quarta-feira, junho 30, 2010

E agora, José?

A novela acabou e foi definido o nome do candidato a vice de José Serra. A decisão sacramenta a aliança com o DEM, mas terá desdobramentos políticos no caminho eleitoral.

A eleição de 2010 possui seu caráter peculiar. A oposição tem sua segunda oportunidade real de vencer as eleições. A primeira ocorreu com no final do primeiro mandato de Lula, quando havia o desgaste político do mensalão. Como sabemos, foi perdida. A segundo apresenta-se neste momento. Entretanto, a sucessão de erros, que já ocorreu em 2006, renova-se em 2010.

No quadro eleitoral de 2010, os tucanos precisavam de um vice do eixo produtivo-interior do país, um nome de envergadura nacional. Para vencer, a oposição precisava deste alinhamento. Talvez Serra tenha acreditado que Aécio, que se encaixa neste perfil, aceitaria a vaga. Não aceitou. Foi buscada uma solução doméstica para desarticular um palanque regional em prol de Dilma. Mais um erro. Mesmo assim não funcionou. O DEM reclamou. Optou-se por um nome sem densidade eleitoral e envergadura nacional, o que simplesmente contempla o grupo político regional que domina o partido.

Entretanto, a chapa de Serra precisaria de um nome capaz de aglutinar forças nacionais e mover o peso eleitoral da disputa. Um político municipal não possui tais credenciais. Dentro da aliança tucana, assim como no próprio DEM, não faltam nomes, em especial do eixo Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Tocantins, de onde, no meu ponto de vista, deveria ter saído o vice.

Dilma, ou melhor, Lula entendeu as fraquezas de sua chapa e moveu-se no sentido de preenchê-las mediante um acordo com o PMDB em unidade, onde contemplou-se os vazios da candidatura petista. Da mesma forma ele compôs com José Alencar oito anos atrás. Aos oposicionistas faltou a mesma clarividência.

Os tucanos não preencheram os espaços vazios da candidatura Serra com a escolha de seu vice. Existem vácuos políticos que permanecerão abertos e tendem a comprometer a possibilidade de vitória da chapa. Falta envergadura nacional com palanques estaduais para os tucanos. Serra não apresenta-se como um fenômeno eleitoral que suplante esta ausência.

Por enquanto, de um lado existe um pragmatismo político profissional, em contraponto a estratégias simplórias e equivocadas. Poderia ser uma eleição disputada e difícil para o petismo, entretanto, o quadro está posto e o exército de um dos candidatos já se mostrou mais inteligente, articulado e preparado para vencer a disputa eleitoral que vem por aí.

terça-feira, junho 29, 2010

Dilma e o "Establishment"

Um ano atrás Dilma Rousseff mostrou que seria uma candidata competitiva. Em junho de 2009 reuniu-se com formadoras de opinião da sociedade brasileira. O grupo era este aí do lado. Parece brincadeira, mas é verdade.

O "bate-papo", classificado assim pela anfitriã, foi após um almoço realizado na casa de Marta Suplicy. Lá estiveram Adriane Galisteu, Ana Maria Braga, Luciana Gimenez, Hortência, Viviane Senna e Maria Paula. Politicamente foi um sucesso. Como analista garanto que não deve-se subestimar o grau de penetração eleitoral das presentes com suas respectivas audiências. Para completar, marcaram presença também Marilena Chauí, Helena Maria Diniz e Leilah Assumpção, entre outras.

Um ano depois, a rede e o poder de penetração de Dilma se ampliou. Na última sexta foi convidada para outro bate-papo, desta vez na casa de Geyze Diniz, esposa do empresário Abílio Diniz. Dezenas de socialites, empresárias e “executivas de influência” estiveram na sala de estar do dono do grupo Pão de Açúcar. Diniz é aquele empresário que foi sequestrado pelo MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária) ainda em 1989.

De lá, Dilma seguiu seu périplo pelo mundo da alta sociedade, desta vez em um jantar organizado por Marcio Thomaz Bastos, com o presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu Marinho.

E agora o foco volta-se ao Rio de Janeiro. Lily Marinho, viúva de Roberto Marinho, receberá Dilma no emblemático casarão do Cosme Velho.

