sexta-feira, janeiro 31, 2014

Imigração e Política

Depois do discurso de Obama, que mais uma vez tocou na questão na imigração, o Congresso passou a mobilizar seus líderes sobre o tema. O assunto é controverso entre os políticos, mas fácil de entender. A América possui um sistema de imigração falho que não premia a meritocracia na obtenção de residência ou cidadania. Portanto, não há incentivo para pessoas qualificadas, que acabam indo para o Canadá ou até mesmo Austrália, onde o sistema imigratório é montado de forma mais racional.

Se de um lado da moeda os imigrantes qualificados não tem incentivo para ficar, do outro os imigrantes ilegais não possuem um caminho claro para se legalizar. O projeto que surgiu em discussão no Senado trata dos qualificados, com um acesso especial para residência daqueles que estudam nos Estados Unidos disciplinas ligadas a engenharia, matemática e tecnologia da informação. Ou seja, aqueles que estudam a área de humanas não serão bem vindos para ficar, pois geram benefícios no médio e longo prazo, enquanto profissões com resultados e demanda mais imediata tem prioridade.

A questão dos imigrantes ilegais é um ponto de divergência hoje na agenda. A maioria dos democratas deseja que exista um caminho para a cidadania dos cerca de 12 milhões de imigrantes ilegais hoje nos Estados Unidos. Já os republicanos falam em legalização deste contingente, mas sem acesso, pelo menos neste primeiro momento, a cidadania. A motivação é clara, uma vez que cidadãos votam. Depois de tomar seguidas surras eleitorais nos territórios com maior percentual de imigrantes, os republicanos não querem correr o risco de mudar o mapa eleitoral dos Estados Unidos e perder o controle de um número ainda maior de estados. Colorado e Novo México, que já votaram com Bush na última década, em 2012 foram para a esfera de Obama.

Na verdade não existe uma vontade política de legalizar os imigrantes ilegais se não for uma motivação eleitoral. Os ilegais recolhem impostos na fonte (geralmente são contratados com número de social security em duplicidade), gastam dinheiro nos Estados Unidos - o que faz com que o paguem impostos sobre consumo, não recebem benefícios sociais, tampouco restituição de impostos e ainda podem ser deportados se violarem a lei. É uma mão-de-obra que somente gera benefícios. Muitos políticos, se não forem recolher seus votos, se perguntam qual o benefício de legalizá-los.

Na esfera política, a conta é feita desta maneira. A América, que já foi um país de imigrantes, tem um desafio pela frente. Uma pequena reforma imigratória está sendo gestada, mas a discordância sobre o caminho a seguir com os ilegais pode jogar fora o esforço feito até agora. Ontem ouvi de pessoas no Congresso que qualquer mudança neste sentido tem apenas 40% de chance de ocorrer. Pessoalmente acredito que as chances são muito menores.

quinta-feira, janeiro 30, 2014

Estilo Perigoso

Quando Obama entrou no Capitólio para discursar, sua popularidade era a mesma de George W. Bush com seis anos de mandato: 43%. O apoio ao Presidente democrata vem caindo de forma consistente e tende a seguir o mesmo curso nos próximos meses. Na verdade o Presidente americano tende a chegar a patamares de popularidade inferiores aos de Bush pelo traçado das curvas das pesquisas.

O discurso desta semana poderia indicar uma mudança neste padrão. Entretanto, o que foi visto foi o contrário. Já escrevi aqui que o Presidente preferiu partir para o confronto ao invés de buscar a conciliação. Este foi o ponto fundamental. A estratégia de culpar o Congresso também vai na mesma direção.

Quando Bush chegou ao parlamento para discursar, no sexto ano de sua presidência, 48% daqueles que o ouviram tiveram uma reação positiva. Com Obama, no mesmo sexto ano, este número caiu para 44%, menor inclusive do que o alcançado no ano passado, 53%. A tendência vem embalada em dois aspectos: sua popularidade, que decresce a cada dia, e o tom de confronto adotado recentemente.

Na sua maioria, os espectadores não gostaram quando ele sugeriu, por exemplo, que poderia tomar ações executivas unilaterais. Quase 70% dos americanos desaprovam esta medida e dizem que preferem um Presidente que negocie com o Congresso. Por mais impopular que seja a classe política por aqui, os eleitores ainda acreditam que qualquer medida deve ser discutida com os parlamentares.

Apesar de a maioria da audiência ser democrata, assim como o Presidente que discursava, um dado curioso é que o número de espectadores do canal conservador, a Fox News (4.718.853), foi praticamente o dobro da CNN (2.081.431) e da MSNBC (2.292.169), identificada com o partido de Obama. Sinal de um movimento interessante do eleitorado.

