça a certeza daqueles que dizem votar nele.

Pesquisas diárias do mercado financeiro indicam que Bolsonaro cresceu depois da entrevista no Jornal Nacional. Está evidente que a imprensa entrou no jogo de maneira equivocada e ao assumir uma posição, fortaleceu seu antagonista.

A principal fortaleza de Bolsonaro, seu principal cabo eleitoral nesta eleição, tem sido a imprensa engajada. Enquanto isto não mudar, o script será o mesmo, como ocorreu no Jornal Nacional desta semana.

quinta-feira, agosto 30, 2018

Os Pecados do JN

Ao receber os candidatos presidenciais, a bancada do Jornal Nacional transformou-se nesta semana também na principal fonte de debate político do país. Ao tentar "lacrar" ou encurralar os candidatos, os apresentadores também mostraram suas falhas e despreparo para o tamanho da responsabilidade. Saíram menores do que entraram no estúdio.

O tom acintoso e agressivo não condiz com o bom jornalismo, que em ocasiões como esta tem obrigação de ser responsável e preparado. Ao mostrar-se fora do tom, os apresentadores capricharam nas tintas para tentar mostrar profissionalismo, mas se esqueceram que adjetivos não substituem conteúdo.

Renata Vasconcellos levou o troco que recebeu de Bolsonaro para o lado pessoal, um pecado irreparável no jornalismo. Com Geraldo Alckmin mostrou falta de preparo, alegando que o ex-Presidente Collor está na coligação do tucano. Foi corrigida de modo elegante por Alckmin, mas não perdeu a oportunidade de voltar ao assunto para tentar se justificar de maneira torta. Perdeu uma grande oportunidade de fazer bom jornalismo. Bonner fez coro, evidenciando o corporativismo que repreendem em seus editorais.

Até o momento, o Jornal Nacional não fez aquilo que se propôs: entrevistar os candidatos sobre suas propostas para o Brasil. Se resignou a provocar Ciro Gomes, confrontar Bolsonaro com as questões de sempre e encurralar Alckmin fornecendo informações imprecisas. As entrevistas terminaram sem os telespectadores descobrirem as propostas de Ciro para a saúde, a posição de Bolsonaro sobre as privatizações ou o que Alckmin pretende fazer na educação.

Mesmo sendo um local onde seria impossível buscar profundidade, o editor-chefe e apresentador William Bonner e a editora-executiva e apresentadora, Renata Vasconcellos, poderiam ter contribuído mais com o debate e buscado menos confronto. Entrevistadores que se sobrepõe a cada pergunta e falam mais que os entrevistados estão longe de que é necessário especialmente em tempos eleitorais.

O Jornal Nacional está perdendo uma grande oportunidade de contribuir para melhorar a qualidade do debate do político. Perde o telespectador, perde o país.

terça-feira, agosto 28, 2018

Amoedo Digital

Pesquisa divulgada recentemente mostrou um crescimento exponencial dos números de João Amoedo, do NOVO, que na sondagem espontânea aparece na frente de candidatos mais conhecidos, com mais densidade nacional e mais estrutura partidária. Resta saber o que isto quer dizer.

Se isto é uma tendência real, dependerá de novas sondagens de outros institutos, que precisam confirmar estes números. Pesquisas são fotografias de um momento e as metodologias utilizadas podem influenciar muito nos resultados. Amostragens apuradas precisam ser muito bem elaboradas, tanto na abrangência, quanto no método. Ao mesmo tempo é preciso comparar com outras para testar a possibilidade de evolução de um quadro, de movimento de tendência de votos.

A se confirmar o crescimento de João Amoedo, ficará constatado o poder das redes sociais nas eleições deste ano. Apesar do candidato ter estado presente em alguns programas de televisão, o vetor preferencial do NOVO é a ação digital e este movimento nas pesquisas pode levar a uma grande mudança de estratégia na corrida presidencial.

Alckmin acaba de mudar o comando digital de sua campanha. Apesar de apostar maciçamente em rádio e televisão, o crescimento de Amoedo pode levar Alckmin e outros candidatos a investir mais em novos canais e em especial nas redes sociais.

