sexta-feira, julho 31, 2009

“Não votei no Sarney nem para senador”

As suspeitas de que o governo Lula esteja jogando contra José Sarney são cada vez maiores. Como já disse aqui, a estratégia do "bate e assobra" funcionou até o momento, mas as reais intenções por trás de tudo isso pode estar começando a se confirmar.

Orientado por pesquisas internas a se descolar de José Sarney, que carrega a crise em seu colo, Lula cada vez mais se afasta do ex-Presidente. Primeiro delegou a função de defesa aos assessores, agora, em outro momento, já diz que nada tem a ver com isso. Medo de contaminar o governo e a candidatura Dilma?

Pode ser. Mas de onde surgem as denúncias que cada vez mais encurralam o senador Sarney e outros tantos em diversos casos de repercussão? Enquanto o ministro da Justiça Tarso Genro acusa advogados, o Presidente do STF, Gilmar Mendes, acusou a própria Polícia Federal, subordinada ao Ministério da Justiça e a Tarso Genro, de vazar informações sigilosas de inquéritos de acordo com interesses políticos. As gravações envolvendo Sarney foram foram realizados pela Polícia Federal durante a operação Boi Barrica.

Talvez a mesma mão que afague Sarney, seja a mesma que trabalhe contra ele. Resta saber o desfecho dessa história. Se realmente se confirmar uma manobra interna do governo para derrubar Sarney, o apoio do PMDB a Dilma pode ruir, assim como suas chances de ocupar o Planalto do Planalto no lugar de Lula. Um grande erro político pode estar sendo gestado.

quinta-feira, julho 30, 2009

ETA de novo

Um dia após o brutal ataque terrorista em Burgos, o ETA provocou mais um atentado com as mesmas características, carro-bomba e como alvo membros da Guarda Civil espanhola. O alvo desta vez foram as Ilhas Baleares, em Mallorca, no charmoso e tranquilo balneário de Palmanova. Dois guardas, Diego Salvá, 27, e Carlos Sáenz de Tejada, 28, faleceram na explosão.

Alguns dizem que os atentados mostram uma desesperada necessidade de o ETA mostrar que ainda está vivo. Não acredito completamente nesta tese. O ETA está vivo e agindo, de forma coordenada e brutal, como sempre.

A Espanha segue em alerta, pois depois de dois atentados em dois dias, é preciso ter cautela, pois esta é a semana de aniversário de 50 anos do ETA e certamente os terroristas buscam marcar a data provocando uma série de atentados. Em Madri, onde presume-se que estevam os principais alvos, o alerta é total.

O requinte de crueldade do atentado de Palmanova, a poucos metros da residência do Rei Juan Carlos, que chega ao balneário entre hoje e amanhã, foi ter sido realizado por dispositivo remoto, ou seja, os terroristas esperaram os guardas entrar no carro para acionar o dispositivo. Suspeita-se que os etarras ainda estejam na ilha, que fechou portos e aeroportos na operação "Jaula", que tem o objetivo de capturar os terroristas.

quarta-feira, julho 29, 2009

ETA ataca novamente

Atentados terroristas são ações covardes. Quando vivi na Espanha presenciei os resultados das brutalidades cometidas pelo ETA e o sofrimento das famílias destruídas. Desarticular essas redes criminosas é uma obrigação dos governos nacionais, em especial do espanhol. O ETA mais uma vez não perdoou e dois dias antes de completar 50 anos, cometeu um atentado que poderia ter alcançado proporções ainda mais sinistras. Por sorte o resultado não foi o esperado pelos terroristas.

O ETA atacou o quartel-residência da Guarda Civil espanhola, na bela cidade de Burgos, no norte da Espanha. O furgão-bomba usava placas usadas por um carro de um dos vizinhos, o que enganou a polícia, que havia desconfiado do veículo horas antes da explosão.

Foram usados entre 200 e 300kg de explosivos e o atentado abriu um buraco de sete por dois metros e destruiu parcialmente sete dos 14 andares do prédio-residência.