Por fim, ao invés de mobilizar a militância democrata, talvez Obama esteja incendiando as massas republicanas. Diante destes números, as eleições parlamentares deste ano tendem a ser as mais polarizadas da história recente dos Estados Unidos.

quarta-feira, janeiro 29, 2014

Oportunidade Perdida

Obama entrou no Capitólio confiante. Discursou. Empolgou os democratas, mas nem todos. Diante de uma Casa Branca reativa, nem mesmo os democratas mais moderados tem a audácia de discordar do Presidente. O partido parece unido em torno do Presidente. Apenas parece. Do outro lado, os republicanos, de todos os lados ideológicos, de libertários aos conservadores, sentiam arrepios com o discurso.

Quem esperava um Obama convergente, procurando soluções comuns, uma agenda conjunta com os republicanos, se assustou. O Presidente surgiu combativo, quase imperial em alguns momentos. Sem propostas concretas, apostou na retórica e na sua capacidade de comunicação, mas no que tange a substância, o discurso circulou no vazio e parecia mais como uma preleção de vestiário de futebol, a popular palestra dada pelos treinadores antes do time entrar em campo, do que realmente uma prestação de contas.

Isto tem uma razão. Obama lançou os dados na mesa, começou o jogo das eleições parlamentares que ocorrerão este ano. Como os democratas devem continuar com minoria na Câmara, o Presidente luta para manter pelo menos o Senado, o que daria ainda um fôlego aos últimos anos de seu governo. Obama partiu para o ataque, jogou para a torcida, deu uma injeção de ânimo nos democratas e andou de mãos dadas com a ala populista de seu partido.

Se de um lado, a proposta de uma ampla agenda social, focada na ação do governo ao invés do indivíduo, algo que faria Thomas Jefferson ter calafrios, fornece o combustível para os democratas correrem atrás de votos, do outro gera perigo político. Jogando simplesmente para seu time, Obama aumentou o fosso que separa democratas e republicanos. Sem um compromisso de agenda comum, sua ação serviu para dividir ainda mais o país. Em última instância, do outro lado, é um discurso que ajuda a eleger republicanos ainda mais conservadores para a próxima legislatura.

A América, neste momento, precisa de uma agenda comum, de liderança, de alguém que pense na próxima geração ao invés da próxima eleição. Na verdade, esperava-se que Obama, no meio do segundo mandato, pudesse buscar este caminho. Ao contrário. Com o passar dos anos, o Presidente tem sido mais combativo e intransigente. Ninguém ganha com isso. O discurso de ontem foi mais uma oportunidade perdida. A mensagem mais importante de ontem foi que a mobilização para as eleições parlamentares deste ano já começou.

terça-feira, janeiro 28, 2014

Comunicação Presidencial

"Ele deverá, de tempos em tempos, prestar informações ao Congresso sobre o Estado da União e recomendar medidas que julgar necessárias". Assim indica a Constituição dos Estados Unidos em seu segundo artigo, na seção de número três. Assim fazem os Presidentes americanos todo ano, reportando-se ao Congresso sobre as medidas tomadas e as iniciativas futuras. Obama cumprirá hoje pela sexta vez com sua obrigação constitucional.

Até a introdução maciça dos meios de comunicação, os Presidentes não tinham o hábito de realizar discursos. Muito pelo contrário. Não era bem visto ao Presidente que se expusesse desta forma. Lincoln, um grande orador, fez uma brilhante campanha embalado pela oratória, contudo, durante os anos aqui em Washington cumpriu a regra. Pouco se comunicou com o público além dos históricos momentos de sua posse e depois com o discurso de Gettysburg. Um dos motivos do processo de impeachment de Andrew Johnson, que sucedeu Lincoln, foi justamente seu hábito de realizar discursos e movimentar a sociedade.

Isto realmente mudou. Truman, por exemplo, em um ano durante sua Presidência, fez 88 discursos públicos. Reagan, o grande comunicador, que ensaiava todos os seus textos chegou a marca de 300 e Bill Clinton ultrapassou os 500. Se Andrew Johnson tivesse se tornado Presidente 100 anos depois, como ocorreu com Lyndon Johnson, certamente não teria vivido a mesma pressão.

Como historicamente os Presidentes se comunicavam pouco, o Estado da União era a grande oportunidade que os mandatários da Casa Branca tinham para expor sua visão sobre o país de forma clara e objetiva. Desta forma, este momento tornou-se um marco no calendário político dos Estados Unidos. O ritual permaneceu através dos tempos e hoje continua sendo um instrumento importante de comunicação política. Mesmo após o advento do rádio, televisão, internet e suas diversas plataformas, que tornou a palavra do Presidente acessível e diária, a tradição anual permanece - agora com as mídias exercendo um papel seminal.

