sexta-feira, outubro 29, 2010

Abstenção pode Decidir

A despeito da opinião unânime das pesquisas, acredito que a eleição não está decidida. Certamente há uma tendência, mas existem muitos fatores que precisam ser considerados em uma eleição e a abstenção no Brasil é um deles.

Enquanto a opinião corrente é no sentido de mostrar que Serra tem mais a perder com a abstenção, acredito que as coisas podem se mover em sentido contrário. O excesso de confiança nos índices de Dilma pode levar seus próprios eleitores a acreditar que a eleição já está decidida e afastá-los das urnas. Isto é um fenômeno natural em eleições.

Dilma tem contra si um outro fator. A ausência de pleitos proporcionais que, em especial no Nordeste, embalam a eleição majoritária. Faltam também pleitos majoritários de segundo turno para incentivar os eleitores de Dilma a chegar até as urnas. A eleição já foi definida na maioria dos Estados para os governos regionais onde ela precisa embalar e abrir vantagem.

A classe C, onde Dilma tem folga, tende a viajar no feriadão. Pacotes comprados há meses, viagem programada com a família e preços baixos são uma combinação explosiva para a abstenção. Em especial nas pousadas e hotéis do Nordeste, rumo natural do eleitorado de Dilma, espera-se uma ocupação recorde neste final de semana.

Do lado de Serra, a preocupação com seus números pode mobilizar seus eleitores, ao invés do contrário. Um refluxo de votos para o PSDB em suas bases, como em Minas Gerais e São Paulo, podem fornecer um embalo inesperado no dia da votação. O movimento nas estradas paulistas é fraco até o momento. Isto é um indicativo.

São movimentos que podem oscilar e, ao fim e ao cabo, fazer diferença alguma, entretanto, em política é preciso avaliar todos os cenários e possibilidades. Movimentos como os que relatei acima são possíveis e reais e, no passado, já foram responsáveis por mudar o curso de pleitos que pareciam decididos.

Entretanto, nesta eleição, acredito na máxima de que a abstenção pode decidir, tanto para um lado, quanto para outro.

quinta-feira, outubro 28, 2010

Festa Marcada

A festa já está pronta com data marcada. É domingo, assim que se confirmar a vitória. Políticos já foram convocados para estar em Brasília e participar do grande evento. O PT prepara concentração no Hotel Nahoum e a festa será na Esplanada dos Ministérios.

Fala-se também em evitar o salto alto, mas diante da magnitude da comemoração, isso já foi deixado de lado. As pesquisas fornecem aquele grau de certeza que parece inegável. Dilma vencerá a eleição. Vencerá bem, com larga margem.

Será? Mas também era o mesmo que diziam as pesquisas de primeiro turno. Inclusive nas famosas enquetes de boca-de-urna. Até o tracking dos marqueteiros do PT confirmava. Faltou combinar com o eleitor.

Para o segundo turno o mesmo enredo se desenha. Por certo as pesquisas já trouxeram um dano para José Serra. Existe um grau de desmobilização natural entre aqueles que acham a eleição perdida. Estes deixarão de votar, para viajar especialmente. São estes que podem entregar ou virar uma eleição.

Em razão dessas e outras que Beto Richa evitou na justiça a divulgação de pesquisas na corrida pelo Governo do Paraná. Estava certo. As pesquisas estavam erradas e podiam direcionar o voto. Saiu vitorioso. Evitou que os eleitores do Paraná fossem induzidos ao erro.

Fala-se que no Rio de Janeiro Dilma pode ter uma surpresa. Foi captada uma tendência de enfraquecimento da candidatura no interior. Na mesma linha existem cientistas políticos que indicam vitória de José Serra, tendo como base o estudo das planilhas do Datafolha, assim como fizeram no primeiro turno. Estes foram os mesmos que acertaram a previsão da ocorrência de segundo turno.

