terça-feira, novembro 30, 2010

A Benção de Lula

Se diante das câmeras Lula diz que apenas aconselha Dilma Rousseff na formação do governo, não se pode dizer o mesmo sobre o que realmente acontece nos bastidores da gestação da equipe. As digitais do Presidente são identificadas em várias nomeações, em especial naquelas que indicam a permanência de nomes de sua equipe.

O mais novo contemplado pela benção de Lula foi Nelson Jobim. O Ministro da Defesa não era o nome preferido de Dilma, mesmo assim foi confirmado no cargo.

Depois de emplacar Jobim, Lula agora se empenha para manter Fernando Haddad na Educação. Pode-se considerar sua confirmação quase certa, visto que Jobim foi confirmado no cargo, Gilberto Carvalho irá para a Secretaria-Geral, Mantega foi mantido na Fazenda, Luciano Coutinho no BNDES e Sérgio Gabrielli na Petrobrás. Todos passaram pela peneira do ainda Presidente.

A benção de Lula é fundamental na composição do governo Dilma. Pelo menos é o que vemos até o momento. Mesmo aqueles que atingem a posição de Ministro neste momento ou aqueles que serão remanejados de pasta foram objeto da avaliação do atual Presidente. O Ministério está sendo construído a quatro mãos, juntamente com Dilma, mas Lula tem poder de indicação e veto.

Assim, aqueles que desejam fazer parte da equipe precisam, além da concordância de Dilma, a benção de Lula e a sondagem de Palocci, um verdadeiro périplo que passa pelo Alvorada, Granja do Torto e Palácio do Planalto. Se algum nome sondado passar pelas três casas, a chance de emplacar no primeiro escalão é quase certa.

segunda-feira, novembro 29, 2010

Cota Pessoal

Depois de flertar com a inclusão de um grande empresário frente ao Ministério do Desenvolvimento, tudo indica que Dilma fará uso de sua cota pessoal e despachará para a último prédio da Esplanada seu amigo mineiro Fernando Pimentel.

O ex-Prefeito de Belo Horizonte não desfruta de grande popularidade entre seus pares petistas. Desgastado, cogitou-se que ele seria acomodado dentro do Palácio do Planalto, perto de Dilma, mas a falta de interesse de um nome forte do meio empresarial fez com que a Presidente eleita optasse por um nome "caseiro", por assim dizer.

O Ministério do Desenvolvimento não dará a Pimentel a visibilidade necessária para alçar vôos mais altos, como deseja, mas é um recomeço. Desgastado pela estreita relação com Aécio e pelos dossiês contra os tucanos fabricados dentro da campanha de Dilma, a pressão era para que ficasse de fora da equipe - os petistas preferem e pressionam por Patrus. Mas se Pimentel não terá lá uma visibilidade grande, será melhor do que ficar de fora.

Depois de ceder as pressões de Lula, que nomeia ministros com a desenvoltura de um Presidente eleito, Dilma mostrou, pela primeira vez, que pelo menos terá uma cota pessoal de nomeação de ministros na Esplanada.

quarta-feira, novembro 24, 2010

Equipe Econômica

Já tem cara a equipe econômica de Dilma. Não tem o perfil que muitos gostariam, mas de qualquer forma fornece uma idéia clara dos rumos que o governo deve seguir.

Tombini, que assumirá no Banco Central, é mais flexível em certos aspectos do que Henrique Meirelles. O novo chefe do Banco Central, por exemplo, acredita que a instituição peca por uma espécie de cautela excessiva e acha que existe espaço para afrouxar as rédeas dos juros.

Isto é música para os ouvidos de Dilma, mas talvez possa não soar com a mesma levaza para o Real.

Se a política de expansão de gastos de Mantega se aliar ao aumento de investimentos no PAC turbinados por Miriam Belchior no Planejamento, será difícil segurar os juros, pois é neste ponto que se assenta a estabilidade do Real, na manipulação da economia pela taxa de juros.

Tombini disse que existem outros mecanismos para segurar a inflação, ou seja, que os juros podem continuar caindo, pois a inflação será contida em outras frentes. Se houver tal mecanismo, é uma ótima saída, entretanto, ninguém foi apresentado aos meios de concretização desta idéia em mais de 15 anos de Plano Real.

