quinta-feira, julho 04, 2013

A Queda de Morsi

Introduzir traços democráticos no mundo islâmico não é uma tarefa fácil. O Egito acaba de mais uma vez dar uma prova cabal disto. A queda de Mohammad Morsi evidencia as fraquezas do sistema político e democrático no mundo árabe, mostra o poder forte dos militares e abre uma gama de questões interessantes que devem ser debatidas, como o destino das revoltas que se espalharam pela região, bem como a viabilidade de governos democráticos nestes países.

A Primavera Árabe, que derrubou governos na Tunísia, Egito, Líbia, Yemen e ainda gera agitação na Síria, não foi um movimento que tinha por objetivo os valores democráticos. Todas foram revoltas internas com o intuito de substituir o grupo que governava o país. Líbia e Tunísia seguiram este roteiro. No Egito, entretanto, tudo mudou, sem mudar. Houve eleições, Morsi foi eleito, mas dependeu da aprovação dos militares para ser chancelado como Presidente. Assumiu, mas sem total controle da administração. De um lado, os militares estavam preocupados com o que poderia se tornar um governo da Irmandade Muçulmana. Do outro, a Irmandade, guiada por Morsi, não tinha liberdade para implementar sua agenda. Sem tradição política, o paradoxo tornou-se um impasse institucional.

A situação egípcia encontra um similar mais concreto com a Turquia em diversas vertentes, do que com a Tunísia ou Líbia, afetadas pela revoada de manifestações de 2011. Tanto no Egito quanto na Turquia existe uma força militar forte e de vertente secular, o que impede mandatários de construírem governos de cunho muçulmano. Enquanto Nasser criou esta realidade no Egito, Atatürk fez o mesmo na Turquia. Entretanto, a tradição constitucional-democrática da Turquia tem dado mais espaço para Erdogan introduzir o islamismo nas instituições aos poucos, de forma mais calculada. Como o Egito praticamente carece de instituições constitucionais democráticas, o espaço de manobra é menor.

Com a queda de Morsi, percebemos que os militares, de alguma forma, retornam para um lugar de onde nunca saíram, pois mesmo com a chegada da Irmandade Muçulmana, ainda permeavam as instituições egípcias. A substituição de Mubarak se deu da mesma forma. Não há dúvida que continuará assim. Aquele que governar o Egito, o fará sob os olhos atentos dos militares, de preferência em conjunto com eles.

Não é democracia, mas impede que o islamismo de alastre de forma perigosa nas entranhas do Estado.

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