sábado, novembro 16, 2019

Fator Janot (30/09/2019)

Em Brasília, a certeza da impunidade e a intoxicação pelo poder acabam por gerar episódios lamentáveis. Isto fica cada vez mais claro à medida que se descobrem os bastidores dos acontecimentos políticos. Apesar de termos vivido tempos estranhos, nada justifica usar o poder do cargo para atingir adversários, derrubar governos, atingir reputações ou mesmo tramar um crime. Infelizmente, esta foi a trilha percorrida por Rodrigo Janot.

Na medida em que o tempo passa, as peças começam a encaixar e percebemos que o ímpeto em atingir o ex-presidente Michel Temer, na tentativa de removê-lo do cargo, tem mais relação com sua noção pessoal de justiça do que com as responsabilidades do cargo que ocupava. Janot tentou moldar os destinos da República de acordo com suas convicções e desejos pessoais. Um crime que vai muito além de seus atos.

Ao centrar fogo em um governo que considerava ilegítimo, mudou os destinos do país, na medida que sua tentativa de afastar o presidente do cargo influenciou a agenda legislativa, atrasando reformas, impedindo o país de avançar. Sua tentativa de atingir o governo paralisou o Parlamento e o Planalto, mobilizando forças no único caminho possível naquele momento – a sobrevivência.

Vale lembrar que Temer começou a resgatar o país de um de seus piores momentos políticos e econômicos. A economia estava aos pedaços, enquanto a política legítima passou a ser criminalizada. No primeiro ano, o governo conseguiu dar passos importantes no resgate de nossos fundamentos econômicos, além de ter pacificado a política, fornecendo lógica e racionalidade na condução parlamentar.

Estávamos diante de uma série de mudanças realizadas e diante de um cardápio de reformas robusto. Havíamos aprovado o teto de gastos, reforma trabalhista e do ensino médio. A taxa de juros caiu de 14,25% para 6,5% ao ano e a inflação saiu de 9,32% para 2,76%, com o índice Bovespa subindo de 48.471 para 85.190 pontos. O próximo passo era a reforma da Previdência e um audacioso processo de desestatização.

Nesse momento entra em cena o fator Janot, que abalou os alicerces da recuperação de toda uma nação imbuído de um sentimento pessoal de justiça, o mesmo, sabemos agora, que o levaria a tramar contra a vida de um ministro do Supremo Tribunal Federal. Os açougueiros de Formosa, transformados na maior indústria processadora de proteína animal do mundo pelo dinheiro público, tornaram-se cúmplices do procurador geral. O objetivo era atingir o governo que havia derrubado seus padrinhos do poder.

Naquele momento, Janot mudou os caminhos da República. Sem completar seu leque de reformas, a popularidade de Temer nunca decolou, enquanto sua sucessão tornou-se retrato de uma infeliz polarização. Uma dinâmica que acabou por levar Bolsonaro ao poder. Perdeu-se a possibilidade de caminhar na direção da razão e da sensatez, uma trilha prudente e necessária em momentos de crise. Ao colocar o juízo de lado, feriu seu cargo e os destinos do país.

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