O fenômeno Bolsonaro explica o poder deste tipo de mobilização. O crescimento de Amoedo certamente também passa pelo uso correto destas plataformas de forma inteligente e estratégica. O principal recado do crescimento do candidato do NOVO reside em uma premissa básica: aqueles que subestimarem o poder digital ficarão pelo caminho.

segunda-feira, agosto 27, 2018

Alckmin, Missão (Im)possível

A campanha de Geraldo Alckmin entrou em estado de alerta. A ausência de tração nas pesquisas tem sido uma preocupação entre seus aliados. O encaixe esperado ainda não foi alcançado e isto tem começado a gerar outros problemas, como deserções e traições. Se a campanha não ganhar um novo rumo nos primeiros dias de rádio e televisão, o tucano pode enfrentar um final de disputa melancólico.

A grande vitória alcançada por Alckmin até o momento foi política: o amplo acordo com o centrão. Visto como um trunfo em função do tempo de propaganda eleitoral, pode na verdade se tornar um problema, pois atraiu para o seu lado a base de um governo impopular e rejeitado pelo eleitor. Um movimento perigoso que também transformou o tucano no candidato informal de Temer.

Além disso, tudo leva a crer que o candidato surge fora de sintonia com a nova política, que move-se principalmente no meio digital, com forte apelo no terreno das redes sociais. Alckmin preferiu os velhos acordos e o tempo de televisão. Contudo, novos tempos, exigem ferramentas novas. De nada adianta se apresentar para um novo tipo de combate usando armas ultrapassadas.  Talvez seja por isso que diante da ausência de resultados, o tucano tenha mandado trocar o comando de sua comunicação digital. Se a mudança surtirá efeitos, ainda é uma incógnita.

Mesmo no terreno da velha política, Alckmin vai mal. Nos debates, soa como um tecnocrata que não empolga. Além disso, sua aliança com o centrão tem alto potencial de combustão, pois seus líderes espalhados pelo país vestem a camiseta apenas daqueles que podem ajudar em seus projetos pessoais. Assim, o tucano passou a ser rifado pelos aliados, especialmente no Nordeste, onde é muito forte a figura de Lula.

Dentro do próprio ninho tucano ainda existe ceticismo em torno de seu nome, a começar por Fernando Henrique Cardoso, que já demonstrou simpatia por Haddad, sugeriu uma aliança com o petismo para evitar a direita na reta final e mais uma vez disse que não deve participar ativamente da campanha.

O PSDB também enfrenta problemas em seus redutos eleitorais. Com Álvaro Dias no páreo, perdeu força nos estados do Sul do país, essenciais para Alckmin subir. Em São Paulo, onde sua campanha deveria ter o maior impulso dos apoiadores, continua atrás de Bolsonaro. Nada que se faça parece ajudar. Até sua vice, gaúcha e ligada ao agronegócio, não consegue trazer votos para a chapa. 


Em 2006, nesta altura do campeonato, Alckmin batia em 27% nas sondagens. Hoje ainda não saiu de um teto de 9%. Com uma campanha curta e apenas algumas semanas de programa de rádio e televisão, há pouco tempo para o tucano encantar o eleitor. Precisará descontruir Bolsonaro e atrair eleitores de Álvaro Dias, além de ter que se defender do PT, que prefere um segundo turno contra o atual líder nas pesquisas e deve centrar fogo no tucano para que este não ameace ir para o segundo turno. Alckmin está diante do maior desafio de sua carreira, uma missão praticamente impossível.

sexta-feira, agosto 24, 2018

Haddad e o Mercado

Enquanto algumas campanhas ainda patinam na largada, o PT, que possui uma estratégia muito bem montada, vem se movimentando de forma inteligente nas últimas semanas. A ideia é manter o nome de Lula na chapa o máximo de tempo possível, embaralhando o cenário, com sua presença nas pesquisas e no debate político.

