sexta-feira, setembro 28, 2018

Polarização

A proximidade de um primeiro turno com tendência de segundo acirrou os ânimos e a militância. A mobilização antipetista por uma vitória de Bolsonaro ainda no primeiro turno é real, enquanto a expectativa petista de êxito em um eventual segundo embate se tornou uma certeza.

Os candidatos dos pelotões com menos votos continuam sua briga para desidratar Bolsonaro e chegar na reta final. Alckmin é aquele que mais trabalha neste sentido. A tática é a mesma: atingir o candidato do PSL mostrando-se como uma via mais segura de vencer o petismo no segundo turno. Até agora não funcionou. A rejeição a Alckmin é alta e seus números seguem estagnados.

A possibilidade de vitória de Bolsonaro ainda no primeiro embate ligou o sinal de alerta nas campanhas adversárias e na grande imprensa, que passou a trabalhar contra o deputado. O sistema percebeu que a possibilidade de ruptura das estruturas atuais de poder é algo realmente possível e passou a se movimentar em suas diversas frentes para evitar o pior para si mesmo. Multiplicaram-se as reportagens que atingem o candidato do PSL. Rumores e ataques são frequentes e cada vez mais agudos. A proximidade da eleição fará este quadro se acirrar ainda mais.

Do lado petista existe a certeza que a eleição levada a um segundo turno entregará a vitória a Haddad. O partido, liderado de Curitiba por Lula e pelo Brasil afora por Dirceu, costura alianças para levar seu candidato ao Planalto. No bastidores é dado como certo o apoio dos tucanos, liderados por FHC e de parte do Centrão, puxado por Kassab e Rodrigo Maia. O petismo tem certeza que, emplacando no segundo turno, chegará ao Planalto.

Ainda hoje, o STF por meio de Lewandowiski, liberou Lula para ser entrevistado pela imprensa diretamente de sua cela em Curitiba. Este movimento ajudará Haddad, trazendo Lula para os holofotes ainda no primeiro turno.

A polarização está instalada e este foi o primeiro triunfo do petismo, que trabalhou muito por isso. Para tanto, teve a ajuda da estratégia tucana, que funcionou como linha auxiliar atacando Bolsonaro. Resta saber qual das apostas vencerá: a força antipetista canalizada em Bolsonaro para terminar com a eleição no primeiro turno ou a estratégia petista de empurrar a decisão para uma segunda rodada.

quinta-feira, setembro 27, 2018

Confiança nas Pesquisas?

Os erros dos institutos de pesquisa sempre foram um ponto polêmico nas eleições. Mesmo depois de erros profundos, seguem com credibilidade na grande imprensa, que usa as pesquisas Ibope e Datafolha como faróis da opinião pública.

Mas esta eleição trouxe algo diferente. O mercado sempre realizou acompanhamento diário dos números dos candidatos, o chamado tracking. Neste ano, entretanto, passaram a fazer pesquisas periódicas que vem sendo divulgadas para seus clientes, que usam o material na orientação do seu investimento. O resultado não pode ter compromisso com o erro, uma vez que aplicações são feitas baseadas nos resultados destas sondagens.

O que chamou a atenção é a diferença dos números dos institutos tradicionais para aquelas sondagens contratadas pelo mercado. Hoje, nas projeções de primeiro turno, os números começaram a convergir, com Ibope e Datafolha se aproximando do resultado das pesquisas dos bancos. Estes conseguiram apontar antes o rumo da eleição, talvez por suas sondagens conseguirem antecipar tendências com mais eficiência do que as pesquisas usuais.

Entretanto, a divergência segue intensa nas projeções de segundo turno e rejeição. Enquanto para o mercado Alckmin e Marina lideram a rejeição, atingindo assustadores 63%, Bolsonaro aparece apenas em quinto lugar. Nas pesquisas dos institutos tradicionais, o candidato do PSL lidera a rejeição, na casa dos 40%, com Alckmin e Haddad na faixa dos 20%. A discrepância é enorme.

Isto afeta os números das projeções de segundo turno. No Ibope e Datafolha, Bolsonaro perde praticamente em todos os cenários, enquanto nas sondagens realizadas pela FSB e Ipespe, realizadas para BTG e XP Investimentos, o deputado lidera na maior parte dos cenários de segundo turno.

