quarta-feira, outubro 31, 2018

Quarto Poder

A grande imprensa bateu muito em Bolsonaro. No início não era levado a sério, mas quando seus números começaram a ficar robustos, as baterias se voltaram contra ele. Neste caso, a estratégia teve resultado oposto, pois quanto mais a imprensa batia no candidato, mais ele crescia e se consolidava. Ninguém entendeu o fenômeno que se desenhava.

Bolsonaro foi eleito dentro de uma agenda antisistema. Sua estratégia esteve calcada desde o começo neste aspecto e o enfrentamento com a mídia tradicional somente fortaleceu esta frente. O eleitorado estava ciente que buscava um nome que estivesse fora das estruturas de poder e neste caso, aqueles badalados na imprensa nacional e famosos nos corredores da política, não teriam chance.

O mais curioso foi enxergar a insistência no erro. As pautas levadas para discussão com o agora Presidente-Eleito eram sempre as mesmas, ou seja, temas que ele estava preparado para responder com desenvoltura, pois eram as pautas habituais. Ao tentar desconstruí-lo, acabaram por fortalecer seu posicionamento de outsider.

O mesmo ocorreu com Donald Trump. Enquanto a mídia engajada tentava desconstruir sua imagem, sua postura de outsider se fortalecia e seus números nas pesquisas se tornavam mais robustos. Até o final perdurou a tentativa de desconstrução de sua figura. Uma posição que acabou somente por se tornar mais um de seus trunfos. Com Trump no cargo, ainda sem entender o fenômeno, a mídia manteve-se na ofensiva. Foi música para os ouvidos do republicano.

O mesmo se repete no Brasil. Depois de ofensiva furiosa na última semana de campanha, nada parece ter mudado com sua eleição. A grande imprensa do eixo Rio-São Paulo segue na mesma linha adotada pelas publicações americanas com Trump, jogando no ataque. A falta de entendimento das estratégias políticas e de leitura do cenário faz com que a mídia siga jogando uma partida no campo adversário. Uma rejeição, que ao cegar parte do jornalismo, fez com que a imprensa tradicional perdesse o controle da narrativa.

terça-feira, outubro 30, 2018

Núcleo Duro

O pleito presidencial acabou e a nova equipe já começou seu trabalho. O Presidente Michel Temer colocou estrutura disponível para time de transição e indicou o Ministro Eliseu Padilha como líder do grupo do lado do governo atual. Temos tudo para encarar uma transição republicana, seguindo o padrão de cordialidade do atual Presidente. Do lado do novo governo, o futuro Ministro Chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni coordenará os trabalhos.

Com estes movimentos, o Presidente-Eleito vai fornecendo sinais sobre o seu núcleo duro do governo. O nome de Onyx, deputado federal como Bolsonaro, encabeça a lista ao lado de Paulo Guedes. O Vice Presidente-Eleito Hamilton Mourão completa o grupo, mostrando que não teremos uma figura decorativa no Palácio do Jaburu, mas um articulador eficiente que também circulará pelas esferas de poder. 

Este núcleo já se reuniu no Rio de Janeiro hoje. Paulo Guedes mostrou que manterá sob sua guarda um ministério da economia fortalecido, absorvendo as pastas do planejamento e da indústria e comércio. O empresariado que visitou Bolsonaro na semana que passou e solicitou a revisão desta fusão não obteve êxito. Como forma de desenvolver políticas harmônicas, tudo ficará sob a responsabilidade de Guedes. 

Outro pleito que não foi revisto reside na área de agricultura. A fusão entre as pastas da Agricultura e Meio Ambiente foi confirmada, mesmo diante da pressão de grupos contrários. 

Mais do que qualquer coisa, o que vimos hoje foi uma harmonização do discurso entre os principais membros da equipe ministerial A estrutura central de um governo reformista, como este que se apresenta, precisa estar sintonia e falar no mesmo tom, com a mesma mensagem. Hoje efetivamente começou o governo Bolsonaro. 

