quinta-feira, abril 24, 2014

Jeb Bush Vem Aí

Depois de muitos movimentos e especulações, tudo parece ficar mais claro. Jeb Bush deve sair pré-candidato presidencial. Ele assumiu o fato de que tem pensado na disputa pela primeira vez em Nova York nesta semana. Na verdade, este era um anúncio esperado. Seus últimos movimentos deixaram isto muito claro, desde sua passagem por Las Vegas, na importante reunião da comunidade judaica de republicanos e consolidada pelos contatos e visitas políticas aos governadores do partido.

As pesquisas indicam de saída que Bush teria o mesmo patamar de intenções de voto de Chris Christie. Ambos teriam 42% contra Hillary Clinton, que chega neste momento a 50%. Os números gerais, ainda muito distantes, colocam Christie em uma posição mais favorável, uma vez que seu grau de desconhecimento é maior e portanto possui uma possibilidade de crescimento ainda grande. Bush também pode crescer, mas menos do que Christie.

Dentro do partido, entretanto, Bush tem uma posição mais confortável, uma vez que conhece os caminhos trilhados pela família para chegar a Washington. Mas Christie tem duas vantagens. Uma delas é que corre por fora na indicação do partido como o único moderado e a outra é que dirige a associação de governadores republicanos, o que lhe dá exposição e recursos para viajar pelos Estados Unidos.

Bush concorreria com um grupo mais conservador de republicanos, como Scott Walker, Ted Cruz, Rick Perry, Paul Ryan e Rick Santorum. Tem condições de vencer se adotar a estratégia correta. Marco Rubio teria que abandonar a disputa, pois ambos tem base na Flórida. No Texas, Rick Perry e Ted Cruz não devem dividir as primárias, diminuindo o número de candidatos. Neste cenário, está ente os três mais populares, com intenções entre 11% e 13%.

O fato é que Jeb desequilibra a campanha presidencial interna e gera um fato novo para as eleições gerais. Ele é capaz de vencer as primárias e mobilizar a base. Mais do que isso, diante de sua proximidade com a governadora do Novo México, já pode ter em mente inclusive sua companheira de chapa. Jeb Bush-Susana Martinez seria uma dupla muito competitiva e certamente esta idéia causa calafrios no estado-maior da candidatura de Hillary.

quarta-feira, abril 16, 2014

A Questão Marina

A candidatura está construída e divulgada. Marina Silva irá acompanhar Eduardo Campos na disputa presidencial. Tudo indica que realmente aceitou a vice e seguirá ao lado do líder do PSB. Digo isso porque as pesquisas mostram outra coisa. Marina segue firme em um consolidado segundo lugar forçando um segundo turno entre ela e Dilma. Quando o nome é Eduardo, a chapa despenca para um distante terceiro lugar, uma vez que, como vice, ela transfere apenas 35% do seu patrimônio eleitoral.

Apesar disso, Eduardo mostra-se confiante. Acredita que pode diminuir esta distância com o passar do tempo e a divulgação da chapa. Mais do que isso, será uma campanha em dupla. A estratégia do PSB é trabalhar com os dois juntos em todo material. Isto tende a colar a imagem de Marina na de Eduardo e aumentar a taxa de transferência de votos, hoje muito baixa. Se a estratégia funcionar, quem ficará em situação desconfortável será Aécio Neves.

Mas a entrada de Marina ainda não gerou o efeito desejado. Se de um lado não ajuda, do outro pode inclusive atrapalhar. Até a entrada dela na candidatura, Eduardo mostra-se como uma terceira-via, um político que enxergava o tabuleiro político com sabedoria e sabia mover-se com inteligência entre situação e oposição. Mantinha o eleitorado de esquerda, aproximava-se de setores mais conservadores, inclusive do agronegócio, e partia do Nordeste, com a chance de varrer os votos da região gerando problemas para o PT. Flertava com o PDT, PTB e inclusive o DEM para a formação da chapa. Com Marina ao seu lado, muita coisa muda.

Sua chegada, de saída, jogou o agronegócio para fora da campanha de Eduardo, jogando-o no colo do adversário Aécio Neves. Além disso, a maior qualidade do político do PSB, sua capacidade de articulação, trânsito e desembaraço com as alianças, pode ser podado pela chegada da postura purista de Marina. Caso ela continue a transferir apenas 35% do seu eleitorado, sua entrada pode ter gerado mais fraquezas que fortalezas para a campanha de Eduardo Campos.