Diante do voto útil e da eleição plebiscitária que se instalou no primeiro turno, possuir em mãos pesquisas confiáveis podem fazer toda a diferença. O melhor é fazer suas apostas e suas escolhas baseadas em institutos confiáveis, que precisam acertar e não possuem um histórico de manipulações, erros e até envolvimento com a Lava Jato. 2018 tem mudado paradigmas. Aqui fica mais um.

terça-feira, setembro 25, 2018

Hora da Verdade

A hora da verdade chegou para Alckmin. Sem mostrar qualquer reação nas pesquisas, começa a ser rifado pelo aliados que acreditaram em seu potencial. O centrão já começou a avaliar a possibilidade de embarcar em outra candidatura que forneça perspectiva de poder.

O tucano fez a aposta errada. Partiu para uma nova batalha usando velhas armas. Enquanto apostou no poder das inserções de rádio e televisão, Bolsonaro, aquele que Alckmin enxergava como adversário, atacava nas redes sociais. Enquanto o PSDB fechou uma ampla aliança com os partidos do centrão, o PSL partiu para a disputa praticamente sozinho. O eleitorado mostrou que havia mudado, tanto na forma de se comunicar, como na forma de ver a política.

O crescimento de Haddad também está relacionado com a estratégia tucana. Ao atacar Bolsonaro, Alckmin abriu espaço para Haddad receber o apoio de Lula sem interferências ou ataques. Além disso, pode partir para uma campanha propositiva, que resgatasse a militância petista e impulsionasse seu nome para o segundo turno. Teve pista livre. Ultrapassou Alckmin e se isolou no segundo lugar. Com a estratégia errada, o ex-Governador de São Paulo transformou-se em linha auxiliar do petismo.

Os tucanos ainda acreditam que existirá um movimento de centro que impulsione seu nome para a reta final. Usam o exemplo de Aécio de 2014. Mas nada está mais distante daquela campanha do que a realidade que vivemos este ano. Os aliados de ocasião, que possuem um calibrado faro político, já enxergaram o fim da linha. O PSDB, perto das benesses oficiais e longe do pulsar das ruas, perdeu seu discurso e com isso a eleição.

Alckmin, que chegou ao segundo turno em 2006 embalado por 41,6% do eleitorado, sequer deve chegar aos 10% em 2018. O centrão, arrependido de não ter embarcado na candidatura de Ciro, já pensa no segundo turno. A hora da verdade chegou para os tucanos. Depois do pior resultado desde a fundação do partido, será um momento de reflexão, mudanças e renovação. O PSDB precisa mudar

segunda-feira, setembro 24, 2018

Petismo Vs Antipetismo

Lula entrou no jogo da política nacional durante os anos do regime militar. Foi uma tentativa de Golbery atenuar o poder daqueles que logo mais retornariam ao país com a anistia. Na ânsia de enfraquecer Arraes, Brizola e diluir o poder de fogo do antigo MDB, sob o comando de Ulysses, os militares resolveram estimular o surgimento de uma nova liderança do mesmo campo, desta vez oriunda do movimento sindical. Dividida, a esquerda teria mais dificuldades de se organizar e alcançar o poder.

A estratégia de abertura lenta e gradual de Golbery funcionou em um primeiro momento, mas acabou por fomentar a reorganização das esquerdas sob o comando sindical. Dirceu e Lula criaram aos poucos o aparato partidário que se tornaria hegemônico, sobrepondo-se aos demais líderes de mesmo corte ideológico, que de volta do exílio, viram seus partidos transformarem-se em satélites do PT.

Ao alcançar o segundo turno contra Collor em 1989, Lula consolidou seu projeto como a principal força na esquerda política. A partir daí toda eleição presidencial brasileira passou a orbitar em torno dele, seja como protagonista ou antagonista. A eleição de 2018, mesmo com o líder petista condenado e preso, se torna mais um capítulo deste mesmo enredo.

Os tucanos, que são primos ideológicos do petismo, ambos de esquerda, porém uma de corte social democrata intelectual e a outra socialista sindical, encenaram uma espécie de falso duelo desde a eleição de 1994. Jogado pelas circunstâncias no polo oposto, o PSDB, que havia apoiado Lula no segundo turno de 1989, acabou por se tornar seu principal rival.