Ao fim e ao cabo, se Mantega e Miriam aumentarem o gasto público como se espera, considerando suas biografias e as políticas acenadas por Dilma, o Bacen precisará conter a inflação e defender a moeda, sob pena de colocar em risco a estabilidade. Até o momento, fora as reformas rechaçadas pelo PT, o único instrumento conhecido para conter a inflação e segurar o moeda, é por intermédio da taxa de juros. Se Tombini conhece outro mecanismo, deve apresentá-lo em breve. Do contrário, terá que seguir a cartilha de Meirelles, sob pena de o Real fazer água.

terça-feira, novembro 23, 2010

Os Outros

Definida a trinca Mantega-Tombini-Belchior para a área econômica, vem a parte mais difícil, a definição dos outros ministérios. A sede dos partidos aliados é grande e até candidatos avulsos vão surgindo pelo caminho.

Um dos grandes problemas de Dilma é a configuração das mais de 40 pastas que terão, em tese, novos donos a partir de 2011. Lula teve mais facilidade em 2002 porque trabalhava com um leque menor de partidos aliados. Dilma teve uma aliança muito maior, trazendo logo ali ao seu lado, como maior parceiro, o PMDB, que não fez parte da configuração inicial do primeiro governo Lula.

Dilma agora tem que abrir espaço para o PSB, que cresceu nestas eleições, além de prestigiar o PR, aliado de primeira hora do petismo em 2002, além de aliados tradicionais como o PC do B. A fatura fica maior, já que o PP tem que ser contemplado também, agora com uma bancada mais expressiva no Senado. Isto sem falar no PDT, partido de origem de Dilma, que tenta se agarrar aos postos de comando do Ministério do Trabalho e suas ramificações. É preciso abrir espaço para o PTB, que apesar de ter apoiado formalmente Serra, forneceu apoios regionais importantes para Dilma, além de contar com uma bancada fiel, se bem contemplada. Além de tudo isso, Dilma quer rechear o comando ministerial de mulheres.

Como vemos, é uma equação difícil, ainda mais sabedores de que petistas derrotados devem se acomodar sob o poder federal. Dilma, entretando, deve fechar a equipe palaciana e partir daí divulgar a solução para o quebra-cabeça que precisa montar. O silêncio, até o momento, tem sido uma estratégia eficaz.

segunda-feira, novembro 22, 2010

A Equilibrista

O anúncio do nome de Mantega para o Ministério da Fazenda gerou idéias controversas sobre o que deseja Dilma Rousseff. Como escrevi aqui, é preciso que sejam definidos os nomes para o Banco Central e o Planejamento, entretanto, as fortes pressões dos aliados tornam as coisas ainda mais nebulosas.

A saída de Henrique Meirelles do Banco Central é dada como certa. Isto sugere que talvez um nome mais próximo das idéias de Mantega seja escolhido. Para o Planejamento fala-se de Miriam Belchior, coordenadora do PAC. Vemos, dentro desta configuração, um perfil econômico mais do que desenvolvimentista, causando arrepios naqueles que defendem austeridade com o gasto público. Dentro desta configuração, baixar os juros, como disse ser prioridade, é tarefa impossível, especialmente sem gerar inflação.

Dilma, além de acomodar seu perfil pessoal na área econômica, precisa equilibrar-se entre as sugestões de Lula e as pressões dos aliados. Equilibrar-se neste xadrez é complicado. Além disso Lula sugeriu veto a alguns nomes, alguns próximos de Dilma, da sua turma de Minas, gente que ela queria levar para o Planalto. Isto aumenta o apetite do PMDB, que deve perder a pasta da Saúde e deseja ser recompensado mais do que na medida pela perda da jóia.

Assim, depois de levar sua cota pessoal para a área econômica, Dilma precisará de jogo político para montar o resto da equipe. Precisará atuar como uma equilibrista.

quinta-feira, novembro 18, 2010

Mantega na Fazenda

Com a decisão de manter Mantega na Fazenda, Dilma enviou vários sinais sobre como será o seu governo. O ministro possui idéias e características muito peculiares. Tem um perfil muito diferente de Antônio Palocci, que dirigiu a pasta durante o primeiro governo Lula e por consequência, não pensa como o Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Mantega se enquadra em um perfil desenvolvimentista, enxerga o Estado como propulsor do desenvolvimento e possui uma tendência clara em defesa de altos gastos públicos. Mantega, sem Meirelles ou Paulo Bernardo, que ocupa atualmente a pasta do Planejamento, terá mais liberdade para colocar suas idéias em prática. Muitos se questionam se isto seria um risco para o Real.

