segunda-feira, julho 13, 2020

Política Pós-Pandemia

A covid-19 vem causando uma verdadeira devastação nos sistemas de saúde, mas também nas economias do mundo inteiro. Os reflexos na política são inevitáveis, uma vez que a agenda de muitos governantes se tornou refém do vírus, colocando em risco seus projetos políticos e de poder.

As dores da economia são sentidas na política de forma aguda, algo que já foi ensinado várias vezes por diversos analistas. A economia, no final das contas, baliza o voto e injeções de ânimo em suas oscilações pode ajudar um governante a se reeleger. Em tempos de pandemia, entretanto, quando o problema é mais vertical, as saídas são mais raras e o risco de troca dos eleitos cada vez mais real.

Isto explica porque muitos políticos optam pela reabertura da economia mesmo ao custo de vidas e controle da pandemia. Políticos que pensam na próxima eleição, ao invés da próxima geração, estão longe da postura de estadistas que precisamos em tempos sombrios como este que vivemos.

Fato é que o mundo vive uma guinada populista à direta nos últimos tempos. Longe do liberalismo conservador tradicional da centro direita europeia ou mesmo da visão tradicional dos republicanos nos Estados Unidos, este populismo pode começar a sucumbir diante da crise econômica gerada pela pandemia.

O primeiro grande desafio ocorre nos Estados Unidos, que viverá um ciclo eleitoral polarizado, mas que tem chances de realinhar o sistema político norte-americano. Se as chances dos democratas eram pequenas um ano atrás, o cenário apresenta-se hoje realinhado diante da ineficiência no combate ao vírus e no desgaste econômico advindo da pandemia.

Os republicanos tradicionais enxergaram nos tropeços do atual governo uma chance de reconquistar o controle do partido, que em caso de derrota precisará ser reconstruído sob uma nova liderança. Diante disso, nascem movimentos espontâneos nas hostes republicanas que se levantam contra o governo e buscam um retorno do partido aos seus ideias tradicionais e mais consistentes. Argumentam que o partido de Lincoln, jamais poderia ter se tornado o partido de Trump.

Está ficando claro que a polarização política ao redor do mundo não entregou resultados palpáveis especialmente diante da pandemia e que governos centristas democráticos tem conseguido entregar melhor gestão da crise, além de resultados mais consistentes, preservando vidas, que serão essenciais na retomada da economia. Na Alemanha esta tem sido a tônica, assim como no Reino Unido, que mudou de postura após uma fase negacionista.

É preciso escolher exercer liderança, ao invés de distração política, para colher resultados diante desta grave crise. Governos populistas são incapazes de entregar este resultado. Diante disso, talvez um dos principais resultados políticos deste período seja o realinhamento de forças por meio do voto, resgatando governos de caráter mais técnico e centristas. Como ao final da uma guerra, quando emergem grande alianças, ao final desta pandemia, governos de concertação nacional podem substituir populismos e polarizações que tornaram a política um triste palco de divergências e ódios vazios.

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