terça-feira, maio 28, 2013

Lobo Francês

Lobos solitários que geram uma escalada de terror em seqüência. Primeiro os irmãos Tsarnaev em Boston, depois o ataque ao soldado em Londres e agora, logo depois, um novo ataque a um soldado, desta vez em Paris. O fio condutor é o mesmo: radicalismo islâmico.

A França, dentre todos os países citados, é o mais vulnerável. Com uma população muçulmana estimada entre 5 e 6 milhões de pessoas, na sua maioria dependentes da ajuda do Estado, existe um barril de pólvora que pode entrar em combustão a qualquer momento. O ataque em La Défense é apenas mais um capítulo de uma história que começa a se tornar perigosa.

O perigo vem no sentindo de que cada um destes ataques motiva o próximo. Nenhum deles é altamente planejado ou possui por trás a estrutura de uma organização terrorista. Geralmente é operada por jovens, convertidos ao radicalismo islâmico já adultos e reféns da crença de que podem se tornar mártires apenas empunhando uma faca, revólver ou panela de pressão cheia de pregos e explosivos.

A França mexeu em um vespeiro quando passou a combater militantes da Al Qaeda no Mali. O problema é meter-se em um conflito deste tipo quando existem 6 milhões de muçulmanos em casa, muitos deles radicais e detentores de passaportes franceses, com livre circulação por toda Europa. A vulnerabilidade francesa torna-se também uma vulnerabilidade para todos os vizinhos europeus.

No momento, o que radicalismo islâmico precisa, a França tem a oferecer: Um Estado que combate a Al-Qaeda e imigrantes muçulmanos vivendo em guetos dependendo do Estado com passaportes franceses. O elemento detonador, ou seja, uma garagem usada como mesquita de pregação radical é o combustível necessário para esses tristes tipos de ataques que temos visto.


segunda-feira, maio 27, 2013

Perdão, Africanos

E o Brasil mais vez perdoa dívidas de países africanos. Uma política que começou durante o governo Lula seguiu o mesmo rumo na administração Dilma. Desta vez foram 900 milhões de dólares em perdões e renegociações, mas na sua maioria, perdão de dívidas africanas com o Brasil. Congo-Brazaville, Tanzânia e Zâmbia tiveram as maiores boladas perdoadas, mas o saco de bondades dos brasileiros se estendeu por mais nove países.

Existem dois vetores estratégicos destes perdões. O primeiro deles é tornar o Brasil uma "nação amiga" da África, obtendo apoio maciço dos países deste continente em fóruns internacionais. O Brasil galga, aos poucos, uma estratégia dentro das Nações Unidas para levá-lo a uma cadeira permanente do Conselho de Segurança. A estratégia, neste sentido, é obter o apoio do maior número de países. A África, com dezenas deles, tem um peso decisivo em muitos fóruns.

O outro vetor é econômico. O Brasil tem interesses na África. Tem interesse em suas commodities. Empresas brasileiras têm contratos polpudos com muitos países do continente, assim, para facilitar o acesso e as portas abertas dos africanos para as grandes empresas brasileiras, nada melhor do que o governo se mostrar "amigo da África".

Ambas vetores desta política são passíveis de críticas. O primeiro é volátil. Nada pode garantir que interesses pontuais possam mudar o voto dos africanos nos fóruns internacionais. Como não há agenda e entendimento comum, traçar acordos de longo prazo, muitas vezes com ditadores que podem cair a qualquer momento, se torna um movimento arriscado.

Quanto ao viés econômico, sabemos que pouco a pouco o Brasil tem começado a ser visto como explorador pela população africana. A Vale, por exemplo, já sente na pele este reflexo. Não há nada que o governo brasileiro possa fazer que altere este estado de coisas. Na verdade, perdoar a dívida nada altera isso, uma vez que os benefícios de um perdão jamais chegam a ter reflexos diretos para a população de países pobres e com altas taxas de corrupção.