Em paralelo, Haddad começa a se credenciar como o nome do partido na disputa. Começou um giro pelo Nordeste, apresentou o primeiro filme de campanha e nos bastidores tem circulado pelo mercado financeiro. O mundo econômico está alertado sobre a possibilidade real de Haddad chegar ao Planalto e diante disso tem conversado com o ex-Prefeito de São Paulo. Agrada o fato do vice de Lula ser do quadro de professores do Insper e durante sua gestão na Prefeitura de São Paulo ter obtido selo de grau de investimento da Fitch.

Se Haddad possui a simpatia de Fernando Henrique e trânsito em setores do tucanato, o mesmo pode-se dizer agora do mercado financeiro. Ele já esteve com J.P. Morgan, BTG Pactual, Morgan Stanley, XP Investimentos e Febraban. Em breve estará com Genial Investimentos, BGC/HSBC, Banco Plural, Concordia, Guide Investimentos, MBC/Gerdau. Todos querem entender como Haddad enxerga a economia.

A resposta é música para os ouvidos do mercado. Ponderado e sem os arroubos desenvolvimentistas de Dilma, o petista fala em rigor fiscal com compromisso social, combinado ao pragmatismo na economia. Lembra os rumos sob a gestão de Palocci nos primeiros anos de Lula no Planalto. Quando perguntado sobre quem escolheria para a Fazenda, mais uma vez exibe prudência. Fala que seria um quadro conhecido do mercado, com credenciais fortes, afinado ao projeto petista e dono de uma biografia que remeta ao pragmatismo.

Enquanto Haddad faz seu dever de casa, o mesmo não pode se dizer em relação a outros setores do petismo. Gilberto Carvalho disse que se Haddad ganhar, quem vai governar é Lula, pois em algum momento Lula será solto e seguirá para o Planalto para co-governar com seu atual vice. É bom que o mercado também esteja atento a todos estes movimentos.

terça-feira, agosto 21, 2018

Ajuda Tucana

PSDB e PT são dois partidos de esquerda que, apesar de duelarem no Brasil, possuem traços ideológicos alinhados em muitos pontos. A social democracia intelectual e a esquerda operária caminham juntos em muitos países, especialmente na Europa. Este fenômeno é uma realidade na Espanha, com o PSOE, na Alemanha, com o SPD e até no Reino Unido, com o Partido Trabalhista.

Assim, foi diante desta lógica que o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu uma união entre tucanos e petistas em um eventual segundo turno contra a direita representada por Bolsonaro. Seria a união das esquerdas contra a direita, reposicionando o tabuleiro político brasileiro, que desde a redemocratização vive diferentes tons de um mesmo espectro ideológico. 

Haddad inclusive é amigo de Fernando Henrique. Possui estampa e jeito de tucano. Seria talvez até um candidato mais peesedebista que o próprio Alckmin, rejeitado pela intelectualidade do seu próprio partido (incluindo o ex-Presidente FHC). Assim, seria com enorme naturalidade que em caso de segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, o PSDB se colocasse ao lado do PT para evitar a ascensão da direita. 

Entretanto, as opiniões pessoais de Fernando Henrique estão desalinhadas com a estratégia política eleitoral do candidato tucano. Não é a primeira vez que FHC coloca Alckmin em uma situação constrangedora. Diante do cenário político em que o ex-Governador de São Paulo surge com números pífios, o comentário do ex-Presidente ajuda a plantar ainda mais desconfiança no ninho tucano. Se Alckmin não decolar, em breve começará a ser abandonado pelos aliados e rifado pelos colegas de partido. FHC até já apontou o caminho. 

Desacreditando Alckmin de forma velada, como já fez mais de uma vez, FHC contribui para uma configuração de segundo turno sem o PSDB, mas onde seu partido e o petismo poderiam dar as as mãos e concretizar uma união política de duas esquerdas de cortes diferentes. Algo que ajuda a esboçar os caminhos do realinhamento político que o quadro partidário brasileiro pode conhecer muito em breve. 

segunda-feira, agosto 20, 2018

Novo Poste

Quando Lula tirou Dilma da manga e lançou seu nome ao Planalto, a expectativa era de que ao fim do seu primeiro mandato, que deveria ser o único, ela cedesse espaço para a volta do chefe. Deu errado. Dilma preferiu buscar luz própria e rifou o ex-Presidente, lançando-se em um segundo mandato. O resultado é conhecido. Agora, impedido de concorrer, Lula escolheu um novo avatar para representá-lo nas urnas. Responde pelo nome de Fernando Haddad.