A candidata de Lula segue o script traçado para sua eleição. Tais encontros, até ironizados por parcela do eleitorado, possuem um valor político incalculável para Dilma, tanto na sua capacidade eleitoral, como na consolidação de seu nome perante o "establishment" brasileiro.

segunda-feira, junho 28, 2010

A Queda de Stalin

"Um memorial para Stalin não tem espaço na Geórgia do século 21". Estas são palavras do presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili. A estátua do antigo ditador soviético, de seis metros de altura, que ficava no centro de Gori, foi retirada na noite de quinta-feira.

O monumento foi instalado um ano antes da morte de Stalin, em 1952, e agora partirá rumo a um museu, como foi feito com as estátuas de antigos ícones do comunismo em Budapeste. Na capital húngara, é franqueada a visitação, mediante pagamento, a um cemitério de estátuas do período socialista. No local onde estava Stalin, em Gori, será construída uma homenagem aos mortos na guerra entre Rússia e Geórgia pelo controle da Ossétia do Sul.

Tbilisi, assim como governos de outras repúblicas que conseguiram a independência da antiga URSS e os países da extinta Cortina de Ferro, na medida que enterram as lembranças dos dolorosos e brutais anos de ditaduras socialistas, se tornam mais fortes e seguros para seguir adiante. Atos como este devem ser registrados e lembrados, para que práticas cruéis, como aquelas cometidas por Stalin, nunca se repitam.

sexta-feira, junho 25, 2010

Encontro Camarada

Os tempos realmente são outros. Ninguém poderia imaginar Kruschev e Kennedy na situação desta foto. Pois Obama e Medvedev mostraram que muito mudou na relação entre os dois países.

Os americanos venceram a Guerra Fria, a URSS não existe mais e a Rússia, sua sucessora, hoje equilibra-se no pragmatismo em sua política externa. Na pauta do encontro entre os dois Presidentes estava, além dos hamburgueres, a entrada da Rússia na OMC, as sanções ao Irã e os investimentos norte-americanos na terra da vodca.

Medvedev esteve também na Califórina, onde criou uma conta no Twitter e apreciou as inovações da Apple, do novo iPhone4 ao iPad. Os tempos são outros. O russo agora tenta a criação de uma espécie de Vale do Silício em seu país, um local que concentraria empresas de alta tecnologia, que além das nacionais, contaria também com o aporte da Google e a própria Apple.

A foto fala por si mesma. A visita do Presidente russo, regada a Coca-Cola, hambugueres e inovações da Apple mostram que o mundo não é mais o mesmo. O pragmatismo dos tempos capitalistas tomaram o lugar do ranço ideológico socialista na antiga URSS.

O fato é que esta aproximação é muito bom vinda e a sintonia fina entre Washington e Moscou tem sido responsável por boas notícias na esfera internacional.

quinta-feira, junho 24, 2010

Mudanças na Austrália

Kevin Rudd foi eleito para comandar o governo australiano depois de anos e anos de governo do popular primeiro-ministro liberal John Howard. Sua jornada durou três anos. Abatido por forças internas de seu próprio partido, decidiu deixar o governo antes de disputar a liderança contra sua antiga aliada e ministra, Julia Gillard, que a partir de hoje dirige o executivo em Camberra.

As ações de Kevin Rudd frente ao executivo foram controversas. Ele pediu perdão aos aborígines por supostos abusos sofridos no passado, tentou aumentar impostos e retirou as tropas australianas do Iraque, aumentando o contingente no Afeganistão. Seguiu a cartilha do politicamente correto e dos governos de esquerda, entretanto, faltou combinar com os australianos.

O aumento de impostos para os que tem grandes lucros, o que atingiu de forma direta as empresas mineradoras, foi um dos pontos de afetaram sua popularidade, assim como a discussão sobre uma nova legislação sobre comércio de gases causadoras do efeito estufa.

Os Trabalhistas sabiam que com Rudd as eleições estariam perdidas. Na verdade, para tentar manter-se no poder, era preciso uma mudança. Na esteira desta estratégia, ou na arquitetura dela, veio Julia Gillard. Segunda ela, "um bom governo estava perdendo o rumo". Agora é preciso encontrá-lo, pois as eleições serão no final do ano.