Somente o tempo dirá se a aposta valeu a pena. Mas Eduardo sabe que a chegada de Marina mexeu nas estruturas de sua estratégia. O mantra repetido por Marina, que é melhor perder vencendo do que vencer perdendo, certamente não se aplica para o ex-Governador de Pernambuco, um político pragmático, mas que pode perder seu encanto tornando-se refém de Marina e suas convicções.

quarta-feira, abril 09, 2014

A Volta de Scott Brown

Quando Scott Brown foi eleito para a cadeira de Ted Kennedy em 2010, muitos republicanos se entusiasmaram, afinal ele era o primeiro membro do partido eleito senador desde 1972 em um estado dominado pelos democratas, Massachusetts. A alegria não durou muito. Logo depois, em 2012, enfrentou uma difícil reeleição e foi abatido pela democrata Elizabeth Warren, que inclusive possui sonhos presidenciais. Mas o fato foi que Scott Brown, fora do Senado desde 2013, começou a enxergar novas alternativas.

A mais clara estava ao seu lado, no estado de New Hampshire. Ainda no último ano escutei de alguns republicanos que Brown estava de mudança para o estado vizinho a fim de viabilizar sua candidatura ao Senado por lá. Este não é um fato comum na política americana, onde os políticos geralmente desenvolvem por anos um contato intenso com sua base eleitoral. Mas Brown pensou diferente e rumou para Rye, onde sua família agora tem residência.

O que se pergunta agora é se ele será aceito pelos eleitores do novo estado. Para isso ele alega que possui laços antigos com New Hampshire, ou seja, que seus pais se conheceram por lá e que passava suas férias desde criança na costa do estado. Mas será isso suficiente? O fato de que praticamente um em cada quatro moradores de New Hampshire tem origem em Massachusetts pode ajudá-lo, mas existe um outro fator que pode fazer diferença: comparado com o estado vizinho, tradicionalmente democrata, a nova casa de Brown conta com um maior contingente de eleitores republicanos e independentes.

Mas o caminho de Brown não será fácil. Ele enfrentará Jeanne Shaheen, um peso pesado dos democratas. Ela atualmente ocupa o assento em disputa este ano e traz no currículo a experiência de ter sido Governadora e ter trabalhado em três campanhas presidenciais. Suas credenciais como uma grande estrategista, contudo, não assustam os republicanos. Talvez o que mais assuste seja o desejo de Elizabeth Warren, que derrotou Brown em Massachusetts em 2012, em evitar que seu adversário volte para Washington. Warren está disposta a colocar seu exército de doadores de campanha em favor de Shaheen.

Mas os republicanos estão prontos para a briga. Brown já movimenta sua máquina de doadores conservadores de Massachusetts dispostos a desequilibrar a eleição em New Hampshire. O GOP também está focado em ajudar Brown, uma vez que sua vitória pode ajudar a virar a maioria no Senado. O campo de batalha agora é em New Hampshire.

terça-feira, abril 08, 2014

Duas Ucrânias

Começam os primeiros sinais de revolta na parte leste da Ucrânia. Os movimentos iniciais são similares aos ocorridos na Crimea e aquilo que escrevi algumas semanas atrás pode estar se concretizando pouco a pouco. Uma guerra civil, aquilo que deveria ser mais temido pelo Ocidente, está sendo gestada desde a queda de Yanukovych, o que pode encaminhar a cisão do país em dois territórios.

A Ucrânia é uma porção de terra dividida por um rio, o Dniper. Do lado oeste temos uma região de colonização e influência ocidentais, de países como a Polônia, Eslováquia, Hungria e Romênia, de predominância cristã, que deseja se aproximar da Europa. Do lado leste, uma região que foi o berço da cultura russa, que possui, em decorrência disso, maior identidade com Moscou e predominância religiosa ortodoxa.

Diante disso, desde a independência da União Soviética, a alternância de governos nacionais ucranianos sempre agradou um dos lados e desagradou o outro, chegando ao ápice com a Revolução Laranja de 2004 e agora com os protestos que apearam Yanukovych do poder. Desta vez, os desdobramentos foram além de Kiev, chegando a Crimea e agora a parte oriental do país.

A Crimea foi apenas o primeiro episódio. Vivemos agora o segundo capítulo. Diante de um governo pró-Ocidente, que se instalou em Kiev após a queda de Yanukovych, o lado oriental começou sua própria revolta, pedindo auxílio dos russos. Do outro lado da fronteira, Putin, depois de ter anexado a Crimea, sente-se pronto para atender aos pedidos de ajuda com uma tropa de 40.000 homens, assim como fez em Simferopol. Os principais pontos de revolta contra Kiev dentro da Ucrânia estão perto da fronteira com a Rússia, em Donetsk e Luhansk, mas já chegam também ao centro, em Kharkiv.