Este é o resultado da política de leniência do governo Zapatero, que por ser ineficaz, deixa espaço para que o ETA manobre com facilidade e prepare seus atentados. Depois de roubar dois litros de nitrometano em 2007, o grupo vem experimentado atentados com o uso de amonitol, com efeitos muito mais fortes do que os explosivos usados em ações anteriores. Suspeita-se que tenha sido o explosivo usado em Burgos.

Felizmente o atentado não deixou vítimas fatais, mas os feridos passam de 60. As férias evitaram um dano maior. Já está na hora de governo espanhol pesar a mão contra o ETA. Se não o fizer, o grupo continuará se rearmando, reagrupando e recuperando sua força, que ficou debilitada depois do duro combate imposto pelo governo Aznar.

terça-feira, julho 28, 2009

Sotomayor quase lá

Obama caminha tranquilamente para a confirmação de Sonia Sotomayor para a Suprema Corte.

A primeira batalha ela já havia vencido, a mais delicada, quando sua vida foi investigada a fundo. Restou aos que se opunham a sua candidatra a pressão natural de uma bancada em desvantagem.

Os Republicanos colocaram em ação os meios possíveis, acionando todo seu grassroots, de think-tanks, do-tanks e até associações, como a NRA. Não foi suficiente, pelo menos no comitê do Congresso resposável pela sabatina. Mesmo acusada de ser mais ativista do que juíza, Sotomayor soube ser política e evitar polêmicas, sabendo transitar pelos parlamentares de Washington.

A votação foi tranquila. 12 votos a favor. Os Republicanos preferiram o silêncio, em bloco, com a exceção de Lindsey Graham, que votou a favor da confirmação de Sotomayor.

Agora é no plenário. Mas mesmo se os Republicanos se unirem, chegarão apenas a 40 votos. Os independentes podem desequilibrar o páreo, mas tendem a votar com a indicada de Obama.

E que o Presidente aproveite a farta maioria no Congresso. As eleições de meio de mandato podem mudar completamente a cara de Washington. E Obama não gostará nada disso.

Por enquanto é só esperar a inevitável confirmação de Sotomayor.

segunda-feira, julho 27, 2009

Dos dois lados

É onde está o PT no episódio José Sarney. Explico.

Enquanto o presidente Lula afaga e defende o senador Sarney, o senador Mercadante divulga nota posicionando a bancada do PT de lado contrário. A estratégia está bem montada, mas é perigosa.

Sabe-se que o episódio José Sarney pode gerar desgastes para o governo e para candidatura Dilma. A estratégia é segurar o PMDB, como já disse aqui, para que assim mantenha-se no barco de apoio de Dilma e no apoio ao governo, ajudando a sepultar aqui e ali incômodos como a CPI da Petrobrás.

O PT não quer ficar vendido nessa história, confundindo-se com o fisiologismo do PMDB, portanto, Mercadante procura transmitir independência de sua bancada em relação a questão Sarney, mesmo sabendo que se algo der errado, os senadores petistas serão protagonistas de uma "operação abafa". Joga para torcida.

Lula já sentiu que os ventos da crise podem chegar ao Planalto. Assim sairá da linha frente de defesa de Sarney e passará a operação aos articuladores políticos. Evita desgates.

Assim, contra ou a favor de Sarney, bem dosado, o petismo achou um ponto de equilíbrio. Entretanto, a linha é tênue. A pressão que Sarney vem sofrendo não pode ser considerada normal se levarmos em conta que a tranquilidade de Lula depende da dele. Avaliar o real comprometimento dos aliados é fundamental, de ambos lados.

quinta-feira, julho 23, 2009

Movimentações Diplomáticas

Na esteira do que comentamos ontem, confirma-se a postura ativa da administração Obama em relação ao Oriente Médio. Se ontem era Erdogan que estava em Damasco, amanhã a capital síria prepara-se para mais uma visita do enviado norte-americano George Mitchel.

