terça-feira, setembro 18, 2018

À Espera de um Milagre

A campanha presidencial deste ano aos poucos vai tomando o caminho da polarização. A convergência em uma força chamada de centro, que serviria como ponto comum em assuntos mínimos, parece ter fracassado. Isto tem relação com o período que passa o país, uma entressafra política que divide dois ciclos históricos, o fim da Nova República e o surgimento de um novo quadro de forças políticas.

Isto explica a falta de tração na campanha de Alckmin, que optou pelo caminho do centro em um momento de renovação. Aliar-se aos partidos mais fisiológicos da política brasileira em tempos de Lava Jato também em nada ajudou sua caminhada. Tornou-se refém da velha política e suas práticas, como acreditar que o tempo de rádio de televisão faria seu nome emplacar na cabeça do eleitor. O tucano não entendeu que este pleito representa um movimento de ruptura com estruturas antigas.

Alckmin fez as apostas erradas ao falhar na leitura do momento histórico pelo qual passa o país. João Dória, por exemplo, teria muito mais diálogo com o eleitor por personificar um discurso novo. Se fosse o escolhido do partido para liderar a candidatura e unificar as forças de centro, certamente teria chegado neste ponto da disputa com mais força. Doria conseguiria transmitir segurança ao establishment, ao mesmo tempo que veste a camisa da renovação diante do eleitor.

Alckmin, que partiu de um partido rachado, atingido pelo caso Aécio e a proximidade com Temer, tinha pouco a oferecer a um eleitor que busca novos ares na política. Era uma tarefa praticamente impossível. Instado a bater em Bolsonaro, deu um passo em falso e colheu a impopularidade do eleitorado fiel do capitão.

O eleitor não perdoa erros, especialmente em uma eleição curta. Diante da inércia dos números de Alckmin, seu apoiadores começaram um movimento em direção a Bolsonaro, com vistas a evitar um segundo turno contra Haddad. O antipetismo hoje migrou para o candidato do PSL. O tucano acabou murchando.

Alckmin segue a espera de um milagre, parecido com aquele que levou Aécio ao segundo turno em 2014. Mas como sempre digo, nada difere mais da eleição de 2014 do que esta de 2018. Se quiserem um paralelo, é só buscar a configuração de 1989. Mais do que Aécio em 2014, Alckmin se parece com Ulysses e Aureliano, donos do maior latifúndio de tempo de televisão da eleição de 30 anos atrás. Juntos, obtiveram cerca de 5% dos votos. Alckmin hoje pontua em 6%.

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