Em outras palavras, o presidencialismo de coalizão se impôs. O modelo é resultado da arquitetura institucional brasileira e está inscrito na Constituição. Nosso sistema político-eleitoral é o combustível da proliferação de partidos e da criação de um grupo que funciona como sustentáculo de qualquer governo, independente de seu viés ideológico. O centrão é a base de todos os aqueles que passaram pelo Planalto desde a redemocratização.
O grupo não participou da montagem do governo Bolsonaro. Esperou o Presidente encontrar os seus próprios fantasmas e ser confrontado com a realidade real da política. Quando precisou de governabilidade, procurou os especialistas, prontos a exercer seu papel tradicional de fiadores do governo de plantão. O custo político da transação é o de sempre: participação na administração em troca de estabilidade política.
Assim sendo, não estamos diante de um período reformista ou de grandes mudanças. A chegada do grupo ao poder fornece maior estabilidade ao sistema e garantia de que não viveremos aventuras fora da democracia. O custo é a ausência de reformas profundas nas vetustas estruturas do Estado brasileiro que alimentam estes grupos políticos. Certamente na agenda não constam privatizações e modernização.
Fato é que Bolsonaro perdeu tinta de sua caneta. Precisou ceder espaço político para o centrão para que conseguisse terminar seu mandato sem o risco de sofrer um impeachment por colocar em xeque a estrutura do sistema. Arthur Lira funcionará a partir de agora como um Primeiro-Ministro, indemissível, que passará a ocupar espaços e co-governar com Bolsonaro. O governo ganhou um sócio, talvez majoritário.
A realpolitik se impôs. Na medida que o tempo passar, o centrão ocupará mais espaços ao mesmo tempo que Bolsonaro perde fôlego. Um Bolsonaro mais fraco é um centrão mais forte. Os novos aliados do Planalto sabem que precisam manter o Presidente em xeque, porém longe de deixá-lo sem alternativas, apresentado-se sempre como os fiadores de seu mandato.
O risco de Bolsonaro está em perder o controle da pandemia e da economia, deixando o país à deriva e com as ruas pedindo a sua saída. Neste caso, o impeachment seria um caminho incômodo, porém necessário. Para evitar o pior, os préstimos do centrão podem ir além, espalhando sua presença por outras pastas.
Bolsonaro terminará o governo muito longe da configuração e das promessas iniciais. O governo que começou será muito diferente daquele que encerrará seu mandato. Mudou Bolsonaro ou mudamos nós? A conferir.
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