Ele já está na região, em Abu Dhabi, conforme o Departamento de Estado. De lá segue para Damasco e no domingo estará em Israel. Antes de voltar a Washington deve passar pelo Egito e Barein. Segundo o governo americano, a viagem a Damasco tem o objetivo de "ver o que os sírios estão preparados para fazer para impulsionar um processo integral", no que tange a relação destes com Israel. Mas sabemos que a visita de Mitchel vai muito além disto, especialmente depois da visita do Primeiro-Ministro turco nesta semana. A conferir.

Vale também um comentário sobre outra movimentação diplomática de Obama, nos antigos satélites comunistas Ucrânia e Geórgia, que possuem relações tensas com Moscou. O vice de Obama, Biden, que esteve em Kiev e Tbilisi, declarou apoio ao ingresso dos dois países na Otan, o que desagrada o Kremlin e disse que Washington não admite a independência das regiões separatistas georgianas Ossétia do Sul e Abkházia, ao contrário de Moscou.

A região é sensível e Biden tocou em assuntos delicados. Resta saber o que Obama combinou com Medvedev em sua recente visita a Moscou.

quarta-feira, julho 22, 2009

Erdogan, o facilitador

Já falei aqui da importância estratégica da Síria no tabuleiro político do Oriente Médio. Falei também da aproximação de Obama com Bashar al-Assad, que já recebeu diversos emissários de Washington nos últimos meses.

Se a estratégia está correta e se a Síria seria um aliado confiável é outra história. Temos que nos ater aos fatos.

Hoje, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, viajou até Damasco acompanhado de seu ministro das relações exteriores, Ahmet Davutoglu. O objetivo é a retomada das conversações de paz entre Síria e Israel.

O fato não seria inteiramente curioso, uma vez que o governo de Ancara já foi intermediador de negociações entre os dois países ainda em 2006. O curioso é quem permeia a iniciatica turca, ninguém menos que os Estados Unidos.

Semana passada um enviado norte-americano, Fred Hoff, esteve na Síria e em Israel e não voltou a Washington sem antes solicitar uma ajuda para a Turquia, parceiro estratégico dos americanos na região há tempos.

A Turquia, apesar de laica, é governada por um partido nascido das ruínas do antigos grupos políticos pró-islâmicos. Erdogan, que se oferece como ponte entre Israel e Síria, é muçulmano e apesar de a Turquia ser o primeiro país de maioria muçulmana a reconhecer o Estado de Israel, as relações estremeceram desde que Erdogan discutiu com o Presidente Shimon Peres no Fórum Econômico Mundial e retirou-se da sala em protesto. Esta seria uma grande chance para Erdogan mostrar sua habilidade política, reaproximar-se de Israel e mostra-se pragmático para uma Europa extremamente cética em relação aos rumos políticos na Turquia.

terça-feira, julho 21, 2009

A Popularidada de Obama

Coisas da política. Seis meses já passaram desde a posse de Barack Obama como Presidente dos Estados Unidos. Sua popularidade é de 55%, similar ao número de George W. Bush com seis meses de mandato, que ostentava 56%.

Os números mostram que a popularidade de Barack Obama aos poucos encontra seu ponto de equilíbrio. Ele mostrou a que veio, seja na política internacional, questões domésticas ou mesmo econômicas e os americanos já sentiram o fio condutor de suas políticas para o país.

Se olharmos os números dos vários institutos mais a fundo percebe-se que o Presidente ainda usa seu charme pessoal para segurar sua popularidade. Isto fica claro quando vemos que as políticas domésticas de seu governo, aquelas que mais interessam aos eleitores, sofrem sérios questionamentos. A economia ainda é o ponto mais sensível, acompanhada pela batalha pessoal de Obama em reformar o sistema de saúde, medida questionada por 50% dos americanos. Sua personalidade, contudo, alcança robustos 65% de populariade, o que não é pouco para os Estados Unidos.