Nesta etapa vale lembrar que faltam puxadores de votos nos estados para Dilma. Aliados que sofrem ainda a ressaca da vitória no primeiro turno e não se empenham como poderiam para a segunda rodada. Do lado dos tucanos, entre os vitóriosos no primeiro turno, a mobilização é maior e ainda existem bons tucanos puxadores de votos pelo menos em três estados importantes: Goiás, Pará e Alagoas.

Prudência em política é fundamental. Mas do lado petista, a certeza de vitória é tão grande que a tenda já está armada e os aliados convocados.

terça-feira, outubro 26, 2010

No Sudeste

Com a divulgação do Datafolha de hoje e da amostragem do GPP podemos ter uma noção mais clara da distribuição de votos e as chances de cada candidato.

O Datafolha traz resultados similares aos do Ibope e o GPP mais próximos aos do Sensus da última semana. Acredito que os dados do GPP aproximam-se mais dos trackings diários, que orientam as campanhas.

Ali existe uma vantagem de Serra no Sul e uma diferença pró-Dilma no Nordeste. Serra abre 18 pontos em sua frente e Dilma 26 no seu principal reduto eleitoral. Na frente Norte-Centro-Oeste, Serra perde por uma pequena margem. Não deveria. Ali, em função do cinturão do agronegócio deveria abrir a vantagem que hoje é de Dilma, de cerca de 7 pontos. Serra tem como puxador de votos Simão Jatene, que lidera no Pará, além de Marconi Perillo, que lidera em Goiás. De resto, Serra tem apoios expressivos e suporte do agronegócio para subir nesta região, afinal, já foi bem por ali no primeiro turno.

Assim, a eleição volta-se para o Sudeste. Nesta região há empate: 43% para cada um. É neste nicho que a eleição pode ser decidia e deveria pender com tendência para Serra, considerando as contundentes e expressivas vitórias obtidas por Geraldo Alckmin e Aécio Neves, respectivamente em São Paulo e Minas Gerais. Sem a transferência de votos de ambos para Serra, ficará muito difícil para o tucano. Os esforços de Serra devem focar-se, na reta final, no apoio maciço do agronegócio, que precisa estar mobilizado, além da frente tucana no Sudeste. Mesmo assim, será uma eleição apertada.

segunda-feira, outubro 25, 2010

Semana de Pesquisas e Empate Técnico

Enquanto a campanha caminha para sua última semana, os institutos de pesquisa preparam suas últimas sondagens. Como foram os principais derrotados no primeiro turno, existe um grande ceticismo entre os analistas políticos quanto a sua confiabilidade.

Certamente é muito difícil fazer uma pesquisa certeira, que chegue a um resultado exato, entretanto, os erros apresentados no primeiro turno foram grotescos, especialmente para aqueles institutos que trabalham para partidos, como no caso do Vox e Ibope.

A primeira sondagem da semana foi divulgada pelo Vox. Mostra Dilma na frente com 49% e Serra com 38%. No primeiro turno, o mesmo instituto errou por uma margem maior que a diferença atual entre os dois. Fica a dúvida.

As sondagens internas dos partidos, chamados de tracking, que acertaram em cheio o resultado do primeiro turno, mostram empate técnico e uma disputa acirrada. Os números variam um e quatro pontos em favor de Serra, alternando com um e três pontos para Dilma, mantendo-se ambos no mesmo patamar entre 48% e 52%.

Muitas pesquisas sairão esta semana. Devem, mais para frente, aproximar um pouco os números dos candidatos, mas internamente existe a certeza de que a eleição está muito disputada e pode ser decidida no detalhe. Se não estivesse, convenhamos, os ânimos não estariam tão acirrados.

sexta-feira, outubro 22, 2010

Agressões Políticas

A agressão sofrida por José Serra esta semana no Rio de Janeiro revela uma triste face da política brasileira. Quando o enfrentamento político toma o rumo das agressões e do jogo sujo, a política começa a perder seu encanto. A política é um instrumento superior, capaz de provocar mudanças de forma harmônica, produzir debates de idéias e ser propulsora de movimentos benéficos para a sociedade. Aqueles que fazem a opção pelas agressões e pelos golpes abaixo da linha da cintura, na verdade, revelam desprezo pela democracia.