Os liberais, que ficaram no poder com John Howard por 11 anos, tentarão voltar. Dependerá agora também das correções de rumo que Gillard, mais moderada do que Rudd, fará até as eleições (e ela é boa nisso). Do outro lado do Parlamento, os liberais, agora liderados por Tony Abbott, deverão achar um boa linha de campanha para uma rival que mostra-se disposta e tem competência de sobra para vencer.

terça-feira, junho 22, 2010

Segundo Turno na Polônia

Parece incrível, mas Jaroslaw Kaczynski conseguiu seu primeiro objetivo e levou as eleições presidenciais polonesas para um segundo turno.

Kaczynski conseguiu o inesperado. Em uma eleição que tinha tudo para ser um passeio do Plataforma Cívica, o scrpit mudou desde a forte campanha empenhada pelo Lei e Ordem de Kaczynski. Ele avançou dia a dia e nos últimos dias tomou um impulso surpreendente.

Bronislaw Komorowski, o candidato do atual Chefe de Governo Donald Tusk, largou com uma vantagem muito confortável sobre seus concorrentes e chegou a data do pleito ainda com esperanças de levar a Presidência no primeiro turno, mas o cordão ultra-conservador em torno do partido Lei e Justiça funcionou de forma muito eficiente, revertendo este quadro e levando Jaroslaw Kaczynski a cravar 36,74% no último domingo. Komorowski ficou com 41,22%.

Por certo Komorowski larga na frente, entretanto, os liberais não possuem a mesma capacidade de mobilização mostrada pelos conservadores, decisiva para jogar a disputa para um segundo turno. Além disso, apesar de Komorowski ter vantagem de saída, o momentum está com Kaczynski e isto conta muito em um período eleitoral, ainda mais como o polônes, especialmente curto, já que o segundo turno será dia 4 de julho.

O Plataforma Cívica brigará muito por Komorowski, pois sua escolha como Chefe de Estado da Polônia poderá abrir a real possibilidade de concretização da agenda do seu partido, que levou Donald Tusk a vencer as eleições de 2007. Se Kaczynski vencer, os mesmos problemas que ocorreram quando seu irmão era Presidente podem se repetir, e assim colocar as importantes reformas do Plataforma Cívica em risco.

Duas visões da Polônia e uma disputa muito acirrada. Será uma campanha intensa e muito interessante.

segunda-feira, junho 21, 2010

Santos vence na Colômbia

Juan Manuel Santos venceu na Colômbia. Como escrevi aqui, era o esperado. Sua diferença foi ainda maior e chegou a praticamente 42 pontos. Enquanto seu opositor chegou apenas a 3 milhões de votos, Santos alcançou 69% ou 9 milhões de votos.

A vitória de Santos foi esmagadora, com votação maior inclusive do que aquelas alcançadas por Alvaro Uribe, que em 2002 chegou aos 53% e em sua reeleição, em 2006, foi a 62%. Santos ampliou esta vantagem.

Mas a candidatura do Presidente eleito passa necessariamente por Alvaro Uribe. Sua eleição se deve ao fato de que a população deseja uma continuação das políticas do atual Presidente. Caberá a Santos, agora herdeiro político, entender isso na construção de seu mandato.

Acredito que inicialmente Santos deve manter todas as políticas e estruturas criadas por Uribe, para somente depois imprimir seu tom ao novo governo. Seria o mais prudente a fazer. Santos possui um perfil diferente de Uribe e não pode confundir sua vitória com um simples êxito pessoal, mas sim de um grupo político que se baseia em idéias e políticas claras. A vaidade de Santos é o único ponto a se considerar neste momento. Se entender a vitória como uma conquista de seu grupo político, estará bem situado.

No mais, a vitória dos partidos de direita foi arrasadora e isto dará a Santos uma confortável maioria no Parlamento, de praticamente 80%. O polido e carismático Uribe sai de cena e faz seu sucessor. Chega o vaidoso e orgulhoso Santos, que tem a opção de se inspirar no antecessor para alcançar êxitos ainda maiores.

quinta-feira, junho 17, 2010

Kaczynski avança na Polônia

Todos pensavam que Bronislaw Komorowski venceria as eleições presidenciais polonesas com folga. Não é o que estamos vendo. O elemento desestabilizador da estratégia de Komorowski chama-se Jaroslaw Kaczynski, irmão do ex-Presidente falecido no acidente aéreo na Rússia.