Ainda existem muitos anos pela frente, assim como uma larga agenda de reformas prometidas. Obama deve aproveitar ao máximo os dois primeiros anos de mandato, até as eleições legislativas de 2010, que pode mudar a cara do Congresso e forçar a agenda do Presidente para léguas aquém de onde ele imaginava chegar. Até lá, espera-se que seu charme pessoal esteja afiado para tocar uma agenda de reformas profunda, como prometeu em campanha.

segunda-feira, julho 20, 2009

Fujimori condenado. Keiko lidera pesquisas no Peru

Fujimori recebeu a terceira condenação desde que voltou ao Peru, há dois anos, diretamente remetido do Chile, onde chegou em 2005.

A condenação de 7 anos e meio de prisão nada altera a vida do ex-Presidente. Ele já cumpre pena de 25 anos. Disse ele que reconhece os fatos, aceita parcialmente as acusações, mas que não aceita a responsabilidade criminal.

Enquanto o judiciário discute as penas de Fujimori, que presidiu o Peru entre 1990 e 2000, sua filha e herdeira política, Keiko, segue como franca favorita nas pequisas para a eleição presidencial de 2011.

Não pensem que apoio a Fujimori é tímido. Pude constatar pessoalmente isto quando estive no Peru. Por todo o país ele é extremamente popular e reconhecido por muitos como um político de atitude, que além de arrumar a economia, acabou com o Sendero Luminoso (seu líder, Abimael Guzmán, está preso até hoje) e o Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA).

A possível (e provável?) vitória de Keiko Fujimori em 2011 pode mudar substancialmente o andar dos acontecimentos. Vejam o sorriso do ex-Presidente.

quinta-feira, julho 16, 2009

Sobre Pizzas e Pizzaiolos

Mais uma vez o Presidente Lula colocou sua língua afiada para funcionar e atacou o Congresso Nacional, afirmando que todos os senadores eram bons pizzaiolos, atacando a CPI da Petrobrás, que em suas palavras, é coisa de “quem quer fazer Carnaval”.

Esqueceu que quando estava na oposição o PT era agitador de CPI's, e que talvez tivesse o intuito só fazer Carnaval também lá no passado. Mas algo não mudou, a capacidade de atacar as instituições. Chamar os senadores de pizzaiolos é desrespeitar o Senado, e por consequência o Poder Legislativo.

A atitude recorrente de desacreditar as instituições é um forte golpe na democracia. Por certo existem parlamentares que servem a qualquer governo, a qualquer custo, sem preocupação ideológica, entretanto é errado generalizar e atacar um outro poder da República, sob pena de colocar em risco a própria República.

Não faltarão aqueles inocentes úteis, como o senador Cristóvam Buarque, que já sugeriu em seus devaneios um plebiscito sobre o fim do Congresso e ainda disse que o nome disso não seria golpe, se assim o povo desejasse. Depois ele voltou atrás, mas já era tarde e o estrago estava feito. Pelo menos no epsidódio dos pizzaiolos, Buarque está se redimindo da lambança anterior, requerendo um voto de censura do Senado ao Presidente da República.

É bom lembrar que no governo do Presidente Lula não faltaram escandâlados de toda a ordem que se pode imaginar, troca de favores e alianças com aqueles que o petismo sempre atacou. Nunca um governo foi tão hábil em tornar o Congresso um ente tão servil aos seus interesses. O problema é saber a que custo, que poder ser um dia a falta de um Parlamento, ou a transformação do mesmo em um fantoche manobrado pelo Executivo. Talvez falte menos do que imaginamos.

quarta-feira, julho 15, 2009

O Suplente do Suplente

A tropa de choque liderada por Renan Calheiros conseguiu mais uma vitória, a confirmação do senador Paulo Duque, do Rio de Janeiro, para chefiar o Conselho de Ética.

