segunda-feira, novembro 25, 2019

Instabilidade Latina (18/11/2019)

A crise na Bolívia é apenas mais um capítulo da instabilidade política que chegou aos países latino-americanos recentemente. A queda de Evo Morales não deixa de ser mais um sintoma dos ares conservadores que chegaram nesta parte do mundo, potencializados pela fadiga de governos demasiadamente longos. De qualquer forma, nada é mais saudável para a democracia do que a alternância de poder.

Considerando os aspectos democráticos, é salutar enxergar a troca de viés político em muitos governos latino-americanos. A chegada de novos líderes, com ideias diferentes e planos de governo renovadores fazem bem para a consolidação democrática da região. Ao mesmo tempo, aqueles que ocuparam o governo agora possuem uma missão desafiadora: exercer uma oposição responsável e mostrar-se como uma opção viável de poder.

A instabilidade que chegou a diversos países da região tem razões distintas, contudo, se retroalimentam no sentimento de renovação que move as manifestações vistas nos países vizinhos. Assim, a crise no Peru precede a instabilidade no Equador; a tensão cresce no Chile e depois se instala na Bolívia. Apesar de serem crises pontuais e nacionais, torna-se difícil dissociar cada uma na medida que ocorrem.

No caso da Bolívia, que há tempos contava com um mesmo governo, houve uma ação rápida e efetiva da Organização dos Estados Americanos (OEA), que, diante do imbróglio eleitoral, conseguiu se posicionar de forma firme e eficaz como instrumento garantidor da democracia. Depois da renúncia de Morales e a instalação de um governo provisório, o que se espera é o retorno da normalidade institucional mediante eleições livres e diretas, que expressem de maneira limpa a vontade dos bolivianos.

Tudo indica que é possível também reverter a crise no Chile, que pode estar rumando para reescrever pela primeira vez sua Constituição depois do período de exceção. Detentor de instituições sólidas e uma economia estabilizada, o governo de Santiago tem tudo para acalmar a situação e pacificar o país, que tende a sair mais forte e democrático depois de todo este processo.

Como vemos, ponto a ponto, seja com ajuda interamericana, como no caso da Bolívia e Peru, mas também com esforços internos, como no Chile, os países da região tendem a conseguir sair de suas crises. Resta neste jogo a Venezuela, cada vez mais isolada nesta nova configuração de forças na medida em que Maduro partiu para a radicalização do regime e governos conservadores chegaram ao poder na região.

Diante da polarização no Brasil, este é o momento de se trabalhar na convergência das relações políticas para que a instabilidade que ronda o continente não desembarque por aqui. Afinal, reconstruir a democracia é muito mais trabalhoso do que evitar fissuras nas estruturas institucionais.

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