Ainda em 2010, a ideia do líder petista era escolher um nome que não fizesse sombra aos seus feitos, abrisse espaço futuro para sua volta e mantivesse sua linha de governo. Pensou em muitos nomes, mas todos alcançariam notoriedade e poderiam trair seu criador. Dilma foi escolhida neste contexto. Sem a habilidade política de Jaques Wagner, articulação de Dirceu ou a prudência de Palocci, foi alçada candidata exatamente por não guardar estas qualidades e, portanto, não ter chances de se tornar um líder maior que Lula.

A escolha de Fernando Haddad como candidato possui íntima relação com esta experiência. O ex-Prefeito de São Paulo representa o começo de uma renovação geracional dentro do petismo. Com ele deixa-se figura da sindicalista de porta de fábrica para trás, trocando-a pela estampa de um acadêmico, professor da USP, mas alguém ainda da mais estreita confiança de Lula.

Haddad é o nome que pode levar o petismo de volta ao Planalto. Sua presença no segundo turno é praticamente certa. Quando apoiado por Lula, nas sondagens já aparece com 15%, com a campanha praticamente ainda na posição de largada. Não está presente dos debates e em breve terá a tração de 212 milhões de fundo eleitoral petista usado sempre de fora inteligente por uma equipe de comunicação eficiente. Se somarmos isso ao apoio do Nordeste e o tempo de televisão, a conclusão de que o PT colocará seu candidato no segundo turno é natural.

Se chegar lá contra Bolsonaro, a tendência é receber apoio de todo o sistema político que hoje está alinhado com Geraldo Alckmin, além dos próprios tucanos. O mundo político conhece seu lugar em um governo petista, mas tem enorme receio da chegada ao Planalto de um candidato que possui como plataforma quebrar as estruturas tradicionais de poder como Bolsonaro. Se este embate de segundo turno se concretizar, as chances serão iguais, com o sistema buscando sobreviver pendurado no partido que afastou do poder dois anos atrás.

O novo poste de Lula tem luz própria, mas não faria sombra ao chefe. A montagem da chapa com Manuela procura trazer juventude e uma estampada renovada a um projeto político de poder já conhecido e que sobrevive apenas mediante acordo com a velha política. O truque pode funcionar. A capacidade de reencarnação de Lula não pode ser subestimada. Mas desta vez não será com Dilma. Haddad é mais habilidoso e pode servir como instrumento de regeneração do petismo em um momento de crise no partido. Lula aposta nisso para deixar Curitiba e voltar a dar as cartas desde Brasília. 

sexta-feira, agosto 17, 2018

Candidato de Temer

Em entrevista, Temer assumiu Alckmin como candidato do governo, causando enorme embaraço ao ex-Governador de São Paulo. "Os partidos que deram sustentação ao meu governo estão com ele, inclusive o PSDB", disse o Presidente. O tucano não poderia estar diante de maior saia justa, afinal a impopularidade que permeia este governo é a maior da história, podendo gerar reflexos danosos em sua campanha. 

Alckmin não deixa de ser o principal culpado deste estado de coisas. Negociou e comemorou a chegada da base fisiológica de Temer em seu palanque. Recebeu de braços abertos apoios de líderes e presidentes de partidos envolvidos em denúncias de corrupção, que vão do Mensalão ao Petrolão. O candidato cercou-se do que se convencionou chamar de velha política para ter mais tempo de propaganda no rádio e televisão. Se a estratégia vai funcionar, é outra história. 

Enquanto muitos acreditam que Alckmin fez o movimento correto, pois está trabalhando dentro da cartilha tradicional da política brasileira, aquela que gerou resultados nas última eleições, outros são mais céticos. Vivemos um período de mudança, em que o eleitor rejeita as velhas práticas políticas e busca novos modelos e atores. Velhas estratégias talvez não caibam em novos tempos, especialmente em um pleito marcado pelo ímpeto de renovação e o desejo de uma nova política. 