Kaczynski pode não vencer, mas sacudiu um pleito que parecia decidido. Sua ascensão nas pesquisas tem sido muito rápida e captura uma parte importante do eleitorado mais conservador e arraigado aos valores católicos. Leva votos também em função de representar seu irmão, parceiro também na política dentro do partido Lei e Justiça, quando ambos governaram a Polônia.

O que Kaczynski pode, e deve até provocar, é um segundo turno, para onde partiria em disputa direta com Komorowski. O Gazeta Wyborcza informa que 48% dos eleitores estão ao lado dos liberais do Plataforma Cívica, com Bronislaw Komorowski, ou seja, a um passo de vencer no primeiro turno.

No domingo a Polônia tomará uma decisão importante. Se levar o Plataforma Cívica também a Chefia de Estado, o caminho estará livre para as reformas liberalizantes idelalizadas pelo Primeiro-Ministro Donald Tusk, mas Kaczynski está no páreo e tenta impedir este movimento.

quarta-feira, junho 16, 2010

As Convenções

No último final de semana foram realizadas as convenções que homologaram os nomes dos principais presidenciáveis para a corrida deste ano.

Nada de muito novo no cenário. O PSDB fez sua festa em Salvador, enquanto PV e PT optaram por Brasília. Mais uma vez perdeu-se uma grande oportunidade de impulsionar as candidaturas.

As convenções foram tomadas por discursos insossos e sem empolgação. O PT, em especial, investiu fartos recursos para sua festa, mas não passou disso e os desdobramentos políticos não ficaram no patamar desejável para aquilo que foi investido. Serviu para selar o acordo com o PMDB, que confimou Temer como companheiro de chapa.

O PSDB errou a estratégia. A convenção poderia ter sido maior e provocar mais repercussão. O local escolhido, Salvador, não foi o ideal. O melhor teria sido realizar um grande movimento em Minas, talvez em Belo Horizonte ou em alguma cidade do interior. Como já disse aqui, esta eleição passa por Minas e pretigiaria Aécio, peça fundamental neste jogo. Além do mais, mobilizar a militância no estado é hoje tarefa primordial dos tucanos.

Mas o final de semana de convenções pífias, em período de Copa do Mundo, ficará na memória pelo lançamento da marca de campanha de Dilma, claramente inspirada no modelo usado por Obama em 2008. Tudo bem, sabemos que o PT importou mão-de-obra dos Estados Unidos para impulsionar Dilma, mas pelo menos podia ter disfarçado a semelhança um pouco.

Enfim, muito tempo que poderia ter sido melhor aproveitado. O recall na imprensa será menor do que o pretendido, menos do que se esperava. A hora da campanha real chegou.

terça-feira, junho 15, 2010

Eleições na Bélgica

Eleições na Bélgica não tem sido um tema fácil. O país que viveu "sem governo" durante algum tempo em 2007, pouco a pouco encontra seu caminho, por mais polêmico e controverso que seja.

Os pleitos sempre colocam em contraposição duas regiões, Flandres e Valônia. A primeira, de maior influência holandesa, possui 60% da população do país, além de ser mais próspera. A outra metade, de influência francesa, se beneficia dos impostos pagos no norte para sustentar seu estado de bem estar social. Aí reside grande parte do problema.

Soma-se a questão o fato de que Valões tem migrado em demasia para a região de Bruxelas, tradicionalmente ocupados por Flamengos. A questão linguística entre ambos está no ponto central da dissolução do governo dos liberais flamengos de Yves Laterme.

A insatisfação dos seis milhões de flamengos com toda esta situação os levou a entregar a maioria parlamentar a Nova Aliança Flamenga (N-VA), que deseja, aos poucos, caminhar para a cisão do país entre Flandres e Valônia. Bart de Wever é nome que deve liderar este processo.

Agora o Rei Albert II convocou o republicano De Wever, vencedor em Flandres, e o socialista Elio Di Rupo, vencedor na Valônia. De Wever tem clara maioria sobre os socialistas, mas é preciso negociação ainda para formar um gabinete. O N-VA deseja um processo gradual e buscará apoio político para isso. Tem forte apoio dos habitantes de Flandres.

