quinta-feira, outubro 31, 2013

A Habilidade de Mariano

A notícia mais importante da semana foi a confirmação por alguns institutos dos dados fornecidos pelo Banco de España: o país realmente está conseguindo sair da recessão. A situação ainda não é boa, mas pela primeira vez vemos um movimento real de condução dos números para patamares mais animadores. Esta é uma ótima notícia para o Presidente de Governo, Mariano Rajoy, que enfrenta a mais grave crise desde a redemocratização.

Mariano formou uma grande equipe e possui ao seu lado a experiência de ter participado do grupo de José María Aznar, que conduziu a Espanha pelo caminho da recuperação econômica entre 1996 e 2004. Quando Aznar chegou ao poder, o desemprego rondava os 25% e os números da economia eram desanimadores. Em pouco tempo foi possível reverter este cenário tornando a Espanha uma das jóias da economia da zona do Euro. Mas depois de Aznar colocar a casa em ordem veio um atentando e Zapatero assumiu o poder. A economia saiu dos trilhos, como era esperado.

Rajoy é o quadro mais preparado do Partido Popular. Durante os anos em que trabalhei dentro da estrutura partidária do PP espanhol em Madri, sempre reconheci uma competência particular na condução dos dados e pesquisas por Mariano. Ele não é um político típico. Não é dado a arroubos populistas. É discreto. Assemelha-se mais um técnico com larga experiência em contas públicos e no funcionamento da máquina estatal. Conhece cada detalhe de seus gargalos, necessidades e imposições. Sua eleição era exatamente aquilo que a Espanha precisava.

Portanto, os números não surpreendem. Sabemos que a situação deixada por Zapatero, agravada pela crise, é muito mais severa do que aquela encontrada por Aznar em 1996, mas se existe um nome capaz de reverter este estado de coisas, este nome é o de Mariano.

Pela primeira vez em muito tempo vemos a quarta maior economia da zona do Euro sair da contração. O desemprego, que andava na casa dos 7% com Aznar e subiu para assustadores 26% com os socialistas dá sinais de mudança. Pela primeira vez, vemos uma contração para a casa dos 25%. As exportações voltaram a crescer. O trabalho adiante ainda é longo, mas sabemos que a Espanha trilha o caminho correto.

quarta-feira, outubro 30, 2013

Liderança e Poder

A sensação de que Obama cada vez mais segue para um melancólico segundo mandato vem também da revista Forbes. Em seu tradicional ranking dos líderes mais poderosos do mundo, o Presidente aparece em segundo lugar, logo atrás de Putin. Nos seus calcanhares está o chinês Xi Jinping, que acaba de chegar ao poder. No próximo ano, entretanto, a situação pode piorar.

Putin é considerado hoje mais poderoso que Obama, segundo a Forbes, por vários aspectos analisados, como o número de pessoas sobre o qual o poder é exercido, sua influência em diversas esferas, os recursos financeiros sob seu controle, além é claro, da forma como exerce o poder. Obama perdeu certamente neste último quesito.

Já dizia Sir Halford John Mackinder que aquele que controla o porção territorial do Leste da Europa e parte da Ásia, onde está localizada a Rússia, controla também o mundo. Se formos considerar os aspectos geográficos, naturais e geopolíticos, certamente Mackinder também colocaria o Presidente russo na capa da Forbes, mas sabemos que a abrangência do poder de Putin vai muito além disso.

Não há dúvida sobre a potência econômica e militar americana. É surpreendentemente forte e capaz, entretanto, é preciso vislumbrar dois aspectos. O primeiro deles de caráter militar. Os Estados Unidos se orientam por ditames democráticos e sem a característica de dominação militar. São tradicionalmente mais isolacionistas do que conquistadores. Foram levados a condição de superpotência como consequência, sem nunca ter almejado esta posição. Esta confusão entre ter e exercer o poder ainda é algo em amadurecimento na sociedade americana. O segundo ponto é a economia, que sustenta-se em um modelo democrático e funciona. Deve se recuperar dos abalos com relativa tranquilidade.

Os russos, entretanto, possuem uma característica clara de dominação. Exercem o poder forte e sua economia se baseia neste sistema. Os chineses atualmente, da mesma forma, sem a característica da personificação como os russos. Antes de Xi Jinping veio Hu Jintao. Você se lembra dele?

Logo as economias e a formas de exercer o poder são diferentes nestas três nações. Existe hoje no mundo uma prevalência do sistema ocidental democrático, inclusive em países asiáticos, mas isto ainda é resultado do mundo que vivíamos. Talvez no futuro algumas nações tomem ou retomem seus rumos e tradições de poder culturais.

Mas o que tudo isso tem a ver com Putin e Obama? Tudo, neste momento. Dentro da liderança exercida pela porção democrática, existe um vácuo, pois o exercício do poder por Obama tem aberto flancos para os avanços de Putin e da China. Não surpreenderá se no próximo ano o Presidente americano aparecer em terceiro lugar, atrás de Putin e Xi Jinping. No momento, sobra carisma e um Presidente muito bem intencionado, mas falta liderança aos Estados Unidos.

sexta-feira, outubro 25, 2013

A Reação de Palin

As eleições do próximo ano serão fundamentais nos Estados Unidos. Cada voto decidirá o rumo e a forma de um Congresso que será responsável pelos dois últimos anos de Obama na Casa Branca e os líderes que darão as cartas na escolha dos candidatos a Presidente em 2016. Enquanto alguns enxergam a corrida presidencial longe no horizonte, uma dica: tudo já começou.