Lições do Pleito

Encerrado o processo eleitoral mais interessante dos últimos tempos, podemos tirar conclusões claras das mensagens emitidas pelo eleitor. Antes de qualquer coisa, havia um desejo forte de renovação. Esta tônica abalou as estruturas da política tradicional e também as correlações de poder. Mas este era apenas o primeiro passo. O caminho trilhado pelas urnas deixava claro qual o rumo que o país iria adotar ao final do pleito.

A primeira conclusão é simples. Como escrevi nesta coluna mais de um ano atrás, estávamos diante de um processo eleitoral denso, que encerra um ciclo de 30 anos da política brasileira, iniciado com a redemocratização. Nosso país tem esta característica e produz a cada três décadas uma mudança de fundo nas estruturas de poder. Um processo que começou em 2013, encontrou seu ápice em 2018. 

Dentre tantos reflexos que enxergamos neste pleito, vimos o surgimento de um movimento conservador, orgânico e que encontrou respaldo na sociedade. Pela primeira vez em muito tempo a direita conservadora encontrou candidatos que transmitissem suas plataformas e defendessem suas agendas. No mesmo lado, vimos a chegada de uma direita liberal, algo impensado até pouco tempo atrás. Em suma, mais do que qualquer movimento, 2018 serviu como renascimento da direita política. 

Certamente a realidade que se impõe ao novo Presidente está inserida dentro desta nova correlação de forças. Temos uma esquerda definida liderada pelo petismo de um lado e uma força localizada na direita liderada pelo conservadorismo. Dentro desta dinâmica, ocorrerão as negociações e a discussão da pauta do novo governo. Um binômio de forças políticas definidas que lutará para atrair os votos de um centro que se tornou um consórcio de poder liderado por partidos médios. 

Para além de tudo, 2018 inaugura uma nova forma de fazer política e também de fazer campanha. Algo que já havia ficado claro na disputa local para a prefeitura de Belo Horizonte e que tornou-se uma realidade por todo o país. O tempo de rádio e televisão não garantiu aos donos do mais largo latifúndio qualquer vantagem na disputa. Muito pelo contrário, o destaque foi para o candidato sem tempo de televisão que soube usar as redes sociais a seu favor mudando um importante paradigma das eleições brasileiras. 

Este período marca um novo começo, com a quebra de um ciclo que sobreviveu por três décadas. O novo Presidente é apenas o amálgama de uma série de insatisfações que fazem parte da vida do brasileiro, pautas difusas e de diversos grupos. Unir estas pautas dentro de uma agenda comum é o grande desafio, deslocando a narrativa para o seu campo. A partir de agora será preciso construir. Um novo caminho, sob novas bases, diante de uma nova realidade. Um novo ciclo se inicia.

domingo, outubro 28, 2018

Mão na Faixa

Tenho recebido muitas mensagens com dúvidas sobre o resultado eleitoral deste domingo. Como acompanho eleições há pelos 25 anos e conheço os institutos de pesquisa por dentro, deixo algumas considerações sobre a eleição deste domingo.

Seguindo a tendência eleitoral do primeiro turno + as semanas de segundo turno, a tendência inequívoca é a eleição de Jair Bolsonaro.

Ele deve vencer com cerca de 60% dos votos, podendo alcançar entre 58% e 63%, chegando ao redor dos 60 milhões de votos.

Não há chance real de Bolsonaro ser alcançado por Haddad. A narrativa da imprensa, de um modo geral, é em favor do candidato do PT, como previ aqui. Assim como disse que muitos líderes políticos, especialmente ligados ao tucanato, apoiariam o petista.

A narrativa é de desgaste de Bolsonaro e onda petista. Mas isto não se comprova nas pesquisas e nas ruas. O PT tentou, sendo ecoado pela imprensa tradicional, criar fatos sucessivos, especialmente na última semana, para virar a eleição. Não teve aderência em qualquer camada da população.

Ao contrário da narrativa do senso comum, adiantei aqui que o candidato do petismo seria Haddad, que os tucanos escolheriam Alckmin, que haveria uma aliança em torno do tucano, mas que o tempo de televisão e rádio não fariam ele sequer se mover nas pesquisas. Afirmei que esta é uma eleição atípica, similar ao pleito de 1989 e sem qualquer relação entre os pleitos que ocorreram nas últimas três décadas. Desenhei a tese, há quase dois anos, em coluna no jornal O Tempo, que a sociedade brasileira opera uma mudança de fundo na política a cada trinta anos e que este processo começou em 2013 e chegaria ao seu ápice em 2018 com a eleição de um outsider.