Hoje pela manhã fui informado que Obama trabalha com sua equipe no discurso deste ano, que será realizado dentro de algumas horas, desde novembro. Ele precisa recobrar a confiança dos americanos diante de um parlamento hostil e dividido, mas que o próprio Presidente, como resultado de sua maneira de governar e negociar, ajudou a dividir e confrontar. Mais do que uma obrigação constitucional, desta vez Obama lutará pela sobrevivência de uma Presidência que nunca esteve tão desacreditada. Mais que um dever, uma necessidade.

segunda-feira, janeiro 27, 2014

Mitt

Ontem assisti ao documentário produzido pela Netflix sobre Mitt Romney. O programa é espetacular e deve ser visto por aqueles que se interessam por política. Os bastidores de ambas campanhas estão ali. Em 2008, quando ele abandonou a disputa nas primárias (eu estava lá e acompanhei o momento pessoalmente) e 2012, quando conseguiu a indicação e perdeu para Obama. Em certo ponto do vídeo, ele diz que o partido republicano hoje é sulista, evangélico e popular. Ele, ao contrário, veio do norte, é mórmon e rico.

Na verdade, Mitt poderia ser realmente o que Washington precisava nestes tempos, ou seja, alguém com experiência de sucesso em gestão. Mas ele também não deixou de ser o anti-candidato. Romney é o perfeito exemplo da América que pouco a pouco vai ficando para trás. Um novo país, decorrente de novas ondas de imigração e miscigenação vem sendo construído. Quem está atento a isso, vence eleições.

Ouvi de um amigo, brilhante analista, que a eleição se tornou uma questão de identidade. Ele está certo. As minorias, pouco a pouco vem se tornando maiorias quando votam em conjunto, e assim tem definido eleições. Portanto, a chapa que trazia o havaiano negro, filho de africano com uma americana, criado pelos avós, gerou uma imensa sensação de identidade no eleitorado. Bush, apesar de família tradicional, conseguiu a mesma proeza. Ele era o tipo meio turrão com o qual qualquer americano tomaria uma cerveja. Havia identidade. Enquanto Bush enfrentou Al Gore e Kerry, dois aristocratas, da última vez Obama venceu outro exemplar, Mitt Romney.

Portanto, está lançada a sorte para 2016. Hillary, apesar de mulher, é uma aristocrata. Logo, os republicanos tem tudo para vencer se escolherem o candidato certo. Neste cenário, Chris Christie é o nome certo. Bonachão, popular, governador de New Jersey, acessível, acima do peso e bipartidário. Christie, assim como Bush e Obama, geram identidade com o eleitor. Esta é a senha para o sucesso.

Em 2012 o partido democrata avançou pelo Colorado e Novo México, territórios tipicamente republicanos. Ali, os hispânicos fizeram a diferença em favor de Obama. Se o vice de Mitt Romney, ao invés de Paul Ryan, fosse um político de origem latina da Flórida, o resultado poderia ter sido outro. Uma nova América já é uma realidade eleitoral e ao invés de ser o ponto fraco de Mitt, poderia ter lhe dado a vitória.

sexta-feira, janeiro 24, 2014

Estratégia Republicana

Enquanto o frio chegava na capital americana esta semana, o partido republicano recebia também delegados de vários estados para discutir suas estratégias futuras. Depois de uma nevasca que fechou Washington na terça, os republicanos começaram na quarta-feira a discutir os melhores caminhos para manter o controle da Câmara, retomar o Senado, além do mais importante, voltar a comandar a Casa Branca.

Reunidos no hotel Renaissance, os republicanos focaram mesmo na estratégia para a eleição presidencial, em especial no calendário das primárias e a data da convenção que indica o candidato presidencial. A principal discussão girou em torno dos problemas enfrentados por Romney em 2012. Ele somente conseguiu ter acesso aos recursos nacionais de campanha do partido depois do dia 30 de agosto, quando ocorreu a convenção na Flórida. Esta espera afetou muito sua estratégia de eleitoral, já que o partido permaneceu engessado, sem acesso aos fundos de campanha durante todo o verão. Neste meio tempo, Obama abriu uma margem que assegurou sua vitória.

A idéia, portanto, é antecipar a convenção, para que o candidato possa acessar estes fundos o quanto antes, antecipando o calendário eleitoral e aumentando o tempo de campanha propriamente dito. Ao invés do final de agosto, a convenção será em junho e o candidato republicano poderá, a partir desta data, financiar todo o aparato do partido, em especial dos recursos para comerciais de TV. É um enorme diferencial.