Os primeiros movimentos dentro do GOP, Grand Old Party, como são chamados os republicanos por aqui, foram dados por Sarah Palin. Sim, ela está de volta ao ringue. Não disputará qualquer cargo novamente, mas estará por trás da estratégia de seu grupo em moldar um partido mais conservador e que oriente a escolha de um candidato alinhado com estas idéias para 2016.

Muitos acreditam que Sarah Palin é uma piada. Não é. Como analiso do ponto de vista estritamente político, deixem as paixões de lado e vamos tentar colocar o assunto em perspectiva. Ela possui realmente um potencial enorme de desequilibrar disputas em redutos mais conservadores. Neste caso, sua estratégia não é vencer democratas, mas reordenar a estrutura dos republicanos, levando o partido como um todo a um viés mais conservador.

Ela tem cruzado o país. Iowa, Tennessee, Carolina do Sul, Kentucky, Mississippi. Onde houver um republicano moderado nas cordas, ela irá ajudar a derrubá-lo elegendo nas prévias pré-candidatos mais conservadores. Sua cruzada é longa, mas não falta energia. O deputado Lamar Alexander está na sua mira, assim como os senadores Mitch McConnell e Lindsay Graham. Estes são os primeiros, mas sua lista é longa. Palin pode desequilibrar o Partido Republicano para a direita.

Sua participação em primárias é comemorada pelos conservadores, inclusive porque além de desequilibrar disputas, sua simples presença leva campanhas a arrecadar muito mais fundos e leva estímulo de voto para eleitores que não participariam da escolha. Ela é uma estrela nestes redutos.

Quem pensa que Palin está na estrada para 2014 se engana. Ela quer organizar o partido cada vez mais perto de suas idéias para que em 2016 o GOP venha com um nome realmente ligado ao lado mais conservador. O trabalho de fundo que Palin está fazendo tem por objetivo reorientar o partido, mas também pode rachá-lo de forma muito preocupante. A polarização é o hoje o principal problema da política americana. Neste caso ela tenta apagar o fogo com gasolina. A conferir.

quinta-feira, outubro 24, 2013

Sharif em Washington

Ontem, Dilma Rousseff poderia estar na Casa Branca. O jantar de sua visita de Estado estava marcado na agenda para ontem. Obama jantou com a família, mas um pouco mais cedo recebeu uma visita importante, o Primeiro-Ministro do Paquistão, Nawaz Sharif.

As relações com o Paquistão são importantes para os americanos. O país islâmico é estratégico para as ações de combate ao terrorismo, já que por ali circulam muitas forças hostis aos Estados Unidos. Não foi por outro motivo que o Islamabad entrou com honras na agenda americana depois das ações de Bin Laden.

Mas as relações entre as duas nações andaram estremecidas depois do caos político pelo qual passou o país asiático e com as constantes entradas das tropas americanas e ataques de drones no país islâmico. Existe uma sintonia muito fina que precisa ser traçada entre a manutenção da aliança com os americanos e o xadrez político interno. O Paquistão possui uma política complexa que pode levar a perigosos períodos de instabilidade. A divisão tribal do país e os grupos extremistas fazem parte deste delicado quebra-cabeça.

Foi em um Paquistão, já aliado dos Estados Unidos, que os terroristas da rede Al Qaeda, inclusive Osama Bin Laden, e os membros do Talibã encontraram abrigo depois que as tropas americanas chegaram no Afeganistão. O país governado por Sharif possui muitas complexidades e dificilmente um governante consegue manter o território inteiramente sob controle. A divisão do poder precisa ser negociada com as lideranças locais e assim abrem-se flancos onde grupos hostis ao Ocidente conseguem se impor.

Assim, a visita de Sharif possui nuances importantes. O Primeiro-Ministro reclamou sobre o uso de drones em suas palestras e comunicados para a imprensa aqui em Washington. Mas sabemos que os paquistaneses são gratos aos americanos pelo uso dos robôs. Logo, suas declarações servem para acalmar os ânimos em casa. Nawaz Sharif também está levando US$ 1,6 bilhão em ajuda militar e econômica de volta para Islamabad. Portanto, sabe que a aliança com os americanos rende também em outras frentes.

Sharif esteve por aqui. Fez o jogo político. Falou para os grupos mais duros em casa, reuniu-se os lideranças empresariais, jantou com John Kerry, tomou café da manhã com Joe Biden e encontrou-se com Obama. Levou um cheque de ajuda militar e econômica. Nada além do que se espera de um Presidente do Paquistão que, como todos os outros, tenta manter-se no poder. Ponto para ele.

quarta-feira, outubro 23, 2013

O Celular de Merkel

Depois da França, foi a vez a da Alemanha. A Chanceler Angela Merkel ligou para Obama quando recebeu a informação de que suas ligações de celular haviam sido monitoradas pelos Estados Unidos. Tudo indica que a informação vazou pela revista Der Spiegel, apesar de ainda não ter sido confirmado. O fato é que em menos de um dia o governo Obama teve sua credibilidade colocada em risco, desta vez com outro aliado importante, a Alemanha.

