O atentado sofrido por Bolsonaro é
mais um capítulo de uma eleição marcada pela polarização e de um país onde a
banalização da violência se tornou uma triste realidade. Os desdobramentos
políticos já começaram a acontecer, tanto nas campanhas dos outros candidatos,
quanto nas estratégias eleitorais dos partidos. Um acontecimento como este mexe
com toda a estrutura política nacional, especialmente durante uma corrida
eleitoral. O fato é que a dinâmica da campanha mudou.
No plano político, quem sai perdendo
é Geraldo Alckmin. O candidato do PSDB traçou como estratégia central de sua
campanha o antagonismo em relação a Bolsonaro. Usava peças de rádio e televisão
extremamente duras contra o candidato do PSL. Continuar a usar este material
diante desta situação seria suicídio político. Entretanto, Alckmin não possui
plano B. Precisará redesenhar toda sua estratégia para tentar chegar ao segundo
turno.
O desenho da campanha de Alckmin
pareceu equivocado desde o começo. Seguiu os manuais de marketing político, que
orientam aquele candidato sem brilho a sempre se contrapor ao líder das
pesquisas, pois assim atrai holofotes e ao mesmo tempo tenta desidratar aquele
que está na frente. Esta lógica não funciona, porém, quando o líder tem apoiadores
fiéis e convictos. Era o que estava acontecendo. A rejeição crescia fora do
eleitorado de Bolsonaro, enquanto seus números se mantinham firmes. Do outro
lado, a rejeição ao tucano também aumentava, enquanto seus números permaneciam
estáveis.
O tropeço de Alckmin abre espaço
para o crescimento de Haddad, que a partir da semana que vem recebe o endosso
formal do partido e o apoio explícito de Lula como candidato oficial do PT.
Como os petistas não centralizam sua campanha em um embate direto com Bolsonaro,
não saem menores do episódio, como ocorre com o competidor tucano. Haddad terá
pista livre para receber o apoio do líder petista, fazendo uma campanha
positiva, lembrando dos feitos do ex-Presidente, dizendo que trará de volta o “Brasil
de Lula”. Não precisará ombrear com Alckmin (que deve exorcizar seus próprios
demônios) por um lugar ao sol.
Ciro também se beneficiaria do revés
tucano, mas sem a estrutura nacional do petismo, apoios estaduais, endosso de
Lula e o milionário fundo eleitoral do PT, de 212 milhões de reais, deve ficar
pelo caminho, apesar de a prudência mandar monitorá-lo com atenção. Marina
sofre de um mal ainda maior. Possui discurso, porém não consegue tração pela
falta de estrutura. Precisaria de uma onda favorável - algo que não parece
surgir no horizonte político até o final do primeiro turno.
Além disso, a comoção deve fazer com
que muitos eleitores de Bolsonaro finalmente assumam seu voto, pois depois do
atentado sentem-se mais confortáveis em dizer publicamente que votarão nele.
Além disso, haverá uma transferência de votos que ocorre naturalmente em
situações como esta.
Bolsonaro também está fora da
campanha no primeiro turno. Se possuía nove segundos na televisão, o atentado
fez com que estivesse no ar por 24 horas e nos próximos dias/semanas terá
também uma vasta cobertura da mídia. Não deve participar dos debates e enquanto
estiver convalescendo, não deve ser vítima de ataques de seus opositores. Deve
fazer, ao final do primeiro turno, algumas aparições controladas, mas em função
da recuperação e da dor que ainda deve sentir, sua mobilidade será reduzida.
Centrará esforços nas redes sociais, enquanto seus filhos e vice devem assumir
as viagens de campanha pelo Brasil. Mourão, Flávio e Eduardo ganharão os
holofotes de campanha neste período.
Muitos dirão que é cedo para fazer
previsões. Pode ser. Entretanto, o movimento de uma eleição é previsível diante
de certos cenários. A leitura mais clara neste momento aponta para os lados
apontados aqui. A conferir.
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