Já está na hora de o Brasil adotar medidas mais pragmáticas de política exterior. Brincar de superpotência na África já deixou de ter graça.

quinta-feira, maio 23, 2013

Ataque em Londres

O ataque a um soldado em Londres em plena luz do dia mostra a face mais cruel e atual do terrorismo, do extremismo islâmico e da vulnerabilidade de qualquer país a um ato como este.

O caso é muito similar ao ataque ocorrido em Boston. Métodos caseiros e motivação religiosa. Depois de Boston e Londres sabemos uma coisa: não será a última vez. Tresloucados movidos por uma verve religiosa continuarão a agir por sua conta e risco. 

Os Estados souberam lidar com o terrorismo em larga escala e com os grande grupos, sua logística e estrutura de organização. A Al Qaeda é um caso clássico de como a organização dos sistemas de inteligência são capazes de desarticular grupos terroristas. O problema são as sementes que grupos como este deixaram espalhados pelos mundo, em pequenas mesquitas que operam em garagens, locais clandestinos, de viés radical e que impulsionam ações isoladas de fiéis.

Outro desafio para a comunidade internacional e local é entender que muitos dos extremistas não são imigrantes, como os irmãos Tsarnaev, de Boston. Muitos dos terroristas são cidadãos nacionais, dotados de passaportes dos países das vítimas, nascidos no território onde ocorreram os ataques. São geralmente filhos e netos de imigrantes que não conseguiram se integrar na cultura local e vivem da assistência do governo.

Uma das alternativas para acelerar o processo de adaptação cultural é forçar os imigrantes e filhos de imigrantes a se integrar, retirando a assistência do Estado que os mantém em guetos sem trabalhar. As políticas de assistência deveriam ser convertidas em incentivos para que estes imigrantes se tornassem pequenos empreendedores em suas comunidades e assim passassem a fazer parte da cultura local.

O debate é extenso e precisa amadurecer, entretanto, enquanto o problema não for tratado em seu nascedouro, ataques como o de Madri em 2004, Londres em 2005, Boston e Londres em 2013, continuarão a ocorrer.

quarta-feira, maio 22, 2013

PMDB: Bate e Assopra

O PMDB acaba de reforçar seu time de articulação política com a chegada de Eliseu Padilha. Ele, que já foi ministro e deputado, é um dos maiores conhecedores dos meandros do parlamento, em especial a Câmara, e chega, em tese para apagar o fogo causado pelas rebeldias do líder do PMDB na casa, Eduardo Cunha. Em tese.

Na verdade o governo sofre com a ausência de uma coordenação política eficiente. O PT, como bem lembrou o cientista político Paulo Kramer, não é um partido adepto da democracia representativa, logo, tem muita dificuldade em articular acordos. Alugar a base foi uma estratégia no governo Lula, o plano que desaguou no Mensalão. Não deu certo. Portanto, diante dos desafios de governar e executar parcerias com o Congresso, o PT necessita do PMDB.

O problema está posto quando PT e PMDB se desentendem. Sem capacidade de articulação parlamentar, o PT tornou-se refém do PMDB, que esbanja qualidade na arte de costurar acordos e cobrar faturas. A rebeldia do partido, executada por Eduardo Cunha, nada mais foi do que mais um capítulo do jogo de morde e assopra. Neste caso, quem assoprou foi Renan.

A central de desaforos contra parlamentares, geralmente instalada no Palácio do Planalto, tem gerado problemas para Dilma. Com estilo duro, desagrada aqueles deputados que precisam apenas sentir-se importantes. Lula fazia isto bem. Collor tinha o estilo de Dilma. Caiu. Ela tem apoio de ampla base e representa um projeto maior, portanto, não corre o risco de cair. Já governar é outra história.

