segunda-feira, março 23, 2015

Temporal Político

Brasília. Final de outubro. O sol insistia em brilhar na capital federal. As nuvens tinham ficado para trás juntamente com uma campanha dura e disputada. Agora era hora de curtir o momento, planejar o governo seguinte e olhar para os próximos quatro anos. A batalha estava vencida. As nuvens tinham ficado para trás.

O novo período, entretanto, não anunciava um céu de brigadeiro. A briga por cargos começava a tomar forma e os ajustes, que não poderiam ser implementados durante a campanha, começavam a se impor. Algo precisava ser feito. Recolhida na solidão do poder, ela começava a traçar um intricado caminho. Diante de si o desafio de desviar das nuvens pesadas.

O sol estava pleno no começo do ano quando a faixa presidencial, recolocada em si mesma, repousou em seu corpo. O time escolhido não era o preferido, mas talvez acreditasse que o seu estilo gerencial pudesse dar rumo ao mosaico de forças que agora formava seu ministério. Na capital, o sol se impunha, mas a preocupação era a falta de chuva, especialmente em São Paulo.

Recolhida em uma dieta que lhe afinou a silhueta durante o mês de janeiro, seu ministro da Fazenda promovia o mesmo regime nas contas públicas, chegando inclusive além da gordura, atingindo os direitos trabalhistas. A lipoaspiração, contudo, não chegou na corrupção. O principal combustível da oposição vinha dos reajustes. O cardápio, como sempre, era vasto: energia, gasolina, insumos. Aumento de impostos, reajustes de alíquotas, corte de benefícios. Chovia em São Paulo. O alívio de um lado era preocupação de outro, já que algumas nuvens pesadas começavam a se formar em Brasília.

Na política, o cenário não era animador. Trovões vieram do outro lado da Praça dos Três Poderes quando o Planalto viu seu grande desafeto vencer a eleição para o comando da Câmara dos Deputados. A hostilidade e as trapalhadas palacianas seriam retribuídas. Enquanto isso, uma massa de ar quente se deslocava em avanço contínuo e firme para o Planalto Central. Vinha do Paraná.

No Planalto pairava uma massa de ar frio. Nada estava fora do lugar, mas a meteorologia ensina: o choque entre ambas causa nevoeiro, chuva e queda de temperatura. Foi o que vimos. Uma lista vinda de Curitiba e discutida no principal gabinete da República era o sinal claro disso. Mais uma trapalhada foi gestada com o vazamento de alguns nomes, o que causou ira no parlamento. Veio mais um troco. A terra tremeu e a garoa começou.

Os juros aumentaram, a bolsa despencou, o dólar disparou e os primeiros sinais de trovoadas começaram a ser ouvidos em nossa capital. É preciso lembrar que umidade e ar ascendente nem sempre formam tempestades. Para isso ocorrer, o ar precisa estar instável. No entanto, é exatamente o que começa a se formar hoje em Brasília, uma massa de ar instável e pesada, alimentada por uma economia cambaleante, um governo claudicante e um parlamento ferido.

No intuito de dissipar os relâmpagos, veio um pronunciamento diante da nação. Aquilo que acalmaria o tempo, trouxe ventos fortes que fizeram soar panelas e vaias. Pelo Brasil inteiro tempestades isoladas começaram a surgir. Um clima de instabilidade se disseminou e fortes chuvas de insatisfação popular devem tomar as principais cidades brasileiras no próximo domingo.

O céu de brigadeiro sumiu. Nuvens carregadas chegaram. A tempestade perfeita, a união de uma economia fraca e povo insatisfeito, somadas a uma crise de autoridade moral e governabilidade, começa a se formar, assim como foi visto em 1992. Naquela época, em meio a uma tempestade foi impedido um furacão. Dissipar estas nuvens pesadas é nosso dever. O Brasil mais uma vez está diante de tempos difíceis.