Entretanto, a entrada de um jogador que transita pela direita, Bolsonaro, colocou os tucanos em uma posição incômoda. Acostumados a receber o voto antipetista, não souberam se posicionar quando tiveram que assumir sua própria identidade no jogo político. Reposicionados entre Bolsonaro e Lula, foram esmagados pelas duas forças antagônicas que se apresentaram nestas eleições.

Talvez por dificuldade ideológica, o PSDB não soube representar o antipetismo quando alguém de corte mais conservador se apresentou para o embate. A social democracia tucana entrou em transe diante deste cenário e o imobilismo de Alckmin é a maior tradução deste cenário nesta corrida presidencial.


De nada adianta o ex-Presidente Fernando Henrique fazer um apelo para a união das forças de centro democrático. Este é um campo político inexistente no Brasil. Mais uma vez estamos diante do duelo entre forças petistas e antipetistas e sem a força do discurso antiLula, capturado por Bolsonaro, os tucanos agora precisam enfrentar seus próprios dilemas, reduzidos ao seu real tamanho nesta campanha. Enquanto isso, a criatura de Golbery e seu partido enfrentarão pela primeira vez um projeto antagônico e de total rejeição aos rumos que o país tomou nos últimos 30 anos, seja na mão de petistas, tucanos e seus associados. A conferir.

sexta-feira, setembro 21, 2018

Bolsonaro e Trump

Por mais que a notícia seja indigesta para uma parcela do eleitorado, o fato é que o mundo tem dado uma guinada para a direita política. Tanto na Europa, quanto nos Estados Unidos, assim como outros continentes de tradição democrática, existe uma tendência que se observa nas opções adotadas pelos eleitores.

Portanto, nada mais natural que este movimento chegue ao Brasil. Esta oscilação política é perfeitamente natural e esperada em democracias que vivenciaram um longo período de outra escola de pensamento no poder. No Brasil, a esquerda intelectual social-democrata e sindical, dividas em PSDB e PT, governaram o país desde 1994, ou seja, durante 24 anos. Nada mais esperado que a fadiga de material chegasse e impulsionasse uma mudança de fundo.

No espectro da estratégia política, a reação dos opositores deste movimento não tem sido a mais inteligente. O exemplo da eleição de Donald Trump pode ser usado sem reservas. Ali, seus opositores atacaram o mensageiro, sem entender que a mensagem que carregava era o que motivava o eleitorado. Trump apenas soube dar voz ao desejo de mudança e ruptura embarcado em uma guinada conservada. O movimento, entretanto, já estava consolidado na sociedade.

Nesta eleição no Brasil ocorre o mesmo fenômeno. Bolsonaro sofre ataques pessoais como mensageiro. Seus opositores não entendem que ele apenas transmite uma ideia que está presente na maioria dos eleitores. Outro candidato poderia ter capturado este eleitor, mas quem soube dar voz a mensagem foi o capitão que lidera as pesquisas.

Quando os adversários de Bolsonaro insistem em atacar por meio de temas polêmicos, acabam apenas fornecendo mais combustível para sua campanha, que cresce e se fortalece. Levam o debate para seu terreno, onde existe reverberação e aceitação de seu discurso. No ânsia de enfraquecer sua imagem, acabam por fortalecê-la.

Os estilos de Trump e Bolsonaro estão presentes em suas campanhas, mas vão além disso, expressam o sentimento de rejeição da população com a política tradicional, o politicamente correto e suas estruturas de poder. A mensagem é poderosa.

quinta-feira, setembro 20, 2018

2018 é 1989

Há tempos venho falando dos ciclos de 30 anos que impactam a política brasileira. Os exemplos são nítidos e marcaram as chegadas de Collor, Jânio, Getúlio e Deodoro. Todos representaram uma ruptura com o sistema anterior, a saber, Império, República Velha, Getulismo, Regime Militar e agora com a Nova República, personificada pelo duelo PSDB vs. PT e a onipresença do MDB. Partimos para um novo momento a partir de 2018.

Exatamente em função disto não podemos fazer correlação direta do pleito deste ano com aquele de 2014. Os alckimistas mais aguerridos agarram-se na dinâmica do pleito anterior, quando Aécio ultrapassou Marina nos últimos dias, para justificar uma campanha que até agora não mostrou a que veio. Faltou lembrar que o processo de 2018 é completamente diferente de 2014.

