quarta-feira, agosto 19, 2020

Guinada Bolsonarista

A guinada do governo cada dia toma contornos mais claros. Bolsonaro se afasta das bandeiras de campanha e move-se de forma mais clara na direção de caminhos do quais talvez nunca tenha realmente se desviado e que podem garantir sua reeleição. Depois de afastar-se do lavajatismo, liderado por Moro, talvez seja o momento em que veremos afastar-se do liberalismo de Guedes.

Neste como em outros governos existe o embate entre aqueles que defendem o rigor fiscal e os que desejam rumos desenvolvimentistas. Em tempos de pandemia e diante da perspectiva de reeleição, infelizmente o rigor fiscal aos poucos perde fôlego para a tentação e encantos temporários gerados pelo gasto governamental.

A recuperação da popularidade de Bolsonaro está claramente ligada a este movimento. O Presidente entendeu que ao abrir os cofres pode colher fôlego político que garanta sua reeleição. Nada diferente do que ocorreu no passado. Ao turbinar o Bolsa Família rebatizando o programa de Renda Brasil e ressuscitar o PAC, renomeado de Pró-Brasil, o governo fornece um claro indicativo dos rumos que irá seguir.

Fato é que este movimento passa ao largo da agenda de Paulo Guedes, que sempre apontou para o liberalismo, ou seja, redução da intervenção do governo, para assim reestruturar os pilares que sustentam a economia e o país. A pauta de Guedes sempre foi clara e passa pelo equilíbrio fiscal, reformas estruturantes, privatizações e desvinculação dos fundos. Um plano audacioso, entretanto, factível somente em uma administração com liderança política e articulação parlamentar no Congresso Nacional.

Ao sugerir o nome de Moro para compor a equipe, Guedes enxergava com clareza as perspectivas de mudanças que as urnas tinham entregue nas mãos de um governo que tinha um claro mandato reformista. Moro, refém dos mesmos mecanismos que limitam as reformas de Guedes, acabou deixando o governo. Resta saber se o Ministro da Economia seguirá pelo mesmo caminho.

A possível saída de Guedes não seria uma surpresa diante dos movimentos adotados nos últimos meses. Ao criar uma base no parlamento para evitar o impeachment aproximando-se do centrão, o governo tomou rumos que geram desdobramentos em diversas searas e a economia tende a ser um dos próximos pilares a sucumbir diante deste novo desenho.

Bolsonaro aproxima-se cada vez mais de suas bandeiras históricas e que fizeram sua trajetória como parlamentar. Uma pauta de costumes aliada aos valores da direita, defesa de projetos em favor dos militares e suas famílias, nacional-desenvolvimentismo na economia e uma visão cética acerca de reformas estruturantes e privatizações. Tudo isso transitando no lado político com os partidos que orbitam o chamado centrão.

A guinada operada por Bolsonaro, portanto, é uma surpresa apenas para aqueles que desconhecem sua trajetória política. Ao afastar-se de núcleos que se aproximaram durante o período eleitoral, o Presidente resgata sua agenda, convicções e crenças. O novo governo Bolsonaro, aos poucos, assume o traje do antigo Deputado Jair Bolsonaro, transformando-se à sua imagem e semelhança.

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