Bolsonaro encarnou a figura do outsider melhor do que qualquer outro candidato, assim como Collor em 1989, Jânio em 1960 e Getúlio em 1930 (que perdeu, mas chegou ao poder). Todos quebraram o sistema político anterior, refundando as bases que iriam guiar a política pelos 30 anos posteriores. Alerto que viveríamos este processo novamente em 2018, portanto, candidatos como Alckmin não teriam qualquer aderência no pleito.

A onda que irá eleger Bolsonaro neste domingo se originou na inconformidade do povo com as estruturas de poder e a fadiga do modelo de bem estar social implementado pela Constituição de 1988, que estrangulou o Estado e as contas públicas. Este movimento começou com as manifestações de 2013 e chega ao seu ápice com a faxina geral na política, impulsionada pela Lava Jato, nas eleições de 2018.

Portanto, a onda maior, que move as estruturas da República, levará ao poder alguém que esteja disposto a duelar com o sistema. Não existe uma onda eleitoral que impeça a onda maior. Se há uma pequena reação de Haddad na reta final, é comparável a uma marola, enquanto aquela que elegerá Bolsonaro é um tsunami de proporções épicas que passa pelo Brasil a cada 30 anos e que desta vez chega impulsionado por uma reação conservadora.

Minas Gerais é o estado que prevê o resultado das eleições. Mesmo se levarmos em consideração os números de Datafolha e Ibope, Bolsonaro vence em Minas com folga. 60% - 40% Pró-Bolsonaro no Ibope e 59% - 41% no Datafolha. Isto deve medir o que acontecerá nacionalmente com apenas um detalhe - Ibope e Datafolha, por realizarem medições presenciais, não captam o voto silencioso, grande aliado de Bolsonaro como visto no primeiro turno. Por isso, o capitão pode acabar com números acima da medição Ibope/Datafolha em Minas Gerais.

Estamos falando de uma distância de 17 a 20 milhões de votos pró-Bolsonaro neste domingo. Ele deve ultrapassar a marca de Lula em votos absolutos (58 milhões) em 2006 e talvez seu percentual em 2002, 61,27%. Como já escrevi aqui, Bolsonaro está diante de vitória maiúscula.

sexta-feira, outubro 26, 2018

Reação Conservadora

Muitos se perguntam de onde saiu Jair Bolsonaro e a força que demonstrou possuir nesta eleição. A resposta é simples. Bolsonaro representa uma reação ao politicamente correto e a tomada das instituições pelas chamadas forças progressistas de esquerda. O candidato do PSL encarnou melhor do que ninguém as insatisfações daqueles que foram deixados para trás pelo domínio da agenda pelo viés progressista.

As políticas de esquerda, seja de cunho social democrata, como nos anos Fernando Henrique, seja da vertente sindical, nos anos Lula e Dilma, privilegiaram um resgate de uma agenda pautada por grupos específicos, que aos poucos dominaram o discurso político e as instituições. Uma visão de pensamento único que excluiu do debate liberais e conservadores, que foram colocados a margem do processo.

A Constituição de 1988 é uma das responsáveis por este processo, por fornecer enormes obrigações ao Estado e direitos difusos. Nada mais normal depois de um período autoritário, mas a fadiga desta visão de mundo também chegaria e resolveu começar a aparecer nas manifestações de 2013. Vivemos apenas o ápice deste movimento.

Por certo outro nome poderia ter capturado a vontade intrínseca do eleitorado por uma mudança de fundo no panorama político, entretanto, Bolsonaro foi aquele que se apresentou sem medo de enfrentar o lugar comum e o discurso progressista atual. Nenhum outro candidato se expôs como Bolsonaro, certamente diante do receio de não serem bem aceitos. Fato é que aquele que enfrentou abertamente o discurso progressista, conseguiu aderência nos tecidos da sociedade.