Quatro anos atrás, Marina era atacada ferozmente por Dilma. A candidata do PSB não soube reagir, tampouco possuía enorme respaldo popular. Seu salto ocorreu com a trágica morte de Eduardo Campos, ou seja, não foi um crescimento orgânico e seguro. A admiração por Lula paralisou Marina, que capitulou nos debates, selando de forma negativa uma conjunção favorável que poderia facilmente ter levado seu nome ao segundo turno. Como vemos, não existem semelhanças entre estes dois pleitos.

Também não podemos correlacionar com 2010, 2006, 2002, 1998 ou 1994 e presumir que teremos a reedição do duelo entre tucanos e petistas, o que sugere uma falta de capacidade de leitura de cenários e nuances. Desde o começo do pleito venho dizendo que caminhávamos para uma polarização entre esquerda e direita, que Bolsonaro não cairia com os ataques, que Alckmin seguiria estagnado e que Haddad, escolhido candidato pelo PT, chegaria aos 20%. Tudo muito parecido com 1989.

30 anos atrás, um candidato com pinta de outsider liderava as pesquisa na faixa dos 30%. O segundo lugar era disputado por PT e PDT, Lula e Brizola, hoje personificados nas figuras de Haddad e Ciro. O candidato tucano tinha enormes dificuldades de chegar ao segundo turno. Naquela ocasião, Covas, desta vez Alckmin. Ulysses e Aureliano, donos do maior latifúndio de tempo no rádio e televisão, não decolaram. Alckmin tornou-se a versão 2018 destes nomes, carregando alianças similares, as mesmas virtudes e defeitos. Deve acabar a eleição como eles.

Portanto, a busca por um paralelo com 2014, é um mero exercício retórico. O paralelo é com 1989.

terça-feira, setembro 18, 2018

À Espera de um Milagre

A campanha presidencial deste ano aos poucos vai tomando o caminho da polarização. A convergência em uma força chamada de centro, que serviria como ponto comum em assuntos mínimos, parece ter fracassado. Isto tem relação com o período que passa o país, uma entressafra política que divide dois ciclos históricos, o fim da Nova República e o surgimento de um novo quadro de forças políticas.

Isto explica a falta de tração na campanha de Alckmin, que optou pelo caminho do centro em um momento de renovação. Aliar-se aos partidos mais fisiológicos da política brasileira em tempos de Lava Jato também em nada ajudou sua caminhada. Tornou-se refém da velha política e suas práticas, como acreditar que o tempo de rádio de televisão faria seu nome emplacar na cabeça do eleitor. O tucano não entendeu que este pleito representa um movimento de ruptura com estruturas antigas.

Alckmin fez as apostas erradas ao falhar na leitura do momento histórico pelo qual passa o país. João Dória, por exemplo, teria muito mais diálogo com o eleitor por personificar um discurso novo. Se fosse o escolhido do partido para liderar a candidatura e unificar as forças de centro, certamente teria chegado neste ponto da disputa com mais força. Doria conseguiria transmitir segurança ao establishment, ao mesmo tempo que veste a camisa da renovação diante do eleitor.

Alckmin, que partiu de um partido rachado, atingido pelo caso Aécio e a proximidade com Temer, tinha pouco a oferecer a um eleitor que busca novos ares na política. Era uma tarefa praticamente impossível. Instado a bater em Bolsonaro, deu um passo em falso e colheu a impopularidade do eleitorado fiel do capitão.

O eleitor não perdoa erros, especialmente em uma eleição curta. Diante da inércia dos números de Alckmin, seu apoiadores começaram um movimento em direção a Bolsonaro, com vistas a evitar um segundo turno contra Haddad. O antipetismo hoje migrou para o candidato do PSL. O tucano acabou murchando.