De Wever inciará o processo de modo cauteloso, mas objetivo. Começará a negociar o corte de benefícios sociais dos Valões, angariando mais popularidade entre os Flamengos. Assim começaria o processo de cisão de um belo país que tem mostrado claramente que possui duas nações.

segunda-feira, junho 14, 2010

Eslováquia leva Direita ao poder

Mais um governo de centro-esquerda perdeu as eleições na Europa. Desta vez o palco foi a Eslováquia. As razões foram as de sempre. Um governo desgastado pelas políticas de bem estar social, déficit e altos gastos públicos, além da corrupção, o pecado de todos países que optam pelas políticas de alta intervenção do Estado.

Os eslovacos fizeram uma opção clara por políticas que tem objetivo cortar o déficit público, hoje em 6,8% para cerca de 3% em 2012. Uma gama de partidos da centro-direita deve assumir o governo em coalizão, assim como ocorreu na República Tcheca, onde o partido irmão do SMER, os sociais-democratas comandados por Jiri Paroubek, também perderam as eleições. A esquerda deixará o poder tanto na República Tcheca, como na Eslováquia.

A movimentação na simpática capital eslovaca, Bratislava, mostra que o comando da coalizão de centro-direita pode ser exercida por uma mulher, Iveta Radicova, da União Eslovaca Democrata-Cristã (SDKU), em substituição a Robert Fico, do derrotado SMER.

A coalizão que deve governar a Eslováquia tem em seu espectro Conservadores, Liberais, Democratas-Cristãos e húngaros moderados (a Eslováquia possui cerca de meio milhão de húngaros em seu território). Juntos SDKU, KDH, SaS e húngaros chegam a 79 cadeiras no Parlamento. Maioria absoluta tranquila para formação de um governo. A coalizão do SMER chegou a 71 cadeiras.

A Eslováquia busca retomar as origens das políticas que um dia levaram o país a ser chamado "Tigre da Europa Central", além desenhar uma reaproximação necessária com a Hungria. Bratislava segue o caminho político dos sócios europeus. Os bons ventos já chegaram ao país.

sexta-feira, junho 11, 2010

Dilema Republicano

Barack Obama não faz um governo popular. Seus números não trazem qualquer expectativa de êxito para os Democratas nas eleições deste ano. Tudo indica que o Presidente norte-americano enfrentará um terceiro ano de governo difícil, sem maioria no Congresso, e caminhará para o quarto ano, de plena campanha eleitoral, dentro desta perspectiva.

Entretanto, do outro lado, as coisas não caminham bem. Os Republicanos tem tudo para recuperar o controle do Congresso nas midterm elections deste ano. Uma conquista importante, que lhes dará de volta o comando da Câmara, hoje nas mãos de Nancy Pelosi. Contudo, é preciso se perguntar neste momento, qual a face do partido Republicano irá emergir como vencedora nessas eleições.

A resposta a esta pergunta indicará os rumos do partido para o confronto de 2012 contra Barack Obama. Surgirá um partido mais conservador ou mais moderado? A tendência natural, após a vitória Democrata em 2008, é que a vertente conservadora surja como uma opção natural, entretanto, seria a mais inteligente?

Os conservadores tem ao seu lado a derrota do moderado McCain em 2008. Dizem que é preciso uma guinada conservadora. O movimento Tea Party dá uma idéia desta tese. Entretanto, para confrontar Obama, talvez uma opção moderada fosse a mais indicada.

O problema é que o partido está dividido, mas seu sustentáculo mobilizador, sua musculatura política, vem do lado conservador, assim como os fundings mais decisivos e fartos. Talvez os Republicanos necesitassem de um nome com trânsito dos lados do partido. Nomes não faltam. Esta indefinição, porém, apesar do momento político propício ao GOP, pode levar os Democratas a confirmarem mais quatro anos para Obama.