O capitão, que provavelmente se converterá em Presidente da República, lidera um processo de reação conservadora ao discurso dominante nas últimas décadas. Se conseguirá deslocar o eixo da narrativa construída por muito tempo pela esquerda, é uma incógnita, mas finalmente o eleitorado conservador encontrou um candidato para chamar de seu. A coragem em assumir estas bandeiras e lutar por elas é o grande feito de Bolsonaro. Um feito que provavelmente levará o capitão ao Planalto.

quinta-feira, outubro 25, 2018

Diferença Elástica

A diferença que separa Bolsonaro de Haddad é enorme. Praticamente impossível de ser tirada em tão pouco tempo. Enquanto o PT busca fatos novos que possam servir como uma bala de prata para seu candidato, Bolsonaro mostrou-se incomodado com a falta de mobilização de sua militância no segundo turno. Ambos estão preocupados em vencer, mas ao lado disso, está um ponto seminal: o tamanho da diferença entre ambos.

Se Bolsonaro vencer com um placar dilatado, com uma margem maior daquela obtida por Lula em 2002, seu eleitorado estará emitindo uma forte mensagem, algo que tem um peso enorme ao assumir o cargo. O tamanho da legitimidade de Bolsonaro será do tamanho da diferença que conseguirá construir. Não adianta vencer, mas precisa vencer bem.

Do lado de Haddad, mesmo aqueles que ainda acreditam em uma improvável virada, na verdade estão mais preocupados em diminuir a distância que separa ambos, pois não desejam que o capitão chegue ao Planalto amparado por uma vitória maiúscula, algo que fortalece sua agenda e enfraquece a oposição. Ao diminuir esta diferença, o petismo não sairia do processo carregando a humilhação de ter sido derrotado pela margem mais elástica da história.

Isto explica a determinação do PT em desconstruir Bolsonaro usando todos as frentes possíveis neste segundo turno. Até o momento, apesar de não ter conseguido virar o jogo, conseguiu desgastar um pouco a campanha do capitão, que perdeu pontos, mas se mantém amplamente na frente.

Bolsonaro ocupou as redes sociais para iniciar o contra ataque. Pediu mais empenho para sua militância alegando que não existe eleição ganha e que é necessário todo o esforço para garantir a vitória. Os deputados eleitos com seu apoio teriam o dever de se engajar para que uma vitória robusta seja construída.

Ambos sabem o valor intrínseco de uma vitória maiúscula ou apertada. Lula em 2002 chegou com enorme legitimidade ao Planalto, ao passo que Dilma, que venceu Aécio nos acréscimos, se tornou uma Presidente fraca e sofreu impeachment. A conferir.

terça-feira, outubro 23, 2018

Postura Presidencial

Os ataques se intensificam na medida que Bolsonaro constrói sua vitória com maior folga. Dependendo das pesquisas, suas intenções de voto variam entre 58% e 65%. Deve vencer com uma larga margem, o que fornecerá legitimidade e um mandato claro da população brasileira, talvez com a maior margem e contingente de votos recebidos por um candidato na história da política nacional.

Do outro lado, Haddad tem dificuldade em aceitar a derrota e o petismo já avisou que cairá atirando. É que temos visto nesta última semana, com vídeos requentados, matérias sem apuração e denúncias que até o momento nada produziram de concreto. O PT procura intensamente um fato novo que possa virar a eleição na última semana, mas diante dos fatos, esta parece uma realidade cada vez mais distante.

Entretanto, os ataques levaram a uma mudança de postura de Bolsonaro, que surge mais ponderado e sereno nas entrevistas, vestindo a postura presidencial que deve adotar a partir de domingo. Este é o ponto de inflexão do momento. O comportamento presidencial de Bolsonaro surpreende os seus opositores e ajuda na construção da imagem de liderança que procura passar neste final de campanha.

Esta mudança alcançou não somente o comportamento diante das câmeras, mas assegurando seu compromisso com as instituições. A carta enviada ao decano do STF, Celso de Mello, deixa clara esta postura firme que fortalece o compromisso com a democracia -o que desmonta uma das principais linhas de ataque de seus opositores.