Já escrevi aqui sobre o vazamento das ações de espionagem norte-americanas. É fato que governos espionam. Não é bonito, mas o serviço existe. O problema, neste caso, foi a falta de cuidado - que respinga diretamente na agenda diplomática. Vazamentos evidenciam um sistema com falhas. Informações que foram coletadas pelo Estado vazaram para as mãos de terceiros.

Além disso, quem detém e vaza estas informações no momento desejado possui uma arma muito poderosa. É um instrumento que, usado de forma eficaz, pode influenciar a agenda externa norte-americana. O vazamento das informações de espionagem no Brasil, por exemplo, foram publicadas no mesmo período em que ambos os países preparavam uma visita de Estado da Presidente brasileira em Washington. Chega a ser ingênuo falar de coincidência. 

Enquanto as denúncias de espionagem respingam na Casa Branca e a imagem do país segue arranhada mundo afora, na imprensa americana o assunto não é tratado com relevância. A questão do momento, depois da batalha entre Obama e o Congresso sobre o orçamento e o aumento dívida, paira sobre a funcionalidade do sistema de saúde. Quando o assunto é espionagem, a preocupação é com o monitoramento interno dos americanos. As denúncias sobre espionagem na França, Alemanha e México, veiculadas nesta semana, estão fora dos temas relevantes da semana. 

É preciso mais atenção com este assunto. A preocupação com a espionagem interna deve ser tão debatida como a espionagem externa. A imagem dos Estados Unidos está sendo afetada de forma muito negativa com esta sucessão de denúncias. É preciso que a imprensa noticie o assunto de forma clara de modo a trazer o assunto ao debate nacional. Enquanto a população não entender o que seu governo vem promovendo, não conseguirá pressioná-lo em sentido contrário. Manter alianças externas e uma boa imagem no mundo faz parte de uma estratégia política e de comunicação que tem se mostrado falha. É preciso tomar providências sérias antes que valiosas alianças sejam ainda mais comprometidas.

segunda-feira, outubro 21, 2013

Espionagem na França

Edward Snowden continua fazendo estragos. Agora o alvo foi a França. O Le Monde publicou, baseado mais uma vez nos documentos vazados pelo americano, que a NSA espionou também a França. Logo depois de enfrentar mais uma crise interna, Obama terá que lidar com sua agenda externa.

A França, que hoje é uma aliada dos Estados Unidos, reagiu, como era esperado. O Primeiro-Ministro, em visita na Dinamarca, declarou-se perplexo. Obama, por sua vez, ligou para Hollande com o objetivo de contornar a situação. O Embaixador foi convocado, como era de se esperar.

Certamente este embaraço será contornado, entretanto, o problema que Snowden causa aos Estados Unidos é enorme, por um simples, motivo: suas informações são publicadas a conta gotas, trazendo desespero para a chancelaria americana. Não é possível saber o que será publicado amanhã, uma vez que Snowden vazou, ou continua vazando, uma série de documentos.

Como é possível manejar uma política externa desta forma? Esta é uma questão que atormenta o Departamento de Estado, uma vez que as alianças e os acordos são colocados em xeque cada vez que a imprensa divulga mais uma ação de espionagem dos americanos, em especial, contra seus aliados. Na verdade é difícil construir uma agenda externa e mantê-la de pé desta forma.

Um governo, que já possui dificuldades no front interno, agora enfrenta sérios problemas no front externo. Quem detém e vaza sistematicamente estes detalhes em relação a espionagem pode moldar ou direcionar a política externa de Obama. Não é possível saber quando e de onde virá a próxima  denúncia. Mesmo que o governo tivesse um hábil manejo diplomático, o que não é o caso, já seria difícil. Com um governo sem uma agenda externa definida torna-se ainda mais preocupante. Para quem detém as informações, um valioso trunfo.

sexta-feira, outubro 18, 2013

Bipartidarismo Necessário

A vitória foi de Obama, sem dúvida, mas o que resta no espectro político depois disso é preocupante. As análises são todas direcionadas ao péssimo momento vivido pelos republicanos e como o assunto rachou o partido mais uma vez. Entretanto, mais interessante do que isso é entender em um aspecto amplo a situação geral do que se tornou a política do país mais poderoso do mundo.

A Casa Branca obteve uma vitória, entretanto, não nos iludamos. Obama vive um momento difícil e tem pela frente três anos dramáticos. Em Washington somente especula-se sobre a sucessão do Presidente que tomou posse para seu segundo termo apenas 10 meses atrás. O início do segundo mandato é o período natural de avanço e implementação da agenda vitoriosa, uma vez que não há o compromisso de concorrer a uma reeleição. Entretanto, o que vemos é uma Presidência enfraquecida e sem iniciativa. Isto é preocupante.

Barack Obama chegou a Washington com o discurso da união e construção de pontes de entendimento entre republicanos e democratas. Quatro anos depois de assumir a Presidência enxergamos que nunca a distância entre os dois partidos foi tão grande. A responsabilidade não pode ser jogada completamente em Obama, mas seu estilo e inabilidade para lidar com determinadas situações certamente ajudaram a jogar o mundo político em uma situação de preocupante polarização, pois é uma divisão que paralisa o país.