Para saber se existe possibilidade de virar o jogo, o resultado das eleições para o Congresso este ano serão fundamentais e irão sinalizar os rumos dos Republicanos para a disputa da Casa Branca em 2012.

quinta-feira, junho 10, 2010

Direita vence também na Holanda

Depois de oito anos e quatro coalizões de governo, a era de Jan-Peter Balkenende terminou na noite desta quarta-feira. Seu partido sofreu uma derrota histórica nas eleições holandesas, caindo de 41 assentos para apenas 21. Perdeu a maioria, perdeu o comando do governo.

Balkenende já renunciou e disse que nem pretende voltar ao Parlamento. Agora espera-se a formação do novo governo, que deve levar em conta as alianças. O vencedor, mesmo que por uma pequena margem, foi Mark Rutte, do Partido Popular da Liberdade e da Democracia (VVD). Seu partido alcançou 31 cadeiras no Parlamento. Somou 9 assentos a mais do que na legislatura anterior.

Apesar da boa votação dos social-democratas do PvdA, que chegaram logo atrás, com 30 representantes eleitos, a chefia de governo deve ficar pela primeira vez com os liberais-conservadores, que tem uma agenda muito definida de reformas.

Rutte, que deve ser o novo Primeiro-Ministro, levou seu partido a vitória histórica, entretanto o grande nome desta eleição foi Geert Wilders, do PVV. Seu partido galgou 15 assentos, chegando agora a 24 e tornando-se o terceiro maior partido da Holanda, superando inclusive os democratas-cristãos de Balkenende. A votação de uma direita com as características do PVV enviou um recado muito claro aos políticos.

Os liberais-conservadores de Mark Rutte devem liderar uma coalizão, mas ainda especula-se por quais caminhos seu gabinete deve ser formado. O quadro político mostra a tendência clara que Rutte deve seguir. A Holanda, assim como outros países europeus, decidiu levar a direita ao poder. Isso significa rigor fiscal, corte de impostos e revisão de benefícios sociais. Mas talvez algo mais venha por aí. É só esperar a composição do governo e poderemos dizer com mais certeza.

quarta-feira, junho 09, 2010

Thatcher em Downing Street

David Cameron recebeu uma visita ilustre em Downing Street, a Baronesa, ex-Primeira-Ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher.

O encontro tem um forte simbolismo, uma vez que Thatcher é a mais importante figura do Partido Conservador. Seu governo, que durou de 1979 até 1990, mudou o Reino Unido e foi responsável, juntamente com Ronald Reagan, pela estratégia que desarticulou o comunismo e colocou abaixo a Cortina de Ferro do Leste Europeu.

Enquanto Primeira-Ministra, Thatcher implementou uma série de medidas econômicas liberalizantes, calcadas nas idéias de Hayek, que foram responsáveis pelo grande ressurgimento do Reino Unido como uma nação rica e poderosa. Depois de Thatcher, até o Trabalhismo inglês mudou. Seus adversários políticos, liderados por Tony Blair, fundaram o New Labour, uma reforma partidária que aceitou as conquistas de Thatcher como fundamentais no país. Somente assim os Trabalhistas voltaram a Downing Street.

A importância de Thatcher é reconhecida por ambos partidos. Ela visitou Tony Blair e Gordon Brown enquanto ocuparam a Chefia de Governo. O mesmo faz agora com um companheiro de partido, David Cameron.

Grandes personalidades da política como Thatcher mostram que acima das diferenças partidárias, existe uma idéia clara de nação. O respeito de seus adversários políticos provam que grandes nações são feitas desse respeito e admiração mútuos. A visita de Thatcher a cada novo inquilino de Downing Street é um exemplo claro dessa idéia.

segunda-feira, junho 07, 2010

O Euro chega a Estônia

Enquanto a União Européia procura contornar a crise criada pela Grécia para salvar o Euro, um novo país deve entrar no clube da moeda única, a Estônia. A Comissão Européia e os ministros das Finanças da UE deram sinal verde para que o país báltico entre na união monetária.

A Estônia deve ainda realizar algumas reformas estruturais, entretanto as premissas básicas já foram alcançadas, como controle de inflação, contas públicas em equilíbrio, déficit público controlado (em torno de 1,7%, um dos menores, senão o menor da Europa) e condições macroeconômicas estáveis.