Isto fará também com que o tempo de primárias diminua. Ouvi dos representantes do partido reunidos no encontro que o objetivo é tentar diminuir o tempo de embate interno e focar na eleição propriamente dita. Faz enorme sentido. As primárias republicanas começarão em fevereiro, com Iowa, Carolina do Sul, Nevada e New Hampshire.

Aqui no encontro também começou a campanha para a escolha da cidade que sediará a convenção. Kansas City, Las Vegas, Detroit, entre outras, já apresentaram candidatura. Mas pessoalmente, acredito que a escolha mais acertada seria por Columbus, Ohio. Sabemos da importância deste estado na campanha eleitoral. O impulso que os republicanos podem receber de lá, não encontra paralelo, afinal, nenhum Presidente na história recente venceu sem Ohio.

O fato é que os republicanos, organizando-se desta forma, mexem nas regras da corrida presidencial, o que deve afetar também a estratégia dos democratas. Como já disse aqui, a campanha presidencial já começou.

quinta-feira, janeiro 23, 2014

Obama vai ao Congresso

Na próxima semana Obama apresenta-se ao Congresso. O discurso é o mais importante do ano e já está sendo escrito tem semanas, talvez meses. Diante de um Congresso hostil e aprovação decadente, o Presidente apresentará suas prioridades para o ano e falará também daquilo que foi realizado. Certamente ele se valerá das vitórias, especialmente na área internacional, por mais discutíveis que sejam, mas precisará tocar em um ponto fundamental que não vai bem: a economia.

Entre os eleitores independentes, a política econômica de Obama é desaprovada por 60%. No cômputo geral, 56% acham que a economia segue um caminho equivocado. Apesar de 61% dos democratas estarem a favor, 79% dos republicanos estão contra. Na média, a Casa Branca perde, mas é entre os independentes, aqueles que decidem a eleição, é onde os números mais preocupam. Entretanto, sendo a favor ou contra, 77% dos americanos acreditam que a economia vai mal. Este é um número significativo.

Mesmo na área internacional, onde Obama acredita ter alcançado resultados importantes, o que na verdade ocorreu, sua aprovação vai em percentuais muito fracos. Apenas 39% aprovam, enquanto 47% se colocam contra. A aproximação com o Irã, por exemplo, apesar de importante, não é vista com bons olhos pela maioria dos republicanos. Além disso, ainda pesa o baile que a administração americana tomou da Rússia na questão da Síria, com direito a editorial de Putin no New York Times. Os americanos sentiram-se diminuídos.

Mas Obama acredita que tem um trunfo nas mãos. Seu projeto para a saúde. Mas falta acertar ainda com o público, já que 56% são contra o Obamacare e 59% enxergam que ele não soube lidar bem com a implementação do plano, que ainda encontra problemas. Mas quanto a isso Obama está tranquilo. Ele venceu esta disputa e enxerga que no longo prazo os americanos entenderão sua iniciativa. Aqui, ele joga para a história.

Quando Obama entrar no Congresso, 67% dos americanos estarão assistindo, diz o Instituto de pesquisas da Universidade de Quinnipiac. Neste momento 49% do país acredita que ele não é verdadeiro e confiável. Obama precisará caprichar na retórica e mostrar resultados.

terça-feira, janeiro 21, 2014

A Recuperação de Christie

Enquanto Chris Christie toma posse para seu segundo mandato como Governador de New Jersey, as especulações sobre a crise política que ronda sua imagem continuam. A campanha contra Christie tem sido intensa, especialmente pela imprensa especializada em política, entretanto isto não tem se traduzido em desgaste real de sua imagem frente ao eleitor.

Dos 18% que acompanharam as denúncias de uso político do fechamento de faixas da ponte George Washington, 60% disseram que sua opinião sobre o Governador não mudou. Vejam bem, estes números são nacionais. Em Washington ou New Jersey, aqui do lado, o assunto teve forte repercussão inicial, mas no resto dos Estados Unidos a história não tem o mesmo impacto.

Apesar do desgaste em seu estado, Christie ainda tem uma vantagem confortável. Sua aprovação desceu de 74% para 55%. Vemos que mesmo com a queda, no pior momento, o Governador ainda tem folgada aprovação. Estes números tendem a se acomodar e subir logo depois que o assunto perder força. É bom que lembrar que, no Brasil, os números de Dilma caíram durante as manifestações, mas depois subiram aos patamares anteriores meses após tudo se acomodar. É a ordem natural na política em situações como esta.

Logicamente, esta análise esta balizada no que vivemos até aqui, ou seja, considero que nenhum fato novo venha balançar a situação. Se algo novo acontecer envolvendo diretamente Christie, aí sim seus números podem entrar em sinal de alerta. Caso contrário, ele tende a vencer a crise.