O PMDB é o partido mais infiel da base do governo, mas mesmo assim é o fiel da balança. Seguiu a orientação de Dilma apenas em 41,15% das votações. Da base, o PT é o campeão, com 80,95% de fidelidade. Mesmo assim, o Planalto segue nas mãos do PMDB quando o assunto é Congresso Nacional. A chegada de Padilha, oficialmente, é para facilitar o diálogo do governo com o parlamento. Na prática fortalecerá o bate e assopra, o que apenas fortalece o partido. A fatura acabou de ficar maior.

terça-feira, maio 21, 2013

Bolsa-Planalto

O rumor do fim do Bolsa Família, assim como aquele que dizia que haveria um bônus pelo dia das Mães, deixou o País em pânico, pois hordas de pessoas foram até os postos de saque e agências da Caixa Econômica Federal desesperados para retirar dinheiro.

Pois então a ministra Maria do Rosário vem a público dizer que o boato era coisa da oposição. Depois desculpou-se pela irresponsabilidade de suas palavras, mas seguiu dizendo que era sua opinião pessoal. Seria a oposição? Poderia até ser se houvesse oposição. De fato, não temos.

Todo esse acontecimento deixa claro uma coisa: o jogo da sucessão presidencial já começou. Dilma e sua equipe resolveram entrar em campo para defender o direito do petismo de se manter no comando do país. Gilberto Carvalho, o homem de Lula no Planalto, já havia avisado que o jogo seria iniciado. Começou. Dilma disse que em campanha se faz o diabo. Pois bem, o diabo começou a ser feito.

Eduardo Campos colocou o bloco no rua. Aécio começa a dar seus primeiros passos. Marina acena lá e cá na construção de sua Rede e assim a sucessão vai tomando forma. O PT mostrou seus dentes. Mostrou o poder do Bolsa-Família e como existem brasileiros dependentes deste tipo de programa. Assim que começar a campanha para valer, esta mesma parcela da população será assustada, mais uma vez, com a notícia de que se o PT não vencer, o dinheiro secará. Como sentiram o gosto amargo do pesadelo, votarão na manutenção do butim.

O boato foi então espalhado pela oposição? Não, de forma alguma, nem a oposição seria tão infantil. O jogo pesado já começou.

sexta-feira, maio 17, 2013

O Milagre Japonês

Shinzo Abe voltou ao poder no Japão. Depois de um governo desastroso em 2007, quando sucedeu o brilhante Junichiro Koizumi, Abe parece ter voltado renovado e revigorado. Levou seu partido de volta ao poder e pelo andar das coisas conseguirá obter maioria na Câmara Alta nas próximas eleições. Se você acha que viu reformas até aqui, espere até o partido liberal democrático conseguir esta vitória eleitoral.

O foco principal das ações de Abe neste retorno residem na área econômica. Na verdade não só porque o Japão necessita desesperadamente de reformas, mas porque viu seu poderio econômico foi superado pela pujança chinesa. Uma China forte frente a um Japão apático pode levar a outros desdobramentos mais sérios. Portanto, é hora de o Japão responder.

Abe trabalha em três frentes: estímulo fiscal, foco na inflação (ou deflação) e reformas estruturais. Já lançou as duas iniciativas iniciais, despejando dinheiro na economia, o que mexeu na questão inflacionária e no valor da moeda, barateando as exportações. O terceiro tiro virá somente depois das eleições.

O problema até aqui é observar que o choque de estímulos que tem feito o Japão responder positivamente é oriundo de manobras derivadas do Estado. Se for usado apenas como estímulo, ao invés de indutor inicial, pode trazer bons resultados. O perigo é o Estado centralizar e adotar estas posições no longo prazo, manipulando a economia. Se chegarmos aí, o Japão colherá problemas.

Por enquanto tudo é sucesso. Aprovação de 70% do governo e a possibilidade de uma vitória avassaladora na Câmara Alta, o que propiciará Abe a passar toda a reforma que tem em mente. Por enquanto é observar, como está fazendo a China.

quinta-feira, maio 16, 2013

Change?