Paulo Duque é suplente do suplente de Sérgio Cabral, atual governador do Rio, e chegou ao Senado da mesma forma que o presidente da CPI da Petrobrás, o suplente, agora senador (petista) João Pedro, ou seja, sem sequer um voto. Uma daquelas distorções bisonhas que só a política brasileira consegue produzir de forma bem acabada.

A eleição de Duque (um dos dois suplentes da foto, o outro é João Pedro) para chefiar o Conselho de Ética foi tranquilo. Candidato único, obteve 10 dos 15 votos. Houve ainda uma abstenção e quatro votos em branco da oposição, que se negou a votar em Duque.

Sua missão? Defender todos os membros da tropa de choque do PMDB, e se o acordo for bem amarrado, dar uma ajudinha ao governo petista também. Duque é o homem de Renan Calheiros no Conselho. E o novo Presidente já avisou a que veio em apenas uma declaração: "José Sarney é um homem que prestou muitos serviços ao país. Ficar vasculhando a vida dele é uma bobagem".

É isso aí. Por essas e outras que o jornalista Augusto Nunes lhe conferiu o curioso apelido de "Velhinho Moleque".

terça-feira, julho 14, 2009

PetroCPI "Chapa Branca"

Depois de idas e vindas, a CPI da Petrobrás foi instalada. E a maioria governista é avassaladora, abriga 8 dos 11 integrantes.

As chances de a CPI não dar em coisa alguma é grande, mas sempre existe a possibilidade de o governo se complicar. Mas isso será difícil, pois o consórcio governista PT/PMDB divide o comando e o destino das verbas da estatal. Cada um defenderá os seus, e ambos podem se ajudar.

Na oposição segue a esperança que, de uma forma ou de outra, alguma denúncia possa gerar embaraço e atingir cardeais do governo petista, especialmente Dilma Rousseff, conselheira da Petrobrás. Isto se a CPI "pegar" e tiver força até o fim dos seus dias, prevista para fevereiro. Se a coisa pegar fogo, e a oposição colher apoios, os trabalhos podem ser prorrogados até agosto do ano eleitoral, 2010. Este seria o cenário de sonhos de oposição.

Certos de que isso pode acontecer, a tropa de choque de Lula já mira na administração FHC, com o objetivo de desviar as atenções e intimidar tucanos e democratas. Estratégia esta que pode se revelar equivocada, uma vez que a parcela do PMDB que apóia Lula hoje, também apoiou FHC. Se Lula pensa em atingí-los, pode detonar sua própria frágil base no Senado.

Mas ao fim e ao cabo não podemos esperar muito de uma CPI presidida por João Pedro (PT-AM), suplente do atual ministro dos Transportes de Lula, Marcelo Crivella (PRB-RJ) como vice e o polivalente Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo Lula, membro da tropa de choque de Sarney e antigo líder de FHC na Casa, para relator.

segunda-feira, julho 13, 2009

Taro Aso antecipa eleições no Japão

Tudo indica que mais um Primeiro-Ministro japonês deve deixar o cargo. Desta vez é Taro Aso, com a popularidade na lona, beirando os 20%. E isto pode jogar seu tradicional partido em uma crise profunda.

Entretanto não foi somente sua popularidade em queda livre que indica o ocaso de seu governo, mas a vitória do partido rival (PDJ) nas eleições municipais deste final de semana. O Partido de Aso perdeu uma hegemonia de 40 anos em Tóquio. Foi um golpe brutal.

Sua manobra política foi antecipar as eleições gerais, previstas inicialmente em outubro, para o dia 30 de agosto. Para isso, Taro Aso deve dissolver o Parlamento nos próximos dias, por volta do dia 21 de julho. Um erro político? Talvez. Mas se mantivesse seu gabinete no poder durantes os próximos meses, sua popularidade cairia ainda mais. Já, antecipando o pleito, retira do foco o desgaste de seu governo e o traz para o debate político propriamente dito.