Assim, a ligação com Temer pode ser fatal. O Presidente se tornou figura radioativa e até mesmo Henrique Meirelles, candidato do MDB, tem procurado se afastar do recente chefe. Meirelles tenta aproximar sua imagem do governo Lula, quando era Presidente do Banco Central, e o Brasil vivia uma sensação de otimismo generalizada. 

Quando Temer diz que seu governo teria continuidade se Alckmin vencer, "pois os atores são os mesmos", o Presidente dá um passo em falso e prejudica o candidato que representa o consórcio que o levou ao poder e ajuda a governar. Com os amigos que arranjou, o tucano não precisa de inimigos. Encarnando a velha política e apoiado pelos suspeitos de sempre, Alckmin se descola cada vez mais da órbita do bom senso eleitoral.

quinta-feira, agosto 16, 2018

Onda Positiva

Quando uma candidatura mostra tendência de vitória, as coisas começam a trabalhar a seu favor. É o que chamamos de onda. Tudo indica que Bolsonaro segue este caminho. Mesmo quando toma decisões consideradas equivocadas pelas regras da política, o resultado obtido é satisfatório.

Esta é uma tendência característica de tempos de mudança, quando o eleitorado expressa o desejo de rompimento com as estruturas tradicionais, buscando renová-las. Foi o que aconteceu na campanha presidencial norte-americana, que levou a vitória de Donald Trump e especialmente agora durante o seu governo, que planta soluções improváveis e colhe resultados positivos. 

Jair Bolsonaro segue na mesma linha. O eleitorado brasileiro já expressou um grande desejo de mudança nas eleições de 2014, com tendência de voto canalizada para Marina, que não soube aproveitar o embalo favorável, além de ter impulsionado o impeachment, o resultado as eleições municipais e inclusive o ponto zero deste processo: as manifestações de 2013. 

Isto explica porque candidatos alinhados ao governo e ao chamado establishment patinam nas intenções de voto. Meirelles e Alckmin são o melhor exemplo desta realidade. Se Álvaro Dias conseguir descolar deste pelotão, impondo-se como um instrumento de renovação, tem chances de ainda crescer na disputa. 

Apesar do ataques, Bolsonaro segue consolidado na faixa dos 20% em todas as pesquisas e o que mais surpreende é que inclusive a escolha de um General para ocupar o posto de vice acabou funcionando. Mourão é o vice que mais agrada os eleitores, seguido de perto por Haddad. 

Nada mais sintomático dos tempos que vivemos e do alinhamento para o segundo turno que deve colocar frente a frente dois projetos antagônicos de país.

terça-feira, agosto 14, 2018

Estratégia Petista

O palco está montado. O PT seguirá com a fantasia da candidatura de Lula até o fim. Nesta semana, o partido registra a chapa em Brasília no última dia do prazo para assim ganhar tempo. Espera um imediato pedido de impugnação para começar uma batalha nos tribunais. Ao esticar a corda, o PT vai dilatando o debate, mobilizando suas bases, colando a imagem de Lula em Fernando Haddad.

Mas a estratégia vai além. A tentativa de protelar ao máximo este movimento visa, mesmo impugnado, manter a imagem e nome de Lula na urna eletrônica. Isto servirá de base para o partido embaralhar o quadro sucessório e causar uma confusão na cabeça do eleitor. Se a pendência judicial da candidatura ultrapassar o meio de setembro, mesmo impugnado, não haverá como tirar o nome de Lula da programação das urnas eletrônicas. Os votos iriam para Haddad, mas os eleitores teriam que votar em Lula.

Os prazos podem se estender porque os recursos irão além do TSE. Certamente o partido deve também recorrer ao Supremo Tribunal Federal, que diante da Lei da Ficha Limpa, não deve autorizar a candidatura. Mas a possível demora em avaliar o caso, ultrapassando o limite de meio de setembro, é o principal objetivo desta estratégia protelatória. Em meio a tudo isso, Dias Toffoli, indicado por Lula ao Supremo, toma posse como Presidente da corte no dia 13 de setembro.