Lembremos que também New Jersey, assim como Illinois (de onde veio Obama) não é o local onde é praticada a política, digamos, mais limpa dos Estados Unidos, logo a recuperação regional é mais rápida que na média. Logo, reerguendo-se regionalmente e sem o impacto nacional da crise política, o Governador tende a se levantar em tempo de enfrentar as primárias presidenciais. Os ataques promovidos pelos democratas, que culminaram neste episódio mostram que Christie é visto como um verdadeiro adversário. De certa forma, a campanha presidencial já começou.

segunda-feira, janeiro 20, 2014

O Partido de Hillary

Enquanto o país celebra o feriado em memória de Martin Luther King, os números não fornecem boas notícias para Obama. Sua aprovação continua baixa e a ligeira melhora da economia ainda não se refletiu em sua popularidade.

Na verdade ainda demorará um pouco até vermos a influência de uma sensível melhora afetar os números do Presidente. Os democratas, de qualquer forma, sentem-se pressionados. Existe o medo que a impopularidade de Obama afete a performance dos candidatos do partido nas eleições parlamentares deste ano.

Na verdade, como escrevi aqui, este é um fenômeno que ainda não aconteceu, entretanto, um perigo do qual o partido não está completamente livre. Na minha opinião, os números de Obama não afetarão os democratas. Vemos no momento um movimento do pêndulo de poder no partido na direção de Hillary Clinton.

Os Clinton dominam cada vez mais os democratas e devem ser fiadores dos candidatos que se apresentam este ano, pelo menos os mais importantes e estratégicos. Hillary já tem em mente toda a estrutura de campanha e o primeiro passo são estas eleições. Enquanto vemos o ocaso de Obama, enxergamos a estrela dos Clinton voltar a brilhar no partido democrata.

Obama vive o dilema de uma Presidência sem grandes iniciativas e muitos desgastes. Em entrevista para a New Yorker disse que muitos não gostam dele pelo fato de ser negro. Isto é infelizmente um fato e todos sabem, entretanto, o diferencial de Obama foi sempre se mostrar como um bom político independentemente de sua raça - fator que deve ser realmente irrelevante. Entretanto, jogar com esta situação nesta altura do campeonato, realmente não soa bem.

O Presidente soa um pouco perdido. Sinal do ocaso de seu termo. A maldição do segundo mandato realmente se instalou na Casa Branca. Os Clinton sabem disso e trabalham nos bastidores.

sexta-feira, janeiro 17, 2014

A Saída de Coburn

Poucos são os parlamentares que realmente fazem diferença dentro do Congresso. Muitos deles são figuras desconhecidas do grande público, mas que transitam nos corredores e gabinetes da capital com desenvoltura e enorme capacidade de solucionar questões importantes. Aqui em Washington, um dos mais efetivos parlamentares com quem já tive contato foi o senador Tom Coburn, de Oklahoma. Infelizmente ele acaba de anunciar que não concorrerá a reeleição e tampouco terminará seu mandato.

Coburn luta contra o câncer. Todos sabemos. Até o último mês as indicações eram de que ele seguiria a carreira política sem problemas. Infelizmente algo mudou e ele deixará Washington para seguir com seu tratamento. Richard Burr, senador republicano pela Carolina do Norte, disse que Coburn não consegue fazer nada em se doe menos do que 100%. Isto é um fato. Faz enorme sentido. Se o senador por Oklahoma não conseguir se doar por completo ao mandato, é porque se doará 100% para o tratamento.

Quem mais perde com tudo isso é o partido republicano, que perde uma de suas estrelas, um dos parlamentares mais efetivos e atuantes de Washington. Com a renúncia de Coburn, uma nova vaga será aberta e uma eleição deve ser realizada em Oklahoma, já que nos Estados Unidos não existe o fenômeno da suplente como no Brasil. O resultado é claro. Diante de um estado tradicionalmente conservador, o sucessor de Coburn será o indicado pelo partido e certamente com o peso a influência do atual senador na escolha do nome.