O importante é notar que a Estônia é um exemplo raro. Depois de alcançar a independência da União Soviética, em um momento histórico, juntamente com Letônia e Lituânia, implementou, de forma corajosa, um rol de políticas liberalizantes que livraram a economia da influência do Estado, alcançado resultados notáveis. Como consequência, o país passou a ser chamado de Tigre Báltico. Mart Laar, que ocupou a chefia de governo por duas vezes, é um fã de Milton Friedman e buscou a implementação das teses liberais da Escola de Chicago. Teve êxito. Os resultados falam por si.

Hoje a Estônia é um país estável, saudável e livre. Sua entrada na zona do Euro antes dos parceiros do Leste Europeu, já em 2011, pode ser visto como algo natural. O Tigre Báltico, apesar de pequeno, pode contribuir de forma substancial com sua experiência de liberdade econômica e responsabilidade fiscal para o futuro da união monetária européia.

Em resumo, o Euro chega a Estônia, mas quem ganha mesmo é a União Européia.

sexta-feira, junho 04, 2010

Números de Budapeste

Recém chegado ao governo da Hungria, o FIDESZ encontrou uma situação que se repete por alguns países europeus há algum tempo. O governo anterior, os socialistas do MSZP, mascararam os dados do país, informando a Bruxelas uma situação irreal das contas públicas. Hoje, apesar de não ser um caso alarmante, descobriu-se que o problema é maior do que se imaginava.

Os pecados cometidos pelo MSZP foram vários e pouco a pouco descobre-se tudo aquilo que até o momento era escondido pelo governo socialista, como desvios de recursos públicos, gastos mascarados nas companhias estatais e fraude no sistema de aposentadorias. Tudo isso mostra que a situação da Hungria, que já inspirava cuidados, é mais delicada do que se imaginava. Budapeste irá, provavelmente, tentar acalmar os mercados nos próximos dias, mas sabe-se que o governo atual herda uma situação nada confortável.

Bruxelas segue os dados com atenção, assim como o FMI, que emprestou recursos para o país e mantém suas prestações de contas em avaliação. A situação, felizmente não é tão grave como na Grécia (não há risco de quebra), mas o probelma de contágio só não é maior porque a Hungria ainda não faz parte da zona do Euro. De qualquer forma a moeda européia também segue afetada pelas notícias vindas de Budapeste.

Viktor Orbán, o novo Primeiro-Ministro, terá um trabalho árduo pela frente. Precisa colocar as políticas de austeridade do FIDESZ em curso e lidar uma situação ainda mais difícil do que era imaginado. É preciso que a União Européia, de forma urgente, implemente mecanismos de penas duras para os países que mascaram suas contas públicas. A falta de ética e responsabilidade de alguns governos podem fazer naufragar um grande projeto de união monetária já em curso.

quinta-feira, junho 03, 2010

Movimentos em Berlim

Angela Merkel aproveitou a renúncia de Horst Köhler como Presidente da Alemanha para fazer um movimento político. Ela escolheu o mais importante nome dentro de seu partido para concorrer ao cargo, Christian Wulff, premiê da Baixa Saxônia.

Ela teria também outra opção, fortemente especulada. Seria sua ministra do Trabalho, Ursula von der Leyen. Mas Ursula, que é protestante como a Chanceler, sofreu, até onde se sabe, resistência de segmentos do partido. Bom para Merkel, que enxergou um caminho livre para Wulff e conseguiu manter sua Ministra, que realiza um trabalho muito elogiado e pode, no futuro, pensar em vôos mais altos.

A escolha de Christian Wulff, católico, equilibra as forças em quase todos os sentidos. Ele é um hábil político com muito trânsito, ao contrário de Köhler. Sua confirmação é praticamente certa, já que CDU/CSU e FDP detém maioria no Parlamento. Entretanto, o movimento provocado por Horst Köhler mexeu com as estruturas do principal partido governista, obrigando-o a uma acomodação que ainda não era esperada.