Se o PT estender a discussão ao máximo e conseguir manter o nome do ex-Presidente nas urnas, haverá um verdadeiro tumulto no processo eleitoral, pois o partido defenderá que os votos são na verdade de Lula. Como avatar de Haddad, Lula espera embaralhar o quadro sucessório e garantir seu vice no segundo turno.

O único elemento que pode desarticular esta estratégia é a celeridade da justiça, tanto no TSE, quanto no STF. A conferir.

segunda-feira, agosto 13, 2018

Duelo (Im)previsível

A política brasileira recente, marcada por um duelo previsível, pode estar dando sinais de fadiga. Novos atores tem alterado de forma significativa o jogo de poder, algo que tem preocupado os mais experientes. Se o ímpeto renovador for mais forte que as manobras da classe política, podemos estar diante de um embate inédito de segundo turno, que confrontará duas visões realmente diferentes de país.

Na história recente do Brasil, a esquerda soube manobrar as táticas e o discurso melhor do que seus adversários. Se posicionou na frente ideológica, dominando a narrativa. Aos poucos atingiu a hegemonia durante a Nova República, dando as cartas desde a redemocratização.

Desde 1985 vivemos sob a hegemonia de MDB, PSDB e PT, com um hiato de pouco mais de dois anos durante o governo Collor, predominantemente de corte liberal – que sucumbiu ao sistema tentando reinventá-lo. O establishment político brasileiro se alternou entre a esquerda moderada, representada pela social democracia tucana e uma esquerda de viés sindical e patrimonialista, validada pelo petismo. Entre os dois, o MDB, que após a cisão que deu origem ao PSDB, posicionou-se como partido de centro que manobra nos bastidores do presidencialismo de coalizão servindo tanto a tucanos, quanto a petistas.

Diante da consolidação da Nova República, o país se viu diante de sucessivas eleições onde a escolha se dava somente com candidatos de vetor ideológico esquerdista, reeditando por várias vezes um pseudo confronto entre moderados e sindicalistas, ou melhor traduzindo, entre tucanos e petistas. O resultado foi a hegemonia da esquerda variando entre seus dois polos.

Nas eleições deste ano, pela primeira vez em quase três décadas, chega ao páreo com chance de vitória um nome que pode representar uma ruptura no sistema hegemônico em curso desde a redemocratização. A perspectiva de rompimento do mecanismo clássico de poder fez com que a classe política se aglutinasse em torno de um candidato com viés moderado, enquanto o lado sindical se articula nos bastidores. A esperança de ambos é a reedição dos últimos duelos presidenciais como forma de realizar a manutenção destes atores e seus apoiadores no palco político.

Mas falta combinar com o eleitor. A certeza de que a reação contra o establishment será contida perde força a cada pesquisa. Enquanto isso, a certeza de voto na perspectiva de renovação representada por Bolsonaro, que promete ruptura com a estruturas tradicionais de poder, se consolida. Do outro lado vemos tucanos e petistas buscando reeditar mais duelo. Neste briga, apesar do esforço do PSDB, o PT saiu na frente e mostra muito mais fôlego para se classificar para o segundo turno.

Pela primeira vez em quase 30 anos, é possível que o eleitor brasileiro seja confrontado na rodada final com duas propostas realmente antagônicas de poder, mudando a configuração morna e previsível dos embates presidenciais mais recentes.

sexta-feira, agosto 10, 2018

Lições do Debate

Para aqueles que esperavam um embate duro e os candidatos se expondo, o ringue montado pela Band decepcionou. O movimento foi de sentir o terreno, sem arriscar, sob pena de queimar a largada e se inviabilizar no quadro sucessório. Entretanto, todos deixaram impressões importantes que precisam ser avaliadas.

Álvaro Dias, um parlamentar experiente, que fala muito bem de improviso da tribuna do Senado, falhou ao tentar se comunicar com o eleitor. Sua principal tarefa seria se colocar como uma alternativa a Geraldo Alckmin. Perdeu uma grande oportunidade. Álvaro precisa discorrer mais sobre propostas, sem carga midiática, para atrair os votos do tucano. A estratégia adotada neste debate não ajuda sua chapa.