Infelizmente o Brasil ainda é uma democracia em construção, demasiadamente tolerante com desmandos, destemperos e ilegalidades. Ao poder público caberia coibir as agressões e condenar os agressores. Mas tomada pela mais completa inversão de valores, vítimas passam a ser considerados agressores.

Esta campanha eleitoral possui farto material para ilustrar tais fatos, desde quebras de sigilo fiscal criminosas, passando pelo tráfico de influência no coração do governo e desaguando em agressões físicas e montagem de dossiês. Percebemos que a democracia brasileira sofreu retrocessos e torna-se urgente a restauração de atitudes republicanas e instituições fortes que zelem pelo respeito aos valores democráticos.

Cabe aqueles que dirigem ao Estado, atuar como magistrados de um processo, que no longo prazo, se exercido de forma equilibrada, justa e honesta, somente trará benefícios para o País. Enxergar a eleição como uma mera disputa de poder é diminuir o Brasil como nação. A falta de visão na construção de valores democráticos institucionais sólidos pode voltar-se contra o Rei. Neste dia, a brincadeira perderá toda a graça.

quinta-feira, outubro 21, 2010

O Peso do PMDB

O PMDB alcançou um grande trunfo neste segundo turno, ou seja, a própria realização de uma segunda etapa nesta eleição. O petismo, certo da vitória de Dilma, deixou os colegas de chapa em segundo plano. O PMDB somente esperou e agora chegou o momento de cobrar a fatura.

A equipe de Dilma sabe que, diferente das pesquisas divulgadas até agora, a disputa está muito acirrada e o peso do PMDB pode fazer a balança da eleição pender para um dos lados. Entretanto, sabe-se que o PMDB sairá vencedor deste pleito, seja qual for o resultado. O partido será importante para a vitória de Serra ou Dilma. O impacto está mais além, visto que o PMDB é o fiel da balança para maioria parlamentar, seja qual for o governo.

O PT, com exceção de Minas Gerais, deixou seu aliado de lado, desprezou o PMDB no primeiro turno. Pior do que isso, trabalhou contra alguns de seus candidatos, que agora insistem em não arregaçar as mangas para trabalhar por Dilma. Casos assim estão na Bahia, Pará e Mato Grosso do Sul. O PMDB gaúcho, por exemplo, já fechou com Serra. Em Santa Catarina, o senador eleito Luiz Henrique foi alvo de ataques pessoais de Lula durante a campanha.

Para evitar a sangria (e a derrota), o alto comando de campanha de Dilma trabalha firme, mobilizando o governo, com seus ministros e peso de seus orçamentos e pastas. Vários interlocutores foram despachados para diferentes estados para tentar reverter a resistência ao nome de Dilma.

Do outro lado, entretanto, os políticos bem informados do PMDB pró-Serra estão também recebendo os números de tracking que mostram um embate em total equilíbrio, com chances de vitória de ambas as chapas. Os tucanos estão atentos para não perder esses apoios, que podem fazer a diferença no dia 31 de outubro. Uma guerra de bastidores.

quarta-feira, outubro 20, 2010

Pesquisas curiosas

Não deixa de ser curioso verificar os resultados mostrados nas pesquisas mais recentes. Os institutos de sondagem eleitoral foram os grandes derrotados do primeiro turno. Nada, entretanto, parece ter mudado para o segundo turno. As pesquisas certamente não evidenciam o movimento do eleitorado, que é acompanhado diariamente pelos partidos e analisado por cientistas políticos.

O tracking das campanhas mostra uma situação diferente. As sondagens dos partidos indicam as flutuações. Neste momento Serra aparece um ponto na frente de Dilma, em situação de empate técnico, entretanto ainda em viés de alta. Os motivos são vários. Serra ainda mantém seu momentum e Dilma não conseguiu reverter este movimento.