Obama parece ser uma pessoa bacana. É o típico caso daquele cidadão que você gostaria de receber para jantar em sua casa. É um belo candidato. Em suas duas eleições esbanjou carisma e acordos certeiros no momento correto, tanto nas primárias, quanto nas eleições. Já derrotou Hillary Clinton, John McCain e Mitt Romney. Obama, vale lembrar, é um candidato oriundo da desleal e suja política de Chicago, de onde é prefeito seu antigo Chefe de Gabinete, Rahm Emanuel.

No governo, entretanto, Obama tem se mostrado diferente. O candidato que falava em mudança, inclusão e despejava otimismo frente aos imigrantes legais e ilegais, assim que chegou para governar mudou. Não mudou o discurso, mas percebeu-se que na prática vemos um Presidente muito distante de suas promessas. Por exemplo, é o Presidente que mais deportou ilegais dos Estados Unidos.

Quantos votos recebeu com a promessa de fechar Guantánamo? Muitos. Bem, esta é uma promessa que ficou pelo caminho. Vale lembrar que o mesmo candidato que se elegeu com base na crítica sobre as políticas internacionais de Bush, manteve seu Secretário de Defesa, Robert Gates, por anos frente ao Pentágono. Não é o que podemos chamar de mudança na agenda das guerras no Afeganistão e Iraque.

O Presidente que caçou e pegou Bin Laden é responsável também pelo uso brutal dos drones, aviões não tripulados que realizam inesgotáveis caças a alvos definidos pelos sistemas de defesa. Imaginem se Bush tivesse a audácia de usar os drones desta forma...seria bombardeado, pela imprensa.

Quando a imprensa divulgou alvos do governo americano em sua guerra ao terrorismo, Obama ficou furioso. Desta vez, foi mais adiante: seu governo monitorou os números de telefones das fontes jornalísticas usadas pela Associated Press. Esqueceu que existe a Primeira Emenda da Constituição.

Os escândalos mais recentes, como na AP, além de outros como aqueles envolvendo Bengazhi e por fim a caça discriminatória do IRS (Receita Federal americana) para monitorar entidades e membros ligados ao Tea Party - movimento ligado partido opositor, o Republicano, somente mostram uma face perigosa da administração Obama.

Ele chegou prometendo mudaças. Change. Enfim, o que mudou, parece ser para pior. As políticas de seu governo, guiadas por suas decisões, são temerárias. Atentam muitas vezes contra princípios primordiais da formação dos Estados Unidos. A gritaria já começou.

A próxima eleição pode trazer um republicano de volta para Casa Branca.

quarta-feira, maio 15, 2013

Recessão socialista francesa

A França, que apresentou sinais de melhora durante a gestão de Sarkozy, parece ter entrada em uma perigosa espiral socialista com Hollande. A economia do país entrou oficialmente em recessão, tendo encolhido 0,2% no primeiro trimestre do ano.

No final de 2012, o país já mostrava os sinais claros que nada ia bem. A economia já havia encolhido 0,2% no último trimestre do ano. Agora o governo socialista fala em crescimento de 0,1% do PIB em 2013. Sabemos que isso não vai ocorrer. Será pior. Para entender é apenas preciso olhar as políticas aplicadas por Hollande em seu governo, um potencial incrível para acelerar o desgaste ainda mais.

A Europa também não apresenta sinais de melhora, pois o trabalho de políticos austeros que chegaram ao poder sucedendo governos gastadores, é demorado e demanda importantes reformas. Suas políticas baseiam-se em dois pilares: diminuição dos gastos públicos e da rede de assistência do Estado - ações que o governo Hollande nem pensa em fazer.

O caminho de Hollande é o oposto. Ao mesmo tempo que gera novos impostos, também cria algumas tímidas flexibilidades trabalhistas. Está sem rumo. Isto traz um componente de insegurança para quem investe ou possui um negócio. Em suma, Hollande não busca reformas estruturais que gerariam uma França mais competitiva. Parece ser um governo que ainda não sabe a que veio, dentro ainda de uma inabilidade decisória assustadora.

