sexta-feira, junho 14, 2013

O Risco Turco

Enquanto no Brasil vive-se um período de protestos, na Turquia a coisa já é um pouco mais séria há tempos. Lá, o Estado democrático e secular fundado por Mustafa Kemal Atatürk começa a fazer água. Não começou agora, mas com a chegada pelo voto dos islâmicos ao poder. Hoje controlam a chefia de Estado e de governo.

Estive a trabalho na Turquia em 2007, quando morava em Viena. Naqueles dias havia também esta tensão entre estado laico e a pressão dos partidos islâmicos que vencem eleições. Nada contra partidos islâmicos, o problema existe quando estes tentam interferir nas estruturas do país para torná-lo mais moldável aos seus preceitos.

O Primeiro-Ministro Recep Tayyip Erdogan está no poder desde 2003. Seu partido, aos poucos tem mudado a face da Turquia, inclinando o país em direção aos preceitos islâmicos. Há resistência. A Turquia moderna, fundada pelo amado Atatürk, um admirador do iluminismo, é laica e sempre se mostrou bindada a qualquer tentativa de intervenção aos preceitos defendidos por seu fundador: "nosso George Washington" me disse um turco, quando estive por lá. O elemento de equilíbrio por ali sempre foram as forças armadas, dispostos a depor e restabelecer os princípios norteadores do país.

Erdogan é um político hábil. Vejam esta capa da Time. Transita no Ocidente e conversa com o Irã. Mas internamente trabalha minando as instituições aos poucos. Há oposição, mas fraca. A imprensa sofre com prisão de jornalistas e os militares também foram atingidos, por serem, evidentemente, a força que poderia depor o governo.

Muito turcos enxergam as novas medidas como a gota d'água contra o estado laico. Tem razão. Os preceitos onde a Turquia moderna foi balizada correm riscos. Por isso os protestos. Por isso a repressão forte aos manifestantes e as teorias de conspiração que levam jornalistas, professores e militares para a prisão. Mas o governo turco joga na esfera internacional de modo inteligente. Não se compromete, mostra-se como o fiel da balança e transita livremente nos salões internacionais. Até que o mundo se dê conta que a Turquia não é mais Turquia que conhecemos.

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