Os programas de TV de Dilma não foram preparados para o segundo turno, mantendo o estilo do primeiro, o que aponto como um erro estratégico. Já o programa de Serra evoluiu muito, acertando o eleitorado, até o momento, onde deve no segundo turno. Além disso, as sondagens mostram ele venceu muito bem os debates entre os indecisos.

Dilma enfrenta problemas em sua aliança, especialmente no PMDB. Líderes do partido liberaram a militância, como no Pará e outros aderiram a Serra, como no Rio Grande do Sul.

Podemos somar a isso os escândalos políticos que seguem gerando crise na campanha do PT. O caso das violações de sigilo voltaram ao noticiário. O caso Erenice teima em não ir embora e o caso Cardeal paira perigosamente sobre a candidatura Dilma.

A falta de mobilização em Minas Gerais e São Paulo, entretanto, é que tendem a se tornar, cada vez mais, a maior dificuldade. Com o partido rachado e desmobilizado em Minas, Aécio pode trabalhar sem adversários para entregar uma vitória retumbante em seu estado, assim como Alckmin pode fazer em São Paulo.

Considerando os fatos, o tracking diário é a fonte mais confiável e ela mostra a situação real, uma disputa acirrada e empatada, com pequena, muito pequena vantagem para Serra neste momento. As pesquisas, como no primeiro turno, erram feio, por incompetência ou leviandade.

terça-feira, outubro 19, 2010

Verdes e FHC por Serra

A decisão pela independência do PV no segundo acabou por liberar suas lideranças. Zequinha Sarney já aderiu a Dilma, entretanto, outros setores do partido optaram por Serra. O movimento em direção aos tucanos tem propulsão em São Paulo e por lá foi lançado. Fabio Feldmann, que tentou ser governador, anunciou sua opção por Serra, assim como do lado carioca, outro candidato ao governo, fez a mesma opção, com a adesão de Fernando Gabeira ao grupo. Entre os presentes ainda estavam deputados federais, estaduais e prefeitos da legenda de Marina Silva.

Tais apoios são importantes, uma vez que são de figuras basilares e históricas do PV, como Gabeira, mas que também não deixam de estar em sintonia com os eleitores de Marina, que em sua maioria, segundo mostraram as primeiras sondagens, ficaram ao lado de Serra.

Mas o ato de apoio dos verdes em São Paulo foi marcado por uma situação interessante, a volta de Fernando Henrique ao cenário político partidário. FHC, aquele que ganhou de Lula duas vezes no primeiro turno, esteve entre os presentes para incentivar a candidatura de Serra. Tudo indica que, juntamente com o PV, FHC finalmente chegou para a campanha. Visto inicialmente, de forma equivocada, como uma debilidade, poderá ser um dos grandes trunfos para os tucanos no segundo turno.

segunda-feira, outubro 18, 2010

Marina Independente

Marina anunciou sua tão esperada indepedência em relação ao segundo turno. Nem Serra, nem Dilma. Marina optou por Marina, daqui há quatro anos, quando acredita que terá mais chances e poderá consolidar seu nome no cenário nacional.

A idéia é bonita, mas não é tão fácil como a candidata verde imagina. Ela não terá mandato pelos próximos anos e seu partido não tem o mesmo grau de penetração sob o qual se desenvolveu o petismo, como sindicatos e organizações de classe. Consolidar seu nome como uma alternativa viável e palpável para o Planalto é uma tarefa árdua.

Ademais, Marina precisa entender que o cenário que deve encontrar em quatro anos é outro. O mundo político movimenta-se em seu próprio ritmo. Se os tucanos vencerem, uma conjuntura começa a desenhar-se, com Aécio e Serra, assim como se o petismo sair vencedor, outra realidade consolida-se, neste caso já na expectativa da volta de Lula em 2014.