Politicamente, Mantega fica por um pedido pessoal de Lula. Aliás o atual Presidente tem disparado pedidos pessoais para a Presidente eleita no sentido de manter muitos nomes de sua equipe ministerial. Dilma não gosta de ser tutelada, mas pode mover-se com inteligência política.

Inicialmente a decisão por Mantega não faz muito sentido, especialmente pela influência que Palocci exerce sobre Dilma e pelo fato de Paulo Bernardo ser cotado para um cargo de grande influência no Palácio do Planalto. Entretanto, ao manter Mantega, Dilma atende um pedido imediato de Lula. O jogo político da escolha pode, neste sentido, ser um movimento orientado por Palocci. Mais do que uma decisão técnica, a escolha de Mantega pode ter um caráter político.

Saberemos de fato o rumo da economia com as escolhas para o Banco Central e Planejamento. No Bacen, tudo indica que Meirelles prepara sua saída, já que impôs condições para ficar, ou seja, a manutenção da autonomia do Banco Central. Ao colocar o assunto em pauta e a Presidente eleita na parede, enviou seu recado político: está de saída. Se Dilma insistir para que ele fique, perderá autoridade. Resta saber quem ficará em seu lugar para defender a moeda.

quarta-feira, novembro 17, 2010

O Bloco

É preciso analisar com cuidado para entender o que o PMDB pretende com o anúncio de seu bloco na Câmara dos Deputados. Mais do que um movimento, a articulação mandou um recado para o Planalto.

Antes disso, o PT flertava com a possibilidade de também presidir o Senado, em uma espécie de rodízio com o PMDB. A resposta veio rápida, com o lançamento do nome de Sarney. O segundo lance foi realizado mediante o anúncio do bloco de partidos na Câmara, que juntos somam 202 parlamentares. Apesar de o PP ter balançado, O PMDB mostrou que pode aglutinar, além dos progressistas, o PR, PTB e PSC. O objetivo, lógico, é juntar forças e poder fogo na barganha por cargos.

O PMDB mostrou os dentes e mostrou ao PT que existem limites no exercício do poder que não podem ser ultrapassados. Um deles é o comando do Senado. Além disso, na formação do governo, o partido se articula para ocupar espaços. Para isso, já se movimenta. O bloco, como disse, é mais um lance desse jogo.

O partido líder do novo bloco controla seis pastas, Defesa, Comunicações, Integração Nacional, Agricultura, Minas e Energia e Saúde, entretanto, apesar de possuir ministros filiados ao partido, em pelo menos dois deles não dá as cartas. São indicações de Lula e aliados.

Assim, diz que é possível abrir mão de pelo menos duas delas, que poderiam ser substituídas pelo Ministério das Cidades ou Transportes, jóias da coroa, pelo volume de investimentos. Se Dilma vacilar, o PMDB admite, por exemplo, assumir o controle do BNDES, Banco do Brasil, Caixa ou Petrobras. Joga alto para colher bem.

Mas nesta negociação não entra o Senado. Lá, o PMDB deve seguir soberano e por mais que não venha a dirigir a Câmara, o super bloco tende a dar trabalho.

terça-feira, novembro 16, 2010

A Fusão

Para quem achava pouco a idéia de incorporação do DEM pelo PMDB, ainda não havia pensado que o PPS pode fundir-se com o PSDB. Este é mais um resultado das eleições deste ano.

A idéia, em princípio, é o primeiro passo para o projeto de Aécio Neves refundar o PSDB. A chegada do PPS seria a oportunidade ideal de rever alguns pontos e partir para a fundação de uma nova oposição, certamente com a cara de Aécio, que assim busca credenciar-se para a sucessão presidencial em 2014.

Os tucanos saíram das urnas com 52 deputados e 11 senadores e o PPS com apenas 12 deputados e um senador. Roberto Freire não esconde que as conversas existem e que a possibilidade de fusão é real. Esta nova oposição, dotada de princípios claros, defenderia o legado de FHC, algo esquecido no ninho tucano nas três eleições presidenciais perdidas, duas por Serra e uma por Alckmin.

