sexta-feira, fevereiro 27, 2015

EUA: Republicanos apresentam suas credenciais conservadoras

Uma Casa Branca fraca, sem maioria no Congresso e com baixas taxas de popularidade é o sonho de qualquer partido de oposição. Com Obama vivendo esta situação, o partido republicano parte para desenhar as estratégias do lance final: a vitória nas eleições presidenciais de 2016.

Para isso, um dos passos é organizar-se, e a Conferência Anual de Ação Política Conservadora é um desses mecanismos. Para avaliar melhor cada pré-candidato, neste ano a American Conservative Union liberou a estrutura das apresentações. Algumas são praticamente entrevistas, como ocorreu com o Governador de New Jersey, Chris Christie, outros mantiveram o microfone na lapela para circular pelo palco, como o Senador pelo Texas, Ted Cruz, enquanto alguns mantiveram a postura tradicional de falar diante do microfone, como Ben Carson e Sarah Palin.

Scott Walker, Governador de Wisconsin, preferiu chegar ao palco com o microfone preso em sua camisa. De gravata, mas sem paletó e com as mangas arregaçadas, mostrava na atitude aquilo que o levou a vencer três eleições consecutivas em um estado que os republicanos não dominavam desde 1984. Seu discurso é objetivo, claro e sem rodeios. É um conservador e fecha com este eleitorado em todos os aspectos. Apesar de governar Wisconsin, Walker é natural de Iowa, onde ocorrerá a primeira consulta primária. Larga em vantagem naturalmente, mas precisa manter o fôlego. A novidade foi que deixou claro para os bons entendedores que, assim como Chris Christie, entrará na corrida interna para disputar a indicação do partido à Presidência.

O governador de New Jersey é um show à parte. Ele passa todas as semanas por sessões de debates com os eleitores, os chamados "Town hall Meetings", onde a população faz perguntas diretas ao Governador na busca de soluções para as regiões do estado. Ao todo ele já foi sabatinado 128 vezes. O resultado foi uma habilidade incrível em discutir soluções, defender-se e saber responder. Uma grande qualidade para quem enfrentará uma maratona de debates nas primárias.

Enquanto do lado de fora emissoras de rádio transmitiam programas ao vivo, celebridades do mundo conservador comandavam sessões de debates e jovens desfilavam com suas gravatas borboleta, a sensação Sarah Palin subia ao palco. O auditório lotou para ouvir suas palavras. A mesma mulher que coloca fogo, desta vez parecia apagar um incêndio. Os meninos apenas aplaudiram. As meninas não se identificaram. Ficou a sensação de que faltou Sarah Palin ser Sarah Palin.

Uma das inovações deste ano é a abertura de um canal para o público enviar questionamentos. Por meio da #CPACQ no twitter é possível enviar perguntas para cada uma das sessões. Se o modelo não serviu para Sarah Palin despertar sua ácida ironia, foi aproveitado por outros, como Scott Walker, Ted Cruz e até Bobby Jindal, Governador da Louisiana, que apesar do discurso correto, não empolgou os participantes.

Depois de uma primeira rodada completa, com a presença da tropa de choque, chegou a hora do segundo batalhão. Vem por aí nesta sexta-feira nomes como Jeb Bush, Marco Rubio, Rick Perry e Rand Paul, o preferido do público nos dois últimos anos. Para os leitores, fica uma certeza: o adversário de Hillary, aquele que tentará despejar os democratas da Casa Branca, sairá deste leque de nomes que transitam pelos corredores desta conferência.


*Texto é parte integrante da cobertura da CPAC 2015 exclusiva para o Diário do Poder pelo corresponde político Márcio Coimbra.
Publicado originalmente em: http://www.diariodopoder.com.br/noticia.php?i=27546001750

EUA: Conferência Mostra o que Esperar dos Republicanos

As primárias republicanas ainda não começaram. Mas os movimentos nos bastidores são enormes e nada melhor do que uma conferência dos conservadores para apontar tendências. Esta semana os republicanos se encontram ao lado de Washington para a 42ª CPAC. Todos os candidatos e pré-candidatos republicanos que já almejaram ou chegaram até a Casa Branca precisaram passar pelo crivo deste grupo em suas campanhas presidenciais. Este ano não será diferente. O Diário do Poder é o único veículo brasileiro presente com um correspondente político no encontro.

No ano da primária silenciosa, como foi definido o ano de 2015 aqui nos Estados Unidos, a conferência foi aberta por Dr. Ben Carson, um neurocirurgião conservador que ascendeu de forma consistente na constelação republicana. Mas o show não parou por aí. Embalados por uma atmosfera de espetáculo com entradas triunfais sob músicas que vão de Bon Jovi, passando por Metallica até Kate Perry, a conferência ainda recebeu na primeira manhã o Governador moderado de New Jersey, Chris Christie, um mestre na arte da comunicação política, e o combativo senador conservador Ted Cruz, do Texas.

