segunda-feira, setembro 24, 2018

Petismo Vs Antipetismo

Lula entrou no jogo da política nacional durante os anos do regime militar. Foi uma tentativa de Golbery atenuar o poder daqueles que logo mais retornariam ao país com a anistia. Na ânsia de enfraquecer Arraes, Brizola e diluir o poder de fogo do antigo MDB, sob o comando de Ulysses, os militares resolveram estimular o surgimento de uma nova liderança do mesmo campo, desta vez oriunda do movimento sindical. Dividida, a esquerda teria mais dificuldades de se organizar e alcançar o poder.

A estratégia de abertura lenta e gradual de Golbery funcionou em um primeiro momento, mas acabou por fomentar a reorganização das esquerdas sob o comando sindical. Dirceu e Lula criaram aos poucos o aparato partidário que se tornaria hegemônico, sobrepondo-se aos demais líderes de mesmo corte ideológico, que de volta do exílio, viram seus partidos transformarem-se em satélites do PT.

Ao alcançar o segundo turno contra Collor em 1989, Lula consolidou seu projeto como a principal força na esquerda política. A partir daí toda eleição presidencial brasileira passou a orbitar em torno dele, seja como protagonista ou antagonista. A eleição de 2018, mesmo com o líder petista condenado e preso, se torna mais um capítulo deste mesmo enredo.

Os tucanos, que são primos ideológicos do petismo, ambos de esquerda, porém uma de corte social democrata intelectual e a outra socialista sindical, encenaram uma espécie de falso duelo desde a eleição de 1994. Jogado pelas circunstâncias no polo oposto, o PSDB, que havia apoiado Lula no segundo turno de 1989, acabou por se tornar seu principal rival.

Entretanto, a entrada de um jogador que transita pela direita, Bolsonaro, colocou os tucanos em uma posição incômoda. Acostumados a receber o voto antipetista, não souberam se posicionar quando tiveram que assumir sua própria identidade no jogo político. Reposicionados entre Bolsonaro e Lula, foram esmagados pelas duas forças antagônicas que se apresentaram nestas eleições.

Talvez por dificuldade ideológica, o PSDB não soube representar o antipetismo quando alguém de corte mais conservador se apresentou para o embate. A social democracia tucana entrou em transe diante deste cenário e o imobilismo de Alckmin é a maior tradução deste cenário nesta corrida presidencial.


De nada adianta o ex-Presidente Fernando Henrique fazer um apelo para a união das forças de centro democrático. Este é um campo político inexistente no Brasil. Mais uma vez estamos diante do duelo entre forças petistas e antipetistas e sem a força do discurso antiLula, capturado por Bolsonaro, os tucanos agora precisam enfrentar seus próprios dilemas, reduzidos ao seu real tamanho nesta campanha. Enquanto isso, a criatura de Golbery e seu partido enfrentarão pela primeira vez um projeto antagônico e de total rejeição aos rumos que o país tomou nos últimos 30 anos, seja na mão de petistas, tucanos e seus associados. A conferir.

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