terça-feira, março 03, 2015

EUA: Republicanos preparam-se para a tentativa de retomada da Casa Branca

O salão Potomac começou a encher de uma hora para outra. Jovens entravam com suas camisetas vermelhas e seus cartazes. O vão central, destinado aos fotógrafos, foi pouco a pouco sendo tomado, pois não havia mais lugar para sentar. O público era diferente. Longe das gravatas borboletas, estes jovens eram mais jovens, apaixonados, dedicados e especialmente entusiasmados.

Vinha para o palco uma das sensações da política norte-americana no momento, o senador Rand Paul. Na noite anterior fui convidado para participar de uma reunião informal com ele e seus principais assessores e alguns apoiadores em um bar perto do hotel da convenção. Conversamos. Ele tem um jeito tranquilo, mas convicções fortes. Filho do ex-congressista Ron Paul, que também concorreu ao cargo de Presidente, assim como deve fazer o filho, Rand é um político diferente. Libertário por excelência e talvez por um influência do pai, é um tipo que paira acima de republicanos e democratas. "É aquele raro candidato que pode se transformar em uma força maior do que o partido", me disse o apoiador Allan Stevo, que em 2008 buscou uma cadeira na Câmara por Chicago. "Você também está aqui para trabalhar por Rand?", me perguntou o deputado Randy Weber, que assumiu a cadeira de Ron em Washington, quando o pai da novo fenômeno da política resolveu se aposentar. O clima ali era de entusiasmo completo.

A mesma força surgiu quando no dia seguinte ele entrou no palco de gravata, sem paletó, de calças jeans e mangas arregaçadas. Chegou batendo na regulação do Estado, um dos seus temas prediletos. Apontou contra o Obamacare e disparou: "Os americanos não podem ser obrigados a comprar um plano de saúde do governo". O auditório veio abaixo em aplausos. Logo após emendou mirando nos serviços de inteligência: "O que você fala e as informações que você troca pelo telefone são suas. Não é papel do governo bisbilhotar a sua vida". Os jovens gritavam: "President Paul! President Paul!". Quanto ao terrorismo islâmico, foi enfático: "Não podemos lutar contra o terrorismo esquecendo quem nós somos e os preceitos em que se baseiam esta nação". Foi o único, dentre todos que discursaram, que se preocupou com o fato de que a América não tem se parecido muito com o que os Pais Fundadores (Founding Fathers) imaginaram para o país. Ao final, ovacionado, disse: " Quero manter a Receita Federal (IRS) fora da vida cidadão e mais, vamos equilibrar o orçamento deste país em 5 anos". Como sempre, o auditório aplaudiu com raro entusiasmo.

O público somente lotou o auditório novamente neste dia para receber o ex-Governador da Flórida, Jeb Bush. Com menos entusiasmo, mas também com idéias novas que podem assustar os mais conservadores, Jeb defendeu os imigrantes, seu tema mais sensível, e mostrou que não fugirá do debate. Ele possui um raro conhecimento da máquina pública e como um dos participantes me confidenciou, "ele é o bom Bush". 

Diante do "bom Bush", outros defendem que a política norte-americana não pode estar presa a dois sobrenomes: "Se tivermos uma eleição entre Hillary Clinton e Jeb Bush, nos revezaremos entre duas famílias no poder desde 1992, com exceção do desastre que foi Barack Obama", me disse um dos participantes, que se classifica como "independente, com tendência a votar nos republicanos".

Jeb é realmente diferente de George. Suas idéias são mais transparentes, ele é mais moderado e preparado, logo, sofre com uma resistência maior nos setores mais conservadores do partido, onde seu irmão transitava com mais facilidade. Mesmo assim, entre algumas vaias, quando falou sobre imigração, Jeb conseguiu colher aplausos. Foi um primeiro passo.

Chegada ao final, a CPAC apresentou o resultado de sua pesquisa sobre quem era o seu nome preferido para a corrida presidencial de 2016: Mais uma vez deu Rand Paul, com 26%, seguido de Scott Walker com 21% e Ted Cruz com 12%. Jeb Bush veio em quinto lugar, com 8%, atrás de Ben Carson, com 11%.

Diante do que foi visto durante a cobertura do Diário do Poder (único representante da imprensa brasileira no evento) durante os três dias de conferência, há dentre os republicanos diversas opções de candidatos, dos mais conservadores aos mais libertários, mas uma certeza: depois de oito anos de Barack Obama, este partido não medirá esforços para recuperar a Casa Branca. Este é o caminho natural. Se em 2010 os republicanos retomaram a Câmara e em 2014 foi a vez do Senado, a tendência pode ser a resgate do endereço mais cobiçado de Washington, na avenida Pennsylvania 1600. Resta saber quem será o líder que conduzirá o partido neste processo. Está oficialmente aberta a temporada de apostas.

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