domingo, novembro 17, 2019

Drama Humanitário (07/10/2019)

A Venezuela vive momentos difíceis. A falta de comida e medicamentos tem empurrado a população para além das fronteiras do regime de Maduro. Uma crise humanitária sem precedentes com reflexos para os países vizinhos. Cruzar os limites de seu país tornou-se a única alternativa para parcelas significativas da população.

Se no começo o êxodo se dava simplesmente por motivos políticos, hoje a situação tomou contornos mais dramáticos. Aqueles que deixam o país não são mais os que simplesmente discordam do governo bolivariano de Maduro, mas também os que não possuem mais alternativa, famintos e doentes. Pessoas que cruzam a fronteira simplesmente para tentar sobreviver.

Fato é que isso decorre da radicalização do regime, que tornou-se mais densa e profunda desde a chegada de Maduro ao poder. Um processo que, apesar perigoso nos tempos chavistas, tornou-se dramático com a chegada de seu sucessor. Ao mesmo tempo que enterrou qualquer aspecto moderado do regime, aprofundou suas piores práticas e políticas.

Esta guinada no regime chavista operada por Maduro atingiu em cheio os países que fazem fronteira com a Venezuela. Colômbia, Brasil, Guiana e nações caribenhas são destinos naturais, mas espalham-se refugiados também no Chile, Peru, Equador, Paraguai, Uruguai, Argentina, Panamá, México e Costa Rica. Uma realidade que não permite omissão, mas que também gera reflexos para as populações locais.

Roraima, com uma fronteira completamente aberta com a Venezuela, é a principal porta de entrada no Brasil. A caminhada de 200 km da fronteira até Boa Vista é realizada todos os dias por 500 pessoas que chegam na capital. Uma realidade que já trouxe mais de 100 mil novos habitantes, fazendo com que a população aumentasse de 300 mil para 400 mil, um impacto sem precedentes para o Estado.

Hoje, aqueles que possuem melhor instrução, treinamento ou algum parco recurso deixam Roraima, buscando abrigo em outros pontos do Brasil. Ficam em Boa Vista aqueles mais necessitados, doentes e sem escolaridade. Um desafio sem precedentes para uma cidade pacata, organizada e segura, que aos poucos enxerga uma drástica mudança em sua realidade. Atualmente, sete em cada dez nascimentos em Boa Vista são de refugiados venezuelanos.

Diante da pressão internacional, o regime de Maduro chegou a sofrer um abalo no começo do ano, entretanto, ao conseguir se manter no poder, renasceu mais forte. Atualmente, possui controle do país e de suas instituições, contando com a ajuda também de atores importantes no tabuleiro das relações internacionais. Isto significa que a tragédia humanitária seguirá trazendo reflexos para os países vizinhos, em especial o Brasil, que precisa de forma urgente traçar um plano eficaz em nossa fronteira que vá muito além da Operação Acolhida organizada pelos militares. Já passou da hora de voltarmos nosso olhar para Roraima.

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