Não há dúvida de que a situação precisa melhorar, mas para isso precisam ser criados canais de comunicação. O país está paralisado. Hoje estas pontes não existem e por conseguinte as negociações estão travadas. Esta iniciativa precisa vir da Casa Branca. Obama precisa colocar em prática uma agenda mínima, chamar os republicanos moderados e construir um entendimento. Não é uma tarefa fácil, mas enquanto nada for feito, a agenda permanecerá retida nas mãos dos grupos mais radicais de ambos os partidos e os episódios como os mais recentes continuarão a se repetir.

Repito, a iniciativa precisa partir de Obama. Caso contrário, a próxima campanha presidencial será uma batalha nada amistosa entre grupos rivais e distantes que não se toleram. A radicalização da política americana não interessa a ninguém. Caso persista no erro, Barack Obama se tornará, como chamamos na política, um pato manco, um homem sem capacidade de liderança. Conduzirá uma Presidência vazia, sem reformas, maior alcance ou impacto, carregando o perigoso legado da radicalização política, o que seria terrível para a sociedade americana.

quinta-feira, outubro 17, 2013

Vitória de Obama

O Presidente americano jogou com o brio dos republicanos e venceu. Alguns adversários classificaram o triunfo de Obama como vitória de pirro. Não foi. Foi mais. A expressão do Presidente, que se dirigiu aos jornalistas antes mesmo do acordo ser aprovado na Câmara, mostrava a confiança que emanava da Casa Branca. O Presidente, em tom vitorioso, anunciou duas conquistas: o aumento do teto da dívida e a reabertura do governo.

Os republicanos mostraram que não sabem ainda usar a sua maioria. Portando, o derrotado maior é o Presidente da Câmara, republicano John Bohener. Sua expressão de contrariedade após o acordo mostrava que realmente algo havia saído errado para seu partido. A oposição não conseguiu impor qualquer limite ou restrição aos gastos do governo. Ficou a promessa de que a Casa Branca revisará os custos com o intuito de baixar impostos no futuro. Nada mais vago.

Obama disse que não negociaria. Não negociou. Jogou duro com os republicanos e saiu vitorioso. O Presidente não recebe a pressão dos distritos como os deputados, que voltam toda semana para casa e são bombardeados pelos eleitores com reclamações e demandas. Os deputados enfrentam eleição no ano que vem. Obama está garantido até 2016 e já venceu sua reeleição. Será um Presidente de dois mandatos. No segundo termo, em tese, ele tem mais liberdade de ação. A reclamação dos eleitores que não recebem seus cheques, benefícios ou são prejudicados pelo governo geralmente batem nas costas dos deputados.

O final de semana aqui em Washington foi intenso. Meus amigos que trabalham no Congresso cancelaram compromissos e ficaram inteiramente dedicados ao processo de costura do acordo. Sabíamos que algo viraria até ontem. A maior preocupação era realmente com o limite de endividamento. Se os americanos não passassem o aumento do endividamento do país até ontem, o país começaria a não honrar seus papéis. Agências de classificação de risco não sediadas nos Estados Unidos já realizaram um pequeno rebaixamento do país, pelo simples fato de ter sido tão penoso chegar a um acordo. É um sinal. Alguns disseram que os chineses estão vibrando com isso. Calma. Nada mais interessante aos chineses que uma América rica e compradora de seus produtos, além do mais, os chineses também carregam estes títulos que os americanos deixariam de honrar.

No final das contas, o governo será reaberto, os republicanos ficaram desmoralizados por ter cedido e o Presidente da Câmara com sua liderança contestada. Obama não ofereceu qualquer coisa em troca e levou tudo que pediu. Em janeiro o drama se repete. Obama vai ceder? Agora você já sabe a resposta.

quarta-feira, outubro 16, 2013

Flanco Aberto

Enquanto Obama segue em Washington para discutir os problemas internos de seu governo, o front externo fica desguarnecido. Apesar de possuir um Secretário de Estado atuante, como John Kerry, muitas vezes a presença do Presidente, ou seja, o exercício do que é chamado de Diplomacia Presidencial, é extremamente importante. O último Presidente que exerceu com força este mecanismo no Brasil, diante das nações ricas, foi Fernando Henrique Cardoso.

Voltando a Obama. Como relatei aqui no post anterior, o Presidente americano tinha duas reuniões muito importantes na Ásia na última semana: os encontros da Asean e da Apec. Depois ele partiria para Indonésia. Ou seja, seria um giro entre Brunei, Malásia e Indonésia que ficou para trás. Como expliquei aqui, os chineses e russos agradeceram a ausência do americano, negociaram, fizeram giros movimentos políticos e posaram de líderes mundiais.

O Presidente americano ficou preso aqui em Washington para discutir dois assuntos: o shutdown, ou seja, o fechamento do governo pela falta de aprovação do seu orçamento e o risco de o país não honrar suas contas, ou seja, atingir seu nível de endividamento máximo, sem aumentá-lo - o que apenas prorroga o problema do déficit. O próprio Obama foi contra medidas assim no passado, quando o Presidente era Bush e ele era senador pelo Illinois. Ele votou contra as medidas que agora precisa tomar como Presidente.