O curioso é que fala-se na criação de uma terceira legenda, resultado da fusão dos dois partidos. Isto, vale lembrar, desobriga os parlamentares dos partidos de origem, PSDB e PPS, a migrar para a nova agremiação. Pela legislação, os parlamentares ficam livres para escolher qualquer partido, sem o risco de perder seus mandatos. Seriam alvos óbvios de cooptação por legendas governistas, em especial o PMDB, que busca aumentar seu poder de fogo no Parlamento.

É preciso avaliar com muito cuidado estes movimentos, pois se partirem para a fusão, é possível que os partidos fiquem menores, exatamente o oposto de sua estratégia.

segunda-feira, novembro 15, 2010

A Incorporação

Tudo indica que o desejo de Lula, de extirpar o DEM da política nacional, está cada vez mais perto. Depois dos resultados eleitorais cogita-se seriamente uma incorporação do DEM ao PMDB. A estratégia visa de um lado a sobrevivência de muitos políticos da legenda, mas de outro acabará gerando uma guinada na política nacional somente imaginada por Lula até o momento.

O DEM venceu em dois estados, Santa Catarina e Rio Grande do Norte. Saiu vitorioso, mas também saiu seriamente abatido em outras frentes. Sua bancada de deputados federais minguou uma vez mais e o mesmo aconteceu no Senado. Como se não fosse o bastante, no Parlamento, os nomes mais significativos da legenda foram derrotados, com a exceção de José Agripino Maia.

A mais importante liderança do partido dirige a jóia da coroa, a Prefeitura de São Paulo. Justamente por isso, Gilberto Kassab tem sido assediado pelo PMDB. Ele seria um forte nome para disputar o governo do Estado em 4 anos. Se Kassab deixar o o antigo PFL, seria um enorme golpe para o partido. O Prefeito, entretanto, não tem muitas opções, uma vez que foi eleito pelo DEM. Para ele, ao invés de rumar sozinho para o PMDB, talvez fosse mais interessante chegar ao seu destino munido da força inteira do seu partido atual.

Daí surge a idéia de levar o DEM inteiramente para os braços do PMDB. Os argumentos não são fracos e podem seduzir muitos políticos do partido. Dono de uma parte considerável do governo, o PMDB pode abastecer os nomes do DEM que desembarcarem em seu projeto, de cargos relevantes na estrutura federal, algo que esses políticos, alijados do poder desde o fim do governo FHC, desejam muito.

O fato é que o DEM, depois de deixar o governo federal, não encontrou rumo, nem discurso. Já falei sobre isso aqui. Ao invés de se tornar um partido com um projeto alternativo de poder, tornou-se refém de seus erros, que levaram seus números a despencar nos últimos anos. Se o DEM realmente se incorporar ao PMDB, seus políticos podem ganhar sobrevida, entretanto, o Brasil perde uma alternativa política.

A chance do DEM mudar e não ser engolido pela realidade política nacional é refundar-se, mudando sua postura e aplicando suas políticas em seus redutos eleitorais, assumindo suas posições conservadoras, deixando de estar a reboque dos tucanos, fazendo surgir um projeto alternativo e viável, guiado por lideranças expressivas que poderiam fazer o partido renascer. De outro modo, o destino do DEM é tornar-se parte do PMDB e entrar para os livros de história.

sexta-feira, novembro 05, 2010

Surra Eleitoral

Na política, cedo ou tarde se conhece o outro lado da moeda. Para Barack Obama este dia chegou logo, em suas primeiras eleições em meio de mandato, as midterms elections, que renovam parte do Congresso dois anos após a posse do Presidente.

Bill Clinton enfrentou uma situação semelhante em 1994, entretanto, como possui maior habilidade política que Obama, não podemos prever que o atual Presidente consiga dar a volta por cima com a mesma facilidade. Além do mais, o ambiente político na década de 90 era outro e a eleição de Obama levou a polarização exacerbada, que pode gerar um efeito inverso devastador nas próximas eleições para o Partido Democrata.

Os Democratas sentiram o golpe. Sua bancada despencou na Câmara e a folgada maioria no Senado virou pó. A Câmara passará a ser conduzida pelos Republicanos e sua agenda própria, o que trava a administração Obama em seus pontos centrais. Lembrei aqui que o Presidente deveria buscar suas reformas nos primeiros dois anos de mandato, pois a tendência era que perdesse a maioria nas midterms, entretanto, naquela época não esperava que a surra promovida pelo eleitorado americano em Obama fosse tão desconcertante.

