quinta-feira, outubro 03, 2013

Os Acenos de Teerã

A política externa dos Estados Unidos em relação ao Oriente Médio sempre pairou nos desdobramentos da questão entre israelenses e palestinos. Qualquer um dos novos secretários nomeados para chefiar o departamento de Estado procura sempre um caminho que pavimente um acordo. Mas talvez a estabilização da região passe por outros locais. Se esta nova estratégia está correta, a capital mais importante que deve ser considerada no jogo é Teerã.

No xadrez das peças do Oriente Médio, a eleição de Rouhani abre uma oportunidade. Por certo o caminho do Irã não muda com a eleição do novo Presidente, pois ele responde ao líder supremo, Aiatolá Ali Khamenei, mas sem dúvida a saída de cena de Ahmadinejad facilita muito as coisas.

Khamenei enxerga os valores ocidentais com sérias restrições, mas é um político e acima de tudo procura sedimentar o modelo de democracia iraniana que vem sendo implementado em seu país. Ao contrário do que muitos acreditam, talvez não enxergue os Estados Unidos apenas como um inimigo, mas como mais uma potência no mundo, com a qual não divide valores, mas com quem é preciso lidar. Os americanos são a peça mais importante no tabuleiro internacional dos iranianos, uma espécie de passaporte que mudaria seu status diplomático no mundo. Há espaço para muitas negociações.

O líder do Irã, em seu jogo tenso de relacionamento com o ocidente, conseguiu manter seu país firme em seus propósitos e implementou uma agenda que mistura teocracia com democracia e flexibilizações quando necessário. O Irã tornou-se um jogador de peso na política internacional.

Assim como Nixon e Mao se aproximaram e os americanos passaram a conviver com o regime chinês, reconhecendo seu potencial e força na balança internacional, o Irã talvez busque o mesmo caminho. Assim, esta possível aproximação de Teerã com Washington pode ser um movimento muito lento neste sentido. Um movimento, vale lembrar, que deve ser muito bem calculado, pois um pequeno erro de cálculo pode comprometer os resultados para ambos.

Assim, quando a Assembléia Geral da ONU iniciou e a Síria era a peça mais importante do jogo internacional, quando terminou vimos o Irã sair como um dos protagonistas. A ligação telefônica entre Obama e Rouhani possui significados e desdobramentos que ainda renderão muitas análises.

Não sejamos ingênuos. É preciso parcimônia para lidar com os aiatolás. Existe muita cautela de ambas partes, em especial, com razão, do lado americano, especialmente no que tange ao programa nuclear, ponto central de possíveis negociações. Mas pela primeira vez existe um caminho que pode pavimentar conversas e quem sabe acordos que podem gerar muitos reflexos positivos no Oriente Médio.

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