domingo, novembro 18, 2007

O Gabinete de Tusk

(de Varsóvia, Polônia). A capital da Polônia é um lugar admirável. Atacada e ocupada diversas vezes soube manter sua beleza e os poloneses sua alma. A cidade, que recebe fundos da União Européia representa muito a nova Polônia que emergiu com o fim do pesadelo do comunismo. Em Varsósia Donald Tusk tomou posse como o novo Primeiro-Ministro, assim como seu gabinete, que durou duas semanas a mais do se esperava para ser fechado e apresentado.

O gabinete de Tusk difere muito do shadow cabinet que mantinha como líder da oposição. Isto claramente representa o jogo de forças parlamentares que ele representa, mas aqui em Varsóvia se fala muito da força com a qual seu partido, o Plataforma Cívica, apresentou nas eleições, alcançando a maioria da Sejm, câmara baixa do parlamento polonês. Nas últimas eleições, em 2005, o PO havia atraído 2,5 milhões de eleitores. Nesta eleição, além de seus votantes, contou com a atração de mais de 1,5 milhão de novos eleitores, em especial, curiosamente, 500 mil vindos do PiS dos irmãos Kaczyński. Vale lembrar que a eleição teve caráter plebiscitário para o PiS, que jogou suas fichas em uma estratégia equivocada e arriscada.

A primeira boa notícia do governo Tusk é a redução do número de ministérios, de 19 para 17. A segunda é um razoável número de experts independentes, que podem trazer uma formidável renovação em diversas pastas. Vejamos em um primeiro plano a política exterior. O ministro da Defesa, Bogdan Klich (PO) já foi responsável pela relação da Polônia com a Otan e o novo titular da pasta de Relações Exteriores, Radoslaw Sikorski, já serviu na pasta da Defesa durante parte do governo de Kaczyński. A indicação que fica é no sentido de que Tusk será muito pragmático e não pretende comprometer suas boas relações com os Estados Unidos. Uma tendência de mais preocupação com o papel da Polônia frente a UE é esperado, mas de forma dosada, na minha opinião.

Os ministérios das Finanças, Justiça, Educação e Desenvolvimento Regional ficaram com nomes sem ligação com partidos políticos. A tarefa mais difícil, na minha opinião, está nas mãos de Zbigniew Cwiakalki, que substitui Zbigniew Ziobro, foco de discórdia no país, uma vez que tendia a uma postura agressiva, quase intimidatória dos Kaczyńskis. Cwiakalki, um respeitado professor de Direito, deve corrigir isso.

O ministro do Interior, estratégico em todos os países europeus, não poderia ficar longe da influência direta de Tusk. Grzegorz Schtyna, que já foi secretário-geral do PO e amigo pessoal de Tusk assumiu a pasta.

Por fim, uma das mais importantes tarefas, a regulação dos serviços privatizados ficará com um nome do PO, Aleksander Grad.

Percebe-se que Tusk blindou um núcleo central, fundamental na estrutura política, ligando a espinha dorsal do governo ao PO. Deixou uma área gerencial a cargo dos técnicos e deu sinais claros do que pretende fazer em política exterior.

Esta foi a impressão que tive aqui em Varsóvia sobre o que será o novo governo. Hoje a Polônia tem uma direita liberal e moderna. Acredito muito em Tusk e sou um entusiasta das mudanças saudáveis que seu governo pode trazer para a Polônia, para mim, o mais admirável país do antigo Leste Europeu aterrorizado pelo comunismo.

Vamos conferir, analisar e acompanhar as mudanças.

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