Publicado originalmente em: http://www.brasilpost.com.br/marcio-coimbra/temporal-politico_b_6844572.html

terça-feira, março 03, 2015

EUA: Republicanos preparam-se para a tentativa de retomada da Casa Branca

O salão Potomac começou a encher de uma hora para outra. Jovens entravam com suas camisetas vermelhas e seus cartazes. O vão central, destinado aos fotógrafos, foi pouco a pouco sendo tomado, pois não havia mais lugar para sentar. O público era diferente. Longe das gravatas borboletas, estes jovens eram mais jovens, apaixonados, dedicados e especialmente entusiasmados.

Vinha para o palco uma das sensações da política norte-americana no momento, o senador Rand Paul. Na noite anterior fui convidado para participar de uma reunião informal com ele e seus principais assessores e alguns apoiadores em um bar perto do hotel da convenção. Conversamos. Ele tem um jeito tranquilo, mas convicções fortes. Filho do ex-congressista Ron Paul, que também concorreu ao cargo de Presidente, assim como deve fazer o filho, Rand é um político diferente. Libertário por excelência e talvez por um influência do pai, é um tipo que paira acima de republicanos e democratas. "É aquele raro candidato que pode se transformar em uma força maior do que o partido", me disse o apoiador Allan Stevo, que em 2008 buscou uma cadeira na Câmara por Chicago. "Você também está aqui para trabalhar por Rand?", me perguntou o deputado Randy Weber, que assumiu a cadeira de Ron em Washington, quando o pai da novo fenômeno da política resolveu se aposentar. O clima ali era de entusiasmo completo.

A mesma força surgiu quando no dia seguinte ele entrou no palco de gravata, sem paletó, de calças jeans e mangas arregaçadas. Chegou batendo na regulação do Estado, um dos seus temas prediletos. Apontou contra o Obamacare e disparou: "Os americanos não podem ser obrigados a comprar um plano de saúde do governo". O auditório veio abaixo em aplausos. Logo após emendou mirando nos serviços de inteligência: "O que você fala e as informações que você troca pelo telefone são suas. Não é papel do governo bisbilhotar a sua vida". Os jovens gritavam: "President Paul! President Paul!". Quanto ao terrorismo islâmico, foi enfático: "Não podemos lutar contra o terrorismo esquecendo quem nós somos e os preceitos em que se baseiam esta nação". Foi o único, dentre todos que discursaram, que se preocupou com o fato de que a América não tem se parecido muito com o que os Pais Fundadores (Founding Fathers) imaginaram para o país. Ao final, ovacionado, disse: " Quero manter a Receita Federal (IRS) fora da vida cidadão e mais, vamos equilibrar o orçamento deste país em 5 anos". Como sempre, o auditório aplaudiu com raro entusiasmo.

O público somente lotou o auditório novamente neste dia para receber o ex-Governador da Flórida, Jeb Bush. Com menos entusiasmo, mas também com idéias novas que podem assustar os mais conservadores, Jeb defendeu os imigrantes, seu tema mais sensível, e mostrou que não fugirá do debate. Ele possui um raro conhecimento da máquina pública e como um dos participantes me confidenciou, "ele é o bom Bush". 

Diante do "bom Bush", outros defendem que a política norte-americana não pode estar presa a dois sobrenomes: "Se tivermos uma eleição entre Hillary Clinton e Jeb Bush, nos revezaremos entre duas famílias no poder desde 1992, com exceção do desastre que foi Barack Obama", me disse um dos participantes, que se classifica como "independente, com tendência a votar nos republicanos".

Jeb é realmente diferente de George. Suas idéias são mais transparentes, ele é mais moderado e preparado, logo, sofre com uma resistência maior nos setores mais conservadores do partido, onde seu irmão transitava com mais facilidade. Mesmo assim, entre algumas vaias, quando falou sobre imigração, Jeb conseguiu colher aplausos. Foi um primeiro passo.

Chegada ao final, a CPAC apresentou o resultado de sua pesquisa sobre quem era o seu nome preferido para a corrida presidencial de 2016: Mais uma vez deu Rand Paul, com 26%, seguido de Scott Walker com 21% e Ted Cruz com 12%. Jeb Bush veio em quinto lugar, com 8%, atrás de Ben Carson, com 11%.

