sexta-feira, dezembro 13, 2013

O Apoio ao Tea Party

O Tea Party, ao mesmo tempo que propaga a idéia de que é um movimento em direção aos verdadeiros valores do partido republicano, é uma das principais ameaças ao sucesso eleitoral do GOP. Muitos defendem que o grupo, na verdade, não propaga um resgate de valores, mas um simples movimento extremamente conservador que deseja tomar o controle do partido.

Dentro do partido, o movimento tem força, mas não é algo avassalador. Há uma clara divisão interna. Hoje 58% dos republicanos são a favor do Tea Party, enquanto que 28% são contra. Os números explicam, entretanto, porque aos poucos o grupo vai passando a controlar a agenda partidária. Apesar de não haver um controle total, a parte contrária pouco a pouco está sendo expelida.

Se internamente o Tea Party tem conseguido manter o partido sob controle, externamente os resultados não são bons. Entre os eleitores independentes, aqueles que em geral decidem eleições por aqui, o apoio ao movimento é de 28%, enquanto a percepção negativa é alta: 48%. Portanto, se as políticas do grupo conservador tomarem completamente o controle do partido, os eleitores independentes tendem a se afastar e mais eleições serão perdidas.

De um modo geral, entre todos os eleitores, apenas 30% enxergam com bons olhos este movimento conservador, enquanto 51% dizem não aprovar o grupo. A guinada do partido, portanto, afasta os republicanos de vitórias reais. Os líderes do Tea Party, como já escrevi aqui, dizem que preferem perder eleições com candidatos conservadores do que vencer com moderados. No longo prazo, dizem, acabarão por reorganizar a política do país.

Esta guinada será fundamental para as próximas eleições presidenciais, onde haverá um choque entre moderados e conservadores e realmente surgirá a grande batalha pela alma do partido republicano. Um partido renovado surgirá e quem liderar este processo, pode também vencer a eleição presidencial.

quarta-feira, dezembro 11, 2013

Antropofagia Republicana

O partido republicano atualmente possui uma confortável vantagem no Senado. Mas isto pode mudar. A ameaça, entretanto, não vem dos democratas, mas das próprias hostes republicanas. O Tea Party, que controla uma fatia do partido, está travando uma guerra particular contra alguns senadores mais moderados. O objetivo é substituí-los por parlamentares mais conservadores. A estratégia é arriscada.

Os alvos já foram definidos: são oito senadores republicanos moderados que irão buscar a reeleição em 2014. Entre eles estão o líder Mitch McConnell do Kentucky, além de veteranos como Thad Cochran do Mississippi e Pat Roberts do Kansas. Os que possuem maior trânsito entre os democratas, como Lindsey Graham, da Carolina do Sul, também serão desafiados. No Texas o senador John Cornyn também entrou na linha de tiro.

A estratégia do Tea Party é derrubar estes senadores ainda na partida, ou seja, nas primárias. Eles enfrentarão um período pré-eleitoral muito difícil, em uma pré-campanha duríssima contra candidatos conservadores que não desejam se entender com os democratas. A estratégia é acabar de vez com o bipartidarismo, já tão em falta em Washington, atacando aqueles que ainda conseguem atravessar o plenário e dialogar com os adversários.

Caso vençam as primárias, os senadores republicanos não possuem certeza de sucesso. Enfrentarão depois disso uma eleição majoritária contra os democratas. Cientes disso, os moderados sabem que, se substituídos por candidatos mais conservadores, seus gabinetes podem parar na mãos dos democratas na próxima legislatura. Mas o Tea Party não se importa. Defendem que é melhor perder com conservadores do que vencer com moderados.

Os conservadores dizem que assim estão defendendo os princípios do partido. Do outro lado, senadores  moderados e de larga experiência, como Lindsey Graham, dizem que estas serão eleições pelo coração e a alma do GOP. Pessoalmente acredito que o radicalismo conservador está destruindo os republicanos. O movimento político acertado, para o bem do partido e da América, é mover-se para o lado dos moderados e provocar o mesmo deslocamento no lado democrata. Apenas uma agenda comum pode resolver os problemas deste país.

A antropofagia republicana causada pelos mais conservadores faz muito mal ao partido e aos Estados Unidos. A história mostra que o verdadeiro GOP, o partido de Lincoln, foi construído longe dos radicalismos.

sexta-feira, dezembro 06, 2013

Obama e Mandela

Muito será escrito sobre Nelson Mandela ainda, mas neste comentário de hoje gostaria de escrever sobre seu impacto nos Estados Unidos, em especial na vida do atual Presidente, Barack Obama.