Enquanto isso, o desemprego ronda 10,6%, com viés de alta para o próximo ano.

terça-feira, maio 14, 2013

Cameron em Washington

A aliança que une Estados Unidos e Reino Unido é forte e duradoura. São parceiros estratégicos e, sem importar a ideologia dos governos instalados na Casa Branca ou em Downing Street, veremos sempre um alinhamento eficaz entre as duas nações.

Dentro desta linha Cameron chegou em Washington para um encontro de cúpula com Bacack Obama. A reunião tinha dois eixos centrais: Síria e comércio internacional. Sobre o primeiro tema, Cameron foi levar a Obama a idéia de que os britânicos acreditam, depois de conversas com os russos, de que Putin esteja mais flexível em relação a apoiar as posições ocidentais. Kerry, que esteve no encontro e acaba de voltar da Rússia, deve ter se lembrado de como o Presidente russo conseguiu embaralhar o jogo ainda mais (pelo menos em sua cabeça). Mas o britânico mostrou que acredita que pode servir como ponte entre os dois países no sentido de aprovar uma resolução intermediária que possa servir para ambos os lados. A conferir.

O segundo ponto da agenda foi comércio. Cameron tenta ampliar as trocas comerciais entre os Estados Unidos e a União Européia. Precisa primeiro controlar o fogo amigo, uma vez que assim que chegou a Washington, dois secretários de seu governo, Michael Grove e Philip Hammond, declararam que votarão pela saída do Reino Unido da União Européia. Será preciso saber se haverá uma UE para negociar um acordo. Mesmo assim, Cameron, que sediará a próxima reunião do G8 na Irlanda do Norte   , pretende usar este encontro como o marco de um novo acordo comercial dos europeus com os americanos. Tudo a conferir.

Até o momento, muitas intenções, pouco efeito prático.

segunda-feira, maio 13, 2013

Borisov vence na Bulgária

E a direita voltou ao poder na Bulgária. Voltou sem ter saído. Uma destas coisas interessantes que o parlamentarismo produz. O governo de Boiko Borisov havia deixado o governo em fevereiro, quando havia uma escalada de protestos em Sofia. Os protestos tinham diversas razões, mas serviram para que o governante se retirasse e novas eleições fossem convocadas.

A mesma população que tanto se empenhou pela saída de Borisov, pareceu não estar tão empolgada assim em colocar alguém em seu lugar, pois o GERB, seu partido, alcançou o primeiro lugar nas eleições deste final de semana. Entretanto, os 31% que receberam não formam maioria absoluta no parlamento e portanto não há certeza se conseguirão montar um governo. Em segundo lugar chegaram os socialistas com 27,5%. Por mais que Bosirov tenha vencido, formar um gabinete não será fácil.

Mas aqui vale ressaltar o faro político de Borisov. Um governante pressionado por denúncias de corrupção e carregando a decepção dos búlgaros com a entrada na União Européia soube sair de cena no momento correto, tomar o fôlego necessário e voltar ao espectro político pelas urnas. Portanto, por mais que seja difícil montar uma coalizão, para um político como ele, não é impossível.

O comparecimento tímido do búlgaros, apenas 53% apareceram para votar, evidencia a falta de confiança na classe política. Enquanto isso, os outros partidos denunciam casos e mais casos de fraude. Tudo isso evidencia problemas políticos sérios para um país que depois de seis anos ainda não conseguiu perceber muitas vantagens em fazer parte da União Européia, a não ser a maior facilidade em emigrar para vizinhos com economia mais saudável.



quinta-feira, maio 09, 2013

Mensagem de Cameron

A Rainha falou, mas a mensagem foi de David Cameron, responsável por seu governo. Ali foi possível entender as prioridades da coalizão Conservadora/Liberal-Democrata para o próximo ano. No que cabe a Rainha, exclusivamente, foi significativa a presença de Charles ao seu lado, mostrando que, aos poucos, começa uma processo de transição no trono britânico.

