Trump chegou ao poder na onda de renovação da política, um movimento que passou do ponto a escolher outsiders para cargos decisórios em diversos países. Outsiders são pessoas de fora da política ou longe dos círculos de poder tradicionais que chegam a postos de comando. Esta onda que vivemos teve origem na rejeição aos políticos, levando ao poder quem defendia uma mudança profunda no sistema.
Esta chamada nova política veio embalada por nomes inexperientes e até de certa forma ineptos para o exercício do poder, uma vez que experiência militar, por mais breve que tenha sido, ou mesmo empresarial, não qualificam alguém para um cargo de liderança política. A dificuldade em lidar com os instrumentos de poder democráticos, aos poucos foi acentuando os traços populistas destes eleitos.
Contudo, nem tudo que reluz é ouro, tampouco o fascínio pela nova política se sustenta por muito tempo. Sem resultados reais ou mesmo diante da falta de habilidade em lidar com instrumentos essenciais da democracia, como a moderação, diálogo e consenso, a máscara caiu, expondo a falta de capacidade e habilidade política em momentos cruciais como a gestão da pandemia.
Trump caiu diante desta realidade. Quando seu país mais precisava de sua liderança, preferiu esconder-se usando o negacionismo enquanto o vírus ceifava as vidas daqueles que dependiam de sua gestão para sobreviver. As consequências de uma gerência desastrosa da pandemia foi a triste realidade que fez a sociedade acordar do sonho populista que começava a se consolidar na sociedade americana.
Este sinal de alerta agora se espalha pelo mundo diante de uma tendência política que pode se alastrar por diversos países, tornando líderes populistas e bufões, como Donald Trump, presa fácil diante de eleitores mais lúcidos. Estes começam a entender que outsiders podem não ser a solução de seus problemas e que a política tradicional ainda é capaz de oferecer segurança e bom senso, essenciais na gestão de crises.
O populismo ainda é um dos maiores inimigos da democracia. O fascínio exercido por sua política inebria durante um certo tempo, mas é incapaz de produzir resultados necessários no longo prazo. Trump foi a primeira vítima do levante eleitoral contra esta guinada, que agora tende a se consolidar em outros países.
Política é feita com habilidade, diálogo e entendimento. Arrogância, agressividade e impetuosidade não rimam com boa gestão e governança. O Brasil, que enfrentará os mais sérios reflexos econômicos da pandemia em 2021, pode ser a próxima peça deste castelo de cartas que começou a desmoronar.
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