segunda-feira, agosto 24, 2020

Em Defesa da Lava Jato

Estamos diante de um novo Brasil, infelizmente orientado por velhas práticas. Neste novo país, em tempos de pandemia, surgiram realidades que incomodam muitos brasileiros. A principal delas foi a tentativa de desferir um ataque frontal e final na Lava Jato, algo que deve ser veementemente rechaçado pelos brasileiros.

O combate à corrupção foi uma das bandeiras que acabou levando Bolsonaro ao poder. Na medida que encarnou sozinho o antipetismo e o papel de outsider durante a campanha, acabou por receber também os votos do lavajatismo. Ao retirar Sérgio Moro de sua cadeira de juiz em Curitiba e oferecer um Ministério da Justiça que teria forças renovadas, parecia que realmente a agenda anticorrupção havia entrado na pauta nacional e os apoiares da Lava Jato contemplados com um governo de verdade.

600 dias depois da posse, a decepção dos lavajatistas está exposta e escancarada. Não só percebeu-se que a saída do juiz Moro foi a primeira peça que se moveu para o desmonte da operação, como episódios que ceifariam o poder de ação da Lava Jato seriam gestados com naturalidade dentro do governo que foi levado ao poder com os votos dos entusiastas da operação anticorrupção nascida em Curitiba.

Enquanto a Lava Jato se preocupava com os tentáculos e manobras petistas nos anos Dilma ou o ímpeto de frear a operação no governo Temer, o desmanche veio mesmo no governo que os procuradores indiretamente ajudaram a levar ao poder.

Ao concentrar de forma inimaginável os resquícios de poder dos políticos varridos do mapa pela corrupção, seus operadores, novos atores e até membros de sua própria corporação seduzidos pelo poder, as forças contrárias conseguiram se articular para derrubar aquele que foi o mais importante movimento anticorrupção do Brasil, mas que aos poucos infelizmente se torna apenas mais um capítulo dos livros de história.

Resta ao Brasil ainda lutar pela Lava Jato. Uma luta que não vale somente pela operação em si, mas tudo aquilo que representa. Não é possível que o Brasil siga refém de práticas antigas e obsoletas, enquanto possuímos uma nação pronta para deslanchar. O peso da lei precisa voltar a recair sobre os ombros daqueles que afrontam a justiça.

Os desafios já foram muito maiores. É preciso defender o resgate da ética e boas práticas que mais uma vez se perdem nos corredores do poder, como já aconteceu no passado. A Lava Jato é uma instituição nacional e sobre seu tripé é preciso aprender e construir políticas públicas e impeçam que a corrupção se torne algo corriqueiro e parte do cotidiano da nação.

Operações como a Lava Jato precisam resistir, assim como a democracia e a liberdade precisam prevalecer em tempos estranhos. Depois de nos livrar do terror petista e sua teia de corrupção que envolveu as instituições, é preciso investir também contra aqueles que se valem da ideologia para encobrir o malfeito.

Governos são passageiros. Instituições são perenes. Aos cidadãos, “cabe fazer a coisa certa, pelos motivos certos e do jeito certo”.

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