Desde que o habilidoso Junichiro Koizumi deixou o poder, em 2006, parece que o Partido Liberal Democrático, que controla o governo japonês há 50 anos, não encontrou equilibrio. Depois de Koizumi veio Shinzo Abe, Yasuo Fukuda e por fim Taro Aso.

O PLD precisa de forma urgente de outro Koizumi, ou de uma vez por todas, virar a página e renovar suas lideranças. Mas este é um assunto muito delicado dentro de um partido praticamente monopolista que já confunde-se com o próprio Estado. Talvez o alerta vindo de Tóquio e a possibilidade real de perder as eleições gerais leve o PLD a discutir de forma profunda essas questões.

quinta-feira, julho 09, 2009

A Questão de Honduras

As questões que rondam a situação em Honduras são delicadas e por isso devem ser analisadas com atenção. Aos olhos dos mais afoitos, aquilo que foi classificado de golpe, com a saída de Manuel Zelaya do poder, pode representar exatamente o oposto.

Explico. Zelaya afrontou as instituições. Uma democracia não é feita de homens corajosos, mas de instituições fortes. Zelaya buscava miná-las, assim como fizeram outros presidentes latino-americanos, como Chávez, Correa, Morales, entre outros. Tentou-se, como no resto da América Latina, distorcer a noção de democracia como forma corrempê-la e atacá-la por dentro.

Quais países resistem aos movimentos populistas que modificam a lei com o intuito de se perpetuar no poder? Exatamente aqueles que possuem instituições fortes que se sobrepõe aos homens. Sempre disse que em um país sério, leis são mais fortes que os homens e quando ocorre o contrário, estamos observando os instantes finais de uma democracia.

Zelaya afrontou a Constituição, foi advertido pela Suprema Corte e pelo Congresso. Mesmo assim resolveu ir adiante com seus devaneios populistas que visavam mudar a Constituição para que pudesse se perpetuar no poder. As instituições foram mais fortes. Ele foi removido de seu posto.

Podemos nos perguntar de que lado está o povo? Do lado da Lei, apoiando seu poder judiciário, seu Congresso. Isto é o mais admirável. Nem sempre projetos de pseudo-ditadores de plantão conseguem seus objetivos.

Honduras mostrou que pelo menos em algum lugar da América Latina, quem realmente manda é o povo, que fala por meio de suas instituições.

quarta-feira, julho 08, 2009

Irã anuncia libertação de 100 detidos

O Irã anunciou que nos próximos dias libertará mais 100 detidos durante os confrontos pós-eleitorais.

Parece muito? É pouco. Estima-se que mais de 2.500 pessoas foram detidas no país, entre intelectuais, políticos, jornalistas e acadêmicos, inclusive estrangeiros. Sem falar nas mortes. O governo fala em 1.032 detenções e alega que 2/3 já foram libertados. Acho difícil acreditar na versão governista.

Entre os iranianos presos, ainda encontra-se, por exemplo, o ex-vice-presidente Mohammad Ali Abtahi e outros aliados do ex-presidente reformista Mohamad Khatami.

Estima-se que mais de 1.000 pessoas ainda estejam presas, mas acredito que este número pode ser maior.

O crime dessas pessoas, no caso dos jornalistas, foi noticiar os tumultos e manifestações ocorridas quando anunciada a vitória de Ahmadinejad com folga. O crime dos iranianos foi protestar contra uma clara fraude, onde em vários lugares foram computados mais votos que eleitores, todos em favor do vitorioso.

Agora, aos poucos, o regime, que se fechou e prendeu milhares de pessoas, começa, a conta gotas, a liberar seus detidos.

Tudo isso manter o poder e o regime fechado. Não há democracia que resista quando a fraude pauta uma eleição como a iraniana. Lamentável.

terça-feira, julho 07, 2009

Uigures enfrentam a China em Xinjiang

Se já é difícil obter informações confiáveis sobre a China, imagine sobre a região de Xinjiang, que fica no noroeste do país, onde a imprensa é controlada e a presença de jornalistas estrangeiros ostensivamente monitorada.