A candidata espera, com sua atitude, preservar seus quase 20 milhões de votos. Não conseguirá. Possui um eleitorado muito heterogêneo e que por diferentes motivos depositaram seus votos no número 43. Não poderá conservar todos, dos progressistas verdes aos conservadores evangélicos. Um eleitorado como este é de praticamente impossível manutenção.

A melhor saída para Marina seria fazer uma opção e impor sua agenda. Precisaria fazer parte do governo e de governos estaduais para estruturar o partido de forma consistente, sob uma idéia central e sua liderança, tornando-se uma opção viável para 2014.

Entretanto, inebriada por uma votação circunstancial, tomou a decisão da neutralidade ou suposta independência, que passa longe dos estadistas que assumem os riscos de suas escolhas e a opção do bom combate de idéias.

sábado, outubro 16, 2010

Aécio entrou no jogo

Se Aécio parecia distante no primeiro turno, assim como em 2002 e 2006, na segunda etapa da eleição de 2010, resolveu arregaçar as mangas. Sua máquina de votos está trabalhando a todo o vapor para José Serra em Minas Gerais.

Aécio sentiu-se especialmente atingido pelos comentários de Lula, que buscava impor uma derrota ao grupo de Aécio em Minas. As intervenções de Lula pegaram muito mal e acabaram por incendiar uma mobilização pró-Serra.

O Senador eleito reuniu 450 prefeitos, vice-prefeitos e líderes municipais, além governador Antônio Anastasia e do senador eleito Itamar Franco. A mobilização pró-Serra tem tudo para espalhar-se pelo interior sob os auspícios do padrinho da candidatura Serra, Aécio Neves.

A movimentação tucana continua. Os verdes que apóiam Serra farão evento similar no Rio de Janeiro e Alckmin articula um mega evento com prefeitos em São Paulo. O PMDB gaúcho fechou com Serra.

Mas é possível que a motivação de Aécio vá além de mostrar mais uma vez sua musculatura política em Minas Gerais. Em um eventual governo Serra teria mais protagonismo que com Dilma no Planalto. Mira, no momento, na Presidência do Senado e depois vôos mais altos.

Por enquanto, mostra seu protagonismo em Minas. Até prefeitos de siglas aliadas a Lula e Dilma compareceram ao evento de Aécio. Se ele entregar uma vitória importante no seu estado, dará mais uma resposta a Lula, depois da humilhante derrota dos governistas por lá, e chegará a Brasília, se Serra sair vitorioso, como a senha da vitória. É uma aposta e tanto. Pelo andar dos acontecimentos, Minas pode decidir a eleição.

sexta-feira, outubro 15, 2010

Crise Vermelha

O crescimento de José Serra nas pesquisas fez soar um sinal de alerta no PT. Até o momento o partido não conseguiu se recuperar do impacto de não vencer no primeiro turno. A festa estava pronta e teve que ser desmontada. Dilma, em especial, foi surpreendida, pois esperava vencer.

A mudança de tom no debate, com uma Dilma mais agressiva, foi resultado disso. Lula incentivou sua candidata a ser, digamos, mais incisiva. Não adiantou. As pesquisas captaram que ela não foi bem e continuou caindo. Palocci, Dutra e Santana parecem não se entender e agora nenhuma decisão é tomada sem o aval da candidata. Franklin Martins, pelo que ouve, enfureceu-se diante do empate técnico mostrado nas pesquisas. Lula foi recrutado para emprestar sua imagem uma vez mais para a candidata. O efeito pode ser o inverso do desejado. É preciso cautela.

A questão do aborto segue na pauta do dia da candidata. Agora fala-se em uma carta aberta onde estariam dispostas promessas em não descriminalizar o aborto e vetar, se eleita, o casamento entre homossexuais. Perguntada por uma repórter, durante visita ao Piauí, se era homossexual, Dilma preferiu não responder. Resta sabe se sua Carta causaria algum impacto, especialmente depois do assunto estar sedimentado na cabeça do eleitor.