Voltando a política, Cameron mostrou as cartas quanto a política de imigração. Com a crise que circula pela Europa, o Reino Unido decidiu que a saída por enquanto é se fechar. O mais notório serviço público inglês, o NHS, relativo a saúde, deixará, aos poucos, de atender os europeus residentes nas ilhas britânicas. Afinal, quando um cidadão europeu fixa residência no Reino Unido passa a usufruir de seu sistema universal de saúde sem pagar uma libra.

O veto de uso do NHS se estenderá aos estrangeiros em visita no Reino Unido, que hoje podem fazer uso do sistema. Se estenderá também para os residentes ilegais, que hoje usam o sistema sem limitações.

E aqui chegamos ao ponto central. O Reino Unido reduzirá o acesso ao seu sistema de saúde pelos estrangeiros, mas também passará a aplicar um sistema mais rígido de controle de fronteiras e sistemas mais rápidos de devolução de ilegais para seus países. Donos de imóveis precisarão verificar se os inquilinos estão legalmente no país e as empresas tendem a sofrer pesadas multas se contratarem ilegais.

As medidas reconciliam os Conservadores com parte do eleitorado que se movimentou em direção dos nacionalistas do UKIP, fechando o cerco na imigração ilegal e limitando o uso do NHS. Cameron enfrentará eleições gerais duras em 2015.

Nada sobre o referendo de permanência do Reino Unido na União Européia. Cameron deslocou-se para direita, mas sem solavancos, pois precisa manter parte do eleitorado ao seu lado. O referendo vem em 2017, se ele for reeleito.

Cameron faz o jogo para se manter no poder, sem grandes reformas, nem grandes feitos.

quarta-feira, maio 08, 2013

Realidade Política

Dilma colocou o bloco na rua. Na dúvida, articula sua candidatura para não ser atropelada pelos acontecimentos. Precisa mostrar musculatura para que seu próprio partido não acabe por rifar seu nome e optar por Lula. Ela já manobrou para cima do PSB e não descansará até consolidar seu nome.

O movimento desta vez foi em direção ao que restou da oposição. Dilma, que já possui relações políticas estreitas com Kassab, oficializou a entrada de seu partido, PSD, para dentro do governo. O curioso, no entanto, foi perceber o nome do escolhido: Guilherme Afif Domingos, Vice-Governador de São Paulo na chapa vencedora do tucano Geraldo Alckmin, eleito ainda quando Afif era membro do DEM (ex-PFL), antes de embarcar no PSD.

A escolha e o aceite de Afif desnuda inúmeros fatos. O primeiro deles é perceber que o Brasil caminha a passos largos para uma grande coalizão que englobará praticamente todos os partidos encabeçada pelo PT. O projeto de manutenção de poder do petismo está sedimentado e isto levou os políticos a buscarem formas de aderir ao consórcio governista em prol de sua própria sobrevivência política. O PMDB soube disto desde sempre, mas Kassab, com a criação do PSD, foi a ponte para que qualquer oposicionista conseguisse aportar nas hostes governistas.

Assim, a escolha de Afif é sintomática no sentido de mostrar o novo jogo de forças da política brasileira. Como PSDB, DEM e PPS tornaram-se incapazes de produzir uma oposição viável na disputa pelo poder, seus membros, por instinto de sobrevivência política, procuraram agremiações onde pudessem acomodar seus interesses. Assim, a tríade de partidos da oposição murchou e tende a desaparecer.

Os sucessores do PT virão dos quadros políticos abrigados em qualquer um dos partidos que orbitam em torno do governo Dilma. Hoje, muitos tucanos abrigam-se no PSB de Eduardo Campos e muitos democratas no PSD de Kassab - caso de Afif. Estamos passando por um período de acomodação de forças depois de a oposição se mostrar ineficaz na disputa pelo poder.

