sábado, setembro 14, 2019

Caminho do Meio (17/06/2019)

A polarização que tomou conta da política brasileira segue presente no país mesmo depois das eleições. É fato que este é um processo que se iniciou bem antes do último pleito, mas vem se tornando mais agudo ao longo do tempo. Na política, está é uma situação delicada, que pode gerar reflexos institucionais graves, uma vez que a vitória se sobrepõe a conciliação, algo impensável em um local onde a concertação funciona como motor da democracia.

A Lava Jato mostrou que o sistema político, desgastado com o modelo em curso, precisava de renovação. A certeza, entretanto, de que o sistema era incapaz de regenerar-se acelerou e acentuou os passos da operação. A Lava Jato tornava-se peça fundamental de uma engrenagem que entregaria a mais profunda mudança política das últimas décadas. Um movimento que surge nas manifestações de 2013 e que chega ao seu ápice como processo nas eleições de 2018, mas que ainda deve produzir efeitos nos próximos anos, talvez inclusive em sentido contrário. De qualquer forma, o acirramento dos ânimos em ambos lados do tabuleiro político foi apenas uma consequência desta dinâmica.

O que preocupa diante deste cenário é a falta de diálogo e capacidade de criar consensos, algo essencial em um regime democrático. Ao contrário, vemos algo que passa ao largo do debate de ideias. Vemos grupos que se enxergam como inimigos, ao invés de adversários que defendem projetos e visões distintas de país. A crescente intolerância em ambos os grupos os torna reféns de seus piores defeitos, que em última instância sempre irá gerar reflexos negativos em nossa jovem democracia.

Sabemos que quando os princípios em que se baseiam as instituições são desprezados, a civilização acaba por optar pela barbárie. Se de um lado a força tarefa de Curitiba desbaratou o maior esquema de corrupção da história, por outro lado ficou claro que os métodos utilizados pelos seus agentes nem sempre foram os mais adequados. O perigo ronda a sociedade quando os agentes públicos, diante de visão torta de hipossuficiência da população, tornam-se o que se convencionou chamar de agentes políticos da lei contra os agentes públicos acima da lei. De qualquer sorte, qualquer uma das opções contradiz os princípios básicos de uma nação que se diz orientar pelos mais nobres princípios constitucionais.

Não sabemos o que nascerá deste embate, entretanto sabemos que prevalece em nosso país o desejo de vencer a qualquer custo, em qualquer um dos lados, e quando isso acontece todos perdem. Acima das diferenças políticas deve existir o império da lei, que resguarda nossas instituições, último bastião de nossas liberdades democráticas. Rejeitar as regras do jogo, em última instância, acaba por destruir nosso arcabouço de liberdades, mas quando isto é percebido, geralmente é tarde demais.

O erro da Lava Jato reside nos métodos empregados, mas jamais em seu objetivo. Seu sucesso é inquestionável, entretanto, diante da polarização que vive o Brasil torna-se muito difícil separar a linha que separa aquilo que chamamos de ponderação, daquilo que convencionou-se chamar de torcida. De qualquer forma, é preciso entender que não podemos abandonar os princípios que nos norteiam como nação. A política deve regenerar-se pela política, sem intervenções externas ou mecanismos populistas. A ansiedade em produzir mudanças não pode atingir os princípios legais que garantem ao cidadão o pleno exercício de sua cidadania.

A política não pode ser criminalizada, pois é a via institucional do entendimento e da conciliação, elementos sem os quais a democracia não sobrevive. Nosso país precisa fazer a opção pela política, ao invés de incitar o confronto. É preciso diálogo ao invés da imposição. Longe dos radicalismos, o Brasil precisa optar pela ponderação e acreditar na concertação como forma de preservar nossa democracia.

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