Enfim, o Salão Oval vive dias de tensão e o Presidente está com todas atenções voltadas para a política doméstica, enquanto o flanco internacional fica em aberto. A China ocupa espaços geopolíticos na Ásia Central, a Rússia se posiciona como interlocutora na questão síria e Washington permanece imobilizada  em suas discussões internas.

Os americanos vem perdendo espaço no mundo internacional. Não falo da questão de dominação militar, mas dos meandros diplomáticos e econômicos. A capacidade bélica e humana quanto ao front militar é indiscutível, mas lembremos que este mesmo povo venceu a Guerra Fria por meio da economia sem disparar sequer um tiro. Enquanto isso a China movimenta-se em silêncio - economicamente. Os Estados Unidos precisam colocar a casa em ordem.

segunda-feira, outubro 14, 2013

Diplomacia Chinesa

As mudanças na política externa chinesa são visíveis. Cada vez mais Pequim tem feito uso do soft power. O exercício de poder exterior chinês, no momento, tem se transformado na habilidade em construir pontes políticas, econômicas e de cooperação com diversas nações pelo mundo, mas em especial com os seus vizinhos.

A política de cooperação internacional é intensa. As recentes mudanças políticas na China, com a transição de Hu Jintao para Xi Jinping somente acentuaram um modelo que já vinha sendo implementado por seu antecessor. A ajuda externa chinesa cresceu de US$ 1,7 bilhão em 2001 para US$ 189,3 bilhões em 2011, cerca de 3% do PIB do país.  Os números mostram que existe uma política externa clara em curso.

Os chineses tem interesse em manter fronteiras estáveis. Isto ajuda ao país e alimenta o comércio também com os vizinhos. Para isso, Pequim faz uso da diplomacia de cúpula, em fóruns como a Asean e Apec, além das relações bilaterais e fóruns regionais, ou seja, a diplomacia chinesa tem agido em todas as frentes.

Somente última semana Xi Jinping prometeu triplicar o comércio com a Malásia nos próximos anos, realizar investimentos na Indonésia e ampliar os negócios e cooperação em tecnologia e energia com a Austrália. Enquanto isso, o premiê Li Keqiang compareceu ao fórum de líderes da Asean no Brunei e depois seguiu para a Tailândia.

Nos últimos meses Xi Jinping também esteve em ação durante viagens intensas pela Ásia Central fazendo visitas no Turcomenistão, Cazaquistão, Uzbequistão e Quiguistão, onde os chineses se encontraram com os iranianos. Na reunião da Organização para Cooperação Xangai (SCO), ainda houve um encontro com o líder do Tajiquistão.

Como vemos, os chineses não estão brincando. A balança de poder na Ásia está movendo-se mais rápido que se esperava. Enquanto Pequim se movimenta, Washington parece paralisada. Obama cancelou suas viagens para Brunei, Malásia e Indonésia. Xi Jinping agradece.

sexta-feira, outubro 11, 2013

Bom para Aécio

A entrada de Marina Silva modifica o jogo eleitoral, entretanto, pode ser de forma diferente da qual ouvimos por aí. Uma análise do mapa eleitoral do Brasil, aliado aos resultados da última eleição nos mostra claramente onde são os bolsões de votos do petismo, tucanos e Marina e vemos que Aécio tem mais a comemorar do que a lastimar com entrada da ambientalista no jogo ao lado de Eduardo Campos.

Candidato derrotado em 2010, Serra diz ser detentor de 33 milhões de votos no Brasil, ou seja sua votação no primeiro turno. Aí está o primeiro erro. Serra não é detentor destes votos. Eles são votos da oposição. O que vale dizer que qualquer outro candidato escolhido pelo PSDB chegaria a este patamar de votos, ou seja, cerca de 32%.  No segundo turno pulou para quase 44%. Em 2006, Geraldo Alckmin obteve no primeiro turno cerca de 42%, praticamente 40 milhões de votos. Aécio deve partir deste patamar de 30% pelo geografia do voto no Brasil. A região Sul, somada a parte do Sudeste e Centro-Oeste, especialmente no cinturão do agronegócio, tem uma tendência forte em votar com um nome de centro tucano.

Marina Silva, apesar de tomar alguns votos dos tucanos, não ataca diretamente seu eleitorado. Marina venceu apenas no Distrito Federal e teve boa penetração nos estados do Norte e Rio de Janeiro, onde tomou o segundo lugar de José Serra. Vemos que em nenhum destes lugares o PSDB conta com uma expressiva votação. Marina tirou mais votos de bolsões petistas e empurrou Serra, com uma robusta votação no Centro-Sul para o segundo turno.

Eduardo Campos, ao lado de Marina, terá uma penetração mais difícil no Centro-Sul. Nenhum deles possui estrutura partidária e qualquer identificação cultural nestas regiões. Será um trabalho muito difícil. A chapa Eduardo-Marina, entretanto, tem condições de realizar uma boa votação no Nordeste, bolsão petista, no Rio de Janeiro, onde os tucanos nunca emplacam e na região Norte, reduto de Lula e Marina.