Mas também vieram boas notícias, como o apoio do PP, em sua maioria, para a candidata petista (Minas e Rio Grande do Sul ficaram com Serra). Apesar de algumas dissidências, o partido sucessor da Arena, apoiará Dilma. Ela apenas escorregou quando agradeceu o apoio do "Partido Popular". O verdadeiro nome do PP é Partido Progressista.

O fato é que Dilma e o PT pareciam tão certos da vitória no primeiro turno, que não foi traçada uma estratégia para uma segunda etapa. Ambos sentiram o impacto de ter que disputar o segundo turno. Se os programas de TV de Serra fossem tão bons como os de Dilma, a eleição já poderia ter virado. Dilma está abatida e precisa sair-se muito bem no domingo para estancar a sangria em seus números. A pressão é vermelha.

quinta-feira, outubro 14, 2010

Empate Técnico

Depois do susto no primeiro turno, os institutos de pesquisa devem ter mais cuidado para não errar tão feio. Todo cuidado é pouco. Assim, é com ceticismo que recebemos as primeiras sondagens relativas ao segundo turno, entretanto, ao avaliar as informações de todos, é possível tirar conclusões sobre o momento eleitoral.

A primeira sondagem divulgada foi o Datafolha: 48% para Dilma e 41% para Serra. O Vox cravou 48% a 40%, com vantagem para a petista. Depois veio o Ibope, que apontou, 49% a 43% também com vantagem para Dilma. Por fim veio o Sensus, mais recente de todos, 46,8% para a petista e 42,7% para o tucano.

Serra foi quem mais subiu, pois vem de números mais modestos que Dilma no primeiro turno. Mesmo assim, seu avanço impressiona. Se enxergarmos o movimento do eleitorado na evolução dessas pesquisas, vemos que um crescimento nítido de Serra e queda de Dilma. Isto é o mais importante para os tucanos, o que chamamos de momentum político. Ele carrega a onda do momento.

Se levarmos em conta os erros cometidos pelos institutos no primeiro turno, aliado ao fato da onda Serra, vemos que o movimento leva já para um empate técnico pró-tucanos. Serra virou a eleição no Sul, Norte e Centro-Oeste, enquanto Dilma lidera no Nordeste. No Sudeste, Serra parece estar virando, mas ainda considera-se em empate técnico.

Por essas razões tudo indica que haverá um segundo turno cercado de expectativa. Aécio parece ter arregaçado as mangas em Minas Gerais, com reais mobilizações e virada já em curso. Goiás, único reduto do cinturão do agronegócio que não foi para Serra, tende a virar com Marconi no segundo turno. Ou seja, se Serra aproveitar seu momentum, tem reais possibilidades de vencer a eleição.

quinta-feira, outubro 07, 2010

Fator Marina

O apoio de Marina Silva tem sido muito disputado entre Dilma e Serra. Alguns acreditam que ela possa dar um impulso que decida as eleições. Outros se preocuparam em descobrir quem é o eleitor de Marina. Uma equação complexa, entretanto, possível de ser feita. Quando finalizada, contudo, chegar-se-á a conclusão de que por ser um eleitorado heterogêneo, dificilmente se movimentará em conjunto e tampouco sob os auspícios da candidata verde.

Grande parte do eleitorado de Marina pode voltar-se para Serra. Estes foram os eleitores que votaram em Geraldo Alckmin em 2006. Serão impulsionados por uma segunda parte, guiado pelos principais dirigentes do PV que já apoiam ou tendem a apoiar Serra, como Gabeira no Rio de Janeiro.

Existe uma outra parte que pertence a Marina e dela esperará uma posição. A ex-Ministra de Lula, que nasceu com o coração no PT, foi preterida no embate contra Dilma Rousseff. No passado, enquanto Marina deixava o governo, Dilma comemorava do outro lado da Esplanada. Resta saber o que falará mais alto.