Mas o troféu decepção ficou com Henrique Meirelles. Sem experiência densa em campanhas, tentou seguir as orientações da cartilha de oratória e media training, mas faltam ainda muitas horas de prática para conseguir engrenar. Certamente será abandonado ao longo da campanha pelos que ainda apoiam sua candidatura e hoje serve apenas de escudo para o verdadeiro candidato do governo, Geraldo Alckmin. Meirelles segue na disputa apenas para absorver a impopularidade de Temer.

Nenhum candidato tirou Bolsonaro da sua zona de conforto mais uma vez. Falou para o seu eleitorado e ainda ganhou pontos com os mais moderados, pois Cabo Daciolo atraiu para si uma postura radical. Não foi brilhante, mas também não comprometeu.

A estratégia geral de isolar o PT funcionou, o que ajuda Boulos e Ciro na disputa. Dois candidatos bem articulados, que sabem emitir sinais para a esquerda. Em um debate sem Lula ou Haddad, o PT foi sumariamente ignorado. Marina Silva mostrou que chegou para ser apenas coadjuvante e Alckmin insiste em ser Alckmin, um tecnocrata experiente. Aposta na falta de alternativas para emplacar.

Ao fim, o debate serviu para os candidatos sentirem o terreno onde estão pisando e serve para os que erraram ainda corrigirem seu rumo, sob pena de a corrida presidencial se estreitar entre dois ou três candidatos no primeiro turno.

quinta-feira, agosto 09, 2018

Primeiro Debate

Logo mais estaremos diante do primeiro debate entre os presenciáveis na televisão aberta. A expectativa é grande, uma vez que pequenos candidatos ganharão mais exposição, aqueles no pelotão intermediário tentarão ganhar tração e os líderes tentarão manter sua posição.

Tudo indica que Lula não participará, tampouco seu avatar Fernando Haddad. Perde o PT, uma vez que o ex-Prefeito de São Paulo poderia começar a ficar mais conhecido como o nome de Lula na corrida presidencial, mesmo representando, por hora, o papel de vice. Quanto mais Haddad colar sua imagem na de Lula, maiores serão as chances de herdar parte dos seus votos.

Será interessante também observar a postura de Álvaro Dias. Alckmin pensa que seu maior adversário é Bolsonaro. Engana-se, pois seu mais importante competidor é o Senador pelo Paraná, que também ocupa a posição de centro, mas é detentor do discurso ético que falta a Geraldo Alckmin. Para subir nas pesquisas, Álvaro deve centrar fogo nas fraquezas do peesedebista, explorando a principal diferença entre ambos: as companhias pouco recomendáveis do tucano e a aliança silenciosa do PSDB com Michel Temer.

Bolsonaro, por ocupar a liderança, será certamente alvo de ataques, entretanto, os adversários precisam observar se neste ponto é melhor brigar entre si com vistas a chegar ao segundo ou bater no candidato do PSL, que possui uma enorme certeza de voto consolidada entre seus eleitores. Atingir Bolsonaro hoje pode ser pouco efetivo e o precioso tempo do debate pode ser usado de forma mais estratégica. Política não se faz com o fígado, mas com a cabeça.

Este será o primeiro passo de uma campanha imprevisível e que já começa quente. Enxergar como se portarão os candidatos já apontará a estratégia que cada um desenhou para sua campanha. O jogo começou.

terça-feira, agosto 07, 2018

Estratégia Petista

O PT começou a concretizar sua estratégia de poder. O anúncio de que Fernando Haddad ocupará o posto de vice de Lula é mais um passo nesta direção. Como a impugnação da candidatura é considerada como certa nos meios políticos, Haddad pularia para a cabeça de chapa e Manuela D'Ávila, do PC do B, ocuparia o posto de vice.

