quarta-feira, junho 26, 2013

Governo Errático

As medidas anunciadas por Dilma de surpresa antes da reunião com os governadores e prefeitos tinha dois objetivos. O primeiro era criar um fato novo que capturasse a agenda nacional. Conseguiu. No Twitter vemos que já existem mais menções sobre reforma política ou constituinte do que protestos. Os jornais engoliram a isca e a nova pauta, ao mesmo tempo que a intensidade dos protestos diminuiu. O segundo era dar uma resposta real aos protestos. Neste quesito falhou.

O barulho das ruas ecoou em Brasília e todos tentaram faturar mostrando-se sensíveis ao pleitos dos protestos. A Câmara rejeitou a PEC 37 e aprovou proposta que ajuda reduzir tarifa do transporte coletivo. A CCJ aprovou o fim do voto secreto para cassação de mandato. No Senado, Renan Calheiros tornou-se um portal de canalização dos pedidos das ruas. Criou uma pauta para os próximos 15 dias inteiramente dedicada aos pleitos dos protestos. Crime de corrupção tornou-se hediondo e projeto para passe livre aos estudantes com a utilização dos royalties do petróleo está na pauta. Renan ainda sugeriu diminuir o número de ministérios. O Presidente do Senado sabia que sua cabeça pode virar bandeira nas manifestações. Decidiu se proteger. No Judiciário veio a decisão de prisão de um deputado federal. Algo pleiteado há tempos. Pode não ter relação com os protestos, mas a sintonia foi perfeita.

O único poder que pareceu errático até o momento foi o Executivo. Consegui seu fato novo, mas não sabe-se até onde dura e mostrou-se despreparado para levar seu projeto adiante. Propôs constituinte. Depois desistiu. Agora é só plebiscito. Não haverá espanto se desistir do plebiscito também, até porque é uma medida intempestiva, considerando-se eleições presidenciais no próximo ano.

O problema de Dilma é que os efeitos nocivos de suas medidas que já afetavam a economia se tornaram ainda mais danosos com as manifestações. O dólar disparou e o Banco Central não dá sinais de controle da cotação. As bolsas despencam capitaneadas pelo desmonte do império de Eike Batista, que flerta com a lona. A inflação não dá trégua. Por tudo isso, Lula deu uma dica valiosa para Dilma: demitir Guido Mantega e indicar Henrique Meireles para o comando da Fazenda com carta branca. Ela resiste. Enquanto isso, a economia derrete.

Lula tem um bom faro político. Sabe que ainda é possível vencer as eleições do próximo ano, entretanto, isso só é viável com a economia nos eixos. A política desenvolvimentista inflacionária de Dilma pode custar o governo. Dilma pode aprontar as estripulias que desejar com medidas de contenção erráticas nesta crise, entretanto, Lula mira mais longe, na sua própria volta em 2014. Para isso precisa de inflação baixa. Para isso precisa trocar o comando da economia. Para ontem.

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