segunda-feira, agosto 03, 2020

Aposta Bolsonarista

Aos poucos Bolsonaro vai mudando sua base eleitoral com foco na reeleição. Ao ser eleito no desgaste do petismo e nos resultados do lavajatismo, tinha como base principal a classe média urbana que impulsionou uma onda de renovação que ocorre somente a cada três décadas – a última ocorreu com a eleição de Collor. Bolsonaro personificou a mudança embalado em uma onda de renovação que atingiu também as casas legislativas e governos estaduais.

Sem uma base consistente no parlamento, o governo não conseguiu aprovar medidas de impacto, tampouco reformas substanciais, com exceção da Previdência, que ocorreu mais por união nacional do que esforço político do Planalto. A agenda do governo se voltou mais a questões morais do que estruturais, necessárias para reerguer uma economia que precisava de cuidados urgentes.

O desgaste de Bolsonaro com os núcleos que o elegeram começou a mudar a face do governo e de sua base eleitoral. Ao romper com o lavajatismo, Bolsonaro rifou um importante pilar responsável por sua eleição. Ao se aproximar das forças tradicionais, desiludiu os que acreditavam na renovação e ao flertar com o choque institucional perdeu apoios em setores da classe média.

A chegada da pandemia veio fornecer uma guinada mais profunda nos pilares de apoio de Bolsonaro. Ao introduzir um auxílio emergencial para a população mais pobre, viu seu apoio manter-se nos mesmos níveis, entretanto, mudando de lugar. Um deslocamento similar ao vivenciado por Lula ao perder apoio da classe média, cedendo lugar aos beneficiados pelo Bolsa Família.

A redução da pobreza circunstancial, gerada pelo auxílio emergencial, manteve os índices de popularidade de Bolsonaro, porém, assentados agora na população mais carente. Neste ponto o governo encontra um desafio. Na medida que o auxílio se exaurir, o que acontecerá com o apoio dos mais pobres? Ao rebatizar o Bolsa Família de Renda Brasil, o governo tenta dar uma resposta, mas a falta de calibragem em seus mecanismos pode fazer a popularidade de Bolsonaro desmoronar.

Nesta equação entra também o apoio dos liberais, que enxergam a economia sucumbir diante da pandemia, enquanto a solução neste momento tem passado por caminhos heterodoxos, que jamais seriam aceitos por discípulos de Hayek, Mises ou Friedman. Com um déficit que pode passar dos 800 bilhões em 2020, as alternativas se tornam cada vez mais escassas.

Fato é que houve um deslocamento sensível na base original do bolsonarismo nascido na eleição passada. Ao perder apoio dos lavajatistas, parte dos antipetistas, liberais, centristas e dos conservadores de base, Bolsonaro se tornou refém de uma base de direita ideológica, militares e especialmente de uma parcela mais carente da população atendida pelo auxílio emergencial, que não pode sonhar com o corte ou redução deste benefício. Ao romper com as forças que o elegeram, Bolsonaro aposta alto nos antigos mecanismos da política tradicional. Sua reeleição depende do sucesso desta equação.

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