O melhor para Bolsonaro seria enfrentar uma oposição organizada e sistemática. É notório que o Presidente delineia seu discurso no antagonismo e nada melhor para isso do que um grupo oposto atuante e com voz. Foi nesta dinâmica que criou o personagem que surfou na rejeição aos políticos e chegou ao Palácio do Planalto. Bolsonaro é cria de uma dinâmica pendular executada pelos petistas e que agora se repete da maneira inversa.
Fato é que mesmo desencontrado, o petismo poderia incomodar mais o governo. Na dinâmica estabelecida contra Fernando Henrique encontraram a senha para chegar ao poder, mas diante de Bolsonaro estabeleceu-se outra prática. Ao perceber que possuir uma voz ativa contra o Planalto somente faria o Presidente crescer, optou-se pelo silêncio, discrição e distanciamento.Bolsonaro hoje é um Presidente em busca de um antagonista. Já tentou com Witzel, Doria, Maia e um sem número de políticos. A joia da coroa, entretanto, é Lula e os movimentos que veremos a seguir, que podem reabilitar o ex-Presidente cassando sua inelegibilidade e colocando seu nome na pista para a sucessão de 2022, fazem parte do teatro de operações bolsonarista com vistas a reeleição.
Dependerá do petismo morder a isca ou se movimentar de forma inteligente no cenário eleitoral. O duelo favorece a ambos, que precisam um do outro para se viabilizar em um segundo turno. O antagonismo, movimento pendular que retroalimenta os extremos é a justificativa para ambos existirem e duelarem pelo poder. Contudo, se eleitor mostrar-se cansado da polarização, uma terceira via pode surgir de forma equilibrada e viável.
Até este cenário se concretizar, Bolsonaro segue sendo Presidente e, na falta de um antagonista, também líder da oposição de seu próprio governo, travando suas próprias guerras, criando inimigos e partindo para a ofensiva. Ao negar a pandemia e comprar uma batalha contra a imprensa, busca criar narrativas e oposição. Quanto mais semear a discussão, mais terá possibilidade de aparecer de um lado deste duelo e para ele, no campo intuitivo da política, é isso que importa.
Se o modelo de Bolsonaro prevalecerá, ainda é uma incógnita, mas tendo a acreditar que seu jeito de fazer política se esgota diante de emergências sérias que demandam gestão e ações além das narrativas. A pandemia, que ceifou a vida de praticamente 200.000 brasileiros, débacle econômico com um deficit fiscal assustador, desemprego, fim do auxílio emergencial e ausência de uma estratégia consistente de vacinação podem deixar sua retórica pelo caminho, assim como os sonhos de uma reeleição, seja como líder de seu governo e também de sua própria oposição.
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