Coburn sai de cena e enfrentará um duro tratamento. Não sabemos como reagirá ou se terá forças para voltar. Mas deixa um legado inestimável em Washington. Sem alardes ou estrelismo foi um parlamentar atuante e eficaz. Levou o estado de Oklahoma e ter uma representação significativa na capital, tanto quando foi deputado e depois no Senado. Parlamentares como Coburn fazem a diferença em uma cidade tomada pelos radicalismos partidários e com poucas pontes que conduzem ao entendimento. Uma destas pontes será retirada. Cabe aprender como se faz política. Certamente esta é uma lições deixadas por ele. Um dos maiores nomes conservadores do país e amigo pessoal de Barack Obama.

quinta-feira, janeiro 16, 2014

Vantagem Democrata

Os políticos andam em descrédito aqui em Washington. Do lado democrata, o desgaste é concentrado no Presidente, mas do lado republicano, todo o partido é afetado pelos números ruins. Os dois lados podem gerar resultados inesperados nas eleições para o Congresso este ano, com pequena margem favorável para os democratas.

O partido de Obama pode encontrar um caminho mais favorável nas urnas especialmente porque a imagem mais afetada no momento é a do Presidente. Apesar de a administração da Casa Branca sofrer com desgastes sucessivos, isto não se transfere diretamente para o partido. Os democratas praticamente já tem candidato para 2016, ou melhor candidata. Hillary Clinton é o nome que se impõe e deve vencer as prévias de forma avassaladora. As eleições deste ano, portanto, serão um terreno onde valerá mais o apoio dos Clinton do que de Obama.

Do lado republicano, o problema é mais sério. Existe uma falta de liderança dentro do partido. O Presidente da Câmara, John Boehner, não é unanimidade entre seus pares. Eric Cantor, líder da maioria, surge como um nome para substituí-lo. Cantor é mais hábil, mas também mais conservador. Identificado com o Tea Party, pode trazer problemas na relação com os democratas e a Casa Branca nos últimos dois anos de mandato de Obama.

A polarização exacerbada é aquilo que fere os partidos hoje, mas é algo latente nos republicanos, que sofrem com a pressão do Tea Party e a divisão interna entre estes, o movimento libertário e os moderados. Sem uma liderança que una o partido será difícil reverter este desgaste. Esta liderança pode surgir apenas nas primárias presidenciais, mas até lá será eleito um novo Congresso.

Ao fim e ao cabo, apesar do desgaste de Obama, os democratas aparecem melhor porque o Presidente carrega a impopularidade, preservando seu partido, que pouco a pouco começa a ser liderado novamente pelos Clinton. Do lado republicano ainda não surgiu um Clinton, alguém que una o partido e forneça rumo ao GOP. Considerando isso, existe uma chance maior dos democratas tomarem a Câmara ou diminuir a diferença para os republicanos, do que o GOP inverter a maioria no Senado.

quarta-feira, janeiro 15, 2014

Baixas Democratas

Se ontem escrevi sobre as baixas que o partido republicano sofrerá nas próximas eleições, hoje falo sobre os democratas. O partido de Barack Obama também perderá importantes parlamentares para a próxima legislatura, políticos que tinham reeleição assegurada, mas que resolveram deixar Washington. Alguns são figuras experientes, que farão muita falta, em especial em uma legislatura que viverá tempos de primárias eleitorais presidenciais e durante um período que o governo tende a não apresentar muitas iniciativas.

A primeira baixa vem de Utah, com Jim Matheson, deputado já eleito 7 vezes. A experiente Carolyn McCarthy, representante de Nova York há 18 anos, também deixará de disputar uma vaga na Câmara, deixando sua cadeira aberta para disputa. Também com 18 anos de Casa, Mike McIntyre, da Carolina do Norte, tomará o mesmo rumo. Apesar de experientes, nenhum deles possui o tempo de Congresso de George Miller, no seu vigésimo mandato. Miller tem 40 anos no Congresso e sua cadeira por seu distrito na Califórnia será ocupada por outro político depois de quatro décadas.

As desistências continuam do lado democrata com Jim Moran, da Virgínia e Bill Ownes, também de Nova York. Ownes está no Capitólio a apenas 3 mandatos. No Senado, Max Baucus, do Montana, com 6 eleições vencidas, também deixa o jogo.  Tom Harkin de Iowa, com cinco vitórias tomará o mesmo rumo, além de Tim Johnson, da Dakota do Sul, eleito e reeleito 3 vezes. O experiente Carl Levin, do Michigan, com seis mandatos, deixará de concorrer, assim como Jay Rockfeller, de West Virgínia, com cinco vitórias no currículo.

A especulação sobre outras desistências no partido democrata são grandes, em especial nos estados do Colorado, Arizona, Arkansas e Carolina do Norte. Muitas disputadas serão abertas e as chances dos republicanos em muitos destes distritos ou Estados, no caso de eleições para o Senado, são grandes. Entretanto, os democratas estão mais organizados organicamente, sem a ruptura interna que o Tea Party causou nos republicanos. Isto diminui a possibilidade de perda de muitas cadeiras. Certamente este será um ano de realinhamento das bancadas aqui em Washington. Eleições disputadas no horizonte.

terça-feira, janeiro 14, 2014

Baixas Republicanas

O partido republicano mantém hoje o controle da Câmara aqui em Washington, enquanto os democratas controlam o Senado. Este equilíbrio pode mudar nas próximas eleições para o Congresso. Além da estratégia do lado mais conservador em desafiar internamente parlamentares moderados que desejam tentar a reeleição, muitos deputados e senadores simplesmente não buscarão a reeleição, deixando simplesmente aberta a disputa para suas vagas em seus distritos e estados.

