Lula entrou no jogo da política
nacional durante os anos do regime militar. Foi uma tentativa de Golbery
atenuar o poder daqueles que logo mais retornariam ao país com a anistia. Na
ânsia de enfraquecer Arraes, Brizola e diluir o poder de fogo do antigo MDB,
sob o comando de Ulysses, os militares resolveram estimular o surgimento de uma
nova liderança do mesmo campo, desta vez oriunda do movimento sindical.
Dividida, a esquerda teria mais dificuldades de se organizar e alcançar o poder.
A estratégia de abertura lenta e
gradual de Golbery funcionou em um primeiro momento, mas acabou por fomentar a
reorganização das esquerdas sob o comando sindical. Dirceu e Lula criaram aos
poucos o aparato partidário que se tornaria hegemônico, sobrepondo-se aos
demais líderes de mesmo corte ideológico, que de volta do exílio, viram seus
partidos transformarem-se em satélites do PT.
Ao alcançar o segundo turno contra
Collor em 1989, Lula consolidou seu projeto como a principal força na esquerda
política. A partir daí toda eleição presidencial brasileira passou a orbitar em
torno dele, seja como protagonista ou antagonista. A eleição de 2018, mesmo com
o líder petista condenado e preso, se torna mais um capítulo deste mesmo
enredo.
Os tucanos, que são primos
ideológicos do petismo, ambos de esquerda, porém uma de corte social democrata
intelectual e a outra socialista sindical, encenaram uma espécie de falso duelo
desde a eleição de 1994. Jogado pelas circunstâncias no polo oposto, o PSDB,
que havia apoiado Lula no segundo turno de 1989, acabou por se tornar seu
principal rival.
Entretanto, a entrada de um jogador
que transita pela direita, Bolsonaro, colocou os tucanos em uma posição
incômoda. Acostumados a receber o voto antipetista, não souberam se posicionar
quando tiveram que assumir sua própria identidade no jogo político.
Reposicionados entre Bolsonaro e Lula, foram esmagados pelas duas forças
antagônicas que se apresentaram nestas eleições.
Talvez por dificuldade ideológica, o
PSDB não soube representar o antipetismo quando alguém de corte mais
conservador se apresentou para o embate. A social democracia tucana entrou em
transe diante deste cenário e o imobilismo de Alckmin é a maior tradução deste
cenário nesta corrida presidencial.
De nada adianta o ex-Presidente
Fernando Henrique fazer um apelo para a união das forças de centro democrático.
Este é um campo político inexistente no Brasil. Mais uma vez estamos diante do
duelo entre forças petistas e antipetistas e sem a força do discurso antiLula,
capturado por Bolsonaro, os tucanos agora precisam enfrentar seus próprios
dilemas, reduzidos ao seu real tamanho nesta campanha. Enquanto isso, a
criatura de Golbery e seu partido enfrentarão pela primeira vez um projeto
antagônico e de total rejeição aos rumos que o país tomou nos últimos 30 anos,
seja na mão de petistas, tucanos e seus associados. A conferir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário