sexta-feira, agosto 14, 2020

Marco Sinistro

O trágico número de 100 mil vidas perdidas para o coronavírus é um marco sinistro para nosso país. Ficou evidente que o Brasil não soube lidar com a pandemia. O que veremos no futuro são capítulos de uma história que não poderia ser contada por qualquer nação para suas gerações futuras. A escalada dos números expõe nossas limitações como país de forma desumana e brutal.

Muito já poderia ter sido feito. Desde um plano nacional de combate ao vírus até a união de adversários políticos que se enxergam como inimigos e são incapazes de se unir para salvar seu povo. O que vimos foi inconstância nas políticas públicas de combate à pandemia, amadorismo, desvios, corrupção e descaso. Uma soma de elementos que nos conduziu para um número tão assombroso.

Alcançamos 100 mil mortos em apenas 5 meses. É a maior tragédia da história de nosso país e os números não são grandes apenas porque o Brasil é grande, mas porque fica cada vez mais claro a falta de capacidade de lidar com questões que realmente importam. Enquanto as bravatas e a guerra de narrativas tomam conta do país, seguimos contando mortos, enterrando entes queridos e perdendo irmãos.

Ao seguir neste ritmo, sem crescimento das fatalidades, em menos de três meses chegaremos ao apavorante número de 200 mil mortos. Para termos ideia, o tsunami em 2004 ceifou 230 mil vidas e as bombas nucleares no Japão fizeram 214 mil vítimas fatais. São números absurdos de catástrofes que abriram cicatrizes enormes e deixam marcas profundas que jamais serão esquecidas.

A cada sete mortos desde o início da pandemia, um é brasileiro. São 723 mil no mundo e 100 mil apenas no Brasil, mas a tendência é que nosso país galgue algumas posições neste ranking nos próximos meses, assumindo um incômodo protagonismo diante desta pandemia. Os números, entretanto, podem ser piores.

Ao testar pouco, estima-se que estamos diante de uma enorme subnotificação – uma realidade que apavora e que pode ser responsável pelo descontrole da doença. Uma das medidas mais efetivas no combate à pandemia foi a testagem em massa e o controle sanitário dos focos encontrados, isolando aqueles que testaram positivo e buscando testar aqueles com os quais o infectado teve contato. Esta teia de informações ajuda a realizar medidas efetivas de prevenção que evitam que o vírus se espalhe.

Especialistas alertam que estamos vivenciando uma calamidade humana sem tamanho, uma vez que esta já é a sexta maior pandemia desde a Peste Negra. Não estamos diante de um vírus comum, mas de um tipo novo do qual ainda não se conhecem as reais sequelas no corpo humano e apesar da letalidade relativamente baixa, entender como consegue ser tão fatal com pessoas que possuem diferentes características.

Fato é que esta pandemia está longe de terminar e que a prevenção ainda é o melhor remédio até que se encontre uma vacina eficaz. Antes do novo normal, ainda é preciso manter as medidas de proteção como distanciamento social, quarentena, evitando que o vírus se espalhe ainda mais fazendo vítimas. Ao atingir os 100 mil mortos, o Brasil precisa adotar uma postura madura e colocar as diferenças de lado. Nenhum governante será poupado diante do empilhamento de cadáveres. O vírus é cruel e depois de ceifar vidas, começará a ceifar mandatos.

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