Obama fez uma campanha muito inteligente. Apresentou-se como candidato sem inserir qualquer denotação racial. O Senador por Illinois era negro, mas antes disso era um bom homem, com boas intenções e projetos para os Estados Unidos. O, agora Presidente, foi na contra-mão da assertividade da raça como um diferencial em sua campanha.

Ao contrário de muitos movimentos ou líderes que fizeram de sua condição social, sexual ou racial o principal tema de sua agenda, Obama candidatou-se além disso. Projetou sua imagem como um conciliador, representante de um novo momento, um período de mudança, sem revanchismos ou vinganças. Nada de olhar para trás, mas para frente.

Certamente sua postura foi uma das heranças deixadas por Nelson Mandela. É o seu legado. Será também o de Obama. A questão racial nos Estados Unidos é algo ainda muito latente. As marcas deixadas pelo passado escravista são fortes e dolorosas. Para quem ainda tem dúvida disso, sugiro o novo filme de brilhante diretor Steve McQueen "12 Years a Slave". Assim, a eleição de Obama é, por si só, um fato simbólico e a certeza de que a América está curando suas feridas.

Somos de uma geração influenciada por essas idéias. Obama nos mostrou em sua campanha que a cor de sua pele é apenas mais uma característica do grande homem que ele se tornou. Devemos avaliar governantes por suas idéias e ações e assim tem sido feito com o Presidente americano. Mandela ensinou Obama e a todos nós a olhar adiante. O passado nos aprisiona. O futuro nos liberta. Obama e Mandela olharam adiante, sem revanchismos e mostraram ao mundo que acima de tudo o que importa são as suas idéias. Se erramos no passado, somente temos a lamentar. Devemos aprender e fazer do futuro algo diferente, longe do caminho que já nos aprisionou.

Ontem passei caminhando pela Casa Branca e enxerguei a bandeira do mais poderoso país do planeta a meio-mastro. Fiquei observando a grandeza do gesto. Posso discordar politicamente de Obama, mas ele é um grande homem, alguém que sabe olhar para o futuro, e por isso merece meu respeito e admiração, assim como o bravo Nelson Mandela que partiu.

quinta-feira, dezembro 05, 2013

A Credibilidade de Obama

Os números de Obama vem despencando por várias razões. Mas é preciso entender a sociedade americana para analisar bem as origens dos problemas enfrentados pelo Presidente. A grande questão neste momento é a falta de credibilidade, ou seja, existe uma desconfiança dos americanos quanto ao que ele diz. Faltar com a verdade, torcer acontecimentos, para os americanos, é um pecado cruel. De certa forma ele cruzou esta linha em dois assuntos importantes.

O menos grave dos dois temas é a Síria, já que é um assunto que não afeta diretamente os americanos. Quando Obama mencionou que existia um limite para Assad, que seria o uso de armamentos químicos, todos acreditavam que ali estava realmente um limite. Certamente a política internacional é muito mais complexa do que isso, mas a sociedade americana interpreta as coisas da sua maneira. O fato de Obama ter prometido agir no caso de uso de armas químicas e não ter cumprido a promessa, leva muitos americanos a questionar se a palavra do Presidente tem algum valor.

O segundo tema é o Obamacare. Este é um assunto mais delicado. O Presidente veio a público tempos atrás e disse aos americanos que eles poderiam manter seus planos de saúde caso assim desejassem. Quando veio a implementação do Obamacare não foi bem isso que aconteceu. Como o sistema de seguro vendido pelo governo tem uma cobertura mínima, ele agiu no mercado, forçando que os outros planos tivessem a mesma cobertura básica do Obamacare, logo, milhares de americanos estão sendo notificados a reajustar seus planos pois a cobertura está sendo expandida.

Aqui não funciona o raciocínio brasileiro. Muitos diriam que o plano mudou para melhor, que agora existe mais cobertura. Não funciona assim na mente dos americanos. Eles são uma sociedade contratual onde o valor da palavra é a base das relações. Malandragem não engata nos Estados Unidos. Jogo de palavras não funciona por aqui. A decepção com Obama neste quesito é enorme e isto explica porque tantos deixaram de confiar no Presidente.

terça-feira, dezembro 03, 2013

Tensão na Ucrânia

O embaixador americano mandou um recado para o Presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych: não usar força contra os manifestantes. Não adiantou. Assim que caiu a noite e os jornalistas se recolheram, a polícia não se intimidou e foi dura com os que ainda permaneciam em protesto contra o governo.