Diante do que foi visto durante a cobertura do Diário do Poder (único representante da imprensa brasileira no evento) durante os três dias de conferência, há dentre os republicanos diversas opções de candidatos, dos mais conservadores aos mais libertários, mas uma certeza: depois de oito anos de Barack Obama, este partido não medirá esforços para recuperar a Casa Branca. Este é o caminho natural. Se em 2010 os republicanos retomaram a Câmara e em 2014 foi a vez do Senado, a tendência pode ser a resgate do endereço mais cobiçado de Washington, na avenida Pennsylvania 1600. Resta saber quem será o líder que conduzirá o partido neste processo. Está oficialmente aberta a temporada de apostas.

domingo, março 01, 2015

EUA: Republicanos miram nos Democratas

Muitos confundem a cor branca com paz. A neve que cobriu as imediações do hotel onde os conservadores norte-americanos se encontram nestes dias poderia sugerir este cenário. Mas dentro do salão Potomac, a cor vermelha do cenário se confundia com uma platéia incendiada pelas palavras de políticos que miravam em Obama. O Presidente é um alvo fácil, impopular e sem apoio no Congresso. O partido democrata, um demônio que derrete as esperanças do americanos. Os republicanos, aqueles que podem resgatar os verdadeiros valores de liberdade e segurança nacional. Esta é a mensagem da Conferência de Ação Política Conservadora.

Talvez contagiado pelo calor conservador que emana dos jovens que assistem ao encontro dos republicanos, todos rapazes com os cabelos bem cortados, barbas feitas e moças bem vestidas e perfumadas, o antigo Presidente da Câmara, Newt Gingrich usava uma gravata vermelha. O republicano, que tentou a indicação do partido em 2012, mirou em seu adversário preferido, o ex-Presidente Bill Clinton: "O que podemos esperar de um homem que senta com ditadores no intuito de arrecadar doações de milhões de dólares para sua fundação?". Ele foi além: "É preciso realizar uma auditoria nesta fundação, que gasta com iates, viagens e mansões. Esta fundação precisa mostrar de onde vem cada centavo que arrecada". O alvo certamente não foi Bill, mas Hillary, que deve enfrentar um republicano na corrida presidencial.

O sangue latino também corre nas veias conservadoras. Sentimos isso quando Marco Rubio, de gravata azul, chega no recinto. O salão encheu para ouvir o Senador pela Flórida e uma das grandes esperanças republicanas de resgatar o voto de uma minoria que hoje apóia largamente os democratas. Mas a gravata azul de Rubio não esfriou o local, muito pelo contrário: "A América é excepcional. Nós sabemos e o mundo sabe disso". O público foi ao delírio. Logo depois virou seu discurso para a política externa de Obama: "que trata o aiatolá do Irã melhor do que o Primeiro Ministro de Israel". Os aplausos devem ter sido ouvidos em Tel Aviv. Terminou de forma enfática: "Nossos aliados não confiam em nós. Nossos inimigos não nos temem". Uma clara referência aos europeus e Putin. 

Enquanto Rubio deixava o palco ovacionado, Rick Perry preparava-se para entrar. Se houve um encontro entre ambos nos bastidores, certamente o homem que governou o Texas por 15 anos agradeceu ao jovem Senador. A platéia estava aquecida e a neve e gelo lá de fora talvez já tivessem virado água. "Nós não começamos esta guerra, mas nós vamos terminá-la", vaticinou o texano sobre o terrorismo islâmico. Terminou dizendo que "os melhores dias da América estão logo adiante", fazendo referência ao excepcionalismo norte-americano, mas sempre lembrando que o futuro do país abençoado por Deus está em jogo.

Mas não foi Rubio ou Perry que receberam a maior salva de palmas quando o auditório aplaudia os nomes dos prováveis candidatos presidenciais na voz do âncora conservador de televisão Sean Hannity. A turma preferiu Ted Cruz e Rand Paul, que deve colocar o auditório em combustão ainda hoje.


*Texto é parte integrante da cobertura da CPAC 2015 exclusiva para o Diário do Poder pelo corresponde político Márcio Coimbra.
Publicado originalmente em: http://diariodopoder.com.br/noticia.php?i=27609747648