As forças de defesa ucranianas não conseguirão fazer frente aos russos, que tendem a começar uma ocupação similar ao que foi realizado na Crimea. A única chance de Kiev resistir ao lento avanço russo, seria contar com apoio militar do Ocidente. Caso isso não ocorra, diante de uma guerra civil, veremos surgir a possibilidade de um acordo para partilha da Ucrânia. O que hoje parece inverossímil, diante dos vacilos do Ocidente, poderá tornar-se a única saída, com a Rússia levando metade do território.

segunda-feira, abril 07, 2014

Joaquim fora da disputa

O fato político mais importante do ano, até o momento, ocorreu na semana passada. Chegado o prazo para deixar o Supremo e concorrer nas eleições presidenciais, Joaquim Barbosa preferiu manter-se no cargo de ministro. Apesar do Presidente do STF ter dito que não deixaria sua posição para se candidatar, por vezes emitiu sinais dúbios, e o mais indicado seria esperar pelo fato.

As manifestações do último ano deixaram claro uma coisa: o eleitorado busca algo novo. Dois nomes despontaram nas pesquisas: Marina Silva e Joaquim Barbosa. Ambos foram os grandes beneficiados pela sucessão de protestos que tomou conta das ruas do Brasil. O Presidente do Supremo decidiu tirar seu time de campo e apostar em uma eventual candidatura em quatro anos. Se possui aspirações políticas, cometeu um erro. Vencer um pleito presidencial passa pelo momento e Joaquim estava vivendo o seu. Dificilmente chegará ao Planalto depois deste ano.

Se de um lado Joaquim perde o timing perfeito para buscar a cadeira de Presidente, do outro, sabemos que ele enfrentaria uma campanha dura. Os ataques já haviam começado e diante do temperamento de Joaquim, talvez sua falta de malícia em lidar com a política, sua maior fortaleza, poderia se transformar em sua maior fraqueza em uma campanha. Lembramos bem de como Ciro Gomes empinava em 2002 quando seu temperamento fez desmoronar sua candidatura em poucas semanas.

O eleitorado busca um Joaquim Barbosa. Na falta de sua apresentação para o jogo, procurará outro nome. Marina Silva na condição de vice, não consegue transferir votos para Eduardo Campos, que segue com a mesma rejeição de Aécio e Dilma. Existe um espaço para o novo. Existem dois nomes apontados pelas pesquisas, Joaquim e Marina, mas nenhum deles aparece como candidato neste ano.

Na falta de um nome novo, a tendência é de reeleição de Dilma, mesmo com as pesquisas evidenciando uma certa fraqueza momentânea. A política esperou por Joaquim até o último minuto, mas o ministro que preferiu a toga e adiou sua eventual entrada no ringue, pode ter desperdiçado sua maior, e até mesmo única, oportunidade de chegar ao Planalto.

terça-feira, abril 01, 2014

Jeb em Vegas

A coalizão judaica se reuniu no Nevada na última semana. Como escrevi em minha coluna no Diário do Poder da última semana, este é um evento fundamental para os pré-candidatos que possuem pretensões presidenciais. Dali surgem doações expressivas de campanha que podem reordenar os rumos dos pretendentes. Este ano, a coalizão resolver ouvir Chris Christie, o republicano mais bem posicionado nas pesquisas, mas também deixou a porta aberta para outros nomes.

A reunião foi fechada e segundo os comentários que circulam pelo mundo da política, Christie saiu-se bem, entretanto, o grupo ainda encontra-se cético em relação aos desdobramentos da crise política que se abateu sobre New Jersey diante do fechamento deliberado de faixas da ponte mais movimentada dos Estados Unidos. Os doadores gostaram de Christie, mas ainda precisam enxergar que o Governador saiu ileso deste episódio.

O orador mais esperado foi Jeb Bush, que falou na abertura. Segundo as informações dos bastidores, ele foi aquele que mais empolgou. Seria a melhor alternativa para os que estavam na reunião. Bush, entretanto, ainda não assumiu se deseja concorrer. Sou da opinião de que ele sairá candidato. Sua movimentação explícita em eventos de apoio a outros nomes do partido para as eleições deste ano e sua passagem por muitos estados evidenciam que algo está no ar. Somente por ter participado do encontro em Las Vagas, vemos seu interesse em concorrer.

Bush, portanto, seria o preferido. A coalizão, entretanto, deixou a porta aberta para outros nomes, caso o preferido não siga em frente em suas pretensões presidenciais. Christie segue sendo uma opção, mas precisa provar que venceu a crise. Diante deste quadro surgiram dois nomes: Scott Walker, presente no encontro, e Marco Rubio, que já deixou claro que deve entrar na disputa.

O fato é que o nome de Bush surgiu com muita força. Sua família tem as conexões necessárias para alavancar sua candidatura e o círculo mais importante de doadores deu seu aval. Resta ao ex-Governador da Flórida decidir. Se concorrer, larga com força dentro do partido.