terça-feira, outubro 21, 2014

Sobre o Datafolha

Poucos analistas e jornalistas políticos no Brasil se arriscam a fazer previsões, mas são mestres na arte de apresentar explicações. No caso da pesquisa Datafolha, apesar de praticamente ninguém prever a inversão entre Aécio e Dilma, no dia seguinte sobram explicações. Geralmente estas pessoas olham os dados divulgados e apresentam justificativas infantis, como "a queda de Aécio no Sudeste está relacionada ao problema da água em São Paulo". Sinceramente, os movimentos eleitorais estão muito distantes desta explicação simples e banal.

Em uma eleição muito disputada como a que estamos vivendo, inequivocamente a metodologia adotada, horário de abordagem e um outro número enorme de fatores contribuem para oscilações. Portanto, enquanto o Sensus apresenta um resultado, Datafolha chega a outra conclusão e outro institutos, como Veritá ou até mesmo Ibope, também apresentam variações.

Pesquisas não são quadros definidos. Muito pelo contrário. Pesquisas indicam movimento. Logo, é preciso olhar uma série delas para conseguirmos entender por onde está caminhando o eleitorado. Logo, puxar os dados de uma sondagem e tentar explicar movimentos, para usar uma palavra que está na moda, chega a ser leviano. É preciso mais de uma pesquisa, mais de um instituto apontar com clareza uma mudança.

O que o Datafolha nos mostra é um começo de movimento, de acordo com a metodologia usada pelo instituto, não captada pelos concorrentes. Estes, por sua vez, entenderam a intensidade de movimentos do primeiro turno ignorados pela dupla Ibope-Datafolha. De qualquer forma, dizer que Aécio enfraqueceu no Sudeste ou Dilma cresceu entre as mulheres e buscar as explicações para isso tendo como base tão somente uma simples sondagem é fazer jornalismo político pouco sadio dentro de um processo eleitoral.

O fato é que essas oscilações, em uma dinâmica eleitoral tão embaralhada e disputada, é algo perfeitamente normal. Não me surpreenderia se o mesmo instituto mostrar nos dias finais da campanha os dois candidatos rigorosamente empatados - aí será ouvido que isto ocorreu porque Aécio, por exemplo, concentrou esforços no Sudeste nos últimos dias. Balela. As oscilações em uma eleição aguerrida como esta são movimentos naturais e o resultado das sondagens, lembro mais uma vez, dependem da metodologia e até do material gráfico apresentado aos entrevistados. São muitos detalhes.

Na minha opinião, Aécio lidera por uma pequena margem, muito pequena, algo que não chega a 2%. É muito pouco e fácil de ser revertido. Do outro lado a mesma coisa. Qualquer vantagem é passível também de reversão. Apesar de acreditar que as condições são mais favoráveis para Aécio - 70% dos eleitores desejam mudança, não significa que ele vencerá. A campanha negativa em cima da candidata que personificava a mudança e favorita na minha opinião, Marina Silva, foi tão intensa que a tirou do segundo turno. Esta artilharia hoje mira em Aécio. Por mais que personifique a mudança, há um processo brutal de desconstrução de sua imagem em curso. A definição desta eleição está dividida entre o desejo de mudança e o potencial de desconstrução de imagem do marketing. Marina não resistiu. Caberá a Aécio provar que a política é mais importante que a propaganda.

2 comentários:

Unknown disse...

Márcio, muito bem observado.

O Datafolha repetiu a pesquisa 24h depois com os mesmo resultados, demonstrando a confiabilidade (no sentido estatístico) do método deles.

O que está em questão é a validade (aderência à realidade ou "validez" estatística). Aí sim me parece que a forma de apresentação das perguntas, locais, horário do dia, tudo isso influencia o resultado. Cada instituto tem o seu.

Para concluir que há "movimento" do eleitorado é preciso fazer um acompanhamento diário utilizando o mesmo instrumento e o mesmo procedimento amostral, o que os partidos provavelmente já fazem.

Outra forma de se chegar à mesma conclusão (probabilística) sobre "movimentos" do eleitorado é se institutos diferentes indicam, para um período semelhante, alterações na mesma direção.

um abraço
Fabrizio

Unknown disse...

Márcio, gostaria que você entrasse em contato comigo para eu lhe fazer uma proposta.
Email: urm-sp@ig.com.br

Atenciosamente,
Ulisses de Medeiros