Diante desta inflexão final de campanha, Bolsonaro neutraliza os opositores e encaminha a vitória com tranquilidade. Realiza o movimento estratégico político certo neste momento. Nesta etapa, Haddad, que falhou na tentativa de montar uma frente ampla, parece sem alternativa. Bolsonaro soube reagir aos ataques da maneira mais imprevisível possível, assumindo previamente a postura que muitos duvidam que teria mesmo depois da eventual posse. Um movimento que consolida sua cada vez mais provável vitória.

sexta-feira, outubro 19, 2018

Desespero Petista

A reportagem da Folha de São Paulo que acusa empresários de patrocinarem ações pró-Bolsonaro via whatapp ainda precisa ser verificada e apurada. Um dia depois de publicar uma notícia que mexe com a dinâmica das eleições, o jornal ainda não apresentou provas das acusações, o que enfraquece seu argumento. Se de um lado a Folha ainda precisa ir mais a fundo, ser mais precisa, com vistas a evitar a acusação de estar produzindo notícias falsas ou de verdades elásticas, do outro, o PT aproveitou o gancho para esticar a corda, o que torna-se um risco para nossa democracia.

Haddad pediu a exclusão de Bolsonaro do processo eleitoral, enquanto o PSOL, atuando como linha auxiliar, solicitou a suspensão do serviço de whatsapp no Brasil para evitar a disseminação das chamadas "Fake News". Na falta de votos, o petismo está jogando as fichas no tapetão, uma atitude que somente diminui ainda mais o tamanho do partido. Uma atitude que flerta com aquilo que o PT mais acusa Bolsonaro: autoritarismo. A face autoritária do partido de Lula sempre aparece quando o petismo encontra-se acuado eleitoralmente.

Ao acusar o adversário de fraude e de fomentar uma organização criminosa, Haddad esquece de olhar para seu partido, descredencia a democracia e o processo eleitoral brasileiro, subvertendo a vontade popular expressa nas urnas. Diante da iminente derrota, prepara o discurso oposicionista e os futuros movimentos de tentativa de destituição de um governo que sequer foi eleito. O partido mostra assim que não está disposto a discutir o país, mas apenas em tomar o poder. É uma pena, pois fica claro que no jogo democrático, as regras valem para o petismo somente em caso de vitória. Uma atitude mostra desprezo pela democracia.

Na mesma linha vai o pedido do PSOL para bloquear o whatsapp. A tese parte do princípio de que notícias falsas transitam apenas por este aplicativo e que o eleitores não possuem capacidade de discernimento, sendo necessário suprimir a liberdade para garantir a democracia. Ora, não existe democracia sem liberdade.

O objetivo estratégico petista visa impedir o crescimento de um candidato que faz sua campanha basicamente usando as redes sociais, desacreditar o pleito e a confiança em nossa democracia já embasando as linhas de ação de um projeto de oposição que não tem o menor interesse em discutir os melhores caminhos para o país. Diante desta triste realidade, ficou mais claro quem são os verdadeiros autoritários que flertam com a irresponsabilidade nesta campanha eleitoral.

quinta-feira, outubro 18, 2018

Os Erros de Haddad

O jogo se complica para o petismo a cada nova pesquisa divulgada pelos institutos. Se havia entusiasmo pela escalada meteórica de Haddad no primeiro turno, impulsionada pela associação com Lula, no segundo, parece que a estratégia certa está longe de ser encontrada. A crise chegou nas hostes petistas.

Haddad não conseguiu crescer acima dos simpatizantes do seu próprio partido. 20% do eleitorado se considera petista, patamar atingido pelo candidato rapidamente depois do apoio de Lula. A escalada para perto dos 30 pontos foi diante dos simpatizantes do PT, mas para além disso, o candidato tem enorme dificuldade de crescer.

Isto se explica pela onda conservadora que vem crescendo e consolidando cada vez mais a posição de Bolsonaro, calcada no antipetismo e na narrativa antisistema. Do outro lado, diante da vitória maiúscula do conservador no primeiro turno e na larga margem aberta nesta segunda etapa, a campanha petista entrou estado de alerta, dando início a confrontos internos.

