terça-feira, julho 31, 2007

Indigestão Cultural Européia

Indigestão Cultural Européia
Por Márcio C. Coimbra*

"A crescente imigração aliada à tímida taxa de natalidade da Europa começa a mudar a face do continente"

As taxas de natalidade na Europa têm apresentado quedas significativas nos últimos tempos. Uma simples viagem pelo continente mostrará esta realidade. Muitos são os casais que decidem não ter filhos. Este número cresce em larga medida onde encontramos maior desenvolvimento econômico. Ou seja, nas classes mais altas e nos países que possuem os melhores índices de qualidade de vida. Apesar de já ter observado este fato, percebi que não são somente fatores econômicos que podem ser responsável por esta realidade. Alguns pesquisadores culpam o estado de bem estar social europeu, além da falta de maior conservadorismo na Europa. Estou seguro que todos estes fatores são importantes, entretanto é preciso entender as conseqüências desta nova realidade que aos poucos vai mudando a face da Europa.

Acredito que a baixa natalidade não é explicada somente por um determinado fator. Diversas são as causas que estão levando os europeus a optarem por este caminho. O estado de bem estar social pode ser um deles, talvez o principal. Nesta linha de pensamento, o excesso de zelo e ajuda do Estado, mediante políticas assistencialistas ajudaram a desestruturar o modelo viável de família, sob o ponto de vista social e econômico, como bem apontou a professora Jennifer Morse em sua série de artigos sobre o tema. O estado de bem estar, que desestimula a natalidade e o casamento, paradoxalmente, precisa de jovens para financiar o sistema, sob o risco de colapso.

As baixas taxas de natalidade se espalham por toda a Europa. Um sistema em equilíbrio necessita de 2,1 filhos por mulher. A média européia fica abaixo disto, por volta de 1,47. Países como Polônia, Itália, Bulgária e Espanha atingem preocupantes 1,2, enquanto França e Suécia estão na média de 1,7. No caso da França, por exemplo, um dos países onde mais se encontram crianças, um em cada três nascimentos é proveniente de imigrantes muçulmanos. Na Espanha ocorre o mesmo, havendo uma mescla entre imigração latino-americana e muçulmana, em especial da África. A cara da Europa está mudando, e conseqüentemente, seus hábitos, culturas e crenças.

Aqui se encontra o ponto de inflexão. A crescente imigração aliada à tímida taxa de natalidade da Europa começa a mudar a face do continente. Este não seria um fato preocupante se a Europa soubesse valorar a importância de sua própria nacionalidade, incentivando, desta forma, que o imigrante enxergasse o novo país como sua nova nação. Os distúrbios em Paris evidenciaram a falta de uma política clara neste sentido. Filhos de imigrantes, nascidos na França, queimavam carros. Na Inglaterra, filhos de imigrantes, portanto, cidadãos ingleses natos, foram responsáveis pelos atentados terroristas de 2006. Existe uma tensão social gerada pela falta de habilidade na condução das políticas de absorção da imigração, exatamente como descreveu Giovanni Sartori em A Sociedade Multietnica, quando analisa pluralismos e multiculturalismos.

A Europa passa por uma “indigestão cultural” como bem definiu Nicholas Eberstadt em artigo recente no Washington Post. As tensões sociais somente podem diminuir por meio da interação e integração à cultura local. Não se discute se haverá ou não islamização na Europa, mas debate-se em que grau ocorrerá e como é possível lidar com este fenômeno. Muitos se perguntam, inclusive, se a cultura européia conseguirá resistir e sobreviver, especialmente em função da baixa natalidade.

Restringir a imigração não é uma saída viável. De nada ainda restringir as leis imigratórias na Dinamarca e Áustria, como ocorre hoje, se Espanha e Itália abrem suas fronteiras, inclusive fornecendo amparo aos ilegais que chegam a seu território. É preciso controlar a imigração ilegal e facilitar a imigração legal, especialmente de pessoas qualificadas, de classe média, dispostas a se integrar a uma nova cultura.

O saudoso Jean Francois Revel sempre citava os Estados Unidos como um bom exemplo a ser estudado no tocante a imigração. Por certo os americanos têm experiência em absorver imigrantes em grande número mantendo forte integração. Entretanto existe outro fator basilar presente nos Estados Unidos: os fortes pilares conservadores cristãos aliados aos princípios de uma economia livre. Isto talvez explique porque, além de serem prósperos, os americanos possuem taxas de natalidade equilibradas e uma política de sucesso na integração dos imigrantes aos fundamentos da sociedade.

Sem o conservadorismo ou os fortes valores cristãos dos americanos, talvez a receita para a Europa seja por meio de uma forte desregulamentação da economia, baseada no labor e responsabilidades individuais. Assim podem-se evitar futuras tendências radicais. O fim do estado de bem estar social, entretanto, é inevitável. Cada vez estou mais seguro que somente um sistema baseado em plena liberdade econômica e incluindo em seu seio, diversas culturas, é o caminho do futuro para uma Europa plural e estável.
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* Márcio C. Coimbra é analista internacional do Hayek Institut, em Viena, Áustria.
Editor-Executivo do site PARLATA - www.parlata.com.br
Editor do Blog Diários do Velho Mundo
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Secretário privado de Bento XVI alerta para islamização da Europa
Agência EFE

O secretário privado do Papa Bento XVI, Georg Gänswein, alertou para a ameaça de uma islamização da Europa.

"Não podemos negar que existem tentativas de islamizar a Europa", afirmou Gänswein em entrevista ao suplemento semanal do periódico alemão "Süddeutsche Zeitung", publicada hoje.

Gänswein acredita que não se deve "ignorar, por falsas considerações, o risco para a identidade da Europa" que decorre da situação.

Segundo o secretário do Papa, a Igreja Católica vê "muito claramente" este perigo, e "também o diz".

Gänswein ressaltou que, em seu controvertido discurso de Regensburg, Bento XVI quis precisamente chamar a atenção para uma "certa ingenuidade" sobre esta questão.

Os protestos que seguiram ao discurso no mundo islâmico se devem, de acordo com Gänswein, à forma como o Papa foi citado na imprensa, pois sua declaração "foi tirada de contexto e apresentada como opinião pessoal".

O religioso referiu-se com isto à frase citada pelo Papa de um imperador bizantino que afirmou que no Islã "só se podiam encontrar coisas más e desumanas".

"Eu acho que o discurso de Regensburg, como pronunciado, foi profético", afirmou.

Gänswein ressaltou, contudo, que nem todos os muçulmano agem da mesma forma. O Islã, lembrou, reúne muitas correntes diferentes, e em parte rivais, inclusive "extremistas que recorrem ao Corão para fazer uso das armas".

Por outro lado, o secretário do Papa destacou a importância do diálogo com as igrejas do Leste, e disse que o objetivo deve ser superar a divisão entre ortodoxos e católicos romanos. "É um escândalo que a Cristandade continue dividida".

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