Alckmin segue a espera de um milagre, parecido com aquele que levou Aécio ao segundo turno em 2014. Mas como sempre digo, nada difere mais da eleição de 2014 do que esta de 2018. Se quiserem um paralelo, é só buscar a configuração de 1989. Mais do que Aécio em 2014, Alckmin se parece com Ulysses e Aureliano, donos do maior latifúndio de tempo de televisão da eleição de 30 anos atrás. Juntos, obtiveram cerca de 5% dos votos. Alckmin hoje pontua em 6%.

segunda-feira, setembro 17, 2018

Voto Útil

Depois do atentado contra Bolsonaro, todos institutos de pesquisa apontaram na mesma direção, ou seja, o crescimento de sua intenção de votos, distanciado ainda mais dos adversários. Do outro lado, Ciro, Alckmin e Marina passaram a receber a companhia de Haddad, finalmente escolhido como candidato oficial pelo PT diante da impugnação de Lula.

O momento de Bolsonaro coincidiu com o impulso de Haddad, que já vinha com crescimento consistente nas pesquisas anteriores. O petista pontuava, ainda sem campanha, perto do pelotão intermediário. Isto era um indicativo de que o apoio de Lula poderia catapultá-lo para um segundo lugar isolado – algo que já começa a tomar forma.

Isto prejudica Alckmin, que segue estagnado, refém de uma estratégia equivocada desde o começo da campanha. O tucano ainda não acertou o tom. Parece não ter captado o sentimento de mudança do eleitor. Seu discurso é baseado na razão, em uma campanha marcada pelo desejo de renovação. Partiu para o ataque a Bolsonaro, que possui percentual alto de votos consolidados, ao invés de buscar aqueles que hoje repousam no colo de Amoedo, Meirelles e Álvaro.

O crescimento de Haddad, associado a estagnação de Alckmin, impulsiona o surgimento do fenômeno do voto útil antipetista em Bolsonaro. Eleitores que até então sentiam-se propensos a votar com o centro, mas que desejam evitar a volta do petismo a qualquer custo, tem migrado aos poucos para a candidatura do capitão. Um movimento que tem por objetivo fazer com que a vitória chegue ainda no primeiro tuno.

Isto faz sentido para esta parcela do eleitorado diante do embate duro previsto para o segundo turno, que colocaria frente a frente Bolsonaro e Haddad. A disputa seria acirrada, com a classe política em peso apoiando o candidato petista, uma vez que conhecem seu lugar no jogo em um governo do PT. Apoiaram Lula, Dilma e estariam prontos para aderir a Haddad. Com Bolsonaro, a classe política, que prefere a acomodação conhecida, daria um salto na incerteza.

Apesar de Alckmin e Marina mostrarem musculatura em um eventual segundo turno, não conseguem tração para chegar até lá. Ciro, por sua vez, que ainda emite sinais de resistência, deve começar um processo de desidratação na medida que Haddad seguir crescendo com o apoio de Lula. Em breve o petista deve se isolar na vice liderança - algo que impulsionará ainda mais o processo de transferência de votos do centro em favor de Bolsonaro com vistas a evitar um segundo turno. 


Caminhamos para a polarização da campanha entre direita e esquerda, com chances reais de vitória para Bolsonaro no primeiro turno. Considerando os votos válidos, ele está a menos de dez pontos disto. Para tanto, o voto útil será decisivo.

sexta-feira, setembro 14, 2018

Tendências Eleitorais

A semana fecha com a chegada das últimas pesquisas eleitorais que começam a fornecer sinais claros do que vai acontecer no primeiro turno. Acredita-se que depois do atentado contra Jair Bolsonaro tudo ficaria turvo, entretanto, surpreendentemente o quadro se tornou mais nítido, o que ajuda a conseguir prever aquilo que irá acontecer.

Marina Silva está mostrando que realmente não terá fôlego para chegar na fase final da disputa. Sem estrutura partidária, tempo de rádio e televisão, militância ou recursos, sua campanha se baseia única e exclusivamente em seu discurso. Nesta linha não está conseguindo segurar seus números. Ela vem caindo em todos institutos de pesquisa ao longo das últimas semanas. Perde fôlego na medida que Haddad cresce.

Ciro Gomes encontrou um caminho para seguir na disputa e mantém-se em um nível competitivo. Isto, entretanto, deve mudar. Ele se beneficiava do fato de a esquerda ainda não ter um nome viável, mas diante da benção de Lula para a candidatura de Haddad, os votos que hoje repousam com Ciro devem encontrar abrigo com o candidato do PT. A tendência é que o pedetista comece a perder tração.