Isto não ajuda o candidato do PT, que perdeu o discurso e o caminho assim que desembarcou no segundo turno. A troca dos slogans e cores de campanha irritaram a militância tradicional do partido e não ajudaram a conquistar mais votos. Haddad acreditava que seria possível construir uma frente ampla contra Bolsonaro, com apoios nos partidos de centro e especialmente a adesão de caciques do PSDB. Com isso, poderia tentar construir a narrativa da democracia contra o autoritarismo e do progressismo contra o conservadorismo. A tática não funcionou. Sozinho, Haddad tentou uma imagem mais centrista, sem contudo obter apoios mais o centro.

Diante do erro estratégico e da falta de articulação política, ao invés de crescer, Haddad vem caindo e enxergando sua rejeição crescer a cada pesquisa. A curva que se abre entre as intenções de voto de Bolsonaro e do petista é sintomática do momento vivido pelo candidato de Lula. Diante deste cenário, a vitória de Bolsonaro pode se tornar ainda maior e mais significativa do que a de Lula em 2002.

Neutralidade Marota

Depois de totalizados os votos, com a confirmação de que o segundo turno seria entre Bolsonaro e Haddad, começaram as movimentações em busca de apoio dos partidos e candidatos derrotados na primeira fase. Enquanto de um lado o bloco de agremiações de esquerda se uniu em tornou de Haddad e PTB e PSC rumaram na direção de Bolsonaro, a maior parte dos partidos fez a opção marota pela neutralidade.

Sabemos que um dos principais pecados na política é a omissão. A opção pela neutralidade mostra o tamanho da insegurança que ronda os principais caciques partidários, quase que em sua totalidade abatidos pelas urnas. A limpeza que o população promoveu na última semana ligou o sinal de alerta para os políticos. O eleitor em fúria apresentou-se para votar com o fígado e seu recado ecoou nas direções partidárias.

O objetivo de declarar a neutralidade é liberar os candidatos dos diferentes estados, especialmente aqueles que enfrentam o segundo turno, para buscar seu próprio caminho, sem fechar portas. Como estamos diante de duas propostas antagônicas, assumir declaradamente o apoio, tanto a Haddad como Bolsonaro, pode obstruir canais que levam a votos importantes.

Os tucanos entraram em crise. Diante do fiasco de Alckmin as brigas internas já começaram e o partido saiu rachado. Enquanto Fernando Henrique diz que não votará em Bolsonaro, Doria segue em sentido oposto, assim como Expedito Júnior em Rondônia, Eduardo Leite no Rio Grande do Sul e Reinaldo Azambuja no Mato Grosso do Sul. Permanecem neutros ou indefinidos os candidatos ao governo de Minas Gerais, Antônio Anastasia e Anchieta Júnior em Roraima – neste dois estados os oponentes Romeu Zema e Antonio Denarium já estão com Bolsonaro.

A neutralidade serviu, de um lado, para evitar a contaminação do antipetismo em candidaturas que poderiam ser facilmente prejudicadas pela associação com a opção por Haddad, como Rodrigo Rollemberg no Distrito Federal, Valadares Filho em Sergipe, Eduardo Paes no Rio de Janeiro e Márcio França em São Paulo. Do outro lado, visa trazer prudência em um segundo turno em que Bolsonaro mostra-se cada vez mais perto da vitória.


O condomínio chamado centrão somente espera a confirmação do vencedor para tentar impor seu jogo. A neutralidade marota faz parte da estratégia de se posicionar diante do novo governo. A opção preferencial é por Haddad, pois em uma eventual administração petista sabem seu lugar no jogo, ao contrário de um Planalto comandado por Bolsonaro – onde paira a incerteza para fisiologismo. A eleição do candidato do PSL tende a romper com as estruturas tradicionais de negociação e irá diminuir o poder da burocracia, um movimento que assusta os partidos, mas seduz o eleitor.

terça-feira, outubro 16, 2018

Bolsonaro Consolidado

A margem aberta por Bolsonaro nas projeções de segundo turno é do tamanho da indignação do eleitor, algo que corrobora a tese de que os institutos tradicionais erraram feio na medição da rejeição. Ibope e Datafolha apontavam para o fato de que Bolsonaro perderia para qualquer candidato na reta final. Um argumento que foi inclusive usado por opositores para tentar a migração do voto útil para suas campanhas, uma estratégia que não funcionou.


