Não há nada de mais danoso para
democracia do que um governo impopular que nutre o desejo de ser admirado pelo
povo. Michel Temer chegou ao Planalto cercado pela oportunidade de realmente
fazer diferença, conduzir reformas e pacificar o Brasil. Perdeu em todas
frentes. Deixará o governo com um rombo nas contas públicas e uma eleição que
tem como tônica a polarização.
As intenções, assim que desembarcou
no Planalto, poderiam ser realmente as melhores. Delegou a economia para bons
nomes e articulou uma agenda de reformas. Mas ao mesmo tempo cometeu erros,
especialmente ao escolher aqueles que orbitariam em torno de seu gabinete no
Planalto. Entre penitenciárias, tornozeleiras, gravações, ações da Polícia
Federal e denúncias da PGR foi perdendo seus assessores. Os que resistiram
ajudam a preparar a vida pós-governo.
Fato é que desde a noite em que veio
a tona a gravação de Joesley Batista envolvendo Michel Temer, o governo acabou.
A partir daquele momento, o foco passou a ser a sobrevivência, rifando as
reformas e qualquer outra agenda que pudesse recolocar o Brasil nos trilhos. O
esforço se resumiu a conseguir votos para não cair. O custo foi alto, mas Temer
conseguiu evitar o pior em duas votações na Câmara dos Deputados.
Entretanto, faltando menos de um ano
para a eleição presidencial, o foco deslocou-se da política parlamentar para a
eleitoral, sepultando qualquer possibilidade de aprovação de reformas ou
projeto de pacificação do país. O governo havia gastado todo seu capital para
sobreviver e agora faltava força política para trabalhar pelo Brasil. Ao invés
de usar sua impopularidade em favor do país, deixando a casa arrumada para o
próximo governo e esperar o julgamento de seus feitos pela História, preferiu a
estratégia da auto-blindagem.
Na economia, deixamos para trás os
perigos do populismo fiscal dilmista, mas ainda estamos longe de encontrar o
equilíbrio de outrora. A vontade indômita de Meirelles buscar o Planalto
somente atrasou este tortuoso processo. O tamanho do déficit que será legado ao
novo governo e aos brasileiros em geral ainda não está totalmente quantificado.
Na ânsia de asfaltar o próprio
futuro, os atuais ocupantes do Planalto traçam muitas estratégias. Passa pela
articulação e indicação de magistrados simpáticos ao governo e chegou nesta
semana ao patamar do impensável, colocando o parco ajuste fiscal feito até aqui
em xeque. Como é de costume, o Presidente cedeu diante da primeira pressão e
decidiu rever a decisão que aumenta os salários do Judiciário que irá julgá-lo
assim que deixar o poder.
O ocaso de Temer não será mais
brando se permeado por medidas de cunho populista. A capacidade de reação do
governo neste campo é nula. Sem articulação ou diálogo com a sociedade, perdeu
a capacidade de liderança. Isto está traduzido na completa ausência do
Presidente no tabuleiro eleitoral. Que a eleição promova a legitimidade e
liderança que o Brasil precisa para mudar.
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