Aécio tem todas as condições de chegar ao segundo turno. Precisa escolher um vice que dê sustentação ao seu projeto e robustez eleitoral onde já é forte. Um vice do Nordeste só faz sentido se for alguém de enorme expressão e que estivesse aliado ao governo, como Eduardo Campos. Juntos, fariam uma coligação imbatível, mas o casamento político do PSB com Marina inviabilizou este projeto. Aécio precisa de um vice do Centro-Oeste, ligado ao agronegócio e que carregue com robustez uma vitória avassaladora pelo interior de São Paulo, Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais. Aliás, o estado de origem de Aécio, a jóia da coroa que faltou aos tucanos para vencer os últimos pleitos, agora nas mãos do PSDB. Caberá aos tucanos fazer bom uso dela.

A vitória nunca esteva tão ao alcance dos tucanos. Depende, entretanto, como decidirão se movimentar em um jogo que virou, ao contrário do que muitos acham, favoravelmente para o seu lado.

quinta-feira, outubro 10, 2013

Um Novo Momento

A política do Ocidente para as questões envolvendo o Oriente Médio e o Mundo Árabe tem tomado contornos cada vez mais problemáticos. Os capítulos envolvendo a chamada "Primavera Árabe", com Síria e Líbia, além do Iraque, apenas comprovam a falta de uma política coerente para a região. Apesar de existir a possibilidade de rever ações e reorientar políticas, falta uma diretriz clara para a região.

O Iraque foi o primeiro problema. Não há dúvida que Saddam Hussein representava um perigo em termos de segurança. Entretanto, ao custo de milhares de vidas de soldados norte-americanos e outros aliados, o país hoje está nas mãos de um grupo xiita que possui laços estreitos com o Irã. Certamente existiu um erro de cálculo político. A retirada de Saddam traria outro grupo para o poder. Diante do fato de que o ditador deixaria o comando em razão da guerra, faltou estabelecer o próximo passo, ou a construção de uma situação de estabilidade política no país que se traduzisse em tranquilidade na esfera internacional.

A Síria tinha potencial para tornar-se um Iraque piorado. A saída de Assad traria uma instabilidade enorme para a região. O país é comandado por um ditador, mas diante de seus opositores, talvez ele seja a opção mais segura para o Ocidente, afinal nenhum país deseja que a Síria seja comandada por um grupo rebelde ligada aos terroristas da Al Qaeda com acesso ao armamento químico de Assad. Portanto, pelo menos neste momento, a opção de atacar a Síria é um risco que precisa ser muito bem calculado.

O mesmo problema ocorreu na Líbia. Kadafi foi destituído e o país submergiu em uma situação complicada com tribos na disputa pelo poder, milícias com ligações a grupos terroristas que comandam parte do país e um governante que não consegue controlar a situação. A escalada da violência é cada vez maior, a produção de petróleo despencou e o Embaixador americano foi brutalmente assassinado. É preciso perguntar se para o Ocidente valeu a pena. Kadafi era um ditador, mas mantinha os grupos internos sob controle e a comunidade internacional mais tranquila.

A região é permeada por ditaduras. Algumas delas simpáticas ao Ocidente, como foi Mubarak no Egito, entretanto, as intervenções externas na região acabaram por fortalecer grupos hostis aos Estados Unidos e ao Ocidente de um modo geral. É preciso parar de agir somente na demanda das situações, mapear os grupos e criar uma política consistente em relação a região. É preciso encarar o quebra-cabeças do Mundo Árabe e do Oriente Médio como parte de um todo, onde forças que não representam os preceitos morais do Ocidente estão em constante disputa pelo poder.

A sucessão de intervenções realizadas até aqui somente trouxeram mais instabilidade para a região e para o mundo. Vivemos um novo momento. É preciso parar e repensar a política. Talvez esta seja a medida que crie maiores condições de segurança para todos.

quarta-feira, outubro 09, 2013

O Dilema de Obama

Enquanto o governo permanece em shutdown, Obama tem pela frente uma nova prova de fogo. Em mais alguns dias o Congresso deve autorizar o aumento do teto da dívida americana. Os republicanos mandaram um recado: estão dispostos a usar esta votação como mais uma arma política para que o Presidente negocie. Até o momento a Casa Branca está irredutível.

Enquanto a falta de autorização para o governo gastar acarreta um prejuízo mais de impacto político, a decisão de não elevar o teto da dívida pode levar os americanos a não honrarem seus papéis, considerados os mais seguros do mundo. Tal ato levaria incerteza aos mercados, derrubaria as bolsas e poderia gerar uma situação de tensão econômica séria.

Obama conta com o bom senso dos republicanos, ou seja, acredita que não prejudicariam o país misturando as duas questões. Entretanto, a intransigência da Casa Branca em buscar uma saída ao shutdown pode levar os republicanos a uma decisão mais radical. O Presidente deve se preparar para o pior, até porque a oposição jogará no seu colo o ônus de não honrar com os próprios papéis e jogar os Estados Unidos em uma situação de vexame econômica mundial. Dirão que a intransigência do Presidente está levando o país a uma situação preocupante.