Marina, mais do que tudo, precisa entender sua votação e perceber que acumulou um capital político interessante, entretanto, fruto do momento e da novidade. Subiu de patamar na política nacional, entretanto, para chegar ao topo precisa participar dela. Ela tende a não enxergar o cenário desta forma e não me surpreenderia nem um pouco se ela optasse pela neutralidade, preservando, supostamente, seu "capital político". Se agir assim, errará.

O melhor para o PV é negociar programaticamente sua adesão. Neste caso os tucanos sairiam na frente, uma vez que são parceiros dos verdes país afora em muitos governos. Se o coração de Marina ainda bater pelo PT, é possível que o PV venha a rachar no segundo turno. Isto apenas traria retrocessos em relação a agenda verde, que entrou na pauta com os 20 milhões de votos de sua candidata.

terça-feira, outubro 05, 2010

Crescimento de Serra

Marina saiu-se melhor do que os institutos apontavam. Dilma foi pior. José Serra, entretanto, superou expectativas. Explico. Todos trabalhavam com a possibilidade real de vitória de Dilma no primeiro turno. Vox Populi falava em 12 pontos de vantagem sobre a soma dos outros candidatos. O Sensus apontava 54,7% dos votos válidos para a petista, enquanto o Ibope cravou 55%. O Datafolha registrou 50%. Todos erraram para cima.

Dilma alcançou 46,91%. Serra chegou a 32,61%. Marina foi a 19,33%. Em 2002, Serra chegou a 23,19% e Lula a 46,44%. Garotinho e Ciro somaram 29,83%. Vemos que Serra evoluiu em percentual e Dilma manteve os números de Lula em 2002. Em 2006, com Alckmin no lugar de Serra, o tucano alcançou votação expressiva, 41,64%, enquanto Lula foi a 48,61% e Heloísa Helena e Cristóvam Buarque somaram 9,49%. Vemos que Alckmin canalizou no primeiro turno de 2006 muitos votos que em 2010 foram parar com Marina. Cabe aos tucanos, resgatá-los. Se Serra reencontrar esses votos, sua possibilidade de êxito aumenta consideravelmente.

Serra venceu em 2010 no Mato Grosso, Rondônia, Acre, Roraima, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Serra foi muito melhor que ele mesmo em 2002, mas perdeu terreno em relação aos estados vencidos por Alckmin em 2006.

Na região Norte, Serra saltou de 22,7% em 2002 para 34,8 em 2010. No Nordeste, outro aumento, de 19,8% para 24,6%. No Sudeste aumentou de 22,7% para 32,2%. No cinturão do agronegócio, no Centro-Oeste, subiu de 26,2% para 37,5%. No Sul, em 2002 obteve 28,5% e em 2010 chegou a 43,3%. Em 2010, portanto, Serra venceu apenas no Sul, praticamente empatou no Centro-Oeste, mas precisa recuperar terreno no Sudeste e Nordeste. No Norte, chegou perto da concorrente.

O PSDB venceu muito bem em São Paulo e Minas Gerais. A vitória no Paraná também foi significativa. A possível vitória de Serra passa primeiro por dentro do PSDB, onde Alckmin, Richa e principalmente Aécio devem ter posições de destaque.

Serra mostou que pode vencer a eleição, mas para isso não pode errar. O PSDB precisa marchar unido e incorporar integralmente o programa de Marina para tê-la como aliada. Fora desse espectro, a vitória escapará.

As Derrotas de Lula

Lula acumulou vitórias nesta eleição, mas também colheu derrotas. A principal foi certamente Dilma. A priori não foi uma derrota, mas considerando a expectativa de vitória no primeiro turno, certamente, aliado ao viés de baixa de sua candidatura nas últimas semanas, deixou no ar um sentimento de fracasso.

No Senado, Lula travou sua guerra particular, como comentei aqui, mas sua coligação sofreu baixas. Netinho de Paula, por exemplo, já era festejado como eleito. Contrariando as pesquisas, o tucano Aloysio Nunes Ferreira cravou o primeiro lugar, seguido de Marta Suplicy.