Esta região chama a atenção nos últimos dias pelo onda de protestos de uigures, muçulmanos que tradicionalmente sempre habitaram a região.

Assim como outras regiões da China, como o Tibete, Xinjiang tem pouco a ver com a cultura chinesa. Sua proximidade, étnica, cultural, religiosa e sua língua estão intimamente mais ligados a Ásia Central. Mas mesmo assim, da mesma forma brutal com que o Tibete foi ocupado, saqueado e anexado à China comunista, a região de Xinjiang passou a fazer parte do país em 1949.

Assim como no Tibete, um crime se perpetua na região, a limpeza étnica, e aí está o cerne da crise. A China vem tentando "limpar" o território de uigures incentivando a migração em massa de pessoas da etnia han para o local. Resultado: 40% da população em Xinjiang já é da etnia han e na capital já são maioria. A China fomenta uma situação que, além de criminosa, cria uma situação delicada para o futuro da região.

Como em qualquer regime comunista, as pessoas tem medo de falar, neste caso os uigures, mas por mais que a China, que fomenta uma situação de conflito, reprima as manifestações, o vulto das 150 mortes (dados oficiais) nos últimos dias chamaram a atenção do mundo.

Vale lembrar que os uigures conseguiram, nesses dias, realizar a maior manifestação popular contra o governo comunista ditatorial chinês em 20 anos.

Em Xinjiang, os uigures não se consideram chineses. Talvez porque realmente não o sejam. O mundo precisa ficar atento às atrocidades cometidas em lugares como Xinjiang e o Tibete.

segunda-feira, julho 06, 2009

PRI ressurge no México

Quem achava que um terceiro lugar nas últimas eleições presidenciais sepultava a força política do tradicional PRI mexicano, estava redondamente enganado. As eleições parlamentares foram a arena para o antigo partido mostrar sua nova musculatura e envergadura política.

O PRI governou o México por 71 anos, até a vitória de Vicente Fox, que trouxe o PAN ao poder, em 2000. O partido de Fox seguiu no poder com a vitória de Felipe Calderón frente ao candidado do PRD, López Obrador, que havia se tornado a segunda força política do país. Ao PRI estava relegado o terceiro lugar.

Mesmo como o fiel da balança no jogo parlamentar, o PRI ainda não era protagonista. Agora tudo adquiriu um novo contorno. Com a vitória do PRI, e suas 233 das 500 cadeiras no Parlamento, o jogo muda.

Tudo ainda se torna mais dramático para o PAN ao ver que sua força política não chega a 1/3 do Parlamento, necessário para manter os vetos presidenciais. Isto torna o governo Calderón mais refém do PRI do que se possa imaginar.

É certo que as eleições em meio de mandato no México não atraem muito os eleitores. Apenas 43,7% compareceram e 5,97% anularam seu voto. Mas não se enganem, apesar destes números está claro que a máquina partidária priista, construída ao longo de 71 anos, está ativa. O PRI agora é a maior força política do México, de novo, e mira em 2012.

sexta-feira, julho 03, 2009

E o PMDB enquadrou Lula

"Lula é refém do PMDB porque quer". As palavras do líder tucano Arthur Virgílio ecoam uma verdade que não quer calar no meio político. Lula tornou seu governo dependente do PMDB porque assim desejou.

No início do governo, ainda em 2003, muitos petistas eram contra a aliança com o PMDB, mas os tempos mudaram, surgiram os escândalos, o mensalão e aos poucos Lula percebeu a comodidade de ser aliado do partido.

Mas a comodidade custa caro. O PMDB cobra uma alta fatura por seu apoio. Lula está disposto a pagá-la, mediante o loteamento dos Ministérios pela várias correntes do partido que o apoiam.