Uma nova geografia política está sendo traçada. Quem não entender o movimento pelo qual estamos passando, será excluído do processo político - caso do restante do DEM e parte do PSDB. A única forma de suceder o petismo, talvez seja fazer parte de sua órbita política. A única de forma de sobreviver como político no Brasil de hoje, talvez seja fazer parte da grande família governista. A única forma efetiva de fazer alguma oposição, talvez seja dentro do próprio governo.

Alguns me perguntarão, mas e os programas e projetos de País? Respondo: Há tempos deixaram de existir, afinal, os políticos precisam sobreviver. A política no Brasil não é simplesmente uma disputa pelo poder, mas uma engenhosa acomodação de forças e interesses.

terça-feira, maio 07, 2013

Vespeiro sírio

John Kerry chegou ao comando do Departamento de Estado em um momento muito delicado. A escalada da tensão na Síria tem feito todos ficarem apreensivos. Obama tem sido pressionado para tomar ações que não deseja. Todos estão com um problema sério para resolver.

Israel entrou no jogo no final de semana, como escrevi aqui. Não entrou sozinho. Chegou respaldado pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos. Isto fez com que surgissem reações do Irã, mas também do governo turco, que deseja a saída de Assad, mas detestou a intervenção de Israel.

Uma peça importante neste tabuleiro é a Rússia. Até agora, Putin mostra-se muito cético. Kerry chega a Moscou hoje com o intuito de seduzir o Presidente russo em favor da estratégia americana. A dúvida que fica no ar é exatamente saber se existe uma estratégia americana. O que pretende Obama é uma incógnita.

A Casa Branca tem evitado realizar uma intervenção na região, contudo, está sendo pressionada a se movimentar. Entretanto, manter Assad talvez seja a ação estratégica mais indicada para os americanos, dadas as opções para o preenchimento do vácuo de poder na Síria. A oposição que deseja o fim de Assad tem forte traço religioso. A opção laica está do lado de Assad, além cristãos, drusos e partes da população muçulmana mais próxima do ocidente. Enfraquecer Assad seria uma opção inteligente?

Muitos carregam esta dúvida. Muitos querem a saída de Assad, mas mexer na estabilidade da Síria é abrir um vespeiro na região. É preciso estar muito preparado para o pós-Assad e ninguém parece estar disposto a mexer neste intrincado tabuleiro. E agora?

segunda-feira, maio 06, 2013

Israel entrou no jogo

Israel entrou no jogo. Pelo menos formalmente. Os ataques que atingiram a Síria e são atribuídos a Israel fizeram as peças se movimentar. De um lado Reino Unido e Estados Unidos defenderam a necessidade de defesa exercida por Netanyahu. Do outro lado, houve movimento na Liga Árabe e no Irã. A Síria diz que pode retaliar. Israel está de prontidão.

Era tudo o que Assad menos precisava neste momento. Existem muitos interesses em jogo na região. Até o momento, ninguém ousou invadir a Síria e apenas usam os opositores do regime como peça fundamental especialmente fornecendo armamentos. Parece que até o momento a estratégia não surtiu efeito. Obama disse que o limite para intervenção seria o uso de armas químicas ou biológicas por Assad. Ele usou. Obama se calou. Sofre pressão para agir e não perder credibilidade.

Agora, sem maiores explicações, Israel entra em um jogo que até o momento não é seu. Mas aceitou. Isto diz muito sobre o que vem por aí. Diz muito porque a Rússia se manifestou e falou que depois do episódio cresce a chance de intervenção na Síria.

O que vale até aqui é entender que a "paz internacional" de Assad começou a ser ameaçada, de verdade. Veio o primeiro sinal.

sexta-feira, maio 03, 2013

UKIP cresce. Cameron resiste?