Os parlamentes dispostos a deixar o Congresso são na sua maioria deputados de muitos mandatos, como o Spencer Bachus, do Alabama, que possui no currículo 11 vitórias eleitorais consecutivas para a Câmara. O mesmo caso de Howard Coble, da Carolina do Norte, eleito e reeleito 15 vezes ou Tom Lathan, de Iowa, com 10 vitórias no currículo.  Mas nenhum deles bate Frank Wolf, deputado pela Virgínia, eleito 17 vezes, que deixará a vida parlamentar após 34 anos de Washington. Estes são os deputados com o maior número de mandatos entre os republicanos que irão se aposentar. Todos teriam uma reeleição segura e manteriam suas cadeiras do lado republicano.

Entre os parlamentares com menos mandatos, muitos deixarão também de buscar reeleição. A debandada começa com a ex-presidenciável Michele Bachmann, do Minnesota, com 4 mandatos. Mas a lista é maior. John Campbell também ficará de fora. Ele já foi eleito por um distrito da Califórnia 5 vezes, tendo 10 anos de experiência em Washington. Jim Gerlach, com 12 anos de experiência e 6 mandatos pela Pensilvânia, também abandonará a política. Tim Griffin, novato, com duas eleições vencidas no Arkansas deixará sua vaga aberta. John Runyan, de New Jersey, também com o mesmo número de mandatos, deixará a política. O mesmo caso do senador Saxby Chambliss, da Georgia. O senador Mike Johanns, com um mandato e eleito pelo Nebraska, é outro nome da lista.

A baixas republicanas, até o momento, serão maiores na Câmara, onde sua maioria é sólida, mas pode ser abalada dependendo do número de desistências e dos ataques internos dos grupos mais conservadores, que preferem perder com radicais do que vencer com moderados. No Senado, as desistências parecem ser menos significativas, mas por lá a maioria já é democrata. Tempos difíceis podem estar sendo desenhados para o futuro do GOP no Congresso.

quinta-feira, janeiro 09, 2014

Christie e a Crise

Quando alguém é pré-candidato presidencial com reais chances de vencer uma eleição, em especial nos Estados Unidos, a pressão começa a subir. A temperatura se elevou em New Jersey e dentro do bunker do mais bem colocado nome republicano para chegar a Casa Branca, o governador Chris Christie.

A denúncia é de que assessores do Governador usaram o poder de seus gabinetes para atrapalhar a vida de um prefeito democrata, na cidade de Fort Lee. Por ali passa a ponte mais importante dos Estados Unidos, a George Washington, e os assessores de Christie usaram seu poder para fechar algumas das pistas sob a justificativa de estarem fazendo estudos viários. O objetivo era para complicar a vida da população e consequentemente do prefeito Mark Sokolich. Com o fechamento de duas pistas causou-se um engarrafamento de proporções colossais.

A troca de emails entre a subchefe de gabinete de Christie e o Diretor de Port Authority com o objetivo de causar o tumulto foi revelada. Bridget Anne Kelly, já exonerada esta manhã, fez o pedido para David Wildstein, que deixou o cargo em dezembro. Foi atendida. Wildstein é conhecido de adolescência de Christie e havia sido nomeado por ele. A troca de emails é vergonhosa. Eles chamam o prefeito de Fort Lee de "pequeno sérvio", quando na realidade ele é de origem croata. Um comentário preconceituoso e infantil, mas infelizmente comum para pessoas com muito poder e pouca cultura.

Depois de tudo, hoje assisti por inteiro a entrevista coletiva de Christie. Foram duas horas completas respondendo perguntas dos jornalistas. Ele saiu-se bem, como era esperado. Pediu desculpas, chamou a responsabilidade para si e disse ter sido traído. Os desdobramentos serão mais importantes. De qualquer forma, ele mostrou que soube, até o momento, responder bem aos acontecimentos.

