sábado, novembro 23, 2019

Convergência Argentina (04/11/2019)

A política percorre caminhos curiosos. A eleição de Alberto Fernandez para a Presidência da Argentina é um desses casos. Muito mais além do que qualquer raciocínio simplista, é preciso enxergar que a escolha de Fernandez abre um espaço maior de diálogo na sociedade argentina fazendo inclusive com que as boas políticas de Macri possam gerar mais resultados.

Para entender o que se passa na Argentina, precisamos ir muito além desta eleição. É necessário compreender a dinâmica de poder das instituições do país e perceber onde está a balança que equilibra a estabilidade nacional. Mais do que um resultado em 2015, Macri fez parte de um processo de distensão da política com reflexos no peronismo, que resulta na escolha de Alberto Fernandez com candidato. Percebemos que aos poucos o país começa a reconstruir seu sistema político com espaços bem definidos, ao mesmo tempo que constrói caminhos pelo centro.

O novo presidente tem estas características. É um profundo conhecedor da burocracia argentina, ao mesmo tempo que possui trânsito em diversas frentes do peronismo, desde núcleos mais à direita e também às mais hegemônicas na história recente, identificadas com as forças de esquerda. Isto quer dizer que ele possui um potencial enorme em unificar a frente peronista em torno de seu projeto político.

Fernandez trabalhou no governo Menem e também teve passagem pela administração de Alfonsín, quando a Argentina abriu seu capítulo democrático pós-regime militar. Chegou ao governo Kirchner depois de convencer o então presidente Duhalde a apoiar o nome de Néstor, que se elegeu em 2003. Esta habilidade política e trânsito em diversas frentes devem ajudar muito o país a encontrar um equilíbrio institucional duradouro.

Depois de cruzar os dois lados do espectro político, a Argentina optou por deixar de transitar no limiar das ideologias e se coloca de forma mais inteligente ao centro. Um movimento que em uma sadia alternância de poder pode ainda devolver o governo ao macrismo diante de um candidato mais centrista. De qualquer forma, se abre um caminho ao centro pela esquerda e também pela direita, uma equação que pode se tornar uma decisão muito sadia em um momento em que muitos países optam pelo confronto ao invés do entendimento.

Portanto, Alberto Fernandez, para além de uma eleição, é uma mensagem de que a Argentina parece ter optado por um caminho ponderado, algo demandando pelos eleitores, que rejeitariam caminhos extremos depois de um período de instabilidade institucional. A transição, diante de uma cordialidade exemplar, sem sobressaltos, mostra que o país caminha em direção a uma maturidade que somente trará benefícios para sua economia.

Ao acomodar o peronismo, levando o movimento mais ao centro, diante de políticas racionais, Fernandez cria em torno de si uma importante oportunidade para os argentinos.

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