Ao contrário, o alto índice de rejeição apontado pelas pesquisas fez Bolsonaro avançar ainda mais, direcionando o voto útil no capitão para que ele ganhasse ainda no primeiro turno. Na última semana nasce uma onda pró-Bolsonaro que se torna um efeito manada, que chegou perto de entregar-lhe a vitória já na primeira rodada. Alckmin, Alvaro e Meirelles desidrataram. Amoedo resistiu.  

Minas Gerais aponta para uma vitória folgada de Bolsonaro. O estado possui a característica de apontar a tendência nacional sem nunca ter errado os caminhos de uma eleição nacional. Entre os mineiros, o candidato do PSL já atinge 70% dos votos. Isto mostra que no quadro nacional a tendência é que Bolsonaro amplie ainda mais a vantagem que possui sobre Haddad, hoje entre 18 e 19 pontos. No dia da eleição pode chegar a mais de 25 pontos. Se isto se confirmar, o petismo terá sofrido mais dura derrota eleitoral da história, uma surra que não está acostumado a enxergar nas urnas.

Bolsonaro lidera em todos os estratos testados nas pesquisas, mas especialmente entre as mulheres, com 47% contra 36% de Haddad. Sua rejeição neste grupo também é menor, ou seja, as mulheres rejeitam muito mais o petismo do que Bolsonaro. Haddad vence apenas no Nordeste, entre os que ganham até um salário mínimo e possuem apenas o ensino fundamental. Sem fatos novos, o jogo está praticamente selado.

O capitão deve chegar a vitória com folga embalado pelo antipetismo e pela indignação do eleitor. Conseguiu um feito inédito, embalar a eleição de uma bancada conservadora de 52 deputados que ainda deve receber novos membros batendo nos 70 deputados, tornando-se o maior partido da Câmara. Este movimento de renovação impulsionou também os candidatos da direita liberal que chegaram a oito cadeiras. Bolsonaro deve governar diante de uma base de direita de praticamente 80 deputados. Para quem falava em governabilidade, uma realidade que se impõe.

sexta-feira, outubro 12, 2018

Bolsonaro dispara em Minas

Se depender de Minas Gerais, o próximo Presidente será Bolsonaro. Depois de chegar no primeiro turno em terras mineiras com 48% dos votos contra 27% de Haddad, nas projeções atuais aparece com praticamente 70% contra 30% do petista.

Minas Gerais pode ser o fiel da balança e decidir as eleições, mas vai sempre além disso, pois é um termômetro que consegue medir com exatidão o que acontece no Brasil. As características do estado reproduzem de forma fiel o país, portanto, ao testar um candidato no estado, podemos ter uma ideia aproximada do que está acontecendo no quadro geral.

Nacionalmente, no primeiro turno, Bolsonaro obteve cerca de 46% e Haddad 29%, muito próximo dos números que obtiveram em terras mineiras. Tudo indica que a vantagem elástica que abriu no estado nas sondagens atuais, seja confirmada no quadro nacional e sua vitória seja mais contundente do que tem sido projetada.

Mesmo assim, algumas sondagens de cunho nacional trazem outro cenário, que apesar de confortável, é considerado mais apertado, o que fornece esperanças para o petismo. O sentimento geral, entretanto, inclusive pela escolha do novo Congresso, é de uma linha ascendente da direita, enquanto a esquerda segue na direção descendente. Em Minas, onde o PT ficou fora do segundo turno, Haddad segue sem palanque, visto que a maioria dos eleitores de Zema e Anastasia tendem a votar com o capitão.

A única saída para o petista é partir para o ataque e tentar atingir Bolsonaro, como tem feito. Do outro lado, a defesa também corre pela raia do contra-ataque. Será assim até o final, uma vez que o segundo turno é mais uma disputa entre as rejeições do que baseada em proposições.

Minas Gerais, assim como Ohio nas eleições americanas, deve servir de termômetro para o que deve acontecer no Brasil. Portando, se você deseja se adiantar sobre o que vem por aí neste segundo turno, fique atento a tendência do eleitor mineiro. Até o momento, o estado projeta uma vitória contundente de Bolsonaro.

quarta-feira, outubro 10, 2018

Refundação Tucana

Diante do resultado eleitoral do último domingo, não houve maior derrotado do que o PSDB. A fracasso do Presidente do partido e candidato ao Planalto, Geraldo Alckmin, foi amargo e trará muitos desdobramentos para o futuro incerto dos tucanos.