Quem conhece política americana sabe que agora o trabalho de Obama é ainda mais difícil. Sem um Congresso favorável, suas políticas não avançam, precisará ceder em muitas questões para avançar em outras e pode ver ainda as conquistas políticas dos primeiros dois anos de mandato serem desfeitas pelos novos congressistas.

O massacre eleitoral, entretanto, não se limitou ao Congresso. Os Republicanos tomaram governos estaduais e elegeram lideranças calcadas no Tea Party, já sendo preparadas para a grande eleição presidencial que se avizinha em dois anos.

Obama precisará de muita habilidade política, até porque as poucas vitórias dos Democratas vieram impulsionadas pela ala de Bill Clinton. Obama inclusive foi orientado a não participar de muitas campanhas, já que sua imagem poderia prejudicar os candidatos de seu partido.

Com seu time de assessores, conselheiros e secretários se desfazendo pouco a pouco, com o partido alvejado pelas derrotas eleitorais e a falta de estratégia de comunicação eficiente, especula-se até que ele não seria o melhor candidato para conduzir os Democratas em dois anos. No momento, Obama é o adversários dos sonhos de todos Republicanos.

quinta-feira, novembro 04, 2010

Dilma pós-campanha

Confesso que estou surpreendido positivamente com a postura e as declarações de Dilma no pós-campanha. Começou com a primeira declaração, no momento da vitória, um texto escrito a quatro mãos, auxiliado por Palocci. Seguiu-se a mesma impressão nas primeiras entrevistas, até na presença de Lula, que esteve ao seu lado para responder perguntas no Planalto.

Se durante a campanha, assim como Serra, a candidata não apresentou programa de governo, já o fez no primeiros dias. Forneceu diretrizes de suas ações e mostrou-se segura, sem tervergisar, ser vaga, brincar ou fazer metáforas sobre qualquer tema. Foi direta e objetiva. Ou seja, Dilma tem opinião própria, sem ser tutelada por Lula, sabe o que está dizendo e sabe como irá fazer. Pode-se até discordar do rumo que dará ao governo, mas seguramente seu governo terá rumo.

Dilma terá equipe própria. Sua idéia não é permanecer com a equipe de Lula, é ter o seu próprio time. Os nomes já circulam por aí. O caráter técnico será fundamental, aliado a competência e meritocracia. O critério político também será considerado.

Dilma falou da liberdade de imprensa: "Prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras". Sobre a condenação da iraniana Sakineh, disse: "Acho uma coisa bárbara o apedrejamento da Sakineh. Mesmo considerando os costumes de outros países, continua sendo bárbaro". Na economia, defendeu o câmbio flutuante e o controle de gastos públicos. O governo, segundo ela, não pode gastar mais do que arrecada, deixando clara sua posição sobre a responsabilidade fiscal. Sobre invasões e MST, enfatizou: "Não compactuo com ilegalidades, com invasões e prédios públicos ou propriedades produtivas".

A Presidente eleita tem caráter técnico e assim será seu governo. Ninguém deve se surpreender se muitos ministros não forem nomes conhecidos. Entre os políticos, pode-se apostar em nomes como Paulo Bernardo, José Eduardo Cardozo, Antônio Palocci e Fernando Pimentel. O PMDB terá sua fatia de poder, negociada por Michel Temer, que deve deixar o comando do partido nas mãos do senador eleito Eunício Oliveira. No Itamaraty fala-se em José Maurício Bustani, Carlos Alfredo Lazary Teixeira e até nomes que não são de carreira, mas políticos experientes que sabem lidar de forma pragmática nas questões comerciais internacionais.

O governo Dilma não terá a cara de Lula, terá a cara de Dilma. Ela é egressa do PDT e apesar de estar no PT, não é petista de origem. Tem idéias próprias e sabe onde quer chegar. Suas primeiras declarações foram muito bem recebidas. Mostrou sensibilidade política, conhecimento técnico e sobretudo direção e segurança na condução do processo administrativo. Seu começo foi melhor do que qualquer dia de sua campanha.

terça-feira, novembro 02, 2010

A Vitória de Dilma

A vitória de Dilma tem muitos significados, mas talvez diferentes daqueles imaginados por todos. Ela venceu carregada pelo Nordeste, mas na verdade quem ajudou realmente Dilma a vencer foi o Sudeste. Ali José Serra nem chegou perto de abrir a vantagem que imaginava.