Minas Gerais foi um golpe duro. Aécio Neves impôs uma forte derrota ao PT, que naufragou coligado a Hélio Costa. Patrus Ananias e Fernando Pimentel não terão cargo eletivo e se Aécio resolver arregaçar as mangas por Serra, Dilma pode perder votos importantes no segundo turno. A força mostrada por Aécio em Minas foi surpreendente.

A decepção também rondou o Distrito Federal, onde Lula esperava a vitória de Agnelo. Ele terá que enfrentar um segundo turno.

Ao fim e ao cabo, o governo assistiu a mais vitórias do que derrotas, aumentou sua bancada, no caso específico do PT, e conseguiu desarticular muitos nomes da oposição. Mas todas as vitórias terão um sabor amargo para Lula se ele não conseguir eleger Dilma como sucessora. Para isso, precisa deixar para trás os graves erros do final da campanha, onde a arrogância andou de mãos dadas com o segundo turno.

segunda-feira, outubro 04, 2010

As Vitórias de Lula

Dilma não venceu como Lula esperava. Para chegar ao Planalto precisará ainda de um segundo turno. A festa organizada em Brasília para comemorar a dupla vitória, de sua candidata e de Agnelo para o governo do Distrito Federal, foi cancelada. Agnelo tropeçou e enfrentará também um segundo turno.

Mas Lula obteve vitórias. Participou de uma cruzada pessoal para derrotar alguns políticos que fizeram oposição mais contundente ao seu governo. Obteve vitórias, portanto, de caráter simplesmente pessoal, que em nada fazem bem a democracia, pois independentemente da visão política, existem parlamentares que na construção do debate, são importantes para o Parlamento.

A lista de Lula era longa. Tasso Jereissati foi a primeira vítima. Presidente Nacional do PSDB, não alcançou a reeleição para o Senado. Ficarão fora do Senado também Heráclito Fortes, do DEM, e Mão Santa, do PSC, ambos da oposição. Lula disse que deseja "extirpar" o DEM da política. Empenhou-se nisso. Além de Heráclito no Piauí, em Pernambuco, Lula derrotou Marco Maciel, do DEM, que foi vice de FHC. Maciel não voltará ao Senado. O mesmo ocorre com Efraim Morais, do DEM da Paraíba. No Rio de Janeiro, César Maia, do mesmo DEM, perdeu o Senado. O mesmo aconteceu com o tucano Gustavo Fruet, que por pouco não conseguiu a vaga, perdendo para Requião. Lula ainda se empenhou para atrapalhar a vida de Heloísa Helena em Alagoas. Conseguiu. Ela não voltará como Senadora para Brasília. A coroação das vitórias de Lula foi dada pela derrota do tucano Arthur Virgílio, que perdeu sua cadeira no Senado pelo Amazonas.

Lula concentrou seu esforço no Senado, como já lembrei aqui. Derrotou muitos adversários que enxerga como inimigos pessoais. Obteve êxito. O PT pulará de 8 para 13 cadeiras. O parceiro PMDB vai de 17 para 19. O PSDB cai de 16 para 11 e o DEM despenca de 13 para 7. Dos 54 senadores eleitos ontem, 43 são de partidos que integram a atual base governista.

O registro da derrota de Lula em sua estratégia é José Agripino Maia, um dos mais ferrenhos críticos de seu governo. O Planalto se empenhou na sua derrota, mas não conseguiu. Maia, de quebra, ainda ajudou a eleger uma Governadora do DEM, Rosalba Ciarlini.

Lula não colheu somente vitórias, existiram derrotas amargas, que ainda comentarei aqui, mas sua estratégia em atingir ditos inimigos pontuais e pessoais foi vencedora. Ganha Lula, perde a pluralidade e o debate democrático, mas a vontade do povo foi soberana.