FHC, neste quesito, foi mais hábil (até porque tinha um claro projeto político social-democrata para o País), ou seja, sabia lidar melhor com este tipo de situação. O ex-Presidente blindou áreas chave do governo, como educação, saúde, economia e para barganhar apoio do PMDB (sim, ninguém governa o Brasil sem seu apoio), entregou ao partido pastas como Integração Nacional e Transportes, suficientes para abrandar a sede voraz do partido. Assim não faltou apoio no Congresso. FHC conseguia manter o PMDB sob controle. Sob a batuta de Lula, sem limites, o partido encontrou o paraíso. Esta, infelizmente, é a triste história de como opera o Presidencialismo Parlamentar brasileiro.

Lula não se preocupou em blindar área alguma a não ser a economia, que deu continuidade a política de FHC. Ao contrário, buscou um contato direto com o eleitor, ultrapassando a barreira partidária, mediante a distribuição de dinheiro via Bolsa-Família. Assim, conseguiu mudar, especialmente nos grotões a lógica política anterior.

Aos políticos que comandam grotões, como Sarney, que apoiam Lula hoje, todo é cuidado é pouco. A lógica imposta pelo Bolsa-Família no jogo eleitoral pode jogar sua fonte de votos, e logo depois sua fonte de poder, em segundo plano.

Mas enquanto isto não acontece, o PMDB ainda é o fiel da balança e Lula depende de seu apoio para governar. O PMDB é o sócio que dá sustentação ao governo, garante a governabilidade, bloqueia CPI's, impede investigações e dá tranquilidade ao Planalto para seguir adiante. Quem imaginaria que os cardeais da interlocução política de um governo Lula (que se elegeu calcado na bandeira da ética) no Congresso, seria realizada por Gim Argelo e Romero Jucá ?

A fatura é cara, mas Lula está disposto a pagá-la, ainda mais se for para eleger Dilma e preparar sua volta em 2014. Assim, Lula foi enquadrado esta semana pelo PMDB e o será quantas vezes for necessário. É o preço e o caminho que o Presidente decidiu trilhar.

quinta-feira, julho 02, 2009

E Lula enquadrou o PT

Como disse anteriormente, Sarney é um aliado do qual Lula não pode prescindir, portanto, operou para que ele fique onde está.

Sarney ofereceu a fatura de sua renúncia a Dilma. Sim, renúncia, o ex-Presidente não pedirá licença do cargo. A ministra da Casa Civil entendeu o recado. Há muito em jogo e Sarney é o fiel da balança que assegura apoio do PMDB para sua candidatura presidencial e para a estabilidade do governo no Senado, vide CPI da Petrobrás.

Assim, o PT, que num arroubo ético, havia tomado posição pelo afastamento de Sarney, subitamente mudou de opinião e passou a defender sua permanência. Missão dolorosa dada por Lula a Mercadante. Afinal de contas, manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Em caso de renúncia de Sarney (sim, ainda cogita-se essa possibilidade), os nomes que circulam pelo Congresso como seus prováveis sucessores (oriundos do PMDB) seriam: Romero Jucá, Hélio Costa, Edison Lobão ou, em último caso, Garibaldi Alves (sim, ele de novo).

Enquanto isso, a tropa de choque de Sarney continua trabalhando por sua manutenção no cargo: Renan Calheiros, Jáder Barbalho, Gim Argello e Wellington Salgado. Agora com o apoio dos cardeais do PT liderados por Mercadante, Ideli e Berzoini.

Confesso que bom mesmo seria ver Simon presidindo o Senado, mas preferências todos podemos ter. Na verdade mesmo, o governo não pode abrir mão de ter Sarney capitaneando o Senado. No máximo, em caso remoto de concretização da renúncia, alguém intimamente ligado a Sarney deve ocupar seu lugar e o PT sabe que o preço a pagar por esta manobra seria alto demais.

Resta saber quanto o PT está disposto a barganhar pelo apoio do PMDB à candidatura Dilma. Isto é só o começo.