As críticas já começaram. Este é o primeiro round. Christie enfrentará vários se deseja chegar a Casa Branca. As comparações com Nixon, por exemplo, já começaram. Mas a política é um jogo onde o Governador sabe mover-se muito bem. Aqui, ao contrário do Brasil, escândalos abalam reputações e ceifam proeminentes carreiras políticas. Christie levou o primeiro golpe. Até agora soube responder.

quarta-feira, janeiro 08, 2014

Líder Vacilante

Robert Gates é muito respeitado aqui em Washington. Ocupou a cadeira mais importante do Pentágono em duas administrações: Bush e Obama. Na verdade, dois governos que em tese seriam antagônicos e por fim possuem muitas semelhanças, tiveram no Secretário de Defesa uma linha de continuidade. Gates já deixou a administração Obama e traz em seu novo livro revelações interessantes sobre o processo decisório dentro da Casa Branca.

Obama perdeu a confiança em seu próprio plano para o Afeganistão, revela Gates. O Presidente não possuía a confiança no General Petraus, em Hamid Karzai e no seu próprio plano. O Secretário de Defesa mostra o democrata como um líder vacilante, que toma decisões sozinho e contraria muitos de seus assessores. A dificuldade de Obama lidar com o círculo de assessores é conhecido, mas duvidar das próprias decisões é uma novidade.

Gates mostra sua discordância com Joe Biden, o vice de Obama "em praticamente todos os assuntos envolvendo política externa nos últimos 40 anos". Percebemos que Gates se dobrou a política de Obama ou Biden não possui a menor relevância no desenho das políticas externas da Casa Branca atual. O mais provável é Biden ter ficado de lado, uma vez que as políticas de Obama e Bush se relacionam muito na área de defesa. Em muitos pontos Obama aprofundou políticas iniciadas na Era Bush, como as criticadas medidas de monitoramento de informações.

Por fim, Hillary Clinton é elogiada por Gates, que revela também bastidores de conversas entre a Secretária e Obama, especialmente sobre sua posição em relação aos conflitos externos. Entretanto, no geral ele elogia Hillary por sua postura e suas atitudes. Ambos foram aliados em muitos assuntos dentro da administração.

Gates é uma figura emblemática. É muito respeitado e suas opiniões têm peso. Hillary aparece muito bem e isso pode ajudá-la com um eleitorado mais de centro, mostrando suas qualidades decisórias e posição firme em períodos delicados. Obama aparece mal. Um retrato do momento. As pesquisas mostram que 53,6% desaprovam seu trabalho 63% acham que os Estados Unidos vai na direção errada.  O livro de Gates não ajuda Obama, mas não deixa de estar em sintonia com aquilo que pensam os americanos.

terça-feira, janeiro 07, 2014

Christie is back

O ano começou e Chris Christie continua seu trabalho de aproximação com os eleitores de centro e também com o eleitorado hispânico. Hoje ele assina o DREAM act que ajuda filhos de imigrantes ilegais que estiveram na High School a chegar ao College. Para boa parte conservadora do partido republicano, o Governador de New Jersey toma uma atitude temerária. Para os imigrantes, entretanto, é uma medida que faz diferença.

Christie lida com a realidade. De nada adianta criar obstáculos para a educação de imigrantes ilegais. Por mais que a sociedade se posicione contra estes imigrantes, eles são o motor de uma economia que gira. Os imigrantes ilegais pagam impostos como qualquer americano sem receber qualquer benefício. É a melhor fonte de renda que qualquer governo sonha. Gritar contra os imigrantes ilegais é um bonito coro, mas na realidade, ninguém quer se ver livre deles, tanto que o governo sabe onde eles estão e eles permanecem aí. O Governador de New Jersey toma uma atitude que lida com a realidade. De nada adianta deixar a educação dos imigrantes ilegais em segundo plano, pois se nada for feito, a conta será cobrada no futuro e o custo será alto.

Apesar de sofrer rejeição da ala mais conservadora do partido, Christie não irá se indispor com uma nova parcela dos republicanos. Aqueles que o atacarão, serão os mesmos que já o atacam e apoiam outros pré-candidatos, como o texano Ted Cruz, por exemplo. Christie ganha, ao contrário do que se imagina, uma penetração maior ainda no eleitorado de centro, aquele que realmente define uma eleição.

Dizem que ele pode sofrer rejeição em Iowa, primeiro território do debate eleitoral. Duvido. Romney, considerado um moderado, não venceu ali por muito pouco. Além disso, a base conservadora, com Cruz e Rick Santorum, deve se dividir. Marco Rubio pode se juntar aos pré-candidatos, assim como o libertário Rand Paul, o que deixa Christie como o único moderado na disputa. Ele pode se beneficiar disso.

Na verdade, o que seus oponentes enxergam como uma fraqueza, pode ser o grande trunfo de Christie. Ele sabe disso. O DREAM act é apenas mais um passo nessa trajetória.