sexta-feira, janeiro 29, 2021

Em Defesa da Democracia

A insurreição impulsionada por Donald Trump contra o mais importante símbolo da democracia americana marcará sua presidência. A marcha contra o Capitólio entrará para a História como um dos eventos mais lamentáveis de um país que existe baseado na força de suas instituições. Ao incitar a marcha de seguidores fanáticos, reféns de seu populismo grotesco, Trump evidencia um padrão de comportamento de líderes perigosos que emergiram recentemente ao poder e tentam subverter a democracia. 

Trump passa longe de ser um conservador. Isto afastou o ainda Presidente da base tradicional dos republicanos, abrindo espaço para o ingresso de uma ala radical de corte populista. O eleitorado tradicionalmente conservador, representado no governo pelo Vice-Presidente Mike Pence, é regido pelo princípio da prudência, defensor da cautela, estabilidade e moderação, elementos fundamentais desta vertente política. Na última semana vimos o rompimento definitivo destas alas diante do ataque perpetrado contra a democracia americana. 

No Brasil, vivemos situação similar. Possuímos um Presidente que se diz conservador, mas passa longe dos princípios da prudência, cautela, estabilidade e moderação. Pelo contrário, quando mais incendiar o debate público, melhor para Bolsonaro, que assim como Trump, aposta na polarização e no embate como elementos fundamentais da política. Entendimento, convergência e diálogo são palavras que passam longe de seu vernáculo político. Longe de ser um conservador, Bolsonaro tornou-se um populista. 

Isto fornece um sinal de alerta para a população brasileira. Assim como em Washington, em Brasília existe um Presidente que não possui apreço pela democracia e está disposto a quebrar as regras do jogo se assim for de seu interesse. Bolsonaro reiteradamente profetiza que as eleições brasileiras serão fraudadas (especialmente se perder) e não hesitará em esticar a corda, assim como o colega americano, em caso de derrota. 

Devemos nos perguntar se nossas instituições estão preparadas para tamanho desafio. O Brasil não pode sucumbir diante de mais um tiranete de plantão a despachar no Palácio do Planalto. Foram 21 anos de ditadura e nossa democracia, jovem e vibrante, não merece tamanho desrespeito. Os pilares da justiça, assim como do parlamento, serão fundamentais neste momento de prova. Mais do que isso, no intuito de evitar um autogolpe, a democracia brasileira precisa pressionar pelo desembarque imediato dos militares do governo Bolsonaro sob pena de confundirem-se com as aventuras anti-democráticas de um simples capitão. 

O mundo assistiu atônito as manobras de Trump para permanecer no poder. Sofrerá duras consequências nos tribunais assim que deixar a Presidência. Com dois impeachments aprovados pela Câmara, sairá pelos fundos da Casa Branca e certamente em pouco tempo ocupará um lugar de ostracismo na História. Populistas podem parecer grandes hoje, mas assim como sobem, descem. Que nossa democracia e instituições sejam mais fortes que os ímpetos golpistas dos oportunistas que transitoriamente ocupam o poder.

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