Os movimentos do partido foram além do esperado na semana que passou. Em uma aliança silenciosa  com o PSB, acertou que os socialistas não apresentariam candidato e que se apoiariam mutuamente em um par de estados. As direções regionais reclamaram, mas certamente irão se enquadrar ao comando central dos partidos. Na chapa petista foi incorporado o PC do B e também era esperada a chegada do Pros.

A estratégia é manter Lula na cabeça de chapa, embaralhando o quadro sucessório e fazendo com que seus votos não se percam em outras candidaturas. Quando chegar o momento da impugnação e o fim dos recursos, Haddad assume formalmente o posto e tenta uma vaga no segundo turno. Jaques Wagner, também cotado para o posto, concorrerá em uma eleição segura para o Senado pela Bahia.

Apesar de muitos alegarem que o petismo está morto depois do impeachment, acredito no contrário. O partido está vivo e possui chances reais de vitória nesta eleição presidencial. Considerando que 20% do eleitorado brasileiro se considera petista, depois que Haddad receber a benção de Lula, alcança condições reais de chegar ao segundo turno. Sua candidatura desidrata os números de Ciro e deve jogar o petista, que já pontua por volta dos 6%, para cerca de 15%.

O jogo apenas começou. O PT começou colocar suas cartas na mesa.

segunda-feira, agosto 06, 2018

Guinada Conservadora

Bolsonaro segue sendo o principal personagem desta eleição. Isto ocorre não somente por liderar as pesquisas, mas porque tornou-se o centro das atenções dos seus opositores. Entretanto, sua estratégia vai além. Falando de forma simples, diretamente ao brasileiro médio, alcança uma conexão que poucos políticos conseguiram estabelecer com o eleitorado.

Vivemos tempos de sentimento de renovação e de uma revoada conservadora pelo mundo. É natural, como em outros momentos, que o Brasil seja influenciado por essas ondas. Bolsonaro se aproveita disso e apesar de ser classificado como raso e superficial, até o momento foi o único que conseguiu posicionar seu discurso nesse sentido.

A opção de Geraldo Alckmin foi a oposta. Usa modelos antigos, como alianças amplas, privilegiando o tempo de televisão, apoios de políticos tradicionais e divisão dos cargos entre a velha política para vencer as eleições e governar. Contudo, vivemos em um período de entressafra política, que ocorre a cada 30 anos, que tende pela rejeição ao sistema, algo que geralmente resulta em renovação, levando aqueles que se posicionam como outsiders ao poder.

Assim como Bolsonaro, Álvaro Dias entendeu este movimento, mas não conseguiu até o momento criar esta conexão direta com o eleitor. Hoje posiciona-se como uma opção racional entre Bolsonaro e Alckmin. O candidato do Podemos, que fala sobre a refundação da República, busca representar um centrismo renovador, sem alianças com as velhas estruturas de poder e tenta dialogar diretamente com as ruas. Corre o risco que não agradar ambos os lados, sendo jogado em um limbo eleitoral estacionado nos 6%, porém, se sua estratégia vingar, pode drenar eleitores de Alckmin e Bolsonaro e decolar.

Percebemos que todos estes candidatos buscam transitar na mesma faixa do eleitorado, mas por caminhos opostos. Alckmin segue a trilha mais segura, as vias mais conhecidas, dentro da política tradicional onde foi forjado. Álvaro é mais ousado que o tucano, entende mais claramente o movimento do eleitor e busca uma fórmula alternativa, porém com prudência. Bolsonaro resolveu atacar as estruturas tradicionais e posiciona-se como outsider. A hostilidade da mídia tradicional e os ataques viscerais de seus opositores, apenas consolidam esta imagem.


O ponto central do debate é até que ponto o sentimento de renovação será a tônica desta eleição presidencial. Quanto mais reforçado estiver este movimento, maiores as chances de Bolsonaro. Se este sentimento refluir, Alckmin tem mais chances de se viabilizar, com Álvaro correndo por fora nestes dois cenários. O fato central é que o eleitorado mostra uma guinada conservadora e aquele que souber explorar melhor este fenômeno, na calibragem correta, tem grandes de chegar ao segundo turno e inclusive vencer as eleições. Até o momento, que soube explorar melhor este caminho foi Bolsonaro.