sexta-feira, dezembro 04, 2020

Triunfo da Moderação

ACM Neto diz que a Presidência tem um poder muito forte, logo, o Presidente não pode ser descartado como um grande jogador na próxima campanha presidencial. A frase faz sentido, mas depende também de quem ocupa esta cadeira. Bolsonaro é um tipo intuitivo, porém pouco estratégico. Apesar de sua caneta ter um peso que pode alterar a campanha presidencial a seu favor, nada impede que consiga usar este poder contra si mesmo. 

Depois de uma campanha municipal onde o bolsonarismo mostrou que não possui enraizamento na sociedade e a esquerda foi surrada pelo eleitor, o centro moderado surge como uma solução razoável. A população mandou um claro recado pelas urnas. Está cansada da polarização e da guerra de narrativas. As pessoas pediram prudência, experiência, ponderação. Nada do que o ciclo eleitoral anterior havia proporcionado. 

A pergunta que surge é de onde virá este movimento ao centro. A opção de Moro pela iniciativa privada praticamente sela seu futuro longe da política. Isto muda a dinâmica do jogo e a política tradicional sente-se mais confortável para jogar de acordo com as suas regras, calculando a campanha presidencial a sua imagem e semelhança. Diante de dois polos antagônicos, esquerdas e direita bolsonarista, surge um caminho livre no centro para estas forças políticas transitarem. 

Apesar da caneta, Bolsonaro deve chegar enfraquecido em 2022. Diante de uma situação fiscal desesperadora, o governo não possui muitas opções. Sem projetos, base política ou direcionamento definido, o governo segue perdido sem agenda real. Se no passado possuía projeto sem base de apoio, hoje possui uma base aliada contrária aos projetos. A tendência é o governo seguir o mesmo rumo até seu final, sem grandes realizações ou profundas reformas estruturantes. 

Bolsonaro deve chegar em 2022 com apoio de sua base fiel, cercado de militares e dependente político do centrão. Uma equação que não garante os votos capazes de colocá-lo no segundo turno. Terá perdido ao longo dos quatro anos o eleitorado antipetista, conservador, liberal e lavajatista, a exata onda que conseguiu surfar em 2018 e lhe entregou a vitória em uma bandeja de prata sem qualquer esforço. Depois de chegar ao Planalto e sonhar que liderava um movimento, rifou a agenda e os grupos que o apoiaram. Sem eles, entretanto, não será reconduzido. 

Aquele que souber transitar pelo centro, de forma ponderada, terá grandes chances de chegar ao segundo turno. Uma aliança entre tucanos e democratas parece inevitável, com partidos do centrão fisiológico divididos entre a direita bolsonarista e o centro moderado. Nas esquerdas, uma acomodação em torno de Boulos começa a se desenhar. Em linhas gerais, este é o cenário que teremos adiante em 2022. 

O eleitorado cansou. A guerra de narrativas, polarização, terraplanismo, lulopetismo, bolsonarismo, antipolítica serão rejeitadas pelo eleitor, assim como vimos neste ano. Aqueles que não souberem se reinventar serão tragados pela onda da moderação, experiência e prudência. Uma antítese dos tempos egonegacionistas que vivemos.

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