Ao perder o discurso antipetista, viu sua popularidade evaporar, com claros reflexos no tamanho da bancada eleita na Câmara dos Deputados. Com 29 parlamentares, o PSDB se tornou apenas a nona força da Casa, atrás de partidos como PP, PSD, PSB, MDB e PR. Os tucanos precisam avaliar com muita atenção os erros cometidos sob pena de entrar em derretimento. 

A troca geracional do PSDB é um assunto que vem ganhando corpo desde a votação das denúncias contra o Presidente Michel Temer. Os cabeças pretas, como são chamados os parlamentares mais jovens, entraram em conflito com os cabeças brancas, fundadores e comandantes do partido, gerando um desgaste que ainda pode ser sentido. Com a derrocada de Alckmin, a tendência é que a velha guarda finalmente abra passagem para os novos nomes, donos de votos que ainda mantém o partido de pé. 

Ao se impôr como candidato presidencial, Alckmin atingiu em cheio o partido. A falta de leitura do cenário político, que se pautou pelo conservadorismo e antipetismo, fez sua campanha naufragar. Ao atacar o líder das pesquisas, sua impopularidade disparou. Diante uma campanha refém de estratégias erradas, acabou gerando um desgaste que afetou todos os candidatos do PSDB, responsável pela derretimento da bancada na Câmara dos Deputados. 

O PSDB precisa de ser refundado por suas novas lideranças, efetivando uma mudança geracional expressa nas urnas, aposentar as antigas lideranças e abrir espaço para aqueles que hoje tem voz e voto no parlamento. Ao prorrogar este movimento, os tucanos podem estar se dirigindo para um caminho sem volta e uma derrocada ainda maior. O resgate de um partido rachado e combalido é tarefa fundamental das novas gerações de líderes tucanos.

segunda-feira, outubro 08, 2018

Eleitor em Fúria

O resultado eleitoral deste domingo deixou um recado muito claro para os políticos: o eleitor cansou. Isto tem íntima relação com o momento que estamos vivendo, de reorganização do tecido político com o fim da Nova República. As velhas práticas e estratégias não funcionam mais, assim como os nomes tradicionais e antigas alianças.

O recado começou a ser dado nas manifestações de 2013 e foi crescendo na medida que os políticos testavam a paciência do eleitor. Veio o impeachment e logo depois as eleições municipais e um grande recado. A população queria administradores novos aos invés de políticos tarimbados. Dois fenômenos explicaram isso: a ascensão de João Doria em São Paulo e especialmente a escolha de Alexandre Kalil para governar Belo Horizonte.

Aqueles que não entenderam o recado das ruas, sucumbiram na noite deste domingo. A renovação profunda do Senado deixa evidente a vontade de mudança do eleitor. Nomes da política tradicional foram abatidos por novatos e outros que não possuem sequer tradição neste meio. Houve uma mudança profunda nos protagonistas e os reflexos serão sentidos em breve.

A votação expressiva obtida por Bolsonaro está intimamente ligada ao movimento do eleitor. Existe um movimento sólido e organizado de direita no Brasil, um grupo que busca voz e participação. O deputado apenas serviu de porta-voz da soma de insatisfações de uma parcela significativa da sociedade, somada ao sentimento geral de indignação com a classe política.

A velha política se apresentou para o jogo e o resultado foi pífio. Geraldo Alckmin teve o desempenho mais fraco de um tucano concorrendo ao Planalto. A aglutinação de forças do establishment em torno de sua candidatura mostrou uma tentativa de reação da classe política, que acabou sucumbindo diante da vontade de renovação do eleitor.

Se o antipetismo tivesse se concentrado em Bolsonaro, provavelmente a fatura seria liquidada no primeiro turno. A divisão de forças jogou o embate para o final de outubro. A tendência é que seja muito disputada e aberta, apesar do petismo ter sido fortemente abatido no primeiro turno nas eleições proporcionais e para os estados.


A fúria do eleitor teve este resultado expresso nas urnas. Em três semanas saberemos se será ampliada do Congresso para o Planalto. A conferir.