O fato é que estes acontecimentos mostram um governo errático e sem rumo. Obama aposta todas suas fichas no seu projeto de saúde, mas não possui maioria na Câmara para fazer sua iniciativa ser incluída no orçamento. Está esticando a corda e não mostra-se disposto a ceder. Do outro lado, os republicanos negociam somente se o Obamacare foi retirado ou prorrogado. Há um impasse. Se de um lado existe um legado a defender, do outro existe uma agenda muito clara de combate ao projeto de saúde. No meio de toda esta guerra, que já paralisou o governo, pode acabar sobrando para a economia. Quando Obama estava no Senado, votou pela rejeição do aumento do teto, como mostra a foto. Disse que faltava liderança ao Presidente Bush. Talvez a mesma que ande em falta no Salão Oval nos dias de hoje.

segunda-feira, outubro 07, 2013

O Movimento de Marina

O fato político está posto. Marina Silva resolveu embarcar no projeto do PSB. Seu movimento gerou inúmeros desdobramentos. Uma jogada política bem pensada ou um erro estratégico de proporções monumentais. Somente o futuro responderá se ela está certa, mas desde já os cenários desenhados são passíveis de análises.

Assim que Marina sacramentou sua ida para o PSB, Eduardo Campos ligou para Lula. Fazia um movimento político. Enquanto isso, Roberto Freire avisava a nova socialista que se o objetivo era criar uma alternativa ao petismo, o caminho estava errado. Ela deveria entrar para o PPS, sedimentar seu nome, e somente depois tratar de uma aliança em nível nacional. Freire alertou para o fato de que Campos, no caso de Lula sair candidato, pode ceder.

As duas questões levantadas pelo presidente do PPS são pertinentes. A primeira estratégia faz mais sentido eleitoral. Antecipar uma decisão desta importância reduz o arco de possibilidades de alianças e pode trazer Lula de volta para a disputa, o que sepultaria as intenções de Campos de candidatar-se ao Planalto e as de Marina criar uma terceira-via. Faria realmente mais sentido Marina trilhar um caminho dentro do PPS e somente depois aliar-se ao PSB, inclusive porque os dois partidos poderiam somar tempo de propaganda eleitoral na televisão.

Os parlamentares da Rede de Marina não desembarcarão na sua totalidade no PSB. Houve uma pulverização de seus aliados para diversos outros partidos, o que pode dificultar a solidez dos apoios que ela poderá contar nos estados e deixa Marina nas mãos de Campos, que controla o PSB como um czar. Com este movimento sua Rede perde consistência e ela embarca definitivamente dentro do projeto de Eduardo Campos.

Ficou ruim para o PSDB. Se os tucanos sonhavam com a dobradinha Aécio/Eduardo, agora ela foi definitivamente sepultada e a candidatura Eduardo/Marina ganhará musculatura. Os tucanos irão amargar o terceiro lugar nas pesquisas e deverão lutar por uma vaga no segundo turno contra a chapa sensação do momento.

O que ficou claro com este movimento é que a opção viável ao petismo virá de dentro de sua base de apoio e fileiras, com a fadiga natural do material político depois de mais de uma década de poder. A oposição verdadeira e real está enfraquecida e sem capacidade de reação. O derretimento do PFL/DEM e o surgimento de partidos como o PSD e o crescimento do PSB são a maior prova disso. O nome de Marina, ministra de Lula, como nome viável contra o petismo é a prova contundente de que o PT conseguiu movimentar o equilíbrio da balança política brasileira de forma definitiva.

sexta-feira, outubro 04, 2013

O Fator Marina

A política brasileira vai encontrando seus caminhos e fazendo seus arranjos na medida que se aproximam as eleições. Marina Silva perdeu a primeira batalha. Não conseguiu emplacar seu feudo particular, a Rede Sustentabilidade. Poderá conseguir o registro, mas não em tempo hábil de concorrer no próximo ano. O que fará Marina, dona de fatia importante do eleitorado, é discutido no momento nas bolsas de apostas da política nacional.

Marina chegou a 23% de intenções de voto durante as manifestações. Recuou agora para cerca de 16%. Não é uma fatia desprezível. Aliás são os votos que podem definir se haverá ou não segundo turno nas eleições presidenciais que se avizinham. Sem Marina, Dilma pode faturar a reeleição no primeiro combate. Aécio Neves e Eduardo Campos ainda precisam mostrar musculatura para desalojar o petismo do Planalto.

Marina é teimosa. Todos sabem disso. Em 2010 preferiu não se comprometer e assumir a neutralidade no segundo turno. Mirava lá na frente. O futuro chegou e ela não se preparou. A sua idéia da Rede demorou demais e extrapolou os prazos da legislação eleitoral. Marina está fora do jogo. Somente volta se topar entrar em uma legenda de aluguel para disputar o poder, o que, em tese, vai contra seus princípios.

Ela encontra-se em uma situação delicada. A dúvida é se ela ficará ao lado dos seus princípios ou os largará para disputar o poder. Política é timing. Se ela perder a onda que criou-se a seu favor, talvez perca sua única chance de chegar ao Planalto. Marina preferiu arriscar a anti-política, subvertendo as regras do jogo. Os jogadores profissionais mostraram que se ela quiser chegar lá, é preciso submeter-se ao mesmo processo e regras que todos.

Minha aposta é que Marina ficará com seus princípios e teimosia. Posso estar enganado, mas ela acredita que ainda pode acontecer algo que faça com que sua Rede ganhe vida, talvez no Supremo. Marina tentou subverter o sistema, que devolveu-he a audácia na mesma moeda. Para tentar o poder, terá que se submeter ao jogo, caso contrário está fora.

quinta-feira, outubro 03, 2013

Os Acenos de Teerã

A política externa dos Estados Unidos em relação ao Oriente Médio sempre pairou nos desdobramentos da questão entre israelenses e palestinos. Qualquer um dos novos secretários nomeados para chefiar o departamento de Estado procura sempre um caminho que pavimente um acordo. Mas talvez a estabilização da região passe por outros locais. Se esta nova estratégia está correta, a capital mais importante que deve ser considerada no jogo é Teerã.