Aos 50 anos, Wulff pode fazer da Presidência, algo meramente decorativo na Alemanha, um instrumento político que pode fortalecer seu nome como um grande conciliador, quem sabe a fortaleza que lhe faltava para um dia substituir Merkel.

quarta-feira, junho 02, 2010

O influente Ichiro Ozawa

Depois de Shinzo Abe, Yasuo Fukuda e Taro Aso, chegou a vez de Yukio Hatoyama. Ele não resistiu as pressões e renunciou ao cargo de Primeiro-Ministro do Japão. A diferença é que, ao contrário dos antecessores, Hatoyama chegou ao poder carregando uma popularidade de 71%, líder da oposição até então, eleito com a promessa de trazer mudanças ao cenário político japonês. Não conseguiu.

A crise que tragou o capital político de Hatoyama, carregou também homem forte do Partido Democrático do Japão, Ichiro Ozawa. Eles formavam a dupla que venceu de maneira arrasadora as eleições de agosto para a Câmara Baixa e que conduziu o partido ao poder. Ozawa, entretanto, sabedor dos desgastes, já mostrava distanciamento do Primeiro-Ministro.

Nos bastidores, contudo, Ozawa continua a se movimentar e especula-se que ele continuará dando as cartas dentro do partido visando as eleições para a Câmara Alta no meio deste ano.

Isso tudo influi na escolha do nome do novo Presidente do partido, que será eleito pela Câmara Baixa como o novo Primeiro-Ministro. Se Ozawa foi um dos responsáveis pela derrocada de Hatoyama, pode ser decisivo na escolha do seu sucessor.

O favorito, por enquanto, é Naoto Kan, atual Vice-Primeiro Ministro e titular da pasta das Finanças. O outro é Shinji Tarutoko. Outros possíveis candidatos, como os ministros Seiji Maehara e Katsuya Okada tendem a apoiar Kan, com objetivo de diminuir o poder e influência de Ichiro Ozawa. Acredito que este, no entanto, mesmo que saia perdedor, deve tentar impor uma vitória pequena ao adversário, que obrigará Kan a negociar a formação do gabinete com seu grupo, tornando-se, assim, um governo fraco. Isto deixa a escolha indefinida, mas uma certeza: o Japão pode caminhar para ter mais um governo frágil e possivelmente breve.

terça-feira, junho 01, 2010

Direita triunfa na República Tcheca

A crise grega tem acentuado o ritmo da volta dos governos de direita e centro-direita ao poder na Europa. A tendência se confirmou novamente, desta vez na República Tcheca, que formará um gabinete conservador como resultado das eleições.

Governos identificados com a esquerda tendem a aumentar o gasto público, o que está no cerne da crise grega e, consequentemente, que se abateu sobre o Euro. Na República Tcheca, por exemplo, a proposta dos social-democratas para sair da crise era mais intervenção do estado e gastos públicos, ou seja, aumento de impostos. Isto apenas agravaria a crise.

Assim, os tchecos, de forma acertada resolveram mudar o rumo das coisas. Levaram a vitória três partidos de centro e direita que devem formar um governo conservador, que certamente adotarão políticas de diminuição dos gastos sociais, corte de impostos e austeridade econômica, especialmente pela união entre ODS, agora liderado por Petr Necas e o TOP09 de Karel Schwarzenberg.

Será interessante observar a formação deste governo de coalizão, especialmente depois da queda do gabinete conservador de Topolánek no último ano. Os Democratas-Cívicos (ODS), que lideram a aliança com 20,2% dos votos, convergem para a centro-direita, assim como o TOP09 (Tradição, Responsabilidade e Prosperidade) que obteve 16,6%. Mas é no TOP09 que residem as grande expectativas, pois mostra-se, apesar de ser um partido recente, aquele que pode impulsionar as reformas mais importantes e profundas que a República Tcheca precisa. A aliança é completada pelo grupo centrista Assuntos Públicos (VV), que alcançou 10,9%.

Os social-democratas do ČSSD, que viram na queda de Topolánek uma forma de resgatar o poder, não tiveram sucesso. Ficarão na oposição com os comunistas do KSČM, com apenas 33,4% do Parlamento. O Presidente do ČSSD já ofereceu sua renúncia.

Na Europa tem sido assim. Mesmo que as vitórias das alianças de centro-direita fossem esperadas, certamente foram impulsionadas pela crise. Parece claro aos europeus que, no momento de crise, chama-se a direta para arrumar a casa. É o que acontece mais uma vez. Os resultados vindos, desta vez de Praga, apenas confirmam esta tese.