quinta-feira, outubro 29, 2020

Decepção Bolsonarista

Bolsonaro chegou ao poder embalado nos votos do antipetismo e do lavajatismo. A luta anticorrupção do país, que fez a direita chegar ao poder, tinha o condão de reformar, renovar e mudar. O nome de Sérgio Moro era unanimidade. Sua indicação para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal apenas uma questão de tempo, aquele necessário para implementar uma agenda saneadora via Ministério da Justiça. 

Praticamente dois anos depois, vivemos em outro país. O Brasil inaugurado em 2019 naufragou em meio a desilusão diante de uma agenda e atores que jamais fizeram parte do enredo que levou Bolsonaro ao poder. Ao romper com lavajatismo e antipetismo, aos poucos aproximou-se do populismo e do militarismo. Afastou-se do liberalismo e das privatizações e nesta semana, em mais um episódio que marca esta guinada, afastou-se dos evangélicos e do restante dos conservadores que ainda apoiavam seu governo. 

A escolha do obscuro Kassio Nunes para uma cadeira no STF mexeu com o brio de seus apoiadores. Ao escolher um nome ligado à velha política e ao petismo, o Presidente selou um movimento que consolida uma nova fase de seu governo, inaugurada quando a lei e o impeachment passaram a rondar sua Presidência. Bolsonaro fez a opção pelo sistema, pelo acordo e pelos bastidores. Optou assim por engavetar reformas, desistir da renovação e sepultar as mudanças. 

O governo cada vez mais se parece com o perfil de Bolsonaro enquanto deputado e se afastada do modelo adotado por ele durante a campanha presidencial. Está cada vez mais próximo dos parlamentares daqueles partidos pelos quais passou, hoje sua base no Congresso Nacional, e afastado da chamada nova política. Cercado pelos militares passou a governar a sua imagem e semelhança, sentindo-se cada vez mais confortável na cadeira presidencial. 

Ao se afastar do liberalismo de Guedes, Bolsonaro adentra pelo desenvolvimento econômico, o que invariavelmente levará o Ministro da Economia a ser a próxima baixa do governo. O desenvolvimentismo é o motor do assistencialismo populista que turbina a aprovação do Presidente. É também o erro fatal cometido por Dilma que abalou o equilíbrio econômico do país e nos jogou em mais uma década perdida. 

Bolsonaro tinha o vento a seu favor. Uma base popular aguerrida, um partido em construção, empenho dos conservadores, apoio dos liberais, simpatia dos evangélicos, parceria com o lavajatismo e uma missão de renovar a política. Nada disso tornou-se realidade. Hoje, é parceiro da velha política, aliou-se ao patrimonialismo do centrão, deixou mais um partido, desmontou a Lava Jato, rifou as privatizações e os liberais, desistiu das reformas e por fim, deixou conservadores e evangélicos pasmos indicando nomes ligados ao petismo, inclusive para o Supremo. 

Ao perder a base que impulsionou seu nome ao Planalto, precisará do contraponto petista de um lado e um programa social milagroso do outro. Mesmo que custe o equilíbrio fiscal e a estabilidade da moeda. Afinal, a reeleição está logo ali em 2022.

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