No xadrez das peças do Oriente Médio, a eleição de Rouhani abre uma oportunidade. Por certo o caminho do Irã não muda com a eleição do novo Presidente, pois ele responde ao líder supremo, Aiatolá Ali Khamenei, mas sem dúvida a saída de cena de Ahmadinejad facilita muito as coisas.

Khamenei enxerga os valores ocidentais com sérias restrições, mas é um político e acima de tudo procura sedimentar o modelo de democracia iraniana que vem sendo implementado em seu país. Ao contrário do que muitos acreditam, talvez não enxergue os Estados Unidos apenas como um inimigo, mas como mais uma potência no mundo, com a qual não divide valores, mas com quem é preciso lidar. Os americanos são a peça mais importante no tabuleiro internacional dos iranianos, uma espécie de passaporte que mudaria seu status diplomático no mundo. Há espaço para muitas negociações.

O líder do Irã, em seu jogo tenso de relacionamento com o ocidente, conseguiu manter seu país firme em seus propósitos e implementou uma agenda que mistura teocracia com democracia e flexibilizações quando necessário. O Irã tornou-se um jogador de peso na política internacional.

Assim como Nixon e Mao se aproximaram e os americanos passaram a conviver com o regime chinês, reconhecendo seu potencial e força na balança internacional, o Irã talvez busque o mesmo caminho. Assim, esta possível aproximação de Teerã com Washington pode ser um movimento muito lento neste sentido. Um movimento, vale lembrar, que deve ser muito bem calculado, pois um pequeno erro de cálculo pode comprometer os resultados para ambos.

Assim, quando a Assembléia Geral da ONU iniciou e a Síria era a peça mais importante do jogo internacional, quando terminou vimos o Irã sair como um dos protagonistas. A ligação telefônica entre Obama e Rouhani possui significados e desdobramentos que ainda renderão muitas análises.

Não sejamos ingênuos. É preciso parcimônia para lidar com os aiatolás. Existe muita cautela de ambas partes, em especial, com razão, do lado americano, especialmente no que tange ao programa nuclear, ponto central de possíveis negociações. Mas pela primeira vez existe um caminho que pode pavimentar conversas e quem sabe acordos que podem gerar muitos reflexos positivos no Oriente Médio.

quarta-feira, outubro 02, 2013

Shutdown e Obamacare

Obama tem pela frente um desafio enorme. Certamente a iniciativa na área da saúde, o Obamacare, foco de todos os problemas que levaram ao Shutdown do governo, será a marca de sua administração. Se o Presidente não conseguir implementar esta agenda, passará para a história um legado de presidência fraca e vacilante. Será alguém que prometeu mudanças e não conseguiu realizar.

Vamos aos fatos. A Casa Branca levou o Obamacare para votação no Congresso e venceu. Os republicanos questionaram na Suprema Corte. Obama venceu de novo. Houve eleições. O Presidente manteve a Casa Branca e o Senado, mas perdeu o controle da Câmara. Talvez em função da polêmica quanto ao seu projeto na saúde. Não há como ter certeza. Virou o ano e o orçamento. O novo Congresso, de maioria republicana, tenta a última manobra: não aprovar o orçamento com a implementação do projeto aprovado e considerado legal pelo judiciário. Criou-se o impasse.

Acabar com o shutdown é fácil. Basta que Obama retire a previsão de financiamento do Obamacare do orçamento. Seria a vitória suprema dos republicanos. Mas o Presidente diz que retirar seu projeto de saúde está fora de questão, ou seja, não negocia nestas bases. É difícil precisar quem ganha politicamente com este ato. De um lado, os republicanos estão mostrando força para seu eleitorado, do outro podem passar a idéia de políticos intransigentes que decidiram parar o governo dos Estados Unidos. Dependerá muito da qualidade da comunicação de cada um dos lados com o eleitorado.

O impasse é maior e mais grave do que se imagina e o shutdown pode se arrastar por muito mais tempo do que o esperado, pois não há uma solução bipartidária no horizonte. Isto também é resultado da política americana atual, onde os dois lados se afastaram do centro e tem dificuldade de se acertar dentro de uma agenda mínima. O espaço para negociação, neste caso, diminui e o estabelecimento de impasses desta envergadura se estabelece.

Obama não possui uma política externa de alta envergadura. Precisa de resultados na política doméstica, mas governa um país extremamente dividido e um Congresso que é um reflexo disso. A eleição de Obama é também uma tradução desta realidade. Ele lida com um Congresso difícil, mas sempre faltou a este Presidente uma maior habilidade de lidar com o Parlamento. Muitos alertaram para os riscos de sua empreitada na área de saúde, mas ele resolveu comprar a briga. Venceu todas as batalhas políticas e jurídicas até aqui para implementar o Obamacare. Falta a última. Depois de aprovar e legalizar, agora precisa financiar. Sem maioria parlamentar, precisará negociar.