A novidade da semana é Haddad, que pontua no mesmo patamar de Geraldo Alckmin sem sequer ter começado sua campanha. Deve crescer mais na esteira da estrutura do PT, recursos do fundo eleitoral e impulsionado pelo Nordeste lulista. Haddad tornou-se o fato novo e já na próxima semana deve começar a se distanciar do pelotão intermediário isolando-se no segundo lugar.

Alckmin segue no mesmo patamar, sem capacidade de reação, mesmo com tempo de rádio e televisão e estrutura pelo Brasil. O atentado contra Bolsonaro atingiu o centro de sua campanha, que se baseava na desconstrução do capitão. Sem poder atacar o adversário, Alckmin não tinha plano B e segue perdido na disputa. Os votos que poderiam levá-lo ao segundo turno hoje repousam no colo de Álvaro Dias, Amoedo e Meirelles.

Enquanto isso, de cima, Bolsonaro aguarda em uma cama de hospital o seu adversário no segundo turno. Os números do deputado resistem e depois do atentado aumentaram, de forma consistente, tirando do silêncio um eleitorado que até então escondia seu voto no capitão.

Uma eleição cheia de emoções começa a se definir.

terça-feira, setembro 11, 2018

Pesquisas Pós-Atentado

As pesquisas que avaliam os impactos do atentado contra Bolsonaro apontam para mesma tendência, ou seja, o crescimento do líder das pesquisas e uma briga cada vez mais acirrada pelo segundo lugar.

Ciro, Marina, Alckmin e Haddad aparecem no mesmo patamar. Entretanto, o viés de cada um é diferente. Alckmin parece fadado a estacionar entre os 8% e 10%. Desde o início do campanha mantém este patamar e não consegue decolar. Acreditava que a senha para a vitória passava pelos ataques a Bolsonaro e o tempo de televisão. Até o momento, nenhuma das duas estratégias deu resultado. 

Marina está em declínio. Seus números caem na medida que Haddad se fortalece e Lula aparece fora da disputa. Lidera a rejeição na pesquisa BTG com 64%. No Datafolha, sua intenção de votos caiu 5 pontos. Certamente precisa rever sua estratégia, mas sem estrutura e recursos, sua penetração no eleitorado começa a perder fôlego. 

Isto interessa Haddad, que hoje entrou oficialmente na disputa ao lado de Manuela, ocupando o lugar de Lula, impugnado. Ele já está recebendo votos que estavam com Marina e esta tendência deve se acentuar com o endosso de Lula ao seu nome. Os petistas finalmente tem um candidato para chamar de seu. 

Ciro busca forças para reagir, mas ao longo das próximas semanas seus números devem desidratar pelo mesmo motivo de Marina. Haddad deve drenar votos da esquerda para sua campanha e assim a tendência é o pedetista ficar pelo caminho.

Enquanto isso todos observam Bolsonaro. Na pesquisa BTG, voltada para o mercado e investidores, atinge 30%. O Datafolha, que já errou muito, mostra o candidato com 24%. O viés, entretanto é de alta. Muitos eleitores que tinham receio em dizer que votam no capitão estão assumindo sua posição. As manifestações pró-Bolsonaro, ignoradas pela imprensa nacional, impressionaram muito no último final de semana. A sensação é de que seu apoio é muito superior ao que dizem as pesquisas. 

Nova Campanha

Quatro semanas antes da eleição presidencial mais imprevisível dos últimos tempos surgiu o imponderável. O atentado contra Bolsonaro na mineira Juiz de Fora alterou a dinâmica do pleito e reorganiza a estratégia de todos os candidatos ao Planalto. Estamos diante de uma eleição nova, entretanto, com os mesmos favoritos.

Aquele atingido mais diretamente pelo ocorrido foi Alckmin. Sua campanha trabalhava diante de uma estratégia simples, que era a desconstrução de Bolsonaro. Impedido de atacar o concorrente, o tucano surge para as semanas finais de campanha sem estratégia e um latifúndio de propaganda eleitoral. O tom de seus programas pós-atentado mudou, resta saber se encontrará um rumo que possa impulsionar seu nome para o segundo turno. Uma tarefa praticamente impossível.