Ontem o Reino Unido enfrentou eleições locais. Os primeiros resultados já são conhecidos e estão tornando a vida de David Cameron um pesadelo. Todo o avanço dos outros partidos ocorreu sobre os parlamentares do Partido Conservador e dos Liberais-Democratas, que lideram a coalizão de governo.

Cameron já esperava a perda de cadeiras, mas tudo indica que os números podem mostrar uma realidade muito mais amarga do que as projeções. Os trabalhistas ganharam cadeiras, mas as estrelas do momento estão em outro partido: UKIP, caracterizado por seu discurso anti-europeu e anti-imigração.

As pressões em torno do Primeiro-Ministro são, neste momento, acirradas. A ala mais conservadora de seu partido clama por uma guinada em seu governo, um movimento que levaria Downing Street para posições mais duras, aproximando-se do eleitorado conquistado pelo UKIP.

Cameron resiste, pois sabe que ceder neste momento talvez seja abrir mão de seu governo. Explico. Cameron é um centrista e tem governado desta forma desde o princípio. Como seu partido não obteve maioria para formar um governo, teve que ceder parte dele aos liberais-democratas de Nick Clegg, também um centrista com posições mais flexíveis para ambos espectros do jogo político.

Se Cameron radicalizar, perde o apoio de Clegg e por assim dizer, deve abandonar Downing Street também. Se não ceder ao radicais de seu partido, pode perder apoio interno. Isto teria dois desdobramentos: perda de poder político (que pode levar o partido a substituí-lo) ou correr o risco de levar uma surra nas próximas eleições ao Parlamento Europeu.

Ao Primeiro-Ministro cabe a construção de uma sintonia política muito fina, pois seu partido não possui maioria no Parlamento. A política britânica é traiçoeira, lembram Thatcher e Churchill e mais recentemente Tony Blair. Cameron pode ser a próxima vítima?

quinta-feira, maio 02, 2013

Abre o olho, Dilma

Esta foto diz muito. Dilma precisa abrir o olho. O movimentos estão claros e quando surgem desta forma tudo leva a crer que a movimentação de bastidores realmente existe. Dilma pode estar sendo rifada dentro do PT como a forma mais segura de garantia para manutenção do poder.

O PT pode ter outros planos para mexer com a sucessão e este plano se chama Lula. O partido teme perder o Planalto, por mais que diga o contrário. Precisa de uma estratégia para colocar em prática caso Dilma comece a perder o fôlego, algo muito provável e possível de acontecer.

Dilma não sabe se relacionar com o Congresso Nacional. Sua falta de habilidade política é comentada por todos os salões onde circulam parlamentares. A maioria sente saudades de Lula, quando o processo era mais solto e os pleitos eram atendidos com mais facilidade. Sua relação com ministros e subordinados, cercada de grosserias já não é novidade em Brasília. Muitos não suportam seu temperamento. Sua opção de política econômica desenvolvimentista turbinada pelo Estado está fazendo água. A inflação volta aos poucos a atormentar sua Presidência. Dilma ainda carrega os esqueletos dos anos de Lula. Ela ainda derrapou feio aos olhos dos companheiros quando mandou investigar Rosemary Noronha e aliviou a barra de seus amigos, como o ministro Fernando Pimentel e Erenice Guerra, que circula com desenvoltura pela capital.

Bem, enquanto Dilma planta e colhe problemas, Lula vende soluções para o petismo. Sua candidatura colocaria um freio em Eduardo Campos, traria de volta a tranquilidade do jogo no Congresso Nacional, varreria o que restou da oposição com facilidade e aplicaria uma surra eleitoral em Aécio Neves. Tudo isso ainda com a possibilidade de tentar um último movimento para salvar os mensaleiros.

A estratégia pode ser jogar no colo de Dilma o que está errado e vender Lula como o grande mago: o retorno do salvador.

Aliás, como disse Fernando Haddad ontem, "Quem sabe um dia Lula volte para Presidência. Ele está bem de saúde". Abre o olho, Dilma.