Dilma venceu no estado crucial para esta eleição, Minas Gerais. Venceu com folga. Serra apenas teve mais votos no sul do estado, na divisa com São Paulo. Nas fronteiras expressivas com Rio e Bahia, a candidata do PT teve muitos a frente do tucano.

Em São Paulo, ao contrário do que imaginavam os tucanos, Serra abriu pouca diferença. Sem o impulso de seu estado, seria impossível vencer. Muitos daqueles que votaram em Anastasia em Minas, votaram em Dilma no segundo turno. Em São Paulo ocorreu o mesmo. Muitos que votaram em Alckmin no primeiro turno, fizeram a opção nacional por Dilma.

No Rio de Janeiro o massacre do PSDB se consumou. Em um estado liderado por um ex-tucano, Sérgio Cabral, que tem apoio de praticamente todos os prefeitos fluminenses, Dilma levou uma vantagem descomunal.

Os aliados ainda fizeram diferença em três importantes estados, Bahia, Pernambuco e Ceará, que forneceram uma vantagem descomunal para a petista. Isto cacifa Jacques Wagner, Eduardo Campos e Cid Gomes. Terão um peso político muito mais denso do que se poderia projetar.

Dilma perdeu no Sul, mas no Rio Grande do Sul, por exemplo, teve força para praticamente empatar com José Serra.

Esta geografia do voto, em lugares importantes, explica a vitória de Dilma. Entretanto, enganam-se aqueles que acreditam tão somente no peso político para a formação do governo. Dilma, com seu perfil, tende a surpreender na montagem na equipe.

segunda-feira, novembro 01, 2010

Derrota Tucana

Mais do que uma vitória de Dilma ou Lula, a vitória do PT foi uma derrota do PSDB. As razões são muitas e os tucanos deverão passar os próximos dias afirmando que o partido cresceu e qualificou o debate, mas o fato que é o PSDB perdeu a terceira eleição presidencial seguida para o PT.

O fato é que existiam condições para os tucanos vencerem a eleição. Foram reféns das estratégias de marketing e decisões políticas equivocadas, analisadas e lembradas aqui neste Blog muitas vezes. Um claro exemplo foi a escolha do vice, que recaiu sobre Índio da Costa, uma exigência do DEM. Ele fez seu papel com seriedade, mas sempre faltou-lhe densidade eleitoral. Existiam muitas outras opções melhores, que agregariam votos aos tucanos, com lembrei aqui, mas isto foi colocado em segundo plano por uma exigência de um partido que pouco a pouco fica menor, o DEM.

Serra foi refém de sua própria estratégia de marketing, dirigida por Gonzalez, o mesmo estrategista que levou Alckmin a derrota de 2006. A idéia de construir a imagem de Serra pouco a pouco na cabeça do eleitor mostrou-se equivocada, assim como a vergonha em assumir os feitos da administração FHC, o que se feito de forma diferente, tornaria o ex-Presidente um forte cabo eleitoral. Serra preferiu mostrar Lula em seu horário eleitoral.

A responsabilidade de virar o jogo no segundo turno, diante da pífia votação no primeiro turno, recaiu nos ombros de Aécio, que apesar de tucano, não tinha o mesmo interesse que os paulistas na eleição. Deu sua contribuição, com entusiasmo, mas sem atingir o objetivo de entregar uma vitória e margem de votos em Minas Gerais.

Para vencer, Serra precisava abrir boa vantagem em São Paulo e ganhar com boa vantagem em Minas. Ou seja, por mais votos que Dilma tivesse no Nordeste, se os tucanos viessem embalados pelos seus currais eleitorais, não haveria chance de vitória para o PT. Os tucanos perderam a eleição quando deixaram de abrir vantagem em seus redutos eleitorais. Reféns de seus erros, tiveram que contar no último momento com fatores como a abstenção, como lembrei aqui, para manter no horizonte a possibilidade de êxito.

A vitória dos tucanos era possível e tangível. Antes de perder para o PT, o PSDB perdeu para seus próprios erros. Terão quatro anos mais uma vez tentar vencer. Será a quarta tentativa.