As manifestações fazem parte de mais um capítulo da história entre duas Ucrânias que ainda não se entendem desde que o país se tornou independente por volta de duas décadas atrás. Parte do território, situado ao lado leste do rio Dniper possui uma tendência em favor da Rússia. Do outro lado, pró-Ocidente. Este choque entre duas formas de ver o mundo tem gerado convulsões políticas.

Yanukovych tentou chegar ao poder em 2004, por meio de uma fraude nas eleições nacionais, na sucessão de Leonid Kuchma. Somente a Rússia reconheceu o resultado que levaria seu aliado ao poder. Depois de uma série de manifestações, o eleito Viktor Yushchenko, pró-Ocidente, chegou ao poder. Mas Yanukovych não desistiu e tentou de novo. Desta vez conseguiu. Chegou lá em 2010. Seus opositores, Viktor Yushchenko e Yulia Tymoshenko foram varridos dos salões. Esta última, inclusive está presa.

Yanukovych chegou ao poder com a missão de aproximar a Ucrânia da Rússia. Parte do país, entretanto, deseja uma aproximação com a União Européia e a Otan, coisa que Putin enxerga como uma ameaça. As negociações com Bruxelas prosseguiram. Depois dos acordos realizados, dias antes da formalização, Yanukovych vacilou. Disse, nos bastidores, que sentiu-se abandonado pela UE e sofre uma pressão enorme da Rússia. O povo, que deseja os padrões europeus, revoltou-se e ocupou a capital Kiev em protesto.

Com uma taxa de popularidade de 20%, Yanukovych não pode dar-se ao luxo de muitas aventuras políticas. Se conseguir manter-se no poder, certamente deixará o comando do país em 2015 e diante de uma classe política altamente corrupta, sabe-se lá o que pode acontecer. O Presidente preferiu confiar em Putin e Moscou. Jogou da maneira que se esperava, afinal somente os ingênuos poderiam crer em algo diferente.

Yanukovych fez aquilo para o qual foi eleito: aproximar seu país da Rússia. Não contava que este ato, aliado ao de desistir da União Européia, jogasse a Ucrânia em profunda revolta. Os próximos dias serão crucias - para ele e a Ucrânia.

segunda-feira, dezembro 02, 2013

O Fator Walker

O Governador do Wisconsin, Scott Walker é uma estrela em seu partido. Os republicanos gostam de Walker pelo seu carisma, mas essencialmente por ser um político que se manteve ligado aos princípios conservadores do partido em suas ações, em especial na área econômica, com um trabalho voltado diretamente para diminuir o tamanho do Estado e a intervenção na economia.

Wisconsin é um terreno difícil na batalha política. Mesmo com Paul Ryan, deputado pelo estado, sendo o vice de Romney, os republicanos não ganharam a eleição presidencial por lá. Aliás, com a exceção das duas eleições de Reagan, os democratas vencem eleições presidenciais no Wisconsin com facilidade. Não perdem por lá desde 1988. No governo, existe uma tendência de alternância entre os dois partidos, mas isto não quer dizer que seja fácil.

Scott Walker, depois de eleito e passar reformas que mexiam profundamente na economia, sofreu um processo de recall. Os protestos foram fortes e um lobby poderoso se formou para retirar Walker do poder. Ele reagiu e venceu o recall com uma margem inclusive superior aos números de sua eleição anterior. Aqueles que tentaram derrubá-lo, acabaram por dar-lhe uma musculatura política nacional. Recebeu doações de fora do Wisconsin e apoios variados de estrelas do partido. Coisas da política.

Já conhecia o Governador e seu trabalho. Estive em Milwaukee no início deste ano, inclusive. Agora em Washington tive mais uma vez a oportunidade de encontrá-lo. Conversei mais uma vez com ele.  Tudo indica uma permanência firme no propósito de reeleger Governador em 2014. Mas o futuro depois disso é uma incógnita.

Isto porque o partido gosta de Walker e ele tem tudo para ser um pré-candidato a Presidente. As eleições são em 2016 e se ele vencer por uma boa margem em seu estado em 2014, isto o credenciará para a corrida interna nacional. Vencer em Wisconsin é um sonho para os republicanos, o que começa a mudar o quadro eleitoral de 2016. Conservador, com origens em Iowa, filho de um pastor, um self made man que não terminou a faculdade, é um candidato com credenciais. Além de tudo é um bom amigo do Governador de New Jersey, Chris Christie. Se não for candidato, Walker pode ser o vice dos sonhos, caso Christie vença as primárias. A conferir.