Praticamente dois anos depois, vivemos em outro país. O Brasil inaugurado em 2019 naufragou em meio a desilusão diante de uma agenda e atores que jamais fizeram parte do enredo que levou Bolsonaro ao poder. Ao romper com lavajatismo e antipetismo, aos poucos aproximou-se do populismo e do militarismo. Afastou-se do liberalismo e das privatizações e nesta semana, em mais um episódio que marca esta guinada, afastou-se dos evangélicos e do restante dos conservadores que ainda apoiavam seu governo.
A escolha do obscuro Kassio Nunes para uma cadeira no STF mexeu com o brio de seus apoiadores. Ao escolher um nome ligado à velha política e ao petismo, o Presidente selou um movimento que consolida uma nova fase de seu governo, inaugurada quando a lei e o impeachment passaram a rondar sua Presidência. Bolsonaro fez a opção pelo sistema, pelo acordo e pelos bastidores. Optou assim por engavetar reformas, desistir da renovação e sepultar as mudanças.
O governo cada vez mais se parece com o perfil de Bolsonaro enquanto deputado e se afastada do modelo adotado por ele durante a campanha presidencial. Está cada vez mais próximo dos parlamentares daqueles partidos pelos quais passou, hoje sua base no Congresso Nacional, e afastado da chamada nova política. Cercado pelos militares passou a governar a sua imagem e semelhança, sentindo-se cada vez mais confortável na cadeira presidencial.
Ao se afastar do liberalismo de Guedes, Bolsonaro adentra pelo desenvolvimento econômico, o que invariavelmente levará o Ministro da Economia a ser a próxima baixa do governo. O desenvolvimentismo é o motor do assistencialismo populista que turbina a aprovação do Presidente. É também o erro fatal cometido por Dilma que abalou o equilíbrio econômico do país e nos jogou em mais uma década perdida.
Bolsonaro tinha o vento a seu favor. Uma base popular aguerrida, um partido em construção, empenho dos conservadores, apoio dos liberais, simpatia dos evangélicos, parceria com o lavajatismo e uma missão de renovar a política. Nada disso tornou-se realidade. Hoje, é parceiro da velha política, aliou-se ao patrimonialismo do centrão, deixou mais um partido, desmontou a Lava Jato, rifou as privatizações e os liberais, desistiu das reformas e por fim, deixou conservadores e evangélicos pasmos indicando nomes ligados ao petismo, inclusive para o Supremo.
Ao perder a base que impulsionou seu nome ao Planalto, precisará do contraponto petista de um lado e um programa social milagroso do outro. Mesmo que custe o equilíbrio fiscal e a estabilidade da moeda. Afinal, a reeleição está logo ali em 2022.
Nenhum comentário:
Postar um comentário