A estrela do momento, aquele que aparece em primeiro lugar nas pesquisas, o Governador de Wisconsin, Scott Walker faz parte do trio que fechará o show da tarde, ao lado de Bobby Jindal, Governador da Louisiana e daquela republicana que sempre coloca o auditório em combustão, Sarah Palin. Para Walker, será a grande chance de mostrar a que veio. Eleito em um estado tradicionalmente democrata, enfrentou um recall e uma reeleição. Venceu todas. O Governador não terminou a faculdade e possui uma rara qualidade de comunicação direta com o eleitor. Ao contrário dele, o outro Governador que subirá ao palco, da Louisiana, Bobby Jindal, já é considerado uma estrela descendente. Tentará incendiar a platéia para se manter como uma alternativa viável. Por fim, teremos Sarah Palin. Bem, não existe outro político que saiba mobilizar tanto uma platéia conservadora quanto ela.

E tudo isso acontece enquanto a nova temporada do seriado "House of Cards" é lançada. É a volta de Frank Underwood, um político impiedoso, ambicioso e perigoso, um membro do Partido Democrata. A exata tradução do que os conservadores pensam de Obama. Não seria mera coincidência.


*Texto é parte integrante da cobertura da CPAC 2015 exclusiva para o Diário do Poder pelo corresponde político Márcio Coimbra.
Publicado originalmente em: http://www.diariodopoder.com.br/noticia.php?i=27499358410

quinta-feira, fevereiro 26, 2015

Gastos públicos, inflação, infraestrutura, educação e abertura: os desafios do Brasil

Os desafios enfrentados pelo Brasil são enormes. Os primeiros dias do governo Dilma nos mostraram um país gravemente doente que precisa de remédios amargos para sair da crise. Entretanto, tudo seria mais fácil se o País, ao invés de inventar novas fórmulas, aplicasse aquilo que já deu certo. A estratégia vencedora é formada pelas diretrizes de implantação do Real, esquecidas especialmente desde 2011. Agora é hora retomar cortes e realizar ajustes para que a estabilidade não seja completamente perdida.

Na esteira das reformas necessárias que o país necessita de maneira urgente, uma dupla de pesquisadores aqui em Washington tabulou resultados de nossa economia e avaliou quais seriam os passos seguintes para os ajustes que precisam ser realizados. O estudo, "5 Steps to Kickstart Brazil" foi apresentado durante um painel na SAIS, o prestigiado centro de relações internacionais da Universidade Johns Hopkins.

Os autores, Samuel George e Cornelius Fleischhaker, avaliaram diversos indicadores, mas aquele que salta aos olhos é um gráfico inicial que evidencia o aumento enorme dos gastos públicos no Brasil nos últimos anos. O pico foi em 2014, durante a campanha de reeleição de Dilma, quando as contas públicas atingiram um ponto crítico. Portanto, fica evidente que o país precisa encontrar o reequilíbrio, ajustar os gastos do governo, que significa restaurar a disciplina fiscal. Este é o primeiro ponto levantado no estudo dos pesquisadores.

O segundo fator que merece atenção é controle da inflação, um dos pilares da estabilização econômica proporcionado pelo Plano Real. O aumento dos preços e a perda do poder de compra da moeda começaram a se deteriorar no segundo termo de Lula e especialmente no primeiro governo Dilma. A solução é simples, segundo George e Fleischhaker: evitar o controle de preços artificial a qualquer custo e controlar a inflação por um mix de políticas monetárias e fiscais, coroadas pela autonomia do Banco Central.

A infra-estrutura também é analisada. O problema, segundo eles, reside no fato de que nos últimos anos ficou claro que o setor foi impulsionado pelo BNDES e isto levou a crer que os contatos com o poder eram mais importantes do que o ambiente regulatório para investimento. A sorte do Brasil é que ainda existem investidores interessados no país. Parcerias público-privadas e a diminuição do "custo Brasil" são as senhas para fechar este gargalo.

A educação não poderia ficar de fora, pois parece ser o problema mais grave. O Brasil investe em educação, mas a principal questão não são recursos, mas eficiência. Em 2013, investimos 5,6% do PIB no setor, mais que a média da OCDE, mas os problemas são: professores de baixa qualidade, currículos defasados e má alocação de recursos. Isto levou o país a ser considerado como um dos 30 piores gastos do mundo na área, de acordo com o Index de Eficiência na Educação. Melhorar a qualidade dos gastos é essencial. O Brasil precisa urgentemente solucionar esta questão, pois caso contrário, comprometerá qualquer possibilidade de êxito futuro.

Por fim, o estudo mostra que nosso país precisa se abrir ao mundo. O protecionismo somente pune os cidadãos, atrasa nossa competitividade e produtividade. México, Peru, Chile e Colômbia já estão se beneficiando disso. A pergunta que precisamos nos fazer é: desejamos ficar para trás?

O estudo realizado por George e Fleischhaker e organizado pela Fundação Bertelsmann é conciso e preciso, ou seja, ataca as questões centrais que fazem com que o Brasil fique cada vez mais para trás em termos de desenvolvimento. Controlar gastos públicos e inflação, fechar o gargalo da infra-estrutura, investir de maneira correta em educação e abrir o país para a competição externa são medidas que realmente podem fazer enorme diferença no curto prazo. Já passou da hora do Brasil aplicar este choque. A cartilha está pronta, falta agora levar estas idéias para Brasília.

(publicado originalmente no Brasil Post)
http://www.brasilpost.com.br/marcio-coimbra/desafios-do-brasil_b_6752856.html