Haddad, ao contrário, tem pista livre para crescer na carona de Lula. Nesta semana começa de verdade a campanha para o PT. Veremos peças de Lula com apoio explícito a Haddad e Manuela e a chapa deve ganhar tração além do esperado, assegurando a segunda vaga. A equação de Haddad é simples: apoio de Lula, fundo eleitoral de 212 milhões, apoio maciço do Nordeste, rejeição ao governo Temer. Tudo isso diante da mais competente equipe de comunicação da política brasileira.  

Isto explica porque Ciro e Marina devem ficar pelo caminho. Ao canalizar os votos da esquerda, Haddad deve também esvaziar as candidaturas dos seus concorrentes diretos. Hoje, o petista já chega aos 13% quando vinculado ao apoio de Lula. Pode chegar facilmente aos 20%. Alckmin segue na disputa pela mesma vaga e ao invés de mirar no eleitor de Bolsonaro, que jamais trocaria o capitão pelo tucano, deve buscar votos úteis nas hostes de Álvaro Dias, Meirelles e Amoedo para tentar ultrapassar os petistas. No duelo entre eles, entretanto, não há dúvida que Haddad e Manuela passam a imagem de uma chapa com mais apelo e vigor do que Alckmin e Ana Amélia. Na soma, petistas tem vantagem sobre tucanos.

A facada desferida contra Bolsonaro teria dois desfechos possíveis. Restou apenas um deles, aquele em que o candidato sobrevive, ou seja, o pior cenário para aqueles que gostariam de ver o capitão longe da disputa, pois agora ele ressurge com ainda mais força. Fora dos atos de campanha no primeiro turno, não deve participar de debates ou comícios. Enquanto convalescer, não poderá ser vítima dos ataques do opositores, sob pena de seus números crescerem ainda mais e a rejeição daqueles que o atacarem chegarem nas alturas. Diante de um eleitorado fiel, sua presença no segundo turno é praticamente certa.


Fato é que a dinâmica da campanha mudou no sentido de acelerar um cenário que estava sendo desenhado. Bolsonaro consolidado no primeiro lugar e uma disputa pela segunda vaga, com larga vantagem para Haddad. Alckmin, que ainda sonha em atacar Bolsonaro para chegar na fase final, parece cada vez mais longe do seu objetivo. Nesta nova campanha, um duelo real entre esquerda e direita parece surgir com mais nitidez no horizonte da política brasileira.

sexta-feira, setembro 07, 2018

Desdobramentos do Atentado

O atentado sofrido por Bolsonaro é mais um capítulo de uma eleição marcada pela polarização e de um país onde a banalização da violência se tornou uma triste realidade. Os desdobramentos políticos já começaram a acontecer, tanto nas campanhas dos outros candidatos, quanto nas estratégias eleitorais dos partidos. Um acontecimento como este mexe com toda a estrutura política nacional, especialmente durante uma corrida eleitoral. O fato é que a dinâmica da campanha mudou.

No plano político, quem sai perdendo é Geraldo Alckmin. O candidato do PSDB traçou como estratégia central de sua campanha o antagonismo em relação a Bolsonaro. Usava peças de rádio e televisão extremamente duras contra o candidato do PSL. Continuar a usar este material diante desta situação seria suicídio político. Entretanto, Alckmin não possui plano B. Precisará redesenhar toda sua estratégia para tentar chegar ao segundo turno. 

O desenho da campanha de Alckmin pareceu equivocado desde o começo. Seguiu os manuais de marketing político, que orientam aquele candidato sem brilho a sempre se contrapor ao líder das pesquisas, pois assim atrai holofotes e ao mesmo tempo tenta desidratar aquele que está na frente. Esta lógica não funciona, porém, quando o líder tem apoiadores fiéis e convictos. Era o que estava acontecendo. A rejeição crescia fora do eleitorado de Bolsonaro, enquanto seus números se mantinham firmes. Do outro lado, a rejeição ao tucano também aumentava, enquanto seus números permaneciam estáveis. 

O tropeço de Alckmin abre espaço para o crescimento de Haddad, que a partir da semana que vem recebe o endosso formal do partido e o apoio explícito de Lula como candidato oficial do PT. Como os petistas não centralizam sua campanha em um embate direto com Bolsonaro, não saem menores do episódio, como ocorre com o competidor tucano. Haddad terá pista livre para receber o apoio do líder petista, fazendo uma campanha positiva, lembrando dos feitos do ex-Presidente, dizendo que trará de volta o “Brasil de Lula”. Não precisará ombrear com Alckmin (que deve exorcizar seus próprios demônios) por um lugar ao sol. 

Ciro também se beneficiaria do revés tucano, mas sem a estrutura nacional do petismo, apoios estaduais, endosso de Lula e o milionário fundo eleitoral do PT, de 212 milhões de reais, deve ficar pelo caminho, apesar de a prudência mandar monitorá-lo com atenção. Marina sofre de um mal ainda maior. Possui discurso, porém não consegue tração pela falta de estrutura. Precisaria de uma onda favorável - algo que não parece surgir no horizonte político até o final do primeiro turno. 

Além disso, a comoção deve fazer com que muitos eleitores de Bolsonaro finalmente assumam seu voto, pois depois do atentado sentem-se mais confortáveis em dizer publicamente que votarão nele. Além disso, haverá uma transferência de votos que ocorre naturalmente em situações como esta. 

Bolsonaro também está fora da campanha no primeiro turno. Se possuía nove segundos na televisão, o atentado fez com que estivesse no ar por 24 horas e nos próximos dias/semanas terá também uma vasta cobertura da mídia. Não deve participar dos debates e enquanto estiver convalescendo, não deve ser vítima de ataques de seus opositores. Deve fazer, ao final do primeiro turno, algumas aparições controladas, mas em função da recuperação e da dor que ainda deve sentir, sua mobilidade será reduzida. Centrará esforços nas redes sociais, enquanto seus filhos e vice devem assumir as viagens de campanha pelo Brasil. Mourão, Flávio e Eduardo ganharão os holofotes de campanha neste período.

Muitos dirão que é cedo para fazer previsões. Pode ser. Entretanto, o movimento de uma eleição é previsível diante de certos cenários. A leitura mais clara neste momento aponta para os lados apontados aqui. A conferir. 

quinta-feira, setembro 06, 2018

Pito Presidencial

Apesar de Michel Temer ser um Presidente extremamente impopular, ter sua atenção chamada pelo principal mandatário do país em pronunciamento oficial, pega muito mal. Geraldo Alckmin conseguiu esta façanha depois de atacar o governo federal em seu programa de televisão. A metralhadora giratória do tucano, até o momento, produziu mais desconforto para si mesmo do que resultados favoráveis para sua chapa.

Ao atacar Temer, Alckmin abriu uma caixa de pandora. Como lembrou o Presidente, o partido de Alckmin é parte da base do seu governo, que indicou nomes inclusive para ocupar posições importantes dentro do Palácio do Planalto. Os tucanos indicaram ministros, apoiaram medidas e estiveram ao lado do governo em votações cruciais, o que comprova a ligação direta entre Temer e o PSDB.

Para além disso, o Presidente lembrou que a aliança que se formou em torno de Alckmin é a mesma base que apoia o governo, ou seja, o Centrão. Este foi o tiro de misericórdia de Temer, ligando a campanha do tucano invariavelmente ao seu governo. Em outras palavras, Geraldo foi alertado para não cuspir no prato que o alimenta. Para isso, citou os líderes dos partidos que apoiam Alckmin e sua presença nas pastas e políticas de seu governo.

Alckmin vestiu a carapuça e rebateu as declarações de Temer. Disse que o Presidente não possui liderança e legitimidade. Faltou lembrar o papel central que o Presidente teve em alinhar o centrão aos tucanos e entregar o latifúndio de tempo de televisão que dispõe o tucano.

Não há como deixar de considerar a hipótese também de esta ser uma discussão falsa, promovida para afastar a figura de Alckmin da impopularidade de Temer, mas custo a acreditar que a política brasileira tenha atingido este grau de refinamento e profissionalismo. Tudo leva a crer que o problema é real.

As apostas já estão sendo feitas. Há dúvidas se Alckmin sai menor ou maior do episódio, pois apesar de se distanciar de Temer, ser repreendido publicamente pelo Presidente da República em meio a uma corrida presidencial não deixa de ser